(pt) cab anarquista: Argentina: É lei pela luta das de baixo! (it)
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Sábado, 9 de Janeiro de 2021 - 12:07:06 CET
Traduzimos nota de 31 de dezembro de 2020, assinada pela Federação Anarquista de
Rosário, pela Organização Anarquista de Córdoba e pela Organização Anarquista de
Tucumán sobre a aprovação da lei que legaliza o aborto na Argentina. ---- A onda
verde que há anos não para de crescer na Argentina e na América Latina ontem pôde
celebrar a aprovação da Lei de Interrupção Voluntária da Gravidez. Trata-se de
uma reivindicação muito sentida para todas as mulheres e corpos gestantes de
nossa classe, já que somos as mais pobres quem abortamos nas piores condições de
clandestinidade, arriscando nossos corpos aos graves problemas de saúde, à prisão
e à morte. Esta luta histórica tem luz verde para que a força das de baixo em
todo o continente avance nos direitos fundamentais de vida, e não somente para
sobreviver como impõe a maquinaria do capitalismo e sua voracidade destrutiva.
Nesta madrugada de 30 de dezembro, finalmente o Senado argentino teve que aprovar
definitivamente a Lei da Interrupção Voluntária da Gravidez, depois de anos de
pressão social exercida pelo movimento feminista, partidos políticos, sindicatos,
organizações sociais e estudantis; assim como pelo conjunto de mulheres e corpos
gestantes, nas ruas, nos históricos Encontros Nacionais de Mulheres, hoje
Plurinacionais de mulheres, lésbicas, trans, travestis e não bináries, como em
cada local de trabalho, de estudo, em cada território, fazendo o debate e a luta
pela autonomia de nossos corpos e nosso direito de decidir.
Já desde o fim do século XIX nesta região, nossas companheiras anarquistas vêm se
posicionando, organizadas desde baixo com suas irmãs da classe trabalhadora,
construindo uma história de resistência contra o patriarcado e o capitalismo.
Desde Virginia Bolten com La Voz de la Mujer, María Collazo, Juana Rouco Buela,
Luisa Lallana, Julia García entre tantas outras companheiras, passando pelas que
enfrentaram cara a cara a repressão nos anos 1960 e 1970, Elsa Martínez, María
Esther Tello, Hilda Forti, Pirucha Ramos entre outras. Todas elas são parte da
grande história das lutas feministas neste país, que hoje logra arrancar da
classe política o aborto legal, e através da imensa organização e mobilização que
vem impulsionando a Campanha pelo Aborto Legal Seguro e Gratuito conformada no
ano de 2003, logrando aglutinar a ação das organizações sindicais, estudantis e
territoriais.
Sem dúvidas o governo de Alberto Fernández, e uma grande parte do peronismo,
tentará tirar um saldo político deste feito, é algo de desde já se vislumbra com
discursos que apresentam essa lei como uma dádiva fruto da "vontade política" dos
funcionários de turno que administram o Estado patriarcal. É mais cínico ainda a
tentativa por parte do progressismo de conciliação constante com os setores mais
reacionários, conservadores e machistas, como as igrejas católica e evangélica,
tendo tratado de um projeto que inclui a objeção de consciência e com a tentativa
de negociar condições para o aborto legal. Embora seja uma imensa alegria saber
que a partir de agora será obrigação que o sistema de saúde contemple a decisão
das pessoas gestantes no momento de interromper ou continuar com a gravidez, não
devemos baixar a guarda. Ainda há uma longa caminhada de luta adianta para a
implementação real do Aborto Legal Seguro e Gratuito em todos os rincões, ainda
resta lutar contra a objeção de consciência, mas armadilhas legais que podem se
apresentar e os obstáculos que estes setores reacionários antidireitos queiram
interpor. E claro, um longo caminho para acabar com todo tipo de violência
patriarcal.
É assim que entendemos este necessário passo como parte de um processo de luta
que não se esgota nem se esgotará no futuro próximo. Ver os resultados de nossa
organização constante, ao longo das décadas, reafirma o caminho da ação coletiva,
sustentada, solidária e classista. Sabemos que nada verdadeiramente transformador
virá do Estado e de suas estruturas, mais este necessário passo adiante permite
visualizar no horizonte a concretização de novas reivindicações. Como anarquistas
organizadas politicamente entendemos que o único rumo possível neste período é a
organização e luta por reivindicações cada vez mais significativas para as e os
oprimidos até poder mudar pela raiz este sistema capitalista e patriarcal.
Assim, o aborto legal é uma vitória fruto das mobilizações históricas, das
assembleias nos bairros, das professoras organizadas que aplicam a ESI (Educação
Sexual Integral, estabelecida por lei) nas escolas, dando espaço para que as
aulas sejam veículos de informação, emancipação e descoberta; da organização
sindical e estudantil, dos mais de 30 Encontros hoje Plurinacionais de mulheres,
lésbicas, trans, travestis e não bináries.
É uma conquista para as de baixo graças à luta popular e à militância
comprometida e constante em meio a tanta resistência aos duríssimos golpes dos
governos e do capital. Merecemos celebrar toda essa enorme luta contra a
clandestinidade, para nos fortalecermos e nos consolidarmos para as batalhas que
temos pela frente. Reivindicamos este caminho de construção de poder popular, com
a força de nossas antecessoras e de nossa história de luta. Com a potência que
temos as de baixo, as marginalizadas, as exploradas, as oprimidas para construir
nosso próprio destino e terminar com a opressão patriarcal, colonial e
capitalista. Pelo socialismo e pela liberdade.
É LEI PELA LUTA DAS DE BAIXO!
SEGUIR ORGANIZADAS, NAS RUAS, LUTANDO CONTRA TODA OPRESSÃO PATRIARCAL E CAPITALISTA!
ARRIBA LAS QUE LUCHAN!
Organização Anarquista de Córdoba
Federação Anarquista de Rosário
Organização Anarquista de Tucumán
http://cabanarquista.org/2021/01/05/argentina-e-lei-pela-luta-das-de-baixo/
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