(pt) A agitação na caserna e suas ameaças por Coordenação Anarquista Brasileira
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Domingo, 8 de Abril de 2018 - 08:08:41 CEST
A mensagem do general Villas Boas na noite de ontem (03/04), acompanhada por um séquito de
oficiais da caserna, selou quaisquer dúvidas e vacilações a respeito do golpe que se
aprofunda no país. As Forças Armadas, que nunca deixaram a cena política, passaram a
intervir na mesma de forma escancarada, em ultrajante violação as próprias normas
constitucionais que em tese, haveriam de resguardar. ---- O recado que passa o chefe em
exercício das FFAA para o STF é claro: ou julguem conforme achamos melhor, ou então
teremos de intervir. Apesar de indicar uma agitação política a fim de pressionar o supremo
a negar o Habeas Corpus de Lula, o fato é que as últimas declarações de oficiais, tal como
de setores da sociedade civil em seu apoio, colocam um cenário novo e preocupante na
conjuntura: a agitação política em prol de uma intervenção militar, um Golpe de Estado
"clássico" como saída autoritária e conservadora para a crise já faz parte das
alternativas apregoadas pelas elites e difundidas pelos oligopólios da grande mídia sem
quaisquer constrangimentos.
Ou a ameaça de golpe procura estabelecer uma chantagem que visa buscar uma solução
autoritária pactuada onde o exército age como instrumento de pressão sobre os outros
poderes. Sendo blefe ou não, tal ameaça não pode ser desprezada pelos lutadores sociais.
O Estado Policial de Ajuste vai dando a cada semana novos indícios de que a tendência é
aprofundar o protagonismo da milicada na vida política do país, através de um discurso de
controle, de supressão das mínimas garantias e liberdades democráticas que foram
conquistas a duras penas pelas gerações anteriores.
Cresce igualmente, o desenho de um cenário neoliberal onde os serviços sociais são
totalmente precarizados, enquanto se garante (via medida provisória) os recursos das
forças de repressão fora das restrições orçamentárias habituais. A mensagem é clara.
Recorte social e porrete para o povo. Cabe mencionar que a construção desse
estado-policial foi reforçada ano após ano, com a crescente intervenção militar nas
favelas e a lei anti-terrorismo assinada pelo PT.
A malfadada transição lenta, gradual e segura, fiada na impunidade dos crimes contra a
humanidade perpetrados por militares e civis que sustentaram a ditadura, culminou em um
frágil pacto social dando expressão à chamada "constituição cidadã" de 1988. Hoje, a
deterioração social do país em mãos do rentismo e de velhas oligarquias faz com que essa
mesma constituição passe a ser relativizada, passando por um processo de corrosão não em
prol de maiores garantias democráticas e de direitos para a ampla maioria do povo
trabalhador, mas sim como forma de endurecimento do regime e de privação de direitos
elementares.
O quadro de deterioro que evidencia o golpe de 2016, tal como sua permanente
radicalização, chega ao ponto inclusive de colocar a democracia representativa, liberal e
burguesa em xeque, como forma de acelerar a implementação dessa nova fase do capitalismo,
em que a retirada de direitos do andar de baixo é exigida a fim de maximizar os lucros do
andar de cima.
É preciso cortar o passo dos abutres pela raiz!
Chega a ser patética a crença depositada pelo petismo e seus satélites nas instituições
republicanas. Apostaram na isenção destas, e hoje, não bastassem ser alvos de seus
ataques, mostram-se impregnados por uma "síndrome de Estocolmo", ao não reconhecer as
evidentes conspirações em curso na caserna, tal como a manifestação oficial do partido que
isenta Vilas Boas da conspirata em curso.
Tragicamente esse cenário de deterioro social e político, que marca um perigoso retorno da
extrema direita, com claros sinais fascistizantes, à cena política, não tem encontrado
força social a altura para cortar o passo dos abutres.
Por outro lado, parte expressiva da esquerda se encontra entorpecida no "canto da sereia"
do Estado Democrático de Direito, rogando para que as instituições e seus representantes
demonstrem bom senso e "resgatem" os valores constitucionais. Uma ilusão que está mais do
que evidente. Para a burguesia e seus respectivos braços armados e institucionais, o
Estado Democrático de Direito foi, é e sempre será um mero adorno para acobertar sua
dominação, podendo ser suprimido quando assim julgarem eficaz.
Não aprender com as trágicas derrotas de nossa classe nas últimas décadas pavimenta o
caminho para a derrota e a desmoralização. Para barrar a escalada fascistizante da extrema
direita urge iniciativas reais de luta e mobilização dos de baixo, os mesmos que não raras
vezes vivem sem as próprias garantias constitucionais de 1988. A colaboração de classes e
a crença inabalável de uma pacificação pelas próprias instituições do Estado no máximo
postergarão para um futuro não muito distante uma nova e mais robusta intentona da extrema
direita.
Qualquer luta contra os setores conservadores só poderá ser efetiva se incluir os locais
de trabalho, as fábricas, o campo e as ruas como lugar de luta. É à partir da mobilização
da classe trabalhadora e do conjunto de oprimidos que se derrota qualquer avanço conservador.
É preciso cortar o passo dos abutres pela raiz!
Lutar para organizar! Organizar para lutar!
https://anarquismo.noblogs.org/?p=933
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