(pt) resistencia libertaria: Tempos de Eleições, tempos de luta.
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Quinta-Feira, 3 de Dezembro de 2020 - 08:20:45 CET
"As chamadas leis[...]não valem o papel em que estão escritas", Lucia Gonzales
Parsons ---- Ilustrações retiradas da HQ "Luto" de Bruno Florêncio e Gabriela
Pimentel ---- Entramos na etapa no segundo turno nas eleições municipais em
algumas capitais brasileiras, inclusive Fortaleza. A primeira etapa demonstrou
uma caída importante na capacidade da extrema direita comandada por Bolsonaro em
gerar vitórias nas urnas, e reativa em setores da esquerda eleitoral a confiança
nas instituições da democracia burguesa. ---- Entendemos perfeitamente a animação
de diversos adversários de militantes de outras correntes da esquerda e de
companheiros e companheiras que constroem movimentos, e mesmo que não depositemos
confiança nem votos nas urnas, também nos parece positivo que parte considerável
do povo já não esteja mais tão seduzida pelas mentiras da extrema-direita.
Porém, é necessário dizer: não acreditamos que o processo de desestabilização do
país que envolveu um golpe de estado amparado em um malabarismo jurídico que
gerou um Estado de maior elasticidade em suas leis para que as classes dominantes
possam ter ataques ainda mais duros contra o povo sem empecilhos legais ou
constitucionais; o assassinato político de Mariele Franco que também vitimou
Douglas; e uma eleição presidencial que se construiu em cima de mentiras e na
censura ao antifascismo se resolvam num evento previsto na agenda do Estado.
A confiança que as instituições funcionariam dentro da sua legalidade e a
aventura da conciliação de classes levada a cabo pela ex-esquerda foi o que nos
trouxe até aqui em primeiro lugar.
O PSOL nacionalmente se mostrou como o atual notável partido da esquerda de maior
relevância e foi provavelmente o partido que mais cresceu levando inéditas
prefeituras do interior de diversos Estados, incluindo na cidade de Potengi aqui
no Ceará da mesma forma que aumentou sua presença nas câmaras brasileiras em 50%.
O PSOL, como o PT, é uma reunião de correntes que disputam entre si a hegemonia
do partido. Sabemos que seus quadros se comportam de maneiras diferentes
dependendo da corrente em que se encontram. Também sabemos pelo aprendizado
histórico que o parlamento é uma máquina de moer princípios e convicções
ideológicas. Cabe ver se o PSOL trilhará o fracassado caminho do PT na disposição
de construir amplas alianças com o que há de mais retrogrado no país: a profunda
exploração econômica, o genocídio negro e indígena levado a cabo pela máquina
oligárquica, empresarial e militar que se encontra no parlamento e que sabemos
não respeita as leis e o jogo eleitoral.
Por outro lado, a extrema direita Bolsonarista - que pode vir a trocar de
liderança - ainda que tenha perdido espaço nas urnas em nível nacional não é um
ator que pode passar a ser ignorado, pois conseguiu a formação de um núcleo duro
de militantes que demonstrou disposição, disciplina e lealdade canina.
Essa direita nojenta fez experiências de ginástica golpista com motins policiais
com claras ligações com o Bolsonarismo em diversos estados governados pela
oposição, incluindo o Ceará, e ainda é apoiada por um núcleo de generais
incluindo o criminoso de guerra Augusto Heleno responsável pelo massacre de Cite
de Soleil no Haiti, por grupos de extermínio por todo brasil e no RJ em
particular, um inicio de demonstrações armadas de apoiadores civis e por grupos
neopentecostais fanatizados, que dentre outras coisas realizam atentados
terroristas em terreiros e demonstraram apoio ao atentado integralista contra a
produtora do grupo Porta dos Fundos.
No segundo turno de Fortaleza está o candidato de Bolsonaro que apoiou sucessivos
motins policiais desde 2014, inclusive o motim no inicio deste ano, e fez
campanha publicamente pela anistia dos policiais assassinos condenados pela
Chacina da Grande Messejana em 2015.
Na capital de nosso Estado, o candidato de Bolsonaro enfrenta Sarto - o candidato
dos Ferreira Gomes. Este assume a tradição coronelista dos seus padrinhos
políticos. Sarto foi vice-presidente da ALCE em 2011, ano em que os professores e
professoras da rede estadual entraram em greve e foram duramente reprimidos/as ao
ocupar a assembleia legislativa. Sarto também foi líder na ALCE do governo Cid
Gomes nos anos de 2013 e 2014, período em que construíamos desde 2010 a luta
popular contra as remoções da Copa por projetos do governo do estado que
beneficiariam a especulação imobiliária jogando para fora da cidade o povo pobre.
Também nesse período de luta estivemos com milhares de outras pessoas em
manifestações das copas das confederações e do mundo e fomos violentamente
reprimidos com força policial preparada para uma guerra civil. Não temos memória
curta e nem expectativa com eleições.
Reconstruir o tecido social através dos movimentos populares seja no bairro, no
trabalho ou nos locais de estudo, é uma tarefa longa e difícil que não exige
apenas fazer campanhas de dois em dois anos. A burocratização de parte importante
desses movimentos durante os governos petistas e a repressão imposta nos governos
de todos os partidos nas esferas municipais, estaduais e federal assim como uma
falta de maturidade da esquerda não-parlamentar deixou em frangalhos a capacidade
de resistência dos debaixo a qualquer ataque. No máximo respondendo com revoltas
momentâneas que pela falta de organização de base não conseguem ter um horizonte
palpável ou se traduzirem em um trabalho contínuo, para nós. Ainda que a mais
difícil, esta é principal tarefa.
Pela nossa convicção ideológica anarquista e coerência estratégica, não
participamos do processo eleitoral. Nós, anarquistas, votamos nas lutas do nosso
povo. Votamos na periferia organizada, nos territórios de povos tradicionais
ocupados, nos sindicatos e locais de estudo em luta.
Aos companheiros e companheiras que decidiram votar: que as urnas não substituam
as lutas
http://resistencialibertaria.org/2020/11/26/tempos-de-eleicoes-tempos-de-luta/
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