(pt) Resistência Popular Sindical SP: Greve dos profissionais da educação do município de São Paulo: protagonismo da base e omissão da burocracia sindical
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Segunda-Feira, 26 de Abril de 2021 - 08:27:40 CEST
Desde o dia 10 de fevereiro, profissionais de educação da rede municipal de São
Paulo estão construindo a Greve Pela Vida, em contraposição à retomada precoce
das aulas presenciais em meio ao pior momento da pandemia da covid-19, nos
primeiros meses de 2021. Já em 2020, o governador João Doria (PSDB) e seu
secretário de educação, Rossieli Soares, davam sinais de que retomariam as aulas
presenciais mesmo contrariando especialistas e a Organização Mundial da Saúde
(OMS). O prefeito Bruno Covas (PSDB), reeleito nas eleições municipais passadas,
ordenou que professores comparecessem às escolas a partir do dia 10 de fevereiro
para "planejamento"; a partir do dia 15, as aulas presenciais seriam retomadas na
cidade - mesmo que, inicialmente, com 35% dos estudantes e mantendo, remotamente,
profissionais de educação do chamado "grupo de risco". No dia em que foi
decretada a greve, 55,4 mil pessoas já haviam morrido, no estado de São Paulo,
por conta da covid-19; dois meses depois, na metade do mês de abril, mais de 88
mil pessoas perderam suas vidas em meio a uma política genocida.
Embora a prefeitura de São Paulo vendesse, na propaganda, a imagem de que vinha
se preparando desde 2020 para o retorno, a prática se mostrou diferente: algumas
escolas da rede municipal sequer dispunham de funcionários terceirizados para
executar a limpeza dos ambientes - demanda dos falhos protocolos estabelecidos,
que focam mais na desinfecção de objetos do que, propriamente, em ameaças mais
críveis, como a falta de ventilação das precárias escolas. Além da falta de
funcionários, as escolas sofriam com a ausência de itens básicos de higiene, como
o álcool em gel. Paralelo a isso, os tablets e o fornecimento de internet,
prometidos por Covas em sua campanha, não chegaram aos estudantes. Como
desenvolver, assim, as atividades remotas?
Fatores como esses denunciam o descaso dos governos diante das necessidades das
comunidades escolares. A retomada das aulas presenciais, mesmo com o alto índice
de contágios e mortes, atende a pressão de segmentos negacionistas e de
empresários da educação, simbolizados pelo movimento "Escolas Abertas", tão bem
recebido por Rossieli Soares e por Fernando Padula, secretário de educação do
município de São Paulo. Padula, aliás, desde o início da greve, demonstra a
prática política do PSDB: autoritarismo e truculência para com as demandas de
trabalhadoras e trabalhadores. Enquanto a Secretaria Municipal de Educação
recebe, de braços abertos, o "Escolas Abertas", representantes das entidades
sindicais da categoria sequer são recebidos, não podendo nem passar do portão da
secretaria - como aconteceu no dia 08 de abril. Padula, não custa lembrar, é
quadro antigo do PSDB e, quando atuante no governo estadual na época de Geraldo
Alckmin, esteve envolvido em episódios como a perseguição a estudantes de Ensino
Médio que ocupavam as escolas.
Não obstante, a burocracia sindical tem dado significativos sinais de inoperância
durante os mais de 60 dias de luta. SINPEEM, APROFEM, SEDIN (educação infantil),
SINESP (gestores) e SINDSEP (servidores municipais em geral), pouco atuaram
efetivamente no sentido de dar respaldo à categoria. A situação se torna ainda
pior quando se trata do SINPEEM, que, apesar de ser o maior sindicato do
funcionalismo municipal, se mantém, na prática, fechado para a categoria desde o
início de 2020 e somente realizou assembleia no dia 09 de abril - dois meses após
o início da greve. Em março, Bruno Covas, ainda, indicou o corte de ponto de
grevistas e, apesar de a autoritária medida ter sido acatada pela minoria de
gestores da rede municipal, profissionais de educação foram prejudicados e o
Fórum "batia cabeça" para construir fundos de greve.
A realidade é que a Greve Pela Vida está sendo construída, na prática, devido ao
protagonismo da base, contando com o empenho de pessoas verdadeiramente
aguerridas. Desde o início, profissionais de educação das diferentes Diretorias
Regionais de Ensino (DREs) atuam a partir de Comandos de Greve regionais,
mantendo contato direto com profissionais de educação de suas respectivas regiões
e com a comunidade escolar. Dada a inoperância da burocracia sindical, a própria
base tem procurado articular os comandos regionais, eventualmente, de forma
unificada, desenvolvendo ações conjuntas - atos, carretaços, faixaços e afins.
Quando do corte de ponto, os próprios comandos regionais articularam as chamadas
"ações solidárias" e arrecadaram dinheiro para colaborar com as pessoas que
haviam sido prejudicadas. Também foram os Comandos de Greve que se articularam
para exigir do SINPEEM a chamada de uma assembleia da categoria e a organização
do fundo de greve pela entidade sindical. Isso mostra que solidariedade se faz na
luta!
Em meio ao pior momento da pandemia, é fundamental que fortaleçamos o movimento e
nos articulemos com outras categorias também precarizadas. No dia 16 de abril,
por exemplo, ocorreu carretaço que agrupou profissionais de educação do
município, de escolas particulares e se somou ao ato dos trabalhadores de APPs,
no chamado "Breque dos APPs". Precisamos, urgentemente, construir uma Greve
Nacional da Educação, articulando a categoria em diferentes estados. Não há
condição de retomar as aulas presenciais em meio a uma política genocida, que tem
empilhado mais de 4 mil corpos por dia no país! Também é fundamental que se
construa um movimento de Greve Geral da classe trabalhadora pela vida, que
responda à altura os interesses genocidas dos de cima, que demande renda digna e
vacina para todos! Só assim reduziremos os efeitos da pandemia - que mata,
sobretudo, o povo pobre e periférico - e os efeitos da crise econômica, que já
faz com que quase metade da população do país esteja ameaçada pela fome.
É um absurdo que as entidades sindicais, perdidas em suas burocracias alinhadas
ao Capital e ao Estado, colecionem derrotas para as e os de baixo. Não obstante,
não construir a greve ou sair dela não é uma opção. Ressaltamos a necessidade da
retomada de um sindicalismo combativo, construído desde baixo; a partir da
categoria com a comunidade escolar; com os bairros que estamos inseridos; com
todos os funcionários da escola; com solidariedade de classe, ação direta e
democracia de base; se articulando com outras lutas, que unem os oprimidos e a
classe trabalhadora. Somente assim venceremos os projetos genocidas provindos dos
representantes do Estado e alinhados aos interesses econômicos dos de cima.
https://rpsindicalsp.wordpress.com/2021/04/20/greve-dos-profissionais-da-educacao-do-municipio-de-sao-paulo-protagonismo-da-base-e-omissao-da-burocracia-sindical/
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