(pt) uniao anarquista: Um século da Greve Geral - 1917-2017 -- Texto Causa do Povo (Dez-Jan)
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Quinta-Feira, 25 de Janeiro de 2018 - 09:40:03 CET
No mês de julho de 1917, na cidade de São Paulo, os trabalhadores deflagraram aquele que
se tornaria o maior grevista do Brasil até visto. Aproximadamente 100 mil trabalhadores,
homens, mulheres e crianças, paralisaram a capital paulista. ---- A deflagração da greve
ocorreu no bairro industrial da Mooca, pelos operários e operárias da fábrica têxtil
Cotonifício Crespi, que reivindicavam aumento salarial de 10 a 20% e eram contra a
extensão do horário de trabalho noturno, imposto pelos donos da fábrica. ---- Os operários
e operárias estavam organizados na Liga Operária da Mooca, cuja secretária era a operária
Maria Angelina Soares. Assim, quando os donos da fábrica partiram para a repressão,
ameaçando os grevistas de demissão, o movimento expandiu para outras fábricas.
Greve Geral em São Paulo, SP, 1917. Coleção História da Industrialização no Brasil, São
Paulo, foto 208. Arquivo Edgard Leuenroth.
A polícia reprimia as manifestações, entretanto, mais e mais trabalhadores e trabalhadoras
aderiram ao movimento. Além da solidariedade de classe, a luta contra ao custo de vida, a
precariedade do trabalho, as desigualdades salariais, pois as mulheres recebiam a metade
do salário dos homens, enquanto as crianças recebiam apenas 10%, moviam os trabalhadores
na adesão à greve.
No dia 9 de julho o sapateiro Jose Ineguez Matinez, militante anarquista de origem
espanhola, morreu em decorrência de um tiro disparado pela polícia. A revolta pelo
assassinato do operário Jose Matinez se generalizou e o momento cresceu ainda mais.
Também no mês de julho foi criado o Comitê de Defesa Proletária, com o objetivo de
garantir a organização e a continuidade do movimento grevista. A formação inicial do
Comitê contava com as ligas operárias da Mooca e do Belenzinho, das ligas operárias das
diversas categorias em greve, do Centro Libertário de São Paulo e do Centro Socialista de
São Paulo. O operário tipógrafo, nascido no interior de São Paulo, o anarquista Edgard
Leurenroth foi eleito secretário do Comitê de Defesa Proletária.
Com a atuação do Comitê, no dia 11 de julho 54 fábricas aderiram ao movimento de greve. No
dia 12 foram os padeiros, leiteiros, trabalhadores das companhias de gás e de luz também
paralisaram. A greve geral havia sido deflagrada. Sem luz, sem gás e, consequentemente,
sem transporte, a cidade de São Paulo parou.
A organização da greve contou não só com o Comitê, mas também com as organizações locais
dos trabalhadores e trabalhadoras reunidos nas ligas operários dos bairros. Assim, as
adesões cresciam e as manifestações se radicalizavam. A repressão não conseguia conter o
movimento, mesmo depois de dois outros assassinatos e da prisão de diversos grevistas,
principalmente das lideranças anarquistas.
Diante da organização e da capacidade de resistência dos grevistas, os empresários e o
governo começaram a ceder às reivindicações operárias. Os empresários se comprometeram com
o aumento de 20% sobre os salários em geral, respeitar a liberdade de organização
operária, não demitir ninguém por motivo de greve e pagar os salários da primeira quinzena
de julho. Já os compromissos do governo foram: libertar todos os grevistas presos,
reconhecer o direito de liberdade de organização operária, fiscalizar a alta dos preços,
regulamentação do trabalho infantil e feminino e estudar restrições do trabalho noturno de
mulheres e crianças. Com as reivindicações atendidas, a greve foi suspensa no dia 16 de julho.
O movimento grevista também tinha de espalhado por outras cidades paulistas, Santos,
Sorocaba, Jundiaí e Campinas. Em Campinas destaque-se a atuação da Liga Humanitária dos
Homens de Cor, organização de operários negros. O movimento ainda atingiu o sul do país,
com greves no Rio Grande do Sul e o nordeste, com greves em Pernambuco.
https://uniaoanarquista.wordpress.com/2018/01/19/um-seculo-da-greve-geral-1917-2017/
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