(pt) OASL: Liberdade imediata para Igo Ngo e Felipinho! Basta de Racismo!
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Terça-Feira, 19 de Janeiro de 2021 - 09:43:58 CET
nota assinada por inúmeras entidades, organizações e movimentos ---- No último
final de semana, Igo Ngo e Felipinho foram presos acusados de um roubo que
aconteceu na região de Pinheiros. Os dois amigos estavam na região do Largo da
Batata comendo yakisoba dos ambulantes que sempre estão por ali, num passeio que
sempre costumam fazer. Ao terminarem, voltaram para casa de condução que sai da
estação Pinheiros. Já na altura do Campo Limpo, o ônibus foi interceptado pela
polícia, que mandou os dois e mais alguns passageiros descerem, e os dois foram
presos por supostamente terem as características dos suspeitos indicados pela
vítima e testemunhas. Não tiveram sequer direito a serem devidamente ouvidos.
IGO E FELIPINHO SÃO INOCENTES! Eles não participaram do roubo que eles sequer
sabiam que tinha acontecido. Pelas informações obtidas, eles sequer passaram pela
rua onde aconteceu o crime. No percurso por eles percorrido, ainda pararam pra
sacar dinheiro no terminal, perderam o ônibus e ficaram esperado o próximo, na
tranquilidade de quem não deve nada e apenas estava voltando pra casa.
No relato da vítima, dois jovens negros teriam roubado sua bolsa com os pertences
dentro. Ela teria chamado um motorista de Uber, que teria seguido os suspeitos
até o terminal, quando acionaram a polícia, que foi atrás de dois quaisquer
outros jovens negros, que não tinham cometido qualquer crime. Dessa operação
resultou uma prisão ilegal, arbitrária, aleatória e racista! Mas para o sistema
de justiça criminal, que envolve desde a PM comandada pelo Governo do Estado, até
os juízes do alto de suas cadeiras nos Tribunais e de suas canetadas, não importa!
Sabemos que no Brasil, a seletividade racial e de classe faz com que sejamos o
terceiro país que mais prende no mundo. O alvo são jovens pretos, pobres, da
periferia, sendo que 40% deles está preso sem sequer ter tido ainda um
julgamento. Esse é o mesmo alvo da matança e genocídio perpetuada pelo Estado,
que faz com que a cada 23 minutos um jovem negro seja assassinado em nosso país.
Assim como a polícia do Rio de Janeiro matou Ágata, João Pedro, as primas Emily e
Rebeca e tantos outros, e em São Paulo, quase 500 jovens foram mortos pela PM só
no ano de 2020, também prendem inocentes ou pessoas que sequer tem o direito a de
fato se defender, como o recente caso do músico da Orquestra de Cordas da Grota
de Niterói, Luiz Carlos Justino, de 23 anos, preso "por engano", como tantos
outros. Enquanto isso, os verdadeiros criminosos, políticos, empresários,
banqueiros, corruptos que roubam o dinheiro da saúde, da merenda, do transporte,
da educação, que desviam dinheiro de obras que tanto precisamos para a melhoria
da vida da população, seguem em liberdade para seguir arrancando tudo que podem
da gente!
Essa verdadeira política de morte e de injustiça, destrói o futuro de muitos e
faz milhares de famílias passarem por dor, sofrimento, angústia, além da
humilhação, tortura e injustiça que sofremos na pele, todos os dias, há mais de
500 anos por sermos pretos, pobres e trabalhadores. E é isso que está acontecendo
com Igo e Felipe e suas famílias neste momento!
Igo Ngo é rapper, do grupo Resistência du Gueto, percussionista, produtor musical
e cineasta na empresa 2as Marias Produções. Um jovem negro paulistano que tem
dedicado sua vida e sua arte para combater o racismo, defender os povos indígenas
e as famílias que não possuem moradias adequadas, através do Movimento Luta Popular.
É atualmente um dos principais dirigentes do Movimento Hip Hop Quilombo Brasil,
organização nacional de Hip Hop, que possui grupos filiados de várias regiões do
país. Em São Paulo, a organização filiada ao MHMQB chama-se O3 (Ouvir, Ousar,
Organizar), movimento que Igo ajudou a fundar e a difundir pelas periferias.
Também é um dos organizadores da Marcha da Periferia em São Paulo, evento de
cunho político-cultural que ocorre durante o mês de Novembro em referência a
consciência negra e a luta antirracista. Na zona sul, ajudou também a construir o
Comitê Mestre Môa do Katendê e constrói trabalhos de mobilização em diversas
comunidades, como na favela do Olaria, onde faz cinema para jovens e crianças.
No último encontro da Central Sindical e Popular (CSP-Conlutas) esse irmão
participou de uma das apresentações culturais mais empolgantes que arrancou
lágrimas dos olhos de centenas de lutadores ali presentes, cantando e protestado
junto com representantes do povo indígena Guarani Mbya da aldeia Tenondé Porã,
extremo sul da Zona Sul de São Paulo.
Igo tem uma série de clipes publicados no YouTube, dentre os quais o clipe
"Nhanderu " que gravou justamente com membros desta comunidade indígena, com quem
constrói relações cotidianas de troca, aprendizado e solidariedade.
Em 2020, antes da pandemia, coletou imagens e depoimentos de povos indígenas por
vários países da América, em particular no Chile, que vivia um dos levantes
populares mais importantes da recente história do nosso continente. Durante a
pandemia, ajudou a organizar uma ação de solidariedade na aldeia Sapukaí, em
Bracuí, Angra dos Reis, que coordenou pelo Luta Popular, com o apoio da CSP
Conlutas, Sindsef-SP e Sindicato dos Petroleiros de Angra dos Reis/RJ.
Recentemente estava organizando junto com ativistas da baixada santista e membro
do Sindicato dos Petroleiros de Santos uma nova ação de solidariedade nas aldeias
da região. Ainda, com os voluntários do Projeto Superação conseguiram apoiar com
alimentos 11 aldeias no Estado de São Paulo.
Igo estava planejando a festa de aniversário do seu filho e se organizando para -
mais uma vez - estar presente na reunião de planejamento de começo de ano do
movimento Luta Popular, do qual é um antigo e importante membro e dirigente.
Felipinho também é um ativista social e cultural, tendo participado pelo Luta
Popular do último Congresso Nacional da CSP-Conlutas, apoiado diversas
iniciativas nas comunidades onde o movimento atua e participado das produções
musicais do Resistência du Gueto. É lutador de artes marciais, campeão de
Muay-Thai, professor de lutas como box, e faz desse ofício um caminho para
envolver jovens de sua comunidade em caminhos que apontam para a autodisciplina e
senso de comunidade, tendo ajudado muitos a construírem perspectivas de futuro.
Ele, assim como Igo, é profundamente querido por amigos e familiares e no seu bairro.
Deste modo, queremos dizer em alto e bom tom que o histórico de Igo e de Felipe é
de ofertar conhecimento, esperanças, autoestima, cultura ao seu povo e não de
furtar bens materiais.
Igo Ngo e Felipe estão privados de liberdade, privados de estar ao lado dos seus.
O racismo que rege nosso país mata e prende a juventude negra e periférica. Não
foi a cor da camisa (supostamente identificada pela vítima) que prendeu os dois
amigos, foi a cor da pele que está por baixo da camisa. É necessária toda
solidariedade com nosso irmão e com toda a juventude negra e periférica presa
injustamente no Brasil.
Quem é das periferias de São Paulo, particularmente da Zona Sul da capital ou da
Praia Grande, sabe das qualidades desses ativistas jovens e negros e sabe que sua
caminhada sempre foi pelo certo, pelos humilhados e oprimidos, pelo direito à
expressão, à diversidade e à vida. Sua caminhada sempre foi pela liberdade e nela
não tem mácula, nem terá.
A defesa dos nossos dois companheiros está impetrando um habeas corpus para
tentar conseguir sua liberdade, recolhendo provas e imagens de câmera sobre o
trajeto que fizeram e sobre o local do crime, para provar sua inocência. Mas
sabemos que a justiça, para os de baixo, nem sempre é justa. Por isso, contamos
com o apoio e solidariedade de todo mundo, para apoiá-los e impulsionar uma
campanha por sua LIBERDADE! E por JUSTIÇA, para que também sejam
responsabilizados todos os envolvidos que estão fazendo com que eles e suas
famílias estejam passando por essa INJUSTIÇA fruto de um claro caso de RACISMO!!!!
Liberdade já para os irmãos Igo e Felipe!
https://anarquismosp.wordpress.com/2021/01/14/liberdade-imediata-igo-felipinho/
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