(pt) Brazilian Anarchist Coordination (CAB): Declaração das Jornadas Anarquistas 2019
a-infos-pt ainfos.ca
a-infos-pt ainfos.ca
Sábado, 17 de Agosto de 2019 - 08:25:11 CEST
Tradução para o português da declaração das Jornadas Anarquistas realizadas em março de
2019. Versões em espanhol e inglês podem ser acessadas no site Anarkismo.net. ----
JORNADAS ANARQUISTAS 2019 ---- Porto Alegre ---- Nos tempos atuais, a confusão política é
grande: se renovam velhas práticas que conduzem ao mesmo porto, como no caso das várias
ofertas eleitoreiras que prometem que não vão se desviar do caminho de uma política
"madura e responsável", enquanto aumenta em nível mundial a pobreza, a precarização, o
desemprego, as migrações de milhões de seres humanos de modo desesperado, enquanto cresce
o desconsolo, ganham terreno propostas autoritárias e neoliberais e se produzem golpes de
Estado de caráter técnico que favorecem a retomada do timão do Estado por parte da
burguesia mais rançosa - nada pode escapar do controle e, nesse cenário, a política
imperialista dos EUA e da União Europeia espalham no tabuleiro mundial suas fichas e seus
interesses. Assim, com variantes em cada região do planeta, aumenta a população chamada de
"sobra", destituída de tudo que é elementar para viver e também cresce em volume e
problemática a população que sofre vários níveis de precarização. Um mundo projetado cada
vez para menos gente, cada vez menos para uma população "integrada" plenamente ao sistema
mundo capitalista, já que aumenta a precaridade, a segmentação, a segregação e a
sobrevivência. E, no outro extremo, a consequente concentração da riqueza cada vez em
menos mãos.
Essa realidade, com variantes, a gente conhece bem. Não haverá transformação dessa
situação por vias que o sistema deixa abertas (eleições, governos, parlamentos, sistema
judicial), já que todas essas estruturas estão montadas para perpetuar a ordem burguesa e
para aprofundá-la. É por isso que se faz necessária e urgente uma saída própria para os
povos, uma saída sobre a qual os/as anarquistas organizados/as temos muito a dizer e
contribuir.
A ação do Anarquismo Politicamente Organizado - ou Especifismo - tem muito a dizer e
contribuir em uma estratégia de luta efetiva, mas também temos a aprender e nos renovar
nesta conjuntura. Estamos convencidas que o Anarquismo deve ser operativo, ágil e estar
sintonizado com as novas realidades sociais para enfrentar a dureza que esse sistema
impiedoso impõe às de baixo. Mas, para isso, reiteramos que o Anarquismo deve se organizar
politicamente. É a Organização Política que permite fomentar nas e nos militantes as
discussões e debates necessários, fazer as análises de conjuntura pertinentes, definir os
planos de ação e desdobramento, afinar a tática com precisão, mas também desenvolver uma
estratégia finalista e a adequação dela para cada período de ação, a cada conjuntura - o
que chamamos Estratégia em Sentido Estrito - e desenvolver os aspectos técnicos
necessários inerentes à organização política. Tudo isso em uma constante interação com o
meio social: a Organização Política tem sua razão de ser na inserção social do Anarquismo,
justamente para torná-la mais eficaz, incidir e se sustentar em processos de desenlace
popular.
Portanto, fazer coisas sem planejamento no meio social não chega a ser inserção. Na
inserção a gente dedica a vida, porém é necessária, junto com ela, a Organização Política,
esse pequeno motor que impulsiona o movimento popular. A Organização Política Anarquista,
na concepção especifista, não é vanguardista, mas de abnegação militante, com a finalidade
de incentivar e orientar um processo de ruptura revolucionária com ampla participação do
povo organizado, respeitando profundamente o específico desse nível. Chamamos esse
processo de Poder Popular: processo de construção dos organismos de poder do povo que vão
substituir as estruturas de poder burguês. Então, inserção social e organização política
andam de mãos dadas e se articulam horizontalmente, de um modo muito diferente dos que
foram propostos e desenvolvidos por todos os vanguardismos da esquerda até o momento, que
não fizeram nada além de limitar o desenvolvimento das organizações populares e
instrumentalizá-las como "aparatos" úteis a seus partidos. Por isso o Anarquismo
Especifista fala de Povo Forte e não de "partido forte", como disseram todas as correntes
do marxismo. Defendemos um Povo Forte, um povo construtor de seu destino e de suas
instâncias e graus de liberdade, segundo suas próprias experiências de luta, de
desdobramentos e de avanços no processo de ruptura.
Desde já um bom tempo na América Latina a gente vem fazendo um esforço constante, com toda
a modéstia de nossas forças, no sentido de impulsionar o Especifismo. Avançamos uma parte
considerável do caminho. Mais do que isso, hoje o Anarquismo Organizado tem presença e
sustentação em países onde praticamente havia desaparecido. Ele incide em nível popular de
maneira forte. Temos que continuar essa trajetória, temos que lhe dar um "empurrão",
ajudar a fazê-lo avançar. Precisamos que o Especifismo, vale dizer o Anarquismo
Politicamente Organizado, cresça e se fortaleça em outros países e regiões. Consolidar
processos que vêm se cimentando, a passo sereno, calmo porém firme. No mesmo sentido,
podemos dizer que é necessário crescer e se fortalecer em outras regiões do planeta.
Estamos falando de Organização Política com Carta Orgânica, Declaração de Princípios,
funcionamento regular de suas instâncias e prática de Federalismo, elaboração e
cumprimento dos planos de trabalho para cada meio social, planos para tarefas próprias da
Organização, propaganda e difusão das ideias e do posicionamento político geral e concreto
para cada meio e circunstância.
Mas a Organização Política também é a encarregada pela elaboração de teoria, digamos das
ferramentas de análise para conhecer a realidade, interpretá-la e poder atuar com maior
rigor e eficiência nela. Entendemos essa tarefa de construção teórica como uma tarefa de
primeira ordem e de necessária troca entre as Organizações de forma permanente.
O desenvolvimento da Organização Política deve acontecer no contexto do desenvolvimento da
inserção - e junto com ela - nas diferentes frentes de trabalho. Muitas vezes há
possibilidades limitadas de desenvolver uma inserção em todas as possíveis frentes de
trabalho ou nas que definimos como prioritárias pelo seu pertencimento de classe ou pelo
peso social de determinado setor nas noções ideológicas que ele produz. Porém temos que
ter em conta essa limitação e operar nesse sentido, planificar um trabalho de inserção ou
aproximação a certos setores que permitam fazer crescer nossa orientação nos mais vastos
setores populares.
São essas ferramentas em comum - junto com as práticas políticas - que permitem mostrar um
estilo e uma matriz militante em comum, mas também uma proposta e um projeto de sociedade
em comum. Do mesmo modo, temos uma crítica em comum contra o sistema de opressão
capitalista. Apresentar um corpo em comum, em nível internacional, fortalece a nossa
corrente e o nosso posicionamento. Logicamente, com as particularidades de cada país ou
região, as quais enriquecem o processo global.
Mas queremos insistir na necessidade de potencializar o Especifismo e fazer uma espécie de
"relançamento" internacional da nossa corrente, ou dar a ele força e consistência,
enraizando organizações onde ainda não estamos presentes, fortalecer as que existem e
fortalecer os laços entre nós.
Os tempos que estão vindo demandam uma ação concertada e com solidariedade permanente
entre as organizações, com o necessário apoio mútuo que potencializam os trabalhos de
inserção concretos e as frentes de ação, mas também que amplificam nossa voz e nossa
proposta de modo geral. No mesmo sentido, esses tempos demandam de nós maior rigor
militante e maior formação política do conjunto de nossa militância. É preciso também
gerar os instrumentos e as ferramentas necessárias para estar à altura das circunstâncias
que estão vindo.
Portanto, nesta instância das Jornadas Anarquistas, abordamos e acordamos as seguintes
propostas:
1) Consolidar os processos de construção de organizações específicas.
2) Estreitar os laços de solidariedade e intercâmbio entre as organizações de forma
cotidiana, incluindo a apropriação, por parte das organizações, da página Anarkismo.net,
de modo a difundir nossas atividades, posições e materiais. Essa página deve ser a
plataforma de lançamento de nossa corrente e nosso projeto político e social.
3) Trabalhar em conjunto para a construção de nossa teoria e nossas ferramentas de
análise. Já existem materiais em circulação, mas podemos estabelecer outros e identificar
temáticas a serem pesquisadas e trabalhadas em conjunto (por exemplo, Poder Popular,
Resistência etc.).
4) Avançar na coordenação entre as organizações de cada região (Europa, América do Sul) e
estabelecer as organizações responsáveis por acompanhar e apoiar outros processos em
outras partes do planeta.
5) Prever rumos de ação geral nos próximos anos e eixos de trabalho, assim como os apoios
necessários do exterior (por exemplo, diante do avanço da extrema direita em países da
Europa ou da intensificação repressiva na América Latina).
Assinam:
Coordenação Anarquista Brasileira (CAB)
Federação Anarquista Uruguaia (FAU)
Federação Anarquista de Rosário (Argentina) (FAR)
Organização Anarquista de Córdoba (Argentina) (OAC)
OSRL Anarquismo Organizado (Buenos Aires, Argentina)
Núcleo Pró-Federacão (Chile)
Coordenação de Grupos Anarquistas (CGA-França)
Mais informações acerca da lista A-infos-pt