(pt) 29M: O dia nacional de lutas e a hegemonia reformista por União Popular Anarquista - UNIPA
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Sexta-Feira, 18 de Junho de 2021 - 08:42:50 CEST
São Paulo - Bloco Combativo no 29M reuniu cerca de 400 pessoas. Na faixa, lê-se
"Nem parlamento, nem eleição. Ação direta e revolução!" ---- No dia 29 de maio
ocorreram manifestações de rua em dezenas de cidades do país tendo como palavra
de ordem central "fora Bolsonaro". Também surgiram diversas reivindicações
materiais por vacinação, contra a carestia de vida, contra os cortes na educação,
contra as reformas neoliberais e privatizações, dentre outras. O primeiro fato
importante do "dia nacional de lutas" é que um grande número de pessoas saiu às
ruas. Foi um dos maiores dias de lutas desde o início do governo
Bolsonaro/Mourão, com atos em 109 municípios e em 26 estados, segundo jornal El
País, e 200 cidades, segundo Estadão.
O segundo fato importante é que a maioria dos protestos foram pacíficos, o que
por si só não é um fato negativo, mas muitos tiveram como orientação hegemônica o
legalismo e o pacifismo. Na capital federal, por exemplo, o caráter foi dos
"passeios ordeiros" protagonizados em outros momentos tanto pela direita (MBL,
Fora Dilma, etc.) quanto pela esquerda reformista (PT, CUT, UNE, etc). A
organização do ato acatou sem resistência a ordem policial de fazer revista nas
bolsas e mochilas para entrar no ato e proibiu mastros de bandeira.
A adequação a tal medida no DF é representativa e revela uma fraqueza política de
quem diz querer combater um governo autoritário. Em locais como Recife (PE) e
Dourados (MS), houve um recuo de parte dos organizadores frente as recomendações
e ameaças do Ministério Público contra as aglomerações, o que também mostra uma
falta de disposição de enfrentar o regime e que a prioridade é apostar na via
eleitoral.
A única situação de conflito grave ocorreu em Recife (PE). Aí o ato, que seguia
pacífico, foi duramente reprimido por iniciativa da PM que deixou dois
trabalhadores parcialmente cegos com tiros de bala de borracha. Eram pessoas que
estavam no local e sequer participavam do protesto. Curiosamente foi a PM
comandada por um governo estadual de "esquerda", de Paulo Câmara (PSB/PCdoB), que
perseguiu e mutilou pessoas do dia nacional de lutas. Paulo Câmara buscou se
eximir da responsabilidade, afastando os policiais envolvidos, sem negar que
enviou a Tropa de Choque ao protesto.
Em localidades que os protestos foram mais cheios, como Brasília, São Paulo e Rio
de Janeiro, pudemos perceber uma composição mais proletarizada. Em outras
cidades, como Goiânia, a composição girou entre categorias da educação
(professores e estudantes) e servidorismo público. Apesar da indignação popular
com as condições de vida estar aumentando, nos parece ainda que importantes
setores da massa popular não se sentem a vontade com os movimentos "fora
Bolsonaro" devido sua proximidade com o "volta Lula". É preciso considerar que,
apesar de Lula ter forte popularidade, sua rejeição é também grande entre a
população.
As duas direções reformistas
Fotos de Giorgia Prates (Curitiba), Ricardo Stuckert (Brasília), Mídia Ninja (São
Paulo), Luiz Damasceno (Porto Alegre) e Pedro Rocha (Rio). Divulgação do Brasil
de Fato
Outro fato fundamental é que, apesar do 29M ter tomado um caráter de adesão e
indignação relativamente espontâneas (seja pela maioria das pessoas não estarem
organizadas desde a base, seja pelas principais burocracias sindicais e
partidárias terem boicotado ou aderido timidamente) a política hegemônica nos
atos foi a do campo reformista socialdemocrata. Essa política pode ser dividida
hoje em duas vertentes:
A política do reformismo degenerado, do lulismo e setores do social-liberalismo,
cuja linha é desgastar Bolsonaro (pela CPI, com ações virtuais e simbólicas) para
tirá-lo nas eleições de 2022, representado sobretudo pelas Frente Brasil Popular
e Povo sem Medo (CUT, UNE, MST, MTST etc.);
A política do reformismo "renovado" em ascensão, recentemente articulado a partir
da UP/PCR, PCB e correntes do PSOL que estão construindo uma nova frente "Povo na
Rua", cuja política é tirar Bolsonaro via impeachment antes das eleições de 2022;
essa política é tocada também pelo PSTU e alguns "independentes", mas que não são
bem aceitos nas instâncias desta nova "frente".
Apesar de diferenças táticas, essa duas vertentes reformistas apontam como foco
da estratégia a troca de governo pelas vias institucionais e a crença eleitoral.
Pelo lado do reformismo "renovado", as manifestações de rua devem reforçar a
pressão institucional para a queda do presidente. Pretendem agir, assim, como
mera força extra-parlamentar. Já para o campo do lulismo, as manifestações são
vistas como negativas para a imagem de "moralidade e responsabilidade" e,
portanto, negativas para a disputa eleitoral em 2022. Deputados do PT como
Humberto Costa criticaram os atos, o presidente da CUT Sérgio Nobre problematizou
os atos devido a pandemia e os dirigentes do MST tem postura contrária aos atos
de massa até a vacinação geral.
O que há em comum com estes dois campos? Ambos reproduzem cabalmente o paradigma
socialdemocrata/comunista. Defendem as reformas ou "revoluções" exclusivamente
políticas, com as falsas soluções de cima para baixo. Mas, principalmente, veem a
classe trabalhadora como incapaz de resistir e conquistar direitos pela ação
direta sob o governo atual, já que na prática estão abdicando de assembleias das
categorias, lutas e greves por necessidades materiais ou promovendo-as para
priorizar a ascensão de um novo governo "democrático e competente" para a
gerência do Estado burguês: "primeiramente, fora Bolsonaro...".
Essa concepção reformista e estatista nos protestos "fora Bolsonaro" tem como
consequência teórica negar a capacidade de luta e transformação direta da classe
trabalhadora. A consequência política é o abafamento e secundarização das
reivindicações sociais e econômicas das bases, dos trabalhadores e estudantes,
taxadas como "impossíveis no governo atual" (mas atacadas como "direitistas"
quando a social-democracia está no poder).
Outro ponto em comum entre os dois setores é sua subordinação à luta nos marcos
legais e do sindicalismo de Estado. Se o campo do reformismo degenerado apresenta
tipicamente esta posição, o campo reformista "renovado" cria algumas rupturas com
entidades oficiais para criar suas próprias entidades, mantendo o corporativismo.
É o exemplo do PCR/UP que rompeu com a UBES para criar a FENET, rompeu com o
SINTRASEF (servidores federais do RJ) para criar um Sindicato de Servidores
Federais de base municipal (portanto dentro da lei da unicidade sindical que
estabelece um sindicato por município), rompendo com Sindicato dos Metalúrgicos
para formar um Sindicato do Estaleiro em Niterói (modelo mais restrito por
empresa) ou atuando em ocupações de forma assistencialista.
O campo bakuninista e sindicalista revolucionário
Rompendo de cima a baixo com a socialdemocracia, para os bakuninistas são as
reivindicações materiais (por saúde, paz, pão, terra, educação, etc.)
impulsionadas desde as bases que possuem um maior potencial transformador e
antissistêmico. Um movimento sério de oposição sindical-popular ao governo
Bolsonaro/Mourão deveria estar se organizando para derrotar diretamente a sua
política de privatizações, de reformas neoliberais, de militarização, de
genocídio nas favelas, de descaso com a saúde pública e com a crise sanitária, de
arrocho salarial e carestia de vida, de intervenções nas instituições
educacionais. Sem ilusões com trocas de governo, só confiança na própria força e
mobilização popular em cada local de moradia, trabalho e estudo.
Assim, para nós trabalhadores revolucionários essa questão estratégica e
programática é da maior importância, principalmente nesse momento de defensiva
tática do proletariado. Os blocos sindicalistas revolucionários no 29M foram
importantes trincheiras de combate, mas é preciso estabelecer uma distinção mais
clara entre a nós e a estratégia reformista. Apesar da inflexão e animação que o
29M trouxe na perspectiva das lutas de rua, não estamos em um contexto de
derrubada insurrecional do governo. A saída da nossa defensiva como classe
precisará de mais do que alguns dias nacionais de luta, precisará ter
consolidação organizativa de bases.
A tarefa é da reorganização mais elementar da nossa classe. Se souberem
compreender isso, os revolucionários poderão cumprir um papel fundamental junto
ao povo. Assim, uma distinção real com o reformismo não será feita com "slogans"
e "estética radical", isso é superficial e pode ser mesmo prejudicial, e é
infelizmente a regra de seitas marxistas que atuam a reboque da social-democracia.
Leia também: Comunicado nº 76 - 29 de Abril de 2021
Combater o bolsonarismo e o lulismo, duas faces da dominação capitalista no Brasil
Uma alternativa sindicalistas revolucionária deve romper de cima a baixo com a
estratégia e o programa reformistas: priorizar a retomada das assembleias (nas
escolas, faculdades, locais de trabalho, comunidades) e movimentos
sindicais-populares desde as bases, assim como priorizar as reivindicações
concretas pela existência. E em todos as possibilidades disputar e propor uma
direção autônoma, classista e combativa para essas lutas.
Devemos debater, resolver e se envolver nos problemas cotidianos do povo.
Unificar e fortalecer essas experiências locais numa grande Federação
Sindicalista Revolucionária. Esse é o caminho correto para construir pela base
uma Greve Geral ou Dias Nacionais de Luta, sem ilusão ou "exigência" com as
burocracias sindicais e partidárias, só a oposição implacável ao peleguismo e a
organização autônoma das forças coletivas do povo.
RETOMAR ASSEMBLEIAS, GREVES E PROTESTOS: SÓ O POVO SALVA O POVO!
ABAIXO A POLÍTICAS ANTIPOVO E GENOCIDA DO GOVERNO BOLSONARO/MOURÃO!
RECONSTRUIR O SINDICALISMO REVOLUCIONÁRIO!
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