(pt) cab anarquista: 100 anos da Revolta de Kronstadt: recordar é lutar! (ca, de, en, fr, it)
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Sábado, 6 de Março de 2021 - 09:16:11 CET
Lênin, marinheiros de Kronstadt, Partido Comunista, Revolta da Kronstadt,
Revolução Russa, Soviete de Kronstadt, sovietes livres, todo poder aos sovietes,
Trotsky ---- Declaração anarquista internacional sobre o centenário da revolta de
Kronstadt em 1921 ---- Que os trabalhadores do mundo inteiro saibam que nós, os
defensores do poder dos sovietes, cuidaremos das conquistas da revolução social.
Venceremos ou pereceremos sobre as ruínas de Kronstadt, lutando pela justa causa
das massas trabalhadoras. Trabalhadores de todo o mundo nos julgarão. O sangue
dos inocentes cairá sobre as cabeças dos comunistas, loucos selvagens embriagados
pelo poder. ---- Viva o poder dos sovietes! ---- O Comitê Revolucionário
Provisório de Kronstadt
Em 1º de março de 1921, o Soviete de Kronstadt se rebelou contra o regime do
Partido Comunista Russo. A Guerra Civil tinha efetivamente terminado com a
derrota em 1920 das últimas seções do Exército Branco na Rússia europeia. As
batalhas restantes nos territórios da Sibéria e Ásia Central foram pela extensão
territorial do que seria chamado de União Soviética no ano seguinte. No entanto,
as condições econômicas permaneceram terríveis. Em resposta, greves eclodiram em
toda a cidade de Petrogrado em fevereiro de 1921. Os marinheiros de Kronstadt
enviaram uma delegação para investigar as greves.
Antecedentes
A cidade de Kronstadt está localizada na ilha de Koltin, que domina os acessos a
Petrogrado. Kronstadt foi o lar da maior base naval da Rússia, e sediou um
bastião da política revolucionária desde 1905, desempenhando um papel de destaque
nas revoluções de 1905 e 1917. O Soviete de Kronstadt foi criado em maio de 1917,
logo após o Soviete de Petrogrado. Ao longo de 1917, os Sovietes se multiplicaram
e se fortaleceram em todo o Império Russo. Em outubro, eles derrotaram o governo
provisório e, posteriormente, o Congresso Pan-Russo dos Sovietes tomou o poder em
suas mãos. No entanto, o Congresso Pan-Russo aceitou a proposta bolchevique de
nomear o Conselho dos Comissários do Povo para atuar como gabinete executivo
sobre os Sovietes. Depois disso, os bolcheviques levaram pouco tempo para
estabelecer um aparato estatal com poderes coercitivos. Assim, fundamentalmente,
eles subordinaram os Sovietes locais e regionais ao Soviete central.
Em abril de 1918, os bolcheviques começaram sua repressão contra os anarquistas e
começaram os expurgos nos Sovietes. A Revolução de Outubro havia estabelecido a
liberdade de imprensa e o direito dos soldados de eleger seus oficiais, mas os
bolcheviques reverteram essas e muitas outras mudanças sociais essenciais no
curso da Guerra Civil.
A repressão de toda a oposição, o Comunismo de Guerra e as requisições forçadas
impostas pelos pelotões de fuzilamento, juntamente com a propagação da fome e da
pobreza, afastaram as simpatias que muitos operários e camponeses haviam
depositado no bolchevismo. Protestos de operários e camponeses contra medidas
autoritárias bolcheviques foram frequentes entre 1918 e 1921, incluindo múltiplas
ondas de greves de trabalhadores.
A Resolução de Petropavlosk
As greves de Petrogrado em fevereiro de 1921 levaram os marinheiros de Kronstadt
a enviar uma delegação para investigar e fazer um relato. Os próprios marinheiros
estavam insatisfeitos com a administração da Marinha e haviam deposto seu
comandante em janeiro. O relatório da delegação induziu a aprovação da resolução
de Petropavlosk, da seguinte forma:
Tendo em vista que os Sovietes presentes não expressam a vontade dos camponeses e
operários, imediatamente realizar eleições por voto secreto, havendo na campanha
pré-eleitoral total liberdade de agitação entre camponeses e operários;
Estabelecer liberdade de expressão e imprensa para camponeses e operários, para
anarquistas e partidos socialistas de esquerda;
Garantir a liberdade de reunião para sindicatos e organizações camponesas;
Convocar uma Conferência não partidária de operários, soldados do Exército
Vermelho e marinheiros de Petrogrado e Kronstadt, e da Província de Petrogrado,
não depois de 10 de Março de 1921;
Libertar todos os presos políticos dos partidos socialistas, bem como todos os
operários, camponeses, soldados e marinheiros presos por ligação com o movimento
operário e camponês;
Eleger uma Comissão para revisar os casos daqueles que estão detidos em prisões e
campos de concentração;
Abolir todos os politotdeli (escritórios políticos) porque nenhum partido deve
desfrutar de privilégios especiais na disseminação de suas ideias ou receber
financiamento do governo para tais fins. Em vez disso, devem ser estabelecidas
comissões educacionais e culturais eleitas localmente e financiadas pelo governo;
Abolir imediatamente todos os zagryadintelniye otryadi (esquadrões bolcheviques
de requisição de grãos);
Igualar as rações de comida para todos os que trabalham, com exceção daqueles
empregados em funções prejudiciais à saúde;
Abolir unidades de combate bolcheviques em todas as divisões do Exército, bem
como guardas bolcheviques de serviço em moinhos e fábricas. Caso sejam
necessários tais guardas ou unidades de combate, serão nomeados no Exército entre
as fileiras e nas fábricas, de acordo com o julgamento dos trabalhadores;
Conceder aos camponeses total liberdade de ação em relação às suas terras e
também ao direito de ter seu gado, desde que os camponeses gerenciem seus
próprios recursos, ou seja, sem o uso de força de trabalho contratada;
Pedir a todas as divisões do Exército, bem como aos nossos camaradas do Exército
kursanti, que possam aderir às nossas resoluções;
Exigir que a imprensa dê a maior publicidade às nossas resoluções,
Nomear uma Comissão de Controle de Viagens[e];
Permitir a livre produção kustarnoye (artesanal, em pequena escala) com esforço
próprio.
Esta resolução pode ser resumida como contendo duas demandas fundamentais: a
restauração da democracia soviética e um compromisso econômico com os camponeses.
Revolta e repressão
No dia primeiro de março, uma reunião em massa convocada pelo Soviete de
Kronstadt apoiou a Resolução de Petropavlosk. Esse foi o início da Revolta de
Kronstadt. Nos dias seguintes, os rebeldes tentaram negociar com o governo
bolchevique. Permitiram que Kalinin voltasse para Petrogrado. Ignoraram os
conselhos de oficiais czaristas (que haviam sido contratados pela Marinha como
assessores técnicos) para tomar medidas militares, incluindo ataques ao
continente. Os bolcheviques não retribuíram e prenderam as delegações de
Kronstadt que chegaram ao continente.
O governo atacou em 7 de março, mas foi derrotado, por ter perdido forças
significativas por causa das deserções. Um ataque mais forte em 10 de março
também foi derrotado, com muitas baixas no lado bolchevique. Finalmente, o último
ataque, com forças muito mais numerosas, ocorreu em 17 e 18 de março, e conseguiu
capturar Kronstadt e suprimir a revolta.
Legado
Hoje, os anarquistas lembram-se do centenário da Revolta de Kronstadt por duas
razões. Em primeiro lugar, demonstra que não é verdade que a única alternativa ao
capitalismo na Rússia era o regime autoritário e repressivo do chamado Partido
"Comunista". Os e as habitantes de Kronstadt conseguiram manter vivos os valores
originais da Revolução Russa e os estavam defendendo novamente contra o governo
do Partido Comunista por meio de comissários. Foram derrotados não por causa da
rejeição de suas ideias, mas pela situação de esgotamento do povo russo.
Em segundo lugar, lembramos de Kronstadt porque a verdadeira história da revolta
é muito diferente das versões mentirosas propagadas por vários grupos leninistas
e mostra até que ponto os bolcheviques se desviaram dos princípios sobre os quais
a Revolução de Outubro foi fundada. Os e as habitantes de Kronstadt queriam
sovietes democráticos, não uma Assembleia Constituinte que só poderia estabelecer
um governo capitalista. Eles e elas rejeitaram ajuda do estrangeiro e se
dirigiram aos camponeses e camponesas, operários e operárias da Rússia. Mostraram
princípios mais altos no curso do conflito, tentando a todo momento, mesmo
durante a última batalha, confraternizar com as tropas do governo e ganhá-las por
meios políticos. Alguns leninistas, desesperados para defender a credibilidade da
denúncia da revolta em Kronstadt como "contrarrevolucionária", citam declarações
dos bolcheviques em Kronstadt no período posterior aos fatos. Só consideramos
necessário apontar que essas declarações foram assinadas por pessoas presas e
ameaçadas de execução. Declarações falsas geralmente podem ser obtidas por muito
menos.
Os bolcheviques, que então chamavam a si mesmos de Partido Comunista, realizaram
seu Décimo Congresso durante o período da Revolta de Kronstadt. Críticos da
revolta frequentemente citam artigos da Resolução Petropavlosk como uma exigência
de compromisso inaceitável com os camponeses, mas raramente mencionam que o
Décimo Congresso aprovou a Nova Política Econômica, que era um compromisso muito
mais amplo. Na verdade, os aspectos da Resolução Petropavlosk que eram
inaceitáveis para os bolcheviques eram aqueles que exigiam a democracia
soviética. Foram os bolcheviques, não as e os combatentes de Kronstadt, que se
voltaram contra a classe trabalhadora.
Hoje, as e os anarquistas trabalham por novas revoluções das classes
trabalhadoras e populares em todo o mundo, e lutam pela mais plena democracia
direta nelas. Nos inspiramos nos e nas rebeldes de Kronstadt e faremos todo o
possível para que, ainda que seja tarde, seu sangue não tenha sido derramado em vão.
Todo poder aos sovietes e não aos partidos!
Viva o poder dos sovietes livremente eleitos!
? Alternativa Libertaria/ Federazione dei Comunisti Anarchici (AL/FdCA) - Itália
? Anarchist Communist Group (ACG) - Grã Bretanha
? Anarchist Federation - Grécia
? Aotearoa Workers Solidarity Movement (AWSM) - Aotearoa/ Nueva Zelanda
? Coordenação Anarquista Brasileira (CAB) - Brasil
? Devrimci Anarsist Faaliyet (DAF) - Turquía
? Die Plattform - Anarchakommunistische Organisation - Alemania
? Embat - Organització Llibertària de Catalunya - Catalunha
? Federación Anarquista de Rosario (FAR) - Argentina
? Federación Anarquista de Santiago (FAS) - Chile
? Federación Anarquista Uruguaya (FAU) - Uruguai
? Grupo Libertario Vía Libre - Colômbia
? Libertaere Aktion - Suiça
? Melbourne Anarchist Communist Group (MACG) - Austrália
? Organización Anarquista de Córdoba (OAC) - Argentina
? Organización Anarquista de Tucumán (OAT) - Argentina
? Organisation Socialiste Libertaire (OSL) - Suíça
? Union Communiste Libertaire (UCL) - França
? Workers Solidarity Movement (WSM) - Irlanda
? Zabalaza Anarchist Communist Front (ZACF) - África do Sul
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