(pt) uniao anarquista UNIPA: As Greves no centro e na periferia do mundo
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Sábado, 2 de Novembro de 2019 - 08:16:19 CET
Chile - Manifestantes em torno de veículo blindado durante rebelião e greve geral em
Santiago 23.10.2019 ---- "E a greve é o começo da guerra social do proletariado contra a
burguesia, ainda dentro dos limites da legalidade. As greves são um caminho precioso nesse
duplo respeito, que, antes de tudo, eletrificam as massas, redescobrem sua energia moral e
despertam nelas a sensação do profundo antagonismo existente entre seus interesses e os da
burguesia, mostrando-lhes cada vez mais o abismo que agora os separa irrevogavelmente
dessa classe; e que, posteriormente, contribuem imensamente para provocar e constituir
entre os trabalhadores de todos os ofícios, de todas as localidades e de todos os países,
a consciência e o próprio fato da solidariedade: ação dupla, uma negativa e a outra
positiva, que tende a constituir diretamente o novo mundo do proletariado, opondo-o quase
completamente ao mundo burguês."
Mikhail Bakunin
Os trabalhadores do mundo todo continuam sendo esmagados. Por um lado, abandonados pelos
governos de esquerda socialdemocrata que, como de costume, nos momentos de crise insistem
em salvar os lucros dos patrões e o capitalismo. Por outro, atacados de forma acelerada
pelos governos conservadores e liberais. Agora os trabalhadores novamente se veem cada vez
mais com apenas uma alternativa realmente eficaz para se defender desses ataques: a greve.
No centro
EUA - professores protestam nas ruas de Chicago por melhores condições de trabalho,
outubro de 2019
Nos Estados Unidos, as paralisações puxadas pelos trabalhadores da educação em 2018
atingiram números que não atingiam há muito tempo. O número de trabalhadores que cruzaram
os seus braços foi o maior de todos os anos desde 1986. Também foi o ano com o maior
número de greves desde 2007. As greves da educação se espalharam por vários estados dos
EUA e continuaram assim em 2019. Entre reivindicações presentes, estavam aumento salarial,
classes com menos alunos, mais funcionários nas escolas, redução na aplicação de testes
padronizados, ampliação do investimento, revogação de cortes orçamentários na educação e
críticas aos modelos privados de financiamento via vouchers e das escolas charter, a
exemplo da realidade em Nova Orleans.
Na periferia
Greve geral na Argentina 30 de abril de 2019
Na Argentina, com o aprofundamento da crise como resultado das políticas econômicas
sancionadas pelo governo Macri e empurradas pelo capital mundial através do FMI (Fundo
Monetário Internacional), os trabalhadores viram a inflação acumulada dos últimos 12 meses
atingir 54% e a pobreza aumentar drasticamente. No dia 30 de abril, trabalhadores
responsáveis pela coleta de lixo, do setor de transportes, servidores públicos de
hospitais e escolas, e pilotos de linhas aéreas fizeram sua quinta greve geral contra
essas políticas econômicas.
Manifestação de massa durante rebelião e greve geral popular e indígena no Equador,
outubro de 2019
No início de outubro, o Equador foi palco de uma forte rebelião e greve geral, com
enfrentamentos de rua, prisão de militares pelo povo, ocupação de campos de produção de
petróleo, tomada do Parlamento Nacional e fuga da sede do governo de Quito para Guayaquil.
Em resposta a repressão e ao decreto de estado de exceção pelo governo, comunidades
indígenas também decretaram estado de exceção em seus territórios. Tendo como fortes
agentes os trabalhadores autônomos do transporte e sobretudo população e organizações
indígenas contra um pacote de reformas neoliberais do governo Lenín Moreno articulado com
o FMI e o empresariado equatoriano, que imediatamente ampliava a inflação pela retirada de
subsídios aos combustíveis, mas de fundo uma política de avançar o extrativismo, a
flexibilização trabalhista e o regime neoliberal e dependência do país.
Chile - ônibus queimados na plaza de Mapu com os dizeres "evade", palavra de ordem do
movimento estudantil incentivando a prática de boicotar o aumento de tarifa do transporte
e pular as catracas, Santiago em 19.10
No fim de outubro também eclode uma rebelião no Chile, iniciada contra o aumento de tarifa
nos transportes, mas revelando um esgotamento das condições de vida do povo e
desigualdades sociais: valor miserável das aposentadorias, previdência privada,
endividamento estudantil por um sistema de educação pública mas paga, saúde pública paga.
Condição esta devido ao modelo neoliberal, hoje aprofundado pelo presidente Sebastián
Piñera, implementado no país desde a ditadura de Pinochet na década de 70 - modelo
exaltado pelo ministro da economia de Bolsonaro, Paulo Guedes, de onde afirmou ter tirado
inspiração para a recém aprovada reforma da previdência no Brasil e seu plano de
privatizações. Diante da rebelião, com manifestações descentralizadas, expropriação de
supermercados e incêndios de trens e prédios, sindicatos e movimentos convocaram uma greve
geral para os dias 23 e 24. A população chilena enfrenta forte repressão militar,
incluindo assassinatos e denuncia de torturas, e desobedeceu decididamente os toques de
recolher, sendo capaz de fazer o governo recuar e revogar o aumento das tarifas de
transporte, por exemplo.
Organizar e lutar internacionalmente
Para combater as reformas e ajustes da burguesia, a classe trabalhadora mundial vai
percebendo que o caminho é a ação direta e não através das urnas. Medidas de ajuste
neoliberal, como privatizações, cortes orçamentários nas áreas sociais, aumentos de
tarifa, desregulamentação trabalhista e ações repressivas, como estados de exceção e toque
de recolher, tem sido frequente.
O povo deve se antecipar às formas frequentes de ataque do Estado e dos capitalistas para
resistir e adequar suas táticas de greve: fortalecendo sua organização, autodefesa nos
protestos de rua, criando caixas de resistência, se apoiando com solidariedade para romper
as barreiras das categorias e as fronteiras nacionais, ampliando as convicções das causas,
para marchar com mais segurança rumo ao objetivo da emancipação social.
As greves precisam, para além de negar a ordem burguesa, afirmar uma nova ordem social.
Para resistir e vencer em cada enfrentamento local numa perspectiva global devemos avançar
as experiências para as ocupações e autogestão dos locais de trabalho e controle da
distribuição, recusando-se a produzir para a classe burguesa, ferindo o centro de seus
interesses de acumulação de capital.
É necessário também organizar a classe trabalhadora internacionalmente para vencer a ação
do estado e o capital internacional. Os anarquistas e revolucionários devem preparar a
insurreição da classe trabalhadora e suas condições de vitória. Unindo as lutas para
prosperar a partir da greve geral insurrecional.
https://uniaoanarquista.wordpress.com/2019/10/29/as-greves-no-centro-e-na-periferia-do-mundo/
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