(pt) A Greve Geral como Ferramenta de Luta da Classe Trabalhadora Ontem e Hoje por FARJ
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Segunda-Feira, 1 de Maio de 2017 - 08:32:03 CEST
O ano de 2017 simbólico para a memória os trabalhadores brasileiros, pois comemoramos 100
anos da nossa primeira grande greve geral. Ao mesmo tempo, vivemos um momento político
duríssimo para a classe trabalhadora, com o atual governo atacando os direitos mais
básicos, que foram conquistados com décadas de luta e resistência. Desmantelam os direitos
trabalhistas, destroem a previdência, regularizam a terceirização e vendem nossas
riquezas, privatizando diversas empresas. ---- É nesse contexto que as grandes centrais
sindicais propõem uma "greve geral" para o dia 28 de abril. Refletindo sobre a trajetória
de luta do movimento operário, nos perguntamos: a proposta dessas centrais é realmente
construir uma Greve Geral? A paralização do dia 28 será suficiente para enfrentar todo o
retrocesso imposto pelo atual governo e pelas grandes empresas? Qual a nossa concepção de
greve geral?
Greve Geral de 1917: análise do passado e reflexão sobre o presente
A experiência da grande greve geral de 1917 marcou a história da classe trabalhadora e do
anarquismo no Brasil. Construída a partir do acúmulo de anos de mobilização e organização
do movimento operário, desde a grande greve de 1903, passando pelo 1º Congresso Operário
Brasileiro de 1906 e o 2º Congresso em 1913, foi a grande greve de 1917 que marcou a
memória das lutadoras e lutadores.
Naquele período, grandes greves aconteciam em diferentes partes do mundo, protagonizadas
em esmagadora maioria pelo sindicalismo revolucionário e o anarco-sindicalismo, ambos com
participação determinante dos/as anarquistas. Tanto o sindicalismo revolucionário quanto o
anarco-sindicalismo eram estratégias da ideologia anarquista para o movimento de massas.
No caso do sindicalismo revolucionário brasileiro, este defendia a neutralidade sindical,
o que não significava ficar alheio ao que se passava no país e no mundo, mas sim, não
tornar os sindicatos um palanque ou parlamento eleitoral. Se organizavam de maneira
federalista, o que hoje chamaríamos de tomar decisões "pela base", respeitando as
instâncias e assembleias de base dos trabalhadores e construindo as decisões, sempre de
baixo para cima, sem burocracia sindical. Defendiam a solidariedade de classe entre os
trabalhadores e a greve geral, entendendo a organização e articulação entre as categorias
como um pré-requisito para um movimento grevista não ser derrotado pelo seu isolamento.
Adotavam a sabotagem e o boicote contra patrões e fura-greves, e batalharam para construir
uma cultura operária libertária e rebelde, mediante centros culturais, bibliotecas
populares, festivais, peças teatrais e jornais. Esse componente cultural servia para
formar e atrair mais trabalhadores para a discussão dos seus problemas.
No Brasil, o sindicalismo revolucionário era a estratégia sindical mais forte nos
sindicatos e também a mais defendida pelo anarquismo. Em 1906, esta corrente foi
hegemônica na fundação da primeira central sindical do país, a Confederação Operária
Brasileira (COB). Desde o início do ano de 1917, os sindicalistas revolucionários e
anarquistas da então Capital Federal, organizados na Federação Operária do Rio de Janeiro
(FORJ), se mobilizavam contra os altos preços dos alimentos ("carestia de vida"), situação
que se agravava devido à 1ª Guerra Mundial.
Em junho de 1917, uma greve no setor têxtil em São Paulo se expandiu para outras
categorias, havendo inclusive a formação de um um Comitê de Defesa Proletária. O
crescimento do movimento grevista provocou combates entre operários e policiais, causando
a morte do jovem sapateiro anarquista José Martinez no dia 9 de julho, que serviu de
estopim para o início da greve geral. Três dias depois, dezenas de milhares de
trabalhadores/as aderiram à greve, armazéns foram saqueados e barricadas montadas nas ruas
dos bairros operários.
O movimento, apesar da forte repressão policial, obteve algumas conquistas, tais como
aumento de salário em 20%, a não-demissão dos grevistas, libertação dos presos durante a
greve, fiscalização do trabalho infantil e a defesa dos direitos das mulheres nas
fábricas, que sofriam diversas violências pelos contra-mestres e patrões.
Em agosto de 1917 estourou no Rio de Janeiro uma greve têxtil com forte protagonismo das
mulheres, que se tornou uma insurreição quando soldados do Exército passaram para o lado
dos grevistas e enfrentaram a polícia, resultando em um civil e dois soldados rebeldes mortos.
A Revolução Russa, que contou com forte participação anarquista nos seus primeiros anos,
animava os grevistas brasileiros a lutarem por seus direitos e, em 1918, trabalhadores e
trabalhadoras acirrariam a luta pela conquista das oito horas de trabalho. Em Niterói/RJ,
uma greve que começou na Companhia Cantareira e da Viação Fluminense, acabou com protesto
e combates de rua, com relatos de algumas deserções nas fileiras militares que foram
reprimir os trabalhadores. Os trabalhadores também formaram um comite revolucionário
clandestino em 18 de novembro de 1918 para organizar a greve e a insurreição. As fábricas
de tecido do Rio de Janeiro, Niterói, Petrópolis e Magé paralisaram suas atividades,
havendo enfrentamentos entre manifestantes e policiais. A delegacia policial de São
Cristóvão foi ocupada e duas torres da Light explodidas. Longe de ser uma insurreição
descolada das massas, esse evento foi realizado com a organização e a luta de
aproximadamente 100 mil grevistas.
Esse contexto de avanço das lutas sindicais se estenderia até 1924, contando com diversas
greves gerais e setoriais, além de grandes manifestações de rua. É nesse cenário que
diversos direitos trabalhistas foram conquistados. Em 1919, grande parte das categorias de
trabalhadores alcançam as oito horas de trabalho, pauta histórica do movimento operário em
todo o mundo. Nesse mesmo ano, foi aprovado o Código Sanitário, que além de garantir
condições mínimas de trabalho para todos, proibiu o trabalho infantil para menores de 14
anos e o trabalho feminino noturno. Essa lei também previu a primeira licença maternidade
do país: 30 dias de folga para as trabalhadoras antes e depois do parto. Todas essas
conquistas foram, evidentemente, pautas do movimento operário desde as greves de 1917.
A repressão estatal nessas primeiras décadas do século XX produziu milhares de presos,
centenas de deportados e dezenas de mortos, a maioria destes anarquistas. Apesar de
golpeada pelo governo da época a mando dos patrões, a grande greve geral de 1917 deixou
importantes lições para a classe trabalhadora brasileira: apenas a luta garante direitos.
A luta pela defesa de nossos direitos hoje
Vivemos em um momento emblemático para a luta da classe trabalhadora. O atual governo nos
golpeia a cada momento com um novo ataque aos nossos direitos. Diante deste cenário
nefasto, urge a necessidade de mobilização e organização dos trabalhadores e trabalhadoras
para enfrentar esse retrocesso.
Há tempos os setores de esquerda clamam pela necessidade de uma Greve Geral, que seja
capaz de reunir os diversos setores da classe trabalhadora e concentrar uma força social
capaz de pressionar o governo e os patrões. Depois de tanto silêncio e indiferença, as
direções das maiores centrais sindicais do país reuniram-se e lançaram a proposta de uma
suposta "greve geral" para o dia 28 de abril.
Em primeiro lugar, apoiamos e defendemos a necessidade de uma greve geral e de protestos
que façam a classe dominante recuar em seus ataques.
Em segundo lugar, achamos que esta proposta não representa bem uma Greve Geral. Podemos
chamá-la por seu nome: paralisação. Em terceiro lugar, entendemos que tal paralisação é
completamente insuficiente para enfrentar os desafios que se colocam à nossa frente. Um
dia de paralisação não é capaz de parar a produção do país nem de acumular força social
para construir a necessária resistência. Além disso, o fato mais indigesto - mas não
surpreendente - é a tentativa de transformar a paralisação em grandes showmícios,
despolitizando completamente o evento e tornando nossa ação inofensiva às classes dominantes.
Dessa forma, as burocracias sindicais pisam na luta dos trabalhadores e cospem em sua
memória de luta, esvaziando o significado de suas ferramentas de resistência e
desmobilizando qualquer possibilidade de enfrentamento. A irresponsabilidade desses atos é
ainda mais profunda quando temos em mente o peso que esse retrocesso significará para
todos os trabalhadores.
No entanto, como dissemos, esses fatos não nos surpreendem. Não é de hoje que as centrais
sindicais burocratizadas cumprem esse papel nefasto. Inclusive, não temos motivos para
duvidar das recentes delações, feitas por grandes empresários, que acusam os dirigentes de
grandes centrais sindicais de receberem dinheiro para encerrar greves e desmobilizar os
trabalhadores (CUT, Força Sindical etc). Na prática, sabemos que esse é o principal papel
histórico do sindicalismo reformista: amaciar a luta de clases e instalar gestores
sindicais que serão os políticos e os burocrata do sistema de dominação de amanhã.
A saída é por baixo e pela esquerda
Olhando para a história do movimento operário no Brasil, aprendemos que o avanço das lutas
dos trabalhadores, a massificação dos movimentos e a construção de uma Greve Geral não é
algo que ocorre da noite para o dia: é fruto de muito trabalho de base, de mobilização e
organização da classe trabalhadora. A questão é que as burocracias sindicais, velhas
conhecidas dos patrões e governos, não parecem ter qualquer interesse em realizar essa
construção e querem construir uma base social para garantir as eleições de 2018 e de seu
"messias" Luis Inácio Lula da Silva.
Resta aos setores autônomos, às oposições de esquerda anti-capitalista e organizações
revolucionárias que não possuem rabo preso com o patronato, com governos ou com as
próximas eleições, trabalharem para massificar as lutas. E isso significa abandonar a
cultura ativista do "fazer o que aparece" ou "quando dá". Abandonar a cultura política de
apenas "ir nos atos", mas encarar um protesto e uma greve como resultado de um trabalho
anterior que é feito todos os dias. Sabemos que como força política minoritária, o
anarquismo - e de maneira mais ampla a esquerda anticapitalista não-eleitoral - para se
apresentar como alternativa deve conseguir acumular força social à partir das lutas do
presente. Por isso, nós da FARJ modestamente defendemos a construção cotidiana de
movimentos populares/estudantis/sindicais (do campo e da cidade). É a partir da base, que
os trabalhadores podem defender seus direitos e lutar pelos seus interesses. É na atuação
nos bairros/favelas/ocupações, nos sindicatos, universidades e escolas do campo e da
cidade que construímos força social para começar a mudar essa realidade e caminhamos em
direção ao poder popular.
Ir às ruas contra o golpe nos direitos!
Só a luta popular decide!
Organizar o povo, ocupar as ruas! Ação direta que derruba o Capital!
https://anarquismorj.wordpress.com/2017/04/27/a-greve-geral-como-ferramenta-de-luta-da-classe-trabalhadora-ontem-e-hoje/
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