(pt) anarkismo.net: Primeira análise comentada após a vitória de Bolsonaro: que governo é esse?! by BrunoL
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Quinta-Feira, 15 de Novembro de 2018 - 07:29:52 CET
As primeiras impressões do governo de extrema direita eleito no Brasil ---- Parece que
tudo vai ser aos trancos e barrancos e um governo loteado, escorado em "super ministros" e
bombardeado o tempo todo com o fogo amigo das palavras do "super vice". ---- 03 de
novembro de 2018 - Bruno Lima Rocha ---- Desde a eleição do candidato Jair Bolsonaro (PSL)
no último domingo dia 28 de outubro que eu praticamente não paro. Até aí nada demais,
porque a maior dos/das colegas e companheiros não para há muito e dorme pouco ou nada. A
preocupação com o país, os destinos de nossa sociedade e o inusitado de estar vivendo sob
democracia liberal e um governo eleito de extrema direita é de um impacto absurdo. Também
não venho parando para raciocinar porque ao escrever estas palavras, apenas passados
alguns dias da eleição, os tempos dos anúncios, possíveis medidas, recuos e contra
medidas, além de novidades, são de um volume gigantesco.
Ou seja. Parece que tudo vai ser aos trancos e barrancos e um governo loteado, escorado em
"super ministros" e bombardeado o tempo todo com o fogo amigo das palavras do "super
vice". Até agora sabemos de três super ministros:
- Paulo Guedes e sua equipe de financistas e ultra liberais na Economia, Planejamento e
MDIC agrupados!
- Sergio Moro - ele mesmo - que deixa a magistratura para algo que no meu ver caracteriza
como uma aventura política e evidente conflito de interesses, à frente de um Ministério da
Justiça que retoma a pasta da Segurança Pública e terá o comando do COAF também.
- Augusto Heleno, general de quatro estrelas (reserva) que estará à frente da Defesa que,
se não se cuidar, vai acabar como "defesa interna" e a todo o momento se esbarrando no MJ.
Os dois próximos "super ministros" seriam - serão - da Educação, Cultura e Esporte (tudo
junto como no Estado Novo quando englobava no começo, Educação e Saúde ate ganhar a sigla
histórica de MEC) e a Agricultura, que ia encampar o Meio Ambiente mas acabou sendo
colocada de volta "apenas" como o Ministério da Vocação Bananeira e Colonizada do
Latifúndio Agro-Exportador.
Deixo aqui minha primeira impressão. O presidente eleito Jair Bolsonaro não se preparou
para governar e apenas se preparou ao longo dos últimos quatro anos para ganhar a
Presidência. Ou seja, vencer a corrida, mas sem ideia alguma concreta do que fazer após
medalhar no pódio. A impressão que dá é que estaremos sob o bombardeio de factoides, mais
fake news - firehosing como se diz na gíria dos gringos - e que a Presidência irá oscilar
entre momentos de certa serenidade e algum absurdo.
Isso já começou logo na entrevista dada para as emissoras de TV na 2a dia 29 outubro, eu
particularmente ouvi a da Rede Bandeirantes, quando Bolsonaro afirmou - novamente - "que
não houve ditadura no Brasil" e tampouco censura. Havia "censura esporádica" porque
supostamente algum articulista de jornais - logo, de jornalões - poderia escrever em
linguagem cifrada dando ordem para o sequestro e execução de algum alvo político! Também
negou a existência de desaparecidos, afirmando que seriam "terroristas" enterrados como
indigentes. Enfim: negacionismo da história recente do Brasil e um duplo discurso:
serenidade de um lado e uma perigosa meta narrativa de outro.
O jogo de espelhos retorcidos: "Yes nós temos banana, gritam os bolsonaristas!"
Agora em termos conceituais, entendo que seria - já está sendo - um jogo de espelhos
retorcidos do estilo Trump de governar. Há que se reconhecer. Bolsonaro é muito
influenciado por sua própria atuação nas redes sociais e compreendeu com esmero e
perfeição que pode ter um público cativo e precisa agradar esta audiência com factoides
extremados.
Há um frenesi reacionário no país e não exagero ao afirmar que nossa sociedade vive um
"transe pós-coxinha". Tudo foi mais à direita e há uma recompensa direta pelo pouco amor à
própria reputação em redes sociais. Ou seja, o ridículo compensa. A começar pelo próprio
presidente eleito, acumulando 30 anos de proselitismo político de intolerância, defesa da
ditadura e supremacia hetero-masculina até as estupidezes dos Meninos do Brazil Ultra
Liberais, todos eleitos (eleitos!!!) e dotados agora de verba de gabinete e pessoal
remunerado para seguir com suas projeções da sociopatia em metástase.
O que chama a atenção é como tudo isso é "organizado em redes", ou, porque não,
propositadamente desorganizado. Daí a evidência do despreparo, da única familiaridade do
mandatário eleito ser com o jogo do parlamento, da situação absurda de pensar em termos de
absoluto filosófico e não de categorias operacionais (como nas afirmações da "economia das
expectativas") ou a carta branca para seus aliados de primeiro escalão. Ele, Bolsonaro,
discursa em cima da "fadinha da confiança" e nos "esteios da família". Como um tiozão no
almoço de domingo implicando com o sobrinho mais inteligente, culto e estudado, além de
descolado culturalmente. O grotesco compensa, dá ideia de "segurança e solidez", criando
uma narrativa de onde elementos de seu próprio deixaram a Morey Boogie da juventude nas
praias da Barra e na Joatinga para os ternos do mandato de deputado federal paulista. Sim,
paulista, especificamente paulistano. Qualquer semelhança com o CCC ou a TFP pós-modernos
não é nenhuma coincidência. Mas entre fazer tumulto cibernético e construir atos de
governo vai uma fossa abissal de distância.
Saberá ele, Jair Messias, se tornar presidente sem afundar de vez o país que ainda é,
segundo o FMI, a 9a economia do mundo?! Conseguirá ele, sempre ele e seu clã de políticos
profissionais, não atirar o país em um nível de conflito interno sem precedentes? Conflito
em todos os níveis, dentro das repartições estatais, das corporações do serviço público e
das altas esferas institucionais. Conflito esse que eles só podem ganhar se fizerem uma
inflexão para um governo central autoritário, o que implica repressão política,
judicialização do protesto e criminalização federal do mesmo?!
Eu não quero parecer profeta do óbvio, mas a legitimidade política, aquele instrumento que
deve ser cobiçado, regado e semeado a cada dia, se esvai junto da credibilidade das
realizações vãs e não cumpridas. Ou existe uma espécie de pensamento mágico transcendental
cruzado com o senso comum, do tipo "é no andar das carroças que as melancias se ajeitam",
ou veremos um festival de trapalhadas como nunca antes na história deste país. A começar
pelo impagável vicepresidente eleito, o escolhido pela negativa dos demais, o também
general de quatro estrelas e filósofo da estirpe de um Nina Rodrigues, Antônio Hamilton
Martins Mourão. Já estou até cunhando uma palavra de ordem das oposições: "Fala Mourão!".
Sim, fale tudo, fale sem parar, poupará o trabalho dos 6 em cada 10 brasileiros que não
votaram em vocês.
Voltando ao óbvio, para ficar apenas na "economia", estamos entrando em um Liquida Tudo do
Bananistão dos Financistas. Não tem política industrial nesta junção de especuladores
escalados para gerir o Super Ministério. Apostar tudo na redução do tamanho do Estado e na
liquidez advinda da redução de tributos e na "fadinha da confiança" é desejar demais e
incidir de menos. Alguém pode afirmar que os especuladores nunca querem nada além de
liquidez infinita e a tal da exuberância irracional. Confesso, se este analista que
escreve não fosse a favor da reforma manicomial diria que era caso de internação imediata!
Mas, o Poder Executivo para além dos financistas, para além da economia predatória, da
estúpida política externa subordinada e suicida que se avizinha, algo vai querer realizar.
Mesmo que sejam realizações nefastas. E como o farão sem os instrumentos e meios adequados
de política econômica para tal?!
Logo: APERTEM OS CINTOS.......Citando o inesquecível Raul Seixas "plunct plact zum"!
Bruno Lima Rocha é pós-doutorando em economia política, doutor e mestre em ciência
política; professor de relações internacionais e de jornalismo (estrategiaeanaliseblog.com
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