(pt) Brazil, luta fob: Plataforma de Luta e Organização da FATE ---- Federação Autônoma de Trabalhadoras e Trabalhadores da Educação (FATE) (ca, de, en, it)
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Quarta-Feira, 19 de Janeiro de 2022 - 08:02:53 CET
fate-plataforma-finalBaixar ---- Essa é uma Plataforma dirigida a todas e todos
que trabalham em instituição de ensino em nosso país, sejam professores,
funcionários do administrativo, sejam na limpeza ou alimentação, sejam do setor
público ou privado, sejam concursados ou terceirizados, sejam efetivos ou
temporários, da ativa ou aposentados, da rede municipal, estadual ou federal,
sejam da educação infantil, básica, técnica ou universitária: somos todas e todos
trabalhadores da Educação! ---- A Federação Autônoma de Trabalhadoras e
Trabalhadores da Educação (FATE) é uma organização sindicalista revolucionária
interprofissional e luta pelos direitos dos trabalhadores da educação e dos
trabalhadores em geral. A FATE se organiza nacionalmente e em cada empresa
(escolas e universidades) através dos seus militantes e seções sindicais. A FATE
atua em oposição ao sindicalismo de Estado e às burocracias sindicais, assim como
realizará atividades de resistência ao capitalismo e de luta por melhores
condições de trabalho e estudo, por uma educação pública universal e por direitos
coletivos para o povo. A FATE é filiada à Federação das Organizações
Sindicalistas Revolucionárias do Brasil (FOB). Aqui apresentamos nossa análise da
situação dos trabalhadores da educação e objetivos que iremos construir.
1) Educação e Pandemia: conjuntura e estrutura de classes na Educação
A pandemia e a crise social têm massacrado e humilhado nosso povo. Os governos e
patrões têm se aproveitado disso pra aprovar uma série de medidas e leis que
aumentam ainda mais a exploração da classe trabalhadora: privatizações, retirada
de direitos trabalhistas e sociais, cortes na educação e áreas sociais,
militarização das escolas e da sociedade, destruição ambiental e ampliação do
agronegócio, dentre outros. Nas escolas e demais instituições de ensino pelo
Brasil essa realidade é explícita e cruel: aumento do trabalho temporário e
terceirizado, demissões e reduções salariais, desvio de função, estudantes com
fome, famílias desestruturadas, falta de materiais e infraestrutura,
autoritarismo e militarização de instituições, adoecimento e morte de
trabalhadores e estudantes.
O "ensino remoto" durante a pandemia foi um desastre e só ampliou as
desigualdades na educação. Foi aplicado de cima para baixo, atendendo aos
interesses do Estado e do Capital, sem garantir as condições materiais básicas
para sua realização, tal como o fornecimento de materiais de trabalho e de estudo
adequados (computadores, internet, etc.) e capacitação para um novo modelo de
ensino e aprendizado. Tudo isso só teve como resultado a precarização brutal da
educação, especialmente para os setores mais pobres da classe trabalhadora, assim
como a experimentação em larga escala de métodos "inovadores" de exploração de
professores através do ensino a distância, desvio de função e ataques às
condições de trabalho.
Por outro lado, o retorno presencial sem condição sanitária e estrutural nas
escolas e faculdades tem colocado não apenas a comunidade escolar em risco a
saúde, mas evidenciado diversos problemas antigos e que têm se aprofundado: salas
superlotadas, baixa ventilação, desvalorização dos trabalhadores da limpeza,
péssima política de permanência estudantil, dentre vários outros. As instituições
de ensino privadas foram as primeiras a voltarem com o ensino presencial, essas
instituições realizaram demissões e reduções salariais que atingiram forte os
trabalhadores da educação e suas famílias. Agora, com as imposições do retorno
nas instituições públicas a ameaça é a mesma: ampliação do trabalho temporário,
congelamento salarial e de concursos, política anti-greve e contra a estabilidade
(tal como PEC 32).
A conjuntura da pandemia e aprofundamento das reformas neoliberais expressam as
contradições de classe estruturais ao setor de serviços e à educação. Podemos
dizer que os trabalhadores do setor de serviço vêm cumprindo um papel cada vez
mais importante na economia capitalista. Se nas primeiras fases do
desenvolvimento capitalista, o proletariado industrial era o setor dominante, o
proletariado do setor de serviços e comércio tem crescido em número e
importância. Hoje esse setor aglutina grande parte da força de trabalho de
diferentes países, sendo os ramos de Saúde e Educação os mais massivos em termos
de trabalhadores e de usuários desses serviços.
O serviço público, particularmente, é marcado por dois tipos de relação: 1)
existem os assalariados, que correspondem à grande maioria dos servidores de
Estado; 2) existem os servidores de cargos eletivos do legislativo e executivo,
do poder judiciário e cargos comissionados que participam do Estado na condição
de exercício do poder. Estes últimos, graças a sua condição de capitalistas eles
ocupam posições de mando, ou graças ao exercício contínuo de cargos de mando no
Estado, conseguem ascender à condição, ou de pequena-burguesia, ou de burguesia.
Dessa maneira, existe uma dualidade dentro do serviço público. Essa dualidade
estrutural se expressa numa clara divisão de classes. De um lado uma camada de
"trabalhadores improdutivos" composto por uma burguesia ou aristocracia,
responsáveis pela gestão política e empresarial do Estado. Essa camada
corresponde hoje a uma aristocracia de servidores de alto escalão, do poder
executivo, legislativo, judiciário e das forças armadas. De outro lado, a massa
dos servidores públicos é composta por diferentes tipos de trabalhadores
assalariados, com diferentes níveis salariais e de escolaridade, submetidos a
diferentes tipos de exploração, superexploração e formas de discriminação.
A crise mundial de 1973 provocou mudanças econômicas globais. Uma das principais
foi o início do ciclo de reformas neoliberais do Estado e da reestruturação
produtiva que ainda estão em curso. Esse processo é marcado pelas privatizações,
pelas reformas previdenciária e trabalhista, precarização do trabalho e
intensificação da exploração (através das formas de contratação precárias e
políticas produtivistas que roubam o tempo de trabalho). No Brasil, esse processo
vem sendo realizado desde o início dos anos 1990 e continua em curso.
Dessa maneira, os trabalhadores do serviço público se veem entre dois apelos
igualmente reacionários. O primeiro é o que tenta eliminar o reconhecimento de
sua condição de trabalhador. O servidor público seria antes de tudo parte do
Estado e não da classe trabalhadora. Assim, defender o serviço público como parte
do crescimento do Estado e do "espaço público" é parte desse mito. Essa ilusão é
também difundida através da ideia de que os servidores devem apoiar políticas de
Estado e não políticas de Governo, como se uma política de "Estado" não fosse
antipopular.
O outro apelo é ver o servidor público como um "peso" ou mal à economia do país.
Dessa maneira, ele faria parte de uma camada de trabalhadores "parasitária". Daí
a imagem negativa do servidor público como privilegiado e que não trabalha.
O primeiro discurso estatista, o segundo discurso liberal, devem ser igualmente
combatidos.
Existe uma camada parasitária no serviço público? Sim. Essa corresponde à
aristocracia gerencial e à burguesia, mas é uma minoria que está nos altos cargos
dos diferentes poderes e empresas estatais. O liberalismo não elimina essa camada
parasitária, pelo contrário, a alimenta. Os servidores públicos são estranhos à
classe trabalhadora? Não. A grande massa está submetida a processos de exploração
e dominação. Eles não se confundem com o Estado. O Estado, sendo agente do
desenvolvimento capitalista, tenta criar a ilusão de que os servidores públicos
são o Estado. Eles não são o Estado, eles trabalham para ele. Por isso as
diferentes categorias de trabalhadores são sistematicamente sacrificadas em seus
direitos políticos, trabalhistas, salários e condições de trabalho, mesmo quando
o Estado está em expansão.
Os trabalhadores assalariados da educação pública são parte da classe
trabalhadora e por isso não se confundem com o Estado. Enquanto assalariados, são
submetidos a pressões da exploração em geral. A contradição de classes é clara.
Os trabalhadores da educação pública têm uma dupla contradição com o capital: a
contradição enquanto assalariado e a contradição enquanto trabalhadores
localizados em serviços coletivos que são alvo de apropriação privada.
Dessa maneira, a precarização se manifesta estruturalmente por uma hierarquia de
salários e investimentos, em que a área social do serviço público (principal
saúde e educação) é precarizada e onde se localizam as menores remunerações. Essa
precarização se dá também pelo processo de terceirização e pela expansão que é
pouco pautada pelas necessidades coletivas e mais pela adequação aos objetivos
estratégicos do Estado.
Assim, as políticas de precarização do trabalho e das instituições públicas não
são um erro de um governo ou de outro. A política de reforma do Estado,
igualmente, não é parte de um programa de governo. Elas são reflexos de uma
política de Estado, que reflete as necessidades de acumulação capitalista em
geral e a contradição de classes em particular dentro do serviço público. Por
isso não faz sentido reivindicar uma política "de Estado": a política de Estado é
a política do capital monopolista.
O processo de reformas neoliberais e as políticas de desenvolvimento econômico
estão centradas no ganho de capital. Essas políticas estratégicas amarram o
orçamento público aos interesses do capital financeiro, industrial e agrário.
Elas se refletem na política salarial para os servidores públicos e também nos
gastos diferenciados com os diferentes setores, preterindo saúde e educação.
Atualmente, o orçamento da União é repartido em três grandes setores: as despesas
improdutivas (com os cargos políticos, judiciários, defesa e burocracia); a
transferência para o capital (através do pagamento da dívida pública, que
representa mais de 40% do orçamento da União) e as despesas sociais (política
educacional, agrária, ambiental e etc.). O orçamento é quase todo empenhado com
os ganhos do capital e com as despesas improdutivas.
A ação sindical deve então saber se situar nessas contradições estruturais. Como
o Estado centraliza e distribui recursos produzidos pela classe trabalhadora, a
forma como ele aloca esses recursos é uma arena central para a disputa da ação
sindical. Enquanto trabalhadores da educação estamos no meio de uma disputa entre
a apropriação capitalista dos recursos públicos (nacionais) X uso do orçamento da
união em investimentos coletivos.
A função da ação sindical classista deve ser lutar por melhores condições
econômicas para suas categorias, mas como parte da luta pela redistribuição da
renda nacional entre capital e trabalho, e pelo predomínio dos interesses
coletivos sobre os interesses privados no uso do orçamento da União. Uma luta
econômica classista deve colocar então a conjugação dos ganhos econômicos
setoriais (das categorias) com a luta pela redistribuição da renda nacional.
O avanço das reformas neoliberais aumenta os processos de precarização do
trabalho nos setores de serviço com maior contingente de pessoal, em especial a
educação. Esta precarização aparece sob diversas formas: a diferença entre
temporários e permanentes; entre os ingressantes no antigo regime e no novo
regime previdenciário; entre jovens e antigos; entre trabalhadores terceirizados
pela CLT e servidores públicos; a discriminação de gênero e racial; o estigma que
os trabalhadores manuais são vítimas dentro das instituições públicas, em
especial as de ensino; e também a desigualdade regional. Essas contradições se
manifestam de diferentes maneiras na organização sindical.
Nesse sentido, a precarização dos serviços públicos se confunde com a
precarização da condição do trabalhador em áreas que não são consideradas
estratégicas. Essa precarização tem uma forma geracional, sexual e étnico-racial.
A primeira contradição geracional aparece entre jovens e antigos no processo de
trabalho e se institucionaliza na diferença entre ativos e aposentados. As
diversas reformas da previdência têm operado com uma lógica simples: a diminuição
dos salários dos aposentados e o aumento do tempo de serviço dos ativos, que é um
item destacado desse processo de precarização.
Na educação existe uma distribuição de gênero muito clara, de maneira que a
presença feminina é significativa, tanto de professoras, de
técnico-administrativas e maior ainda no setor de alimentação e limpeza das
instituições de ensino. Esses dois últimos, não a toa, são carreiras públicas
quase totalmente extintas e entregues às empresas terceirizadas, ampliando a
superexploração das mulheres trabalhadoras da educação. Isso significa que um
sindicalismo que não incorpora a discussão de gênero não reflete a realidade do
ramo da Educação. É preciso levar em consideração a questão de gênero e como ela
se vincula aos conflitos e contradições. A principal delas é que a precarização
do trabalho feminino.
Estas contradições têm se aprofundado com as diferentes reformas e políticas de
governo. A política de "expansão" e "reforma" da educação tem seguido uma lógica
privatizante e de subordinação ao capital, e os governos petistas apesar do
verniz "social" foram essenciais nesse processo. Duas principais expressões disso
são, em primeiro lugar, a precarização das condições de trabalho e de estudo, com
a expansão da terceirização, aumento da relação professor/aluno, do trabalho
temporário e da expansão de instituições de ensino privadas com níveis salariais
mais baixos e menos direitos para os trabalhadores e estudantes. Em segundo
lugar, pelo controle da força de trabalho, que ocorre tanto pelas políticas
educacionais produtivistas, de empreendedorismo e competição desigual que dominam
ideologicamente trabalhadores e estudantes e tem como principal mecanismo o
vestibular, mas também com os ataques à modelos mais participativos de gestão
através da intervenção dos governos nas direções das instituições de ensino, a
militarização de escolas, e as políticas anti-sindicais, contra a liberdade de
cátedra, de livre reunião e debate nas instituições.
A expansão da rede de ensino privada através do Prouni (programa de teor
privatista, que injetou recursos públicos na iniciativa privada durante os
governos petistas) ampliou a massa de trabalhadores da educação contratados por
pequenas e médias empresas privadas e confessionais. Uma parcela significativa da
classe trabalhadora se encontra trabalhando ou estudando nessas instituições, no
entanto, o mito estatista da ampliação do "serviço público" como fortalecimento
do Estado e dos seus objetivos estratégicos, que domina a burocracia sindical e
partidária de esquerda, tem boicotado sistematicamente a organização e as lutas
reivindicativas nessa categoria. Como pudemos ver a luta dos trabalhadores da
educação da rede privada de ensino e dos setores terceirizados como limpeza e
alimentação, são centrais para o enfrentamento das políticas capitalistas na
educação e de superexploração do trabalho. Uma ação sindical classista deve
incluir esses setores na atividade de luta e organização contra os interesses do
Estado e do Capital.
2) O sindicalismo oficial na Educação e a crise de organização dos trabalhadores
A ascensão do governo Bolsonaro/Mourão e quase dois anos de pandemia deixaram
mais explícito que nunca: os trabalhadores não podem contar com as burocracias
sindicais da Educação (CNTE, FASUBRA, ANDES, SINASEFE) nem com as centrais
sindicais pelegas (especialmente CUT e CTB). Nesses últimos anos as burocracias
sindicais de "esquerda" agiram de forma criminosa, apática, abandonando qualquer
possibilidade de luta de massas por condições de trabalho e de vida da classe
trabalhadora. Mas a desmobilização não caiu do céu, é preciso entender a origem
da crise de organização da classe trabalhadora.
A concepção reformista-burocrática, que orienta os principais sindicatos e
movimentos desde os anos 1980, teve duas consequências graves para a
desmobilização dos trabalhadores: 1) Estruturas sindicais cada vez mais
autoritárias, com direções que controlam e desorganizam as bases para se
perpetuar no poder das entidades; 2) submissão do movimento sindical-popular aos
partidos e seus objetivos eleitorais e governos, principalmente ao PT (mas não
só, outros partidos menores como PCdoB, PSOL e PSTU reproduzem a mesma lógica).
Essas duas consequências pioraram muito desde os governos do PT. A base de todos
os governos do PT foi a conciliação de classes com a burguesia e os partidos de
direita. Os governos petistas, com o apoio da CUT e da UNE, retiraram direitos
trabalhistas, apoiaram o crescimento da educação privada, reprimiram greves e
protestos. Dois exemplos do caráter dos governos petistas são a imposição da
reforma da previdência em 2003, no primeiro ano do governo Lula, e a lei
antiterrorismo em 2016, pouco antes do fim do governo Dilma.
Cada vez mais atrelados a política eleitoral, com o tempo esse sindicalismo
socialdemocrata perdeu as poucas características de luta que restavam, se
tornando cada vez mais pelego, mais dependente de conchavos com governos e
patrões, cada vez mais um trampolim pra política eleitoral. É o caso da grande
maioria dos sindicatos e confederações nacionais da educação.
Para manter o movimento sindical-popular submisso aos governos (e mantê-lo até
hoje submisso à estratégia eleitoral do Lulismo), era preciso manter o controle
autoritário no interior das organizações sindicais, impedir que a indignação das
bases derrubasse as direções pelegas, mesmo que para isso tivessem que fraudar
eleições sindicais, boicotar greves e lutas, manipular assembleias, agredir
opositores e outras práticas infames (e vergonhosas pra quem diz defender a
"democracia"!). A consequência de anos dessa política burocrática, autoritária e
corporativista da esquerda foi o afastamento, a desesperança e a desorganização
cada vez maior da classe trabalhadora. É essa a política que tem desacreditado os
sindicatos aos olhos do trabalhador, essa política que no final de cada greve
longa coloca grevistas de pires nas mãos nos corredores das casas legislativas,
desmoralizando a luta coletiva e fortalecendo o sistema partidária as custas da
exaustão das categorias. Essa é a verdadeira origem da tão falada "desmobilização".
Hoje, mesmo na oposição ao governo Bolsonaro, a burocracia sindical e partidária
de esquerda está tão afundada no oportunismo eleitoreiro e na crise de
organização, que é incapaz de retomar a iniciativa de luta. As poucas lutas reais
foram por fora das burocracias, como das torcidas organizadas e protestos
antirracistas em 2020. As atuais passeatas "fora Bolsonaro" são um espetáculo de
impotência e passividade, em grande parte uma cópia dos passeios de domingo da
pequena burguesia "contra a corrupção" e "fora Dilma", e apesar da boa intenção e
do número de pessoas, o método recuado sequer arranha a estabilidade do governo,
muito menos impede a perda gigantesca de direitos sociais e trabalhistas.
A campanha "fora Bolsonaro" não tem envolvido e mobilizado de fato a classe
trabalhadora. Primeiro porque a tática principal da oposição (PT e CUT) não é o
impeachment, é desgastar o governo até as eleições do ano que vem. Segundo porque
mesmo o impeachment (defendido por PSOL, UP, PSTU) também não é uma garantia real
para o povo, pois a troca de governos e políticos na gerência do Estado não
garante mais direitos ou melhorias. No final das contas, as duas linhas do "fora
Bolsonaro" (via eleições ou via impeachment) condicionam a luta por direitos à
troca do governo de turno, ou seja, retiram dos trabalhadores e suas organizações
o protagonismo de se defender diretamente, por suas próprias mãos, colocando esse
protagonismo nos partidos, no parlamento ou no novo "salvador da pátria".
Por tudo isso, a situação geral da classe trabalhadora brasileira hoje é de
defensiva, e em grande parte de defensiva passiva. Quem está na ofensiva é a
burguesia, ela está em condições de avançar em seus objetivos estratégicos de
classe. Podemos relacionar quatro indicativos gerais dessa defensiva:
a) Declínio progressivo das greves desde 2016/2017 e seu caráter de
reivindicações defensivas (ver série histórica do Dieese) e, no mesmo período,
declínio das ocupações e retomadas de terra no campo por sem terras e indígenas
(ver CPT);
b) Hegemonia da pequena política reformista e reacionária (lulismo x
bolsonarismo) através das ilusões eleitorais e submissão à grande burguesia, de
teatros institucionais como as CPIs, da ideologia do empreendedorismo/ostentação,
das crenças pós-modernas/liberais nas mudanças através de "estilos de vida"
pessoais alternativos, assim como a hegemonia da agitação virtual e por redes
sociais que desconstrói as organizações de massa e o trabalho de base e afasta o
movimento social da massa popular.
c) Avanço da violência aos povos do campo e periferias, com chacinas e grupos de
extermínio, conflitos por água, terra etc. (ver CIMI, CPT, Mapa da Violência);
d) Redução da massa salarial, do poder de compra e condições de existência
piorados com a inflação (ver DIEESE, IBGE) e crescimento da insegurança
alimentar, assegurados por aprovações legislativas de políticas de Estado que
consolidam a desregulamentação e flexibilização de direitos trabalhistas,
políticos e sociais, implicando também em danos psíquicos e desmoralizantes que
atrasam o enfrentamento.
Essa caracterização é importante. As nossas táticas de luta e organização devem
estar condicionadas pela realidade e aos nossos objetivos estratégicos. Assim
evitaremos erros e desvios. Nesse momento de defensiva, a linha sindical
classista da FATE é a defesa imediata da retomada das assembleias, greves e
protestos em nossas categorias por direitos econômicos e sociais. Defende,
portanto, a ação direta de classe e a organização de baixo para cima dos
trabalhadores da educação, e lutará em cada ocasião e em cada base aonde se
encontre um militante ou seção sindical contra a influência nefasta do
reformismo/conservadorismo e pela construção de um Sindicalismo Revolucionário de
massas no Brasil.
Hoje a classe trabalhadora está pressionada por dois projetos burgueses
dominantes, um de esquerda (lulismo) outro de direita (bolsonarismo). A
polarização eleitoral entres eles ilude uma parte do povo e das nossas
categorias, mas a verdade é que nenhum deles representa os anseios e um projeto
próprio e autêntico da classe trabalhadora. Na educação esses dois projetos
também têm polarizado a política educacional, deixando os trabalhadores da
educação cada vez mais subjugados e explorados, sem um Plano de Luta pela
Educação com real independência de classe. Portanto, precisamos agora definir os
objetivos organizativos e programáticos da Federação Autônoma de Trabalhadores/as
da Educação.
3) Plataforma de Luta e Organizaçãodos Trabalhadores da Educação
3.1) Política de Organização Sindical
A FATE é uma organização de trabalhadores por local de trabalho que se opõe não
apenas às diretorias específicas da CNTE, ANDES, FASUBRA ou SINASEFE, mas ao
modelo majoritário de sindicalismo de Estado presente no país e em nosso ramo. A
FATE combate a estrutura sindical da ditadura Vargas, herdeira do fascismo, e
luta pelo FIM DA UNICIDADE SINDICAL, da CARTA SINDICAL e do IMPOSTO SINDICAL. Ou
seja, defendemos radicalmente o direito de LIBERDADE SINDICAL E DE ASSOCIAÇÃO da
classe trabalhadora, sem a interferência do Estado ou dos patrões. Defenderemos
radicalmente a nossa própria legitimidade e das nossas seções sindicais bem como
de outras associações e organizações populares não tuteladas pelo Estado.
Portanto, a FATE sabe que seu desafio é muito mais sério do que a simples
conquista de uma diretoria sindical. Propomos a construção de uma nova prática
política, conclamamos os trabalhadores da educação a tomar para si o protagonismo
da sua luta e organização coletiva por melhores condições de trabalho e de vida.
Rompemos definitivamente com essa prática reformista de mendicância aos
parlamentares, seja de qual partido for. Que os sindicatos sejam dos
trabalhadores e não de partidos e correntes políticas oportunistas.
No sindicalismo conservador e socialdemocrata as "políticas" são quase sempre
pensadas como uma política a ser proposta para os empregadores. É como se a
função do sindicato fosse dar assessoria ao Estado e aos patrões. No
funcionalismo público isso faz com que os sindicatos se pensem como assessores de
governos, secretarias e ministérios. Aqui recusamos esta concepção.
O centro da nossa estratégia é a ação direta de classe. A luta deve passar
estrategicamente, apesar de não exclusivamente, pela greve. Mas a greve não deve
ser somente defensiva, mas ofensiva. A nossa política é organizar não somente
greves defensivas e reivindicativas (de direitos e salários), mas greves
ofensivas e de solidariedade às lutas diversas, especialmente a greve geral.
Dentro das greves, trabalharemos para construir comandos unificados
inter-categorias localmente e quando possível nacionalmente controlados pelas
bases em luta.
A política das organizações sindicais deve ser pensada para fazer a luta e para
contribuir com as lutas sociais. Nesse sentido, a nossa política é de criar
organismos unificados de mobilização que aglutinem todos os segmentos de
trabalhadores da educação nas instituições de ensino e durante as lutas e greves.
Em determinadas lutas esses organismos podem reunir estudantes ou outros setores
populares. Além disso, as seções sindicais da FATE irão realizar ações
específicas para organizar os setores mais oprimidos na educação, como os
terceirizados, os temporários e trabalhadores da iniciativa privada. Essas são
tarefas centrais da luta contra o corporativismo.
Em relação à oposição aos sindicatos oficiais, defenderemos a desfiliação destes
de todas as centrais e confederações oficiais tuteladas pelo Estado e pela
concepção socialdemocrata ou conservadora. Internamente aos sindicatos
defenderemos a sua reorganização, através de uma estrutura de poder e
autoorganização desde as bases e dos locais de trabalho até o topo/centro, ou
seja, uma organização federalista e democrática. Defenderemos também a expansão
da base representativa dos sindicatos para unificar todos os trabalhadores da
educação, incluindo terceirizados e educação privada. Essa política de
reorganização externa e interna é a única possibilidade de destruir o
burocratismo, o eleitoralismo e o corporativismo que o corroem por fora e por
dentro. Para colocar pelo menos uma parte dos sindicatos atuais na esteira da
construção do sindicalismo revolucionário as seções sindicais farão uma oposição
radical contra as direções pelegas, e que não descartará a ruptura total com a
estrutura sindical corrupta quando isso for necessário e possível.
3.2) Programa para as Lutas Econômicas e Políticas
A lutas específicas das categorias são bases fundamentais para realizar a unidade
inter-categorias de todo o ramo da Educação e a unidade com as lutas sociais de
forma geral. Nesse sentido, são tarefas fundamentais assumidas pela FATE, como
parte da sua tarefa anticapitalista, o seguinte Programa de Luta:
i) Lutar contra precarização das condições de trabalho e ensino; através da
reivindicação de mais recursos para os serviços públicos e do controle direto da
sua aplicação por fóruns democráticos de base e por jornadas de trabalho docente
e pela redução da jornada de trabalho;
ii) Luta por reajustes salariais regulares para a categoria e para o salário mínimo;
iii) Luta contra a discriminação geracional, sexual e étnico-racial, através da
garantia de direitos previdenciários, salários (paridade de ativos e
aposentados), e de diretos e condições iguais para homens e mulheres na mesma
ocupação (efetivos, contratados ou terceirizados);
iv) Lutar contra violência sexual e racismo, através de campanhas de defesa das
mulheres, sua organização para enfrentar a violência sexual. Lutar e organizar
creches e assistência à mulher trabalhadora para auxiliar em sua participação
sindical. Lutar pela ampliação do direito a licença paternidade e maternidade,
especialmente para terceirizadas e estudantes.
v) Lutar pela extensão dos direitos dos servidores públicos a todos os
contratados e terceirizados nas instituições de ensino, cumprimento dos direitos
trabalhistas dos trabalhadores terceirizados e reintegração dessas funções no
serviço público;
vi) Lutar pela carreira única para as Instituições Federais de Ensino como parte
da reestruturação dos direitos trabalhistas e das carreiras no serviço público
federal.
vii) Lutar por transporte dentro e para as instituições de ensino, mais linhas de
transporte coletivo de acesso às escolas e universidades, lutar por
infraestrutura de permanência (moradia e restaurantes estudantis), por salas de
aula com condições ambientais (luz, som e calor) que garantam a saúde do servidor
e do estudante.
viii) Lutar pela liberdade de cátedra, contra toda forma de reprimir o
conhecimento e o livre debate dentro de sala de aula, lutar pelo direito à livre
expressão e organização de estudantes, terceirizados e toda a comunidade escolar.
ix) Lutar pela democratização das instituições de ensino, contra as intervenções
de governos e patrões na gestão das escolas e universidades, lutar contra a
militarização das escolas, defender eleição direta e universal para gestores e a
construção de assembleias das comunidades escolares e universitárias acima das
direções.
x) Lutar contra o repasse de verbas públicas para a educação privada e demais
empresas vinculadas às instituições de ensino (fundações, ongs) que privatizam a
educação pública "por dentro", lutar como contra os cortes orçamentários na
educação e contra Emenda Constitucional nº 95 do Teto de Gastos.
xi) Lutar contra o vestibular, o ENEM e qualquer forma de impedir o livre acesso
dos estudantes secundaristas ao ensino superior público.
xii) Lutar por uma educação e uma pedagogia a serviço da classe trabalhadora,
contra a divisão do trabalho intelectual e manual, lutar por uma instrução
integral e libertadora.
xiii) Lutar contra o Plano Nacional de Educação, contra a Reforma do Ensino
Médio, contra o Ensino à Distância e todas as políticas neoliberais de Estado que
visam aprofundar e aumentar a privatização, a precarização e o controle
pedagógico das instituições de ensino afim de atender aos interesses do capital e
das classes dominantes.
Assim, de forma imediata e para contribuir com a reorganização dos trabalhadores
da Educação, iremos construir no próximo período em todo o país e em cada base as
seções sindicais da FATE, ou seja, as organizações por localidade e por
instituição de ensino, abertas a todos os trabalhadores da educação. As seções
certamente se encontrarão em diferentes etapas de construção, estruturação e
categorias, mas todas irão desenvolver a resistência orientadas por essa mesma
Plataforma de Luta e Organização, ou seja, pela concepção sindicalista
revolucionária dos trabalhadores da educação.
Junte-se à Federação Autônoma de Trabalhadoras e Trabalhadores da Educação!
Por uma educação a serviço da classe trabalhadora!
Morte a burocracia sindical e ao sindicalismo de Estado!
Reconstruir o sindicalismo revolucionário!
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