(pt) cnt.es #428 - [Espanha] Miguel Íñiguez: "Nosso principal problema é a escassa formação ideológica de parte da militância jovem" Por Suso García By A.N.A.
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Quarta-Feira, 29 de Dezembro de 2021 - 08:53:58 CET
Nosso Companheiro decidiu empreender esta tarefa magna e dedicou boa parte de sua
vida para dar vida à "Enciclopedia del Anarquismo Ibérico", obra bem conhecida
entre os estudiosos de nossa História, e a respeito da qual já foram realizadas
muitas análises. Entretanto, poucos conhecem o autor, que prefere esconder-se no
coletivo, deixando o protagonismo para os nomes e fatos mencionados. ---- No
[jornal] cnt, não resistimos em querer conhecer o lado humano que estas
contribuições sempre trazem, e entrevistamos Miguel Iñiguez, companheiro da CNT
de Vitoria e da Associação Isaac Puente.
Pergunta - Como tomou contato pela primeira vez com a CNT? Foram as ideias ou
algum conflito de trabalho?
Resposta - As ideias e a ética, e até a psicologia. Nem querer mandar nem ser
mandado, exaltação da liberdade e recusa da autoridade. E tenho mais a convicção
do que razões de trabalho - estas são as que impregnam e movem grande parte da
militância dos anos 70 e 80, e que ainda hoje perseveram na Ideia. E acredito,
depois de ter descrito dezenas de milhares de perfis, que o mesmo cabe dizer
sobre Salvochea, Manuel Pérez, Durruti, Salvador Seguí, Teresa Claramunt, Lucía
Sánchez Saornil e um inacabável etecetera. Se formos ao concreto, cabe datar em
1971 minha entrada no movimento libertário. É quando começo a receber propaganda
impressa a partir de Toulouse, enviada por Roque Llop, poeta anarquista e
confederado catalão. Em 1973 viajo a Paris e entro em contato com a outra
corrente, da Frente Libertária. Então as coisas acontecem naturalmente. Em fins
de 1976 iniciamos a reconstrução da CNT de Vitoria, e participo de eventos
(reunião de San Sebastián de los Reyes, Jornadas Libertárias de Barcelona),marcos
no momento do tornar-se confederado e libertário.
P. - Todos temos sempre algum nome especial em nossa memória. Que militante
veterano te deixou essa impressão duradoura que levamos como referência?
R. - Em Vitoria, Atanasio Gainzaráin e Macario Illera, por aspectos distintos,
companheiros infalíveis que conhecemos. Fora do contexto local, me impactaram,
pelas fortes personalidades, Ramón Álvarez e José Peirats. Do primeiro sempre
recordarei que, num Plenário de Regionais, lhe ofereci minha ajuda como delegado
da Regional de Euskadi, diante dos ataques que Astúrias recebia da delegação
levantina. E, me olhando fixamente, pôs sua mão direita em meu ombro e disse:
"Jovem companheiro, Astúrias se defende sozinha". Reencarnação de Don Pelayo ou
Favila. De Peirats, as dez ou doze horas seguidas que passei em sua casa em Vall
de Uxó, onde falamos do humano e do divino. Um oleiro de cultura ciclópica e
grande acuidade conceitual. Os quatro, prontos a defender seus princípios diante
de audiências adversas, sem renúncias nem concessões. Algo raro.
P. - Agora que está aposentado, o que gostaria de deixar como reflexão aos jovens
que se aproximam das Ideias e da Organização?
R. - Que saibam que na CNT podem passar por momentos ásperos, exasperados e
desagradáveis. Mas, seguramente, por outros, mais numerosos, que recordarão entre
os mais felizes, gratificantes e apreciados de sua existência. Uma Organização
dura, na qual encontrarão algumas pessoas que não deveriam se formar nela; mas
também muitas mais com um puro idealismo, que dão tudo por nada, pessoas a quem o
catolicismo teria por muito menos beatificado e transformado em santos. Na qual
contemplarão algumas pequenas maldades inerentes à condição humana, tensões
internas que devemos saber superar e onde pequenas vitórias produzem enorme
satisfação. Contudo, formarão a única organização (e temos visto o enterro de
centenas) que - depois de quase 50 anos de pressão ambiental, social, midiática e
política - se mantém de pé, sem depender de subsídios ou subvenções. Uma anomalia
histórica que convém preservar.
P. - Uma enciclopédia representa de alguma maneira o passado, mas não podemos
deixar de perguntar sobre nosso presente. É otimista sobre os passos que a
Organização está dando?
R. - Somente de alguma maneira o passado, porque na Enciclopédia circula um bom
número de ativistas de agora mesmo - uma confirmação de que ela respira e se
agita. Otimista e, ao mesmo tempo, um pouco desconfiado. Desconfiado diante de
certas contaminações vindas de outros âmbitos e do ambiente social reinante que
favorecem a tendência à profissionalização e prejudicam o ativismo militante.
Acho que nosso principal problema é a escassa formação ideológica de parte da
militância jovem, que algumas vezes nos arrasta ao seguidismo, e que nos leva a
tomar parte da sopa de siglas e plataformas com muitos de cujos membros não temos
nada a compartilhar. Nos apagamos nessa mistureba esquerdista de tons localistas,
colocando na penumbra nossas marcas de identidade. Existem, creio eu, certos
complexos e medos que os antigos não tinham. Neste sentido, acho que o Congresso
do próximo ano deve se desenrolar com mente aberta e ânimo construtivo no debate
e na discussão, evitando enfrentamentos viscerais e posturas irreconciliáveis, em
benefício do equilíbrio interno e da sensatez.
Muito obrigado, Miguel.
Esta redação te admira. Sempre é um prazer contar com suas palavras.
Tradução > Erico Liberatti
https://www.cnt.es/noticias/miguel-iniguez-nuestro-principal-problema-es-la-escasa-formacion-ideologica-de-parte-de-la-militancia-joven/
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