(pt) [Eslovênia] Iniciativa Anarquista Ljubljana: Isso é apenas o começo By A.N.A. (en)
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Sábado, 14 de Novembro de 2020 - 07:08:07 CET
Meio ano após o primeiro choque autoritário, interrompido em certa medida pela
resistência em massa auto-organizada do povo, o governo vê o ressurgimento da
epidemia como uma oportunidade para tentar novamente o mesmo projeto. Embora ele
tivesse todas as alavancas do poder em suas mãos por seis meses, ele não ampliou
as capacidades médicas durante o intervalo epidemiológico entre as ondas,
preferindo tomar sol enquanto voava em aeronaves militares e assumia as
principais alavancas de poder. Em vez de destinar o dinheiro público para a
proteção de longo prazo dos mais vulneráveis durante uma crise social em
evolução, ele está sendo destinado a grandes negócios de armas. Em vez de
permitir que as pessoas se organizem e atuem politicamente de forma livres, ele
assedia, pune, ataca e intimida elas. Em vez de proteger os mais vulneráveis
entre nós, incluindo os imigrantes, os sem-teto e os pobres, ele aprisiona as
pessoas em acampamentos, caça-os como animais, persegue-os nas ruas das cidades e
exclui eles do sistema de justiça. Tudo isso demonstra claramente que mesmo nas
condições de uma epidemia, a coisa mais importante para o governo é manter e
consolidar o seu próprio poder. Em vez de dar sua contribuição para conduzir a
epidemia como uma sociedade com novos laços de cuidado, com solidariedade e
comunhão, muitas vezes ele ativamente impede isso. Em vez de treinar e pagar bem
novos trabalhadores da saúde, ele está expandindo seus poderes de polícia e
pretende dar-los a pessoas que ontem eram apenas guardas ou soldados da cidade.
Portanto ninguém deve estar surpresos que os números estão crescendo
exponencialmente: o número de pessoas com necessidade de cuidados médicos, o
número de mortes, o número de pessoas deixadas sem cuidados médicos emergenciais
e regulares, o número de pessoas que têm perdido seus empregos, o número de
pessoas que ficaram desabrigadas, o número de pessoas sancionadas por pobreza ou
atividade política.
Como sociedade, nós respondemos com responsabilidade e com preocupação uns com os
outros na primeira onda e limitamos as consequências da epidemia o máximo
possível. Como sociedade, nós estamos agora nos acostumando com o fato dessa
doença estar entre nós, a aceitamos e lutamos novamente para limitar suas
consequências tanto quanto for possível. Mas nossas mãos estão frequentemente
atadas, já que nós simplesmente temos que ir trabalhar nas fábricas, bares,
armazéns, mercados, escolas, lojas, e muitas outras instituições e negócios se
queremos ganhar a vida. Mas há um lugar, que eles pensam que nós não devemos ir:
um protesto contra suas políticas autoritárias. O mesmo trabalhador, que foi a um
armazém fechado e mal ventilado todos os dias para manter seu emprego mal
remunerado, não tem permissão para tomar ar fresco na sexta-feira a noite para
protestar. A mesma trabalhadora que tem que ir trabalhar em um hipermercado todos
os dias, onde está em contato com centenas de clientes, não tem permissão para
protestar com membros de sua família na noite de sexta-feira, mesmo se ela vestir
a mesma máscara do trabalho, mesmo que ela fique longe das pessoas como no trabalho.
É claro que o abuso policial não tem nada a ver com cuidar de sua saúde, mas
apenas com o medo das autoridades de uma ação política que não esteja sob seu
controle. O fato de que as pessoas devem se unir por causa do trabalho, e ao
mesmo tempo não se unir por causa de uma política perigosa do governo, confirma
que a primeira lealdade deste governo também se aplica ao capital.
O abuso de poder compreensivelmente e justificadamente gera a resistência, que,
enquanto permanecer uma expressão autêntica da rejeição da ditadura autoritária,
pode colocar em risco até mesmo os planos do grupo mais agressivo e ganancioso no
poder. Este último precisa, portanto, de uma cortina de fumaça para realizar seu
projeto de aquisição de empresa, atrás da qual possa esconder seus reais
interesses e movimentos. Essa cortina é tecida com medo, ansiedade, ódio,
informações inverificáveis, medidas contraditórias, uma clara discrepância entre
objetivos e métodos. No momento de uma epidemia, isso também significa destruir a
possibilidade para uma discussão razoável dos níveis de ambas as ameaças e
proteção contra o vírus. Para que a cortina seja o mais espessa possível, ela
precisa tanto da mídia subordinada quanto da mídia que é a sua própria imagem no
espelho e subordinada à oposição parlamentar. Suspeita, percepção, medo e
insegurança universais individualizam as pessoas, separam-nas umas das outras, e
impedem a possibilidade de reflexão e engajamento compartilhados. Alienadas umas
das outras, as pessoas são presas fáceis para charlatães com suas manipulações,
notícias falsas, trombetas da mídia de propaganda de sucesso, propaganda hostil e
teorias da conspiração das mãos das pessoas que se entregam ao folclore
patriótico, desprezam a ciência, e em uma simbiose com o governo, conduzem
agressivamente seus evangelhos governamentais.
A resistência a um Estado autoritário e à pobreza é a expressão mais básica da
humanidade. A onda de protestos que tem acontecido na Eslovênia há meses é
completamente compreensível e justificada. Nesse momento, a responsabilidade por
si e pelos outros significa não apenas o uso frequentemente de máscara e a
desinfecção das mãos, mas também a rejeição do regime da covardia. O motivo da
resposta agressiva das autoridades aos protestos na primavera e agora não está no
medo da propagação da epidemia, mas no desejo do governo de manter o status quo
social, um sistema de capitalismo global que produz miséria, conflito, guerra e
pobreza em todos os lugares. Se as elites querem manter seu poder sobre o povo,
elas devem buscar uma política cada vez mais autoritária em todos os lugares, e
aqui a Eslovênia e seu grande líder local não tem nada de especial. Processos
semelhantes progrediram muito mais em países muito maiores e mais importantes
para o capitalismo, como Estados Unidos, Brasil, França, assim como no Chile,
Rússia, Grécia, Belarus, Hungria e muitos outros.
A luta das pessoas ao redor do mundo para que sejam respeitadas suas necessidades
e dignidade mais básicas também incentiva muitos oportunistas que querem
construir suas carreiras políticas confortáveis sobre os ombros daqueles que mais
arriscam. Aqui também, a oposição parlamentar está tentando usar o movimento de
protesto para voltar ao poder, do qual ela sente tanta falta. Mas ninguém deve
ter ilusões: Apesar dela poder ter uma face mais bela para alguns, a orientação
fundamental do novo governo também irá significar a continuidade do governo
atual. Pode-se esperar que continue com o regime de militarização e fechamento, a
destruição acelerada da natureza e do meio ambiente, a redução de acesso ao
sistema de saúde, e a subordinação aos centros de poder do capital.
Como parte dos oprimidos, perseguidos, apagados e explorados ao redor do mundo,
não temos ilusões. A epidemia do coronavírus vai continuar por mais algum tempo.
Com ou sem ela, o ataque a natureza, ao meio ambiente e ao povo vai continuar por
mais algum tempo. Com ou sem ela, o ataque aos direitos dos trabalhadores e dos
socialmente desfavorecidos vai continuar por mais algum tempo. Com ou sem ela, os
regimes racistas de fronteira, as guerras e o lucro da guerra vão continuar por
mais algum tempo. E ainda, apesar de tudo, nós devemos preservar nossa dignidade,
preservar nossa voz e com ela a oportunidade de construir uma alternativa para
esse sistema de destruição e morte. Não podemos construir o futuro por conta
própria, presos em fronteiras de estados arbitrariamente delineadas, carregados
de bagagem de identidade e transferindo, através das eleições, a responsabilidade
e autoridade de nossas vidas para este ou aquele representante daquilo que nos
destrói. Para nós, um futuro pelo qual vale a pena lutar é um futuro
multifacetado, que não conhece fronteiras, patriarcado e exploração. Há um lugar
nele para todos, exceto para aqueles que querem impor suas visões destrutivas e
monolíticas sobre os outros.
Nenhum governo e nenhuma polícia tem o direito de determinar a maneira que
seremos ouvidos. Qualquer governo, no entanto, que tome esse direito e o imponha
com violência é uma ditadura. E isso quer sejamos uma sociedade no meio de uma
guerra, uma pandemia, um desastre natural ou outra emergência. E a resistência a
qualquer ditadura é justificada.
Estaremos aqui, mesmo quando as figuras políticas atuais já tiverem partido há
muito tempo. Portanto, sejamos prudentes, determinados e compreensíveis mesmo nos
tempos turbulentos em que a história nos colocou. Muitas pessoas não irão ao
próximo protesto porque os dados sobre a propagação da epidemia são preocupantes.
Outras não irão comparecer porque eles não podem pagar multas ou outras formas de
intimidação policial. A terceira parte vai aos protestos com preocupações sobre
se isso é o certo a se fazer ou não. Muitos irão ao protesto apesar de suas
preocupações precisamente porque o governo está pedindo para que eles não compareçam.
Todas essas diferentes decisões precisam ser entendidas e tomadas. O que quer que
se escolha como indivíduo, como grupo ou coletivo. Não existe apenas uma forma
determinada de se comportar com responsabilidade. Qualquer um que vá ao protesto
deve tomar cuidado tanto com a proteção contra o vírus quanto com a polícia.
Tanto para eles próprios quanto para os outros. Ele deve assumir a
responsabilidade pelo seu comportamento, não transferi-la para os supostos
líderes ou organizadores, não importa o quão alto eles falem. Quem não for ao
protesto deve encontrar outras formas de apoiar os esforços urgentes e legítimos
para conter essa onda autoritária Mesmo sozinho ou em um grupo pequeno. Em sua
comunidade, vila, em qualquer outro lugar que não seja na internet. Isso não
acabará tão rápido, e teremos que aprender a ser tão evasivos quanto a água e tão
repulsivos quanto um espinho na quinta potência. Não vamos esperar, vamos começar
agora! Graffiti, cartazes, adesivos, agitação no trabalho e em casa, grupos
solidários contra a repressão, apoio financeiro e psicológico, visitas aos
idosos, greve e sabotagem. Cada ação desse tipo de rebelião é um passo para a
preservação da humanidade, do amor, da paixão, da camaradagem, e é a melhor
garantia para conter os agentes da separação e da morte.
Nos próximos dias e meses, a solidariedade será a palavra central. Com os
doentes, com os despedidos, com os desabrigados, com os alvos da repressão, com
os prisioneiros. Não vamos aceitar a repressão, o silêncio, o toque de recolher e
outras medidas autocráticas sob o pretexto de serem medidas urgentes para
controlar a epidemia, que apenas consolidam o poder do capital e aumentam o
controle sobre o povo. Sejamos também inventivos para encontrar maneiras de
estarmos juntos em tempos que somos entregues ao individualismo. Qualquer governo
autoritário odeia ao máximo a iniciativa coletiva autônoma e livre, o que
incomoda seus representantes. Se um punhado de nós resistir um dia por semana,
seremos chatos, mas administráveis. No entanto, se nossa desobediência encontrar
diversas maneiras de ocupar as ruas, de se organizar nos locais de trabalho, nas
escolas, e atrás dos muros das instituições, então isso pode criar uma força
social que as autoridades não poderão ignorar por muito tempo. Se isso aparecer
uma vez durante o dia e se inflamar uma segunda vez à noite, se mudar sua
aparência, face e forma, nem mesmo forças armadas darão as caras.
Nós não pretendemos desistir de nosso futuro!
Vamos cuidar uns dos outros, na rua, no trabalho e em casa!
Que o fim da epidemia seja o prenúncio de uma nova sociedade!
Vamos nos encontrar!
Anarchist Initiative Ljubljana (Iniciativa Anarquista Ljubljana)
15 de Outubro de 2020
Fonte: http://komunal.org/teksti/592-to-je-sele-zacetek
Tradução > Brulego
agência de notícias anarquistas-ana
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