(pt) luta fob: Leia o novo boletim Terra e Liberdade da luta dos povos do campo e floresta
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Segunda-Feira, 17 de Maio de 2021 - 11:41:55 CEST
Clique para baixar o Boletim Nacional Terra e Liberdade Nº 02, de maio de 2021
PREPARAR A GRANDE REBELIÃO INDÍGENA EM DEFESA DA TERRA ---- Os povos indígenas no
Brasil enfrentam um grave cenário de aprofundamento das violações de seus
direitos fundamentais e do avanço do agronegócio e da mineração sobre seus
territórios. ---- O governo Bolsonaro/Mourão, como parte de sua política de
extermínio e devastação socioambiental, tenta aprovar o Projeto de Lei 191/20.
Caso aprovado, este projeto irá legalizar o agronegócio e a mineração em Terras
Indígenas, exploração de recursos hídricos, o arrendamento de terras para
monocultura de soja, cana e demais plantios destinados para exportação.
Junto a isso, o Marco Temporal - tese anti-indígena que afirma que os povos não
têm direito às terras que reivindicam caso não estivesse às ocupando quando foi
promulgada a Constituição de 1988 - segue ameaçando e violando diferentes
comunidades ao redor do país.
Este contexto amplia a pressão exercida por grandes multinacionais do agronegócio
e fundos de investimento sobre terras indígenas, acompanhadas do garimpo, de
madeireiras, da grilagem e da (para)militarização do campo e das florestas, o que
também amplia cada vez mais o conflito entre interesses do Estado e do grande
capital e a histórica resistência anticolonial dos povos.
Para cumprir com este objetivo, o governo busca dividir os povos indígenas
através de conflitos internos, ameaças e exploração dos contextos de
vulnerabilidade, considerando o agravamento da fome e da pandemia do coronavírus.
Marcelo Xavier, presidente da FUNAI, apoia os interesses dos ruralistas e promove
uma política de morte para facilitar a entrada de invasores e exploradores. O
real interesse do governo para "fazer a boiada passar", portanto, é invadir as
Terras Indígenas já demarcadas e impedir definitivamente a demarcação das terras
ainda reivindicadas pelos povos.
Diferentes territórios indígenas ao redor do país estão ameaçados de se
transformarem em pastos ou gigantescos campos de monocultura e mineração,
ofensiva já em curso através das queimadas criminosas comandadas por grandes
ruralistas em diferentes regiões, seja na Amazônia, no Cerrado ou no Pantanal.
Com o apoio de igrejas, grandes fazendeiros, garimpeiros, políticos e sindicatos
rurais. Os arrendamentos de terra para plantio de soja e outras monoculturas
também se agravam, como forma de integrar ao mercado global as poucas terras
indígenas sob controle dos povos.
Observamos a grave abertura de um novo período de desapropriação de terras e
consequente expansão da fronteira agrícola, como nos diferentes ciclos que
sucederam a colonização. Desta vez, os ricos e poderosos buscam esgotar a terras
através de sua exploração máxima e avançar sobre os últimos rios e florestas. Não
podemos permitir que isso aconteça. Chegou a hora de um grande levante dos povos,
para dizermos juntos, do campo à cidade: Já Basta!
É o momento de reunir as diferentes gerações que hoje lutam pela terra e avançar
as retomadas dos territórios ancestrais, expulsando definitivamente os herdeiros
da colonização e libertando a terra das garras devastadoras do latifúndio e do
Estado. Em cada aldeia e quilombo, autodemarcar e fazer a autodefesa é um passo
indispensável para enfrentar as milícias do agro.
Como alternativa, é preciso unir trabalhadores da cidade, camponeses e indígenas
para 1) fortalecimento da soberania alimentar e da solidariedade para alimentar o
povo. Trocar sementes crioulas, produção local e cuidado com o solo degradado e
os cursos dos rios; 2) criar redes para troca de alimentos e experiências de
defesa da terra sem depender do agronegócio e seus lacaios mentirosos; criar
autonomia alimentar, de saúde e educação para preparar nosso povo para rebelião;
4) levantar hortas comunitárias, grandes roças para alimentar nossas comunidades
e expulsar as empresas estrangeiras; 3) destruir as máquinas do agronegócio e
seus plantios, colocando no lugar a defesa da vida e da biodiversidade,
encaminhando o fim da propriedade privada com a retomada dos territórios
ancestrais. Assim, passo a passo, vamos recuperar a possibilidade de vivermos em
terra uma livre e sem patrões.
A FOME DO POVO É CULPA DA CONCENTRAÇÃO DE TERRAS
A fome é um problema antigo no Brasil. Mas a causa da fome nunca foi a falta de
alimentos, e sim a concentração de terras e o modelo capitalista de
produção/distribuição de alimentos. A origem da fome é o roubo colonial das
terras. Esse roubo continua nos dias de hoje, não mais pelos colonizadores
portugueses, mas pelas grandes empresas agropecuárias, extrativistas e bancos.
Essas empresas são responsáveis por roubar nossas riquezas, explorar nosso povo e
expulsar violentamente milhões e milhões para as grandes cidades.
Na agropecuária capitalista não se produz o que o povo realmente precisa, e a
distribuição nos centros urbanos é controlada por grandes empresas de
supermercados. Nesse modelo de produção e distribuição de alimentos o principal é
o lucro dos ricos e não o bem-estar e a alimentação saudável do povo. Sem terra,
o povo perde sua autonomia alimentar e fica à mercê dos ricos e dos políticos.
O "AGRO" É UM PROJETO DE FOME E MORTE PARA O POVO
Até a década de 1970 a maior parte da população brasileira vivia no campo.
Naquela época a ditadura militar acelerou o roubo das terras de camponeses,
indígenas e quilombolas para entregar para as grandes empresas. Desde aquela
época a classe rica divulga pelo menos três mentiras: 1) que a cidade é melhor
que o campo e que a cidade pode crescer sem parar, pra sempre; 2) que o modelo do
"agronegócio" é necessário para alimentar o Brasil; 3) que os expulsos de suas
terras podem ir para a cidade e aprender trabalhos urbanos, mas que os pobres das
cidades não podem reaprender a trabalhar e viver na terra.
Essas mentiras são divulgadas todos os dias nos jornais, televisão e redes
sociais. Elas são divulgadas para justificar a ação criminosa e injusta dessas
empresas e dos governos. Mas a verdade é que a fome e a miséria estão aumentando.
Hoje 19 milhões de brasileiros passam fome e 55% da população sofre com
insegurança alimentar. Enquanto isso, as grandes fazendas de soja, milho e cana
seguem crescendo em área e produção; seguem vendendo suas mercadorias para a
Europa, Estados Unidos e China; e seguem enriquecendo cada vez mais. As terras
camponesas usadas pra produzir feijão, arroz, carne, frutas e verduras que
realmente alimentam o povo estão cada vez menores.
A concentração de terras não causa apenas a fome na cidade, mas também no próprio
campo, com os minifúndios e a falta de terras necessárias pra garantir a
sobrevivência das famílias e comunidades. A mesma coisa acontece com os povos
indígenas e quilombolas em pequenos territórios, confinados e cercados por
grandes fazendas. Sem terra ou com pouca terra são obrigados pela fome a serem
explorados nas empresas, muitos vão para as cidades.
RETOMAR OS MOVIMENTOS DE OCUPAÇÃO DE TERRAS E TERRITÓRIOS
O Brasil é um país gigante e rico em terra fértil e natureza. Mas hoje o povo não
tem o direito a viver e trabalhar na terra. A maioria está tentando sobreviver
como pode nas cidades, fazendo bicos, pedindo dinheiro, roubando, morando em
favelas, cortiços ou na rua. E os preços dos alimentos só cresce cada vez mais.
As terras precisam ser urgentemente retomadas pelo povo, pra combater a fome hoje
e construir uma verdadeira autonomia alimentar amanhã!
Sem isso o problema da fome e da crise nas cidades não terá uma solução real. É
por isso que nenhum governo até hoje acabou nem vai acabar com a fome com
"auxílios" e "políticas públicas" aos mais pobres. Isso é ilusão. Sem destruir o
latifúndio, sem a ação direta dos povos pela retomada das terras, a solução do
problema fica pela metade.
Assim, a luta contra a fome no Brasil precisa assumir duas ideias centrais: 1) A
Aliança dos Trabalhadores e Povos do Campo e da Cidade - A luta contra a
inflação, contra o desemprego e a fome nas cidades, deve se unir com a luta no
campo pela terra, pelas cooperativas camponesas, pelos territórios indígenas e
quilombolas; 2) A Luta não é por esmolas ou por políticos e eleições - O povo
deve se organizar de forma autônoma, pela base, para ocupar as terras e
territórios, sem nenhuma ilusão com políticos ou falsas soluções de cima.
https://lutafob.org/wp-content/uploads/2021/05/boletim-TL2-EDIT.pdf
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