(pt) [Chile] Comunicado de Mónica e Francisco sobre a luta nas prisões - 27 de julho 2021 By A.N.A. (ca, en)
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Quarta-Feira, 11 de Agosto de 2021 - 08:12:20 CEST
Frente ao que vemos como interpelações diretas a nós, surge a necessidade de
escrever este texto para explicitar certas questões. ---- Como já escrevemos em
várias ocasiões tanto individual quanto coletivamente, entendemos a anarquia não
como uma realização ou lugar de chegada, mas como uma tensão, uma permanente
confrontação que se faz em primeira pessoa, colocando no centro a busca da
liberdade individual. ---- Para nós, esta luta constante tem sido real, a levamos
a cabo de maneira ininterrupta, motivo pelo qual hoje nos encontramos atrás das
grades. Situação pontual e circunstancial que não nos impediu continuar
levantando e participando da luta tanto dentro como fora das prisões.
Definitivamente, a anarquia é pra nós uma ética e uma prática permanente contra a
autoridade, prática na qual nos encontramos com outrxs (não necessariamente
"anarquistas"), enriquecendo e potencializando nossas visões e capacidades, assim
como forjando estreitas relações de cumplicidade fortalecidas no transcurso dos
anos e da confrontação. Assinalar que estas relações só se dão ou podem se dar
com quem se denomina "anarquista" além de ser uma falácia só pode comprovar que
xs que se aventuraram a transitar pelos caminhos do conflito e não xs que creem
transitar por eles em suas fantasias frente ao computador é algo que rechaçamos
desde o momento em que priorizamos por estabelecer vínculos a partir de práticas
comuns antes de fazer por etiquetas vazias ou consignas repetidas até o cansaço.
Autoproclamar-se raivosamente como "anárquicxs irredutíveis" não significa nada
se não vai acompanhado de uma prática confrontacional que o sustente. O papel
aguenta absolutamente tudo.
Por outra parte - e o mais importante - ao supor que nós anarquistas só
deveríamos nos relacionar com anarquistas reflete um purismo absurdo e um
sectarismo que, sem dúvida alguma, é uma expressão de autoritarismo.
Estabelecer coordenações e iniciativas conjuntas de luta somente entre quem se
autodefine "anarquista" é restringir e limitar enormemente nossas relações e com
elas nossas possibilidades de crescer. É nos encerrar estupidamente em
dogmatismos que nos restringem e nos impedem de nos associarmos livremente.
Assim, vemos como em nome da liberdade algumas pessoas defendem absolutamente o
contrário, estabelecendo seitas baseada em etiquetas.
Com isso não queremos dizer que estabeleçamos relações de maneira indiscriminada
ou que não tenhamos nem um tipo de filtro.
Deixamos explícito em comunicados anteriores os pontos que para nós são
inaceitáveis; arrependimentos, dissociações e institucionalidade correspondem a
algumas linhas vermelhas que constituem aspectos irreparáveis que impedem levar a
cabo qualquer iniciativa conjunta com quem opte por tais caminhos. Como se pode
apreciar, esses pontos não correspondem a etiquetas vazias, mas à práticas
concretas, maneiras de viver a prisão e não somente ela. São opções que para nós
destroem de uma só vez todo nosso discurso e prática, gerando uma contradição
total entre o que se diz e o que se faz. Bom, talvez para algumas pessoas somente
valha ou tenha importância o que se diz ou as proclamas incendiárias pela
internet ou alguma rede social. Pelo contrário, nós priorizamos a prática e desde
ela vamos estabelecendo afinidades e rupturas.
E certamente que as práticas autoritárias representam um ponto com o qual não
transaremos. Jamais estabelecemos relações de luta com base no autoritarismo e a
experiência de presxs anarquistas e subversivxs não é a exceção. Os pontos comuns
que temos entre todxs são muito mais fortes que as discrepâncias que possamos
ter, discrepâncias que evidentemente não representam aspectos "insalváveis" já
que se fosse assim nós já teríamos nos distanciado desde o início. Os laços que
nos unem com xs companheiros se forjaram na confrontação tanto dentro como fora
da prisão, há mais de uma década, significando para nós uma relação e experiência
enriquecedora que, sem dúvida, nutriu, fortaleceu e qualificou o nosso caminhar
anárquico. Hoje, nesta nova situação de prisão, estreitamos ainda mais os laços,
o que se refletiu nesta iniciativa conjunta que não é nova, mas que no último ano
contou com mobilizações importantes que permitem elaborar projeções interessantes.
Contudo, tal como afirmamos no artigo "Sobre a necessidade de continuar a luta
dentro da prisão..." da revista Kalinov Most #4, nós, presxs anarquistas,
quebramos com certo códigos dentro das prisões instalados e reproduzidos por
membros dos grupos armados de esquerda desde a década de 1980, códigos que
principalmente tinham que ver com a reprodução da lógica orgânico-partidária na
prisão e também com estabelecer uma relação de superioridade com respeito ao
resto da população penal.
Cabe dizer que nossos companheiros estão longe disso e são contrários a tais
códigos, na complexa prática intracarcerária, não no discurso cômodo que se faz
desde alguma habitação com internet.
Eles se encarregaram de manter vivos os códigos subversivos com os quais nos
sentimos intendificadxs e que vemos como indispensáveis incorporá-los e
reproduzi-los.
Nos referimos a uma posição e atitude refratária frente a instituição carcerária
que outorga uma identidade particular, vista e reconhecida tanto pelxs presxs
sociais como pelos carcereiros. Nos referimos também ao fato inegável de
continuar a luta dentro da prisão, a demonstrar na prática que com o isolamento
nada termina, que só é outro cenário de luta, o qual rompe com o vitimismo e
assistencialismo muitas vezes presente na luta pela liberdade dxs presxs. Os
companheiros há muitas décadas tem se levantado e levado adiante uma prática
anticarcerária que traspassou os muros, da que nós fomos parte na rua e somos
parte hoje na prisão.
Esses são alguns dos códigos subversivos que compartilhamos com os companheiros,
que reforçam nossos laços de afinidade na prática cotidiana e nos afastam de
quem, inclusive se chamando anarquista, opta por caminhos afastados ou
completamente desvinculada dela. O que dizem xs puristas de quem se denomina
"anarquista" e se desvincula completamente de suas ideias e práticas quando
enfrenta um julgamento ou estão na prisão? Talvez com elxs sintam mais afinidade
desde o momento em que colocam como prioridade a etiqueta vazia. Reiteramos, nós
estabelecemos relações com base em práticas comuns, não com base em palavras ou
comunicados incendiários publicados na internet.
Finalmente, vemos a necessidade de nos referir ao perigo que representa o
sectarismo ou o purismo dentro de nossos espaços que carrega - aparte de relações
autoritárias mencionadas anteriormente - atitudes autocomplacentes que não fazem
mais do que nos estancar e não aprofundar e nem qualificar o enfrentamento.
Desde nosso explícito posicionamento anárquico sustentado na conflitividade
permanente e na liberdade individual, vamos estabelecendo relações e coordenações
que nos potencializem e nos fortaleçam neste caminho pela liberação total.
Como disseram há alguns anos, na prisão, xs companheirxs da Conspiração Células
de Fogo:
"Solidariedade com xs presxs anarquistas e xs não arrependidxs de todas as
tendências revolucionárias!"
Hoje nós dizemos:
Liberdade para os companheiros Pablo Bahamondes, Marcelo Villaroel, Juan Aliste,
Juan Flores e Joaquín García!
27 de julho de 2021
Mónica Caballero
Cárcere de San Miguel
Francisco Solar
Cárcere de Rancagua
Fuente:https://edicoesinsurrectas.noblogs.org/post/2021/08/04/comunicado-de-monica-e-francisco-sobre-a-luta-nas-prisoes-27-de-julho-2021/
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