(pt) quebrando muros: VITÓRIA DA REVOLUÇÃO CURDA CONTRA O ESTADO ISLÂMICO!
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Segunda-Feira, 1 de Abril de 2019 - 08:47:43 CEST
As Forças Democráticas da Síria declararam no dia 23 de Março de 2019 a derrota do
califado do ISIS e a perda territorial de 100% das forças fundamentalistas de
extrema-direita. ---- Na sexta-feira, dia 22/03, onde tremulavam as bandeiras negras do
Estado Islâmico, no sábado, amanheceram as amarelas e verdes das Forças Democráticas
Sírias (SDF). Neste dia, o povo curdo homenageou as e os milhares de mártires cujos
esforços tornaram possível a vitória contra a extrema-direita fundamentalista. Desde o
início desta década, curdos, sírios e voluntários internacionais têm lutado bravamente e
incessantemente em defesa da população de Rojava, no norte da Síria. Juntos, eles
derrotaram o califado do ISIS e libertaram milhões de seu terror.
Tal conquista somente foi possível graças a quem esteve na linha de frente contra a
extrema-direita fundamentalista religiosa. Assim, é vitória da luta dos curdos, das YPG
(Unidades de Autodefesa Popular) e YPJ (Unidades de Autodefesa Feminina), bem como das
forças de apoio, como o IFB (Batalhão Internacional da Liberdade), o IRPGF (Forças
Populares Guerrilheiras Revolucionárias Internacionais), a T.A. (Luta Anarquista), entre
outras tantas. Foram cerca de 9.490 mulheres e homens, principalmente curdos, que deram
suas vidas pela causa. Mais de 2.000 árabes e 45 internacionais também caíram. Suas lutas
jamais serão esquecidas
Bandeira do Estado Islâmico é retirada por lutadoras do YPJ em Baghouz. Fonte: Página
oficial de Facebook do YPG
A conquista não significa, no entanto, o fim da luta das guerreiras e dos guerreiros de
Rojava. A influência política que o grupo fundamentalista possui na região, apesar de ter
sido derrotado, é grande, e o ISIS, que ainda possui muitos militantes, tem capacidade de
atrair simpatizantes para realizar ações para desestabilizar seus inimigos. Ainda há muita
luta para travar, principalmente contra a invasão Turca, desencadeada pelo presidente
Erdogan, que conta com a cumplicidade dos EUA. Assim, o processo revolucionário segue
sendo construído!
Mártires nunca morrem!
Sehid Namrin!
A Revolução Curda
A vitória contra o Estado Islâmico, concretizada no povoado de Baghouz (fronteira com o
Iraque), é mais uma das conquistas de um processo revolucionário que se desencadeia no
Oriente Médio há mais de quatro décadas. Os curdos, originários da Mesopotâmia, são
conhecidos por constituir a maior minoria étnica sem Estado-nação no mundo. Estão,
atualmente, localizados numa região entre Turquia, Irã, Iraque, Síria e Armênia, cujas
fronteiras foram definidas artificialmente pelas potências imperialistas (principalmente
Inglaterra e França), mediante inúmeros tratados firmados sem envolver qualquer
participação e consulta dos que ali viviam.
Tal cenário propiciou que os curdos desencadeassem uma série de levantes e lutas,
culminando, nos fins dos anos 1970, na criação do Partido dos Trabalhadores do Curdistão
(PKK) - tendo, inicialmente, orientação marxista-leninista. Nas décadas seguintes, a
ideologia do partido começa a ser revista e, a partir de 1990, ele se populariza e passa a
contar com ampla participação de mulheres, que criam suas próprias organizações, pautadas
na autonomia, visando implementar suas decisões. Ao ingressar no PKK, as mulheres
desenvolvem uma crítica muito forte ao Estado, devido a relação com a colonização e que
assume frente a mulher.
Portanto, é constituída uma crítica ao Estado e à perpetuação e intensificação da
exploração das mulheres realizadas por ele. Tais ideias crescem e modificam o paradigma
marxista-leninista do PKK. Em consequência, é desenvolvido um novo paradigma a partir das
críticas ao Estado-nação e suas dominações de gênero, étnicas e de classe - que não trazem
libertação para o povo. Trata-se do confederalismo democrático, paradigma anticapitalista,
pautado na democracia direta e organizado de baixo para cima. Neste modelo, as decisões
são tomadas por todos e todas, uma vez que são discutidas e definidas localmente, sem
hierarquias e prezando pela participação feminina.
Combatentes das Unidades de Defesa Feminina comemoraram a vitória histórica sobre o ISIS
com uma cerimônia militar
Deste modo, a revolução constrói uma luta com caráter de autogestão, em que os
revolucionários não se dividem entre governados/governantes ou massa/vanguarda
revolucionária. Além disso, a revolução é construída majoritariamente por mulheres, que,
apesar da mídia ocidental retratar, nos últimos anos, de forma fetichizada, como
combatentes armadas ferozes que enfrentam o Estado Islâmico, elas na verdade se articulam
através de uma prática política radical e um pensamento profundo há décadas.
A luta das mulheres curdas e a Jinealogia
Localizando a raiz histórica da opressão e injustiça social, econômica e cultural no
surgimento de hierarquias de gênero no período neolítico, as mulheres curdas constituem um
movimento que luta contra as estruturas sociais patriarcais, o que implica lutar contra as
estruturas opressivas do Estado-nação capitalista. A libertação das mulheres assume um
papel central para mudar radicalmente a realidade, que não pode ser compreendida sem
vincular as opressões capitalistas, estatistas e de gênero. É a partir de concepções
anticolonialistas, anticapitalistas e antipatriarcais que as mulheres curdas vêm
desenvolvendo a jinealogia (jin = mulher), que consiste na ciência ou no estudo das mulheres.
Dessa forma, a Jinealogia compreende que as transformações de gênero precisam ocorrer
dentro da sociedade e que isso deve acontecer desde já, e não no futuro. Nesta concepção,
a luta contra o capitalismo, o Estado-nação e o patriarcado, senão travada em conjunto, é
falha. A jinealogia entende as conexões entre o patriarcado, o capitalismo e Estado-nação,
partindo da ideia de que se deve lutar partindo da correlação entre os três. Assim, se
lutamos contra o capitalismo e o Estado-nação, mas não identificamos o patriarcado como
parte do problema, e, por consequência, o secundarizamos, então não entendemos nada.
Nesse sentido, é importante elucidar que a jinealogia não é uma forma de feminismo -
apesar de alguns já a terem denominado feminismo curdo -, embora o respeite e entenda sua
importância. Falta ao movimento feminista, segundo a jinealogia, uma perspectiva
holística, de todo o conjunto de problemas de uma sociedade, especialmente no Oriente
Médio. Contudo, de longe a jinealogia quer se colocar enquanto alternativa ao feminismo,
visando substituí-lo. Aliás, as mulheres curdas consideram as discussões feministas muito
importantes.
Assim, como podemos ver, temos muito a aprender com as mulheres curdas, reconhecendo que o
feminismo ocidental ainda possui muitas limitações. A jinealogia deve ser fortalecida e
compreendida em sua complexidade, e ela demonstra a importância das mulheres e de uma luta
que não se limita a combater o capitalismo e o Estado-nação sem também lutar contra o
patriarcado.
Por fim, ela é mais uma construção de um processo revolucionário que muito tem a nos
ensinar e muito tem avançado no Oriente Médio. A revolução é mais uma prova de que há
meios de se lutar contra o capitalismo e criar formas auto organizadas, autônomas e
verdadeiramente democráticas de se organizar socialmente.
A derrota o califado do ISIS é uma vitória do povo curdo, das mulheres e dos socialistas
sobre o fundamentalismo de extrema direita no Oriente Médio.
Vida longa à Revolução Curda!
Morte ao fascismo, morte ao imperialismo!
https://quebrandomuros.wordpress.com/2019/03/29/vitoria-da-revolucao-curda-contra-o-estado-islamico-%E2%9C%8C/
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