(pt) Rebeca Lane: Rap anarquista e feminista desde a Guatemala By A.N.A. (en)
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Terça-Feira, 12 de Junho de 2018 - 06:52:36 CEST
Violência e mulheres são temas chaves nas rimas da rapeira guatemalteca Rebeca Lane, que
se encontra na Europa apresentando seu último disco, ‘Obsidiana‘. Após sua passagem pela
Alemanha e Áustria, este mês visita a Espanha. -- por Judit Alonso ---- Rebeca Lane
começou a cantar em 2012 e já lançou cinco discos: Canto, Poesía Venenosa, Dulce Muerte,
Alma Mestiza e Obsidiana. Não obstante, sua carreira artística iniciou anteriormente. "Foi
um passo natural, eu já fazia poesia que começou a ter mais musicalidade, como a do hip
hop, logo comecei a rapear", explicou em entrevista com Deutsche Welle por causa de sua
turnê europeia que a levou por diversos países, entre eles a Alemanha. ---- Se trata da
quarta visita ao país germano. "Desde a primeira vez que vim já havia bastante gente que
conhecia minha música nos círculos feministas e queers". A primeira vez foi em 2016. Em
2017 a cantora visitou a Alemanha em duas ocasiões e este ano esteve aqui de novo. Ainda
que já tenha subido a vários cenários de cidades como Berlim e Frankfurt, em cada nova
viagem se incorporam novas cidades ao roteiro alemão. Um fato que está contribuindo para
isso é que "uma gravadora, Flofish, já lançou dois discos meus na Alemanha", destacou.
Raízes que marcam letras
Lane realizou estudos de sociologia na Universidade de San Carlos da Guatemala, durante os
quais realizou pesquisas sobre culturas urbanas, entre elas o hip hop. "As ciências
sociais também são para transformar a realidade", considerou. Os estudos, assim como sua
ascendência indígena por parte de mãe, marcaram sua carreira musical. "O fato de tomar
consciência de ter ascendência indígena, é um caminho que veio através da música",
explicou, recordando que se trata de um processo de entender "nossa herança cultural" e de
"reconstruir as raízes, de voltar a olhar para trás". "No caso guatemalteco se nega esta
ascendência que nomeia aos antepassados europeus mas não aos anteriores", lamentou,
frisando que "na família se perdeu a linguagem". E é que "o fato de ser indígena implica
que tuas condições de vida são inferiores as do resto".
A situação dos povos indígenas na Guatemala tem sido criticada a nível internacional. Só
faz um par de semanas, a relatora especial das Nações Unidas sobre os direitos dos povos
indígenas, Victoria Tauli-Corpuz, qualificou de "fracasso do Estado da Guatemala" a
persistente e histórica situação de discriminação contra a população indígena, descendente
da cultura maia. "Há políticas estatais racistas criminalizando os povos indígenas",
agregou a rapeira, recordando o assassinato de vários líderes comunitários durante o mês
de maio passado devido a suas "resistências a megaprojetos".
O descontentamento com a situação política do país que, recentemente, viveu uma onda de
manifestações pedindo a demissão de seu presidente, Jimmy Morales, também fica patente nas
rimas da artista. Na canção ‘Reina del Caos‘, que trata sobre sua experiência como
feminista e anarquista, denuncia um país onde se criminaliza a mobilização social. "Se tem
feito muitas marchas para que se vá. Jimmy Morales só tinha três meses no poder quando
saíram os casos de corrupção", recordou.
Rimas com compromisso
Lane crítica que para fazer arte e ter espaços de promoção na Guatemala não se deve falar
sobre a realidade política e a memória histórica. Um aspecto que se reflete em
‘Desaparecidos‘, uma canção que dedica a sua tia, a guerrilheira e poeta Rebeca Eunice
Vargas Braghiroli, que se encontra entre as 45.000 pessoas registradas como desaparecidas
pelo exército guatemalteco no final da Guerra Civil em 1981. Na América Central a cultura
hip hop relata as realidades das sociedades", considerou.
O machismo, a discriminação contra a mulher e a violência são uma temática recorrente em
sua discografia; se reflete em temas como ‘Este cuerpo es mío‘ ou ‘Ni encerradas ni con
miedo‘, que recolhem vivências pessoais: durante três anos a rapper manteve uma relação
com um homem que a maltratou física e psicologicamente. "Marcou minha vida como mulher",
recordou ao falar de dita experiência.
Não obstante, "o hip hop, como uma ferramenta de expressão de emoções, me permitiu
empoderar-me da palavra e criar empatia com outras mulheres", disse. "As canções tiveram
seu poder, não pensei no efeito que iria ter", assegurou. Por este motivo, agora "já sou
mais consciente do que escrevo". Assim, em uma das canções de seu último disco, ‘Siempre
viva‘, narra os "tipos de violência que, através das redes sociais, se exerce contra as
mulheres. É um tipo de violência real, que te dá medo", agregou, lamentando que páginas
web feministas tenham sido obrigadas a fechar após ameaças de agressão ou violação.
Assim mesmo, suas reivindicações ultrapassam fronteiras com a realização de oficinas de
empoderamento para mulheres e colaborações musicais com outras artistas da região. Entre
elas destaca o trabalho com a argentina Vaioflow, com a qual tem levado a cabo o tema
‘Velas y Balas‘. Centrada na repressão, a canção documenta dois casos que sacudiram a
opinião pública no ano passado em ambos países: a tragédia do Hogar Seguro Virgen da
Asunción[orfanato]da Guatemala, no qual morreram 40 jovens queimadas ao provocar um
incêndio para protestar contra as agressões físicas e sexuais que sofriam, e a morte de
Santiago Maldonado após a repressão às comunidades mapuches na Argentina.
Fonte: http://www.dw.com/es/rebeca-lane-rap-anarquista-y-feminista-desde-guatemala/a-44071788
Tradução > Sol de Abril
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