(pt) colectivo libertario evora: (LISBOA) CRÓNICA DA SESSÃO CONTRA A REPRESSÃO NO ESTADO ESPANHOL REALIZADA NA ‘DISGRAÇA' ESTE DOMINGO
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Sexta-Feira, 10 de Fevereiro de 2017 - 19:29:41 CET
A "Disgraça" acolheu no domingo passado um evento organizado pela secção portuguesa da AIT
sobre a repressão actual no estado espanhol. O evento consistia na retransmissão do
espectáculo de marionetas da companhia «Títeres desde Abajo», que representaram de novo a
sua obra «La bruja y don Cristóbal en Madrid», e uma mesa redonda sobre a repressão
anti-terrorista. Vários colectivos explicaram a realidade da repressão no estado espanhol.
Entre eles, destaca-se o caso do Nahuel, que continua na prisão há mais de um ano. Ao
contrário dxs outrxs acusadxs, o Nahuel é vítima do racismo institucional que pretende que
existe um risco de fuga devido às suas origens. ---- Como é costume, houve problemas
técnicos que dificultaram a retransmissão do encontro que tinha lugar em Madrid. Mesmo
assim, é assinalável que em mais de 70 cidades se tenham realizado encontros de
solidariedade para com xs represaliadxs.
De forma muito geral, observa-se que o governo está a criar novas leis e práticas
repressivas que tornam muito ténues os direitos formais das populações. A violência do
Estado é utilizada como uma ferramenta para impor à sociedade a ordem que convém às
elites. Para tornar natural a ausência de conflito social em tempos de crise, o Estado
insiste num discurso criminalizador que legitima novas leis repressivas, que estão a
destruir a liberdade de expressão dos indivíduos, das comunidades e, em geral, da própria
sociedade no seu conjunto. Com as últimas intervenções anti-terroristas, o Estado pretende
criar um inimigo interno que dissuada a população de mobilizar-se pelos seus direitos. Ao
mesmo tempo, as populações sofrem as consequências da austeridade e carregam com o peso da
dívida e da falta de legitimidade dos credores. Em Espanha existe um poderoso dispositivo
repressivo que se funda numa legislação anti-terrorista especialmente abrangente.
Depois de vermos uma gravação anterior da peça que estava disponível na Internet, a
conexão com Madrid continuava sem funcionar. Enquanto xs organisadorxs esperavam por novas
notícias de Madrid, a malta juntou-se para dialogar sobre diversos casos e experiências
tanto em Portugal como fora de Portugal. Falou-se da situação em Barcelona, onde a polícia
catalã tem efectuado várias operações para reprimir o movimento anarquista. Nalguns casos,
como em Pandora e Piñata, as provas sempre brilharam pela sua ausência. Pelo contrário, no
caso dos assaltos a bancos na Alemanha as acusações baseavam-se sobre material genético em
bases de dados europeias.
Constatou-se que a situação repressiva em Portugal não é tão drástica como na Catalunha,
mas que esta diferença também pode ser devida à vitalidade dos movimentos socais
barceloneses - em contraponto com a falta de dinamismo dos movimentos sociais, hoje, em
Portugal.
De Portugal ainda resta a memória da confrontação que teve lugar em 2012, à porta da
Assembleia da República. Comentou-se que xs manifestantes não estavam muito organisadxs e
que era notável que muitas pessoas apoiaram quem atirava pedras. Como sempre, fica a
incógnita de saber até que ponto é que a policia infringiu a lei para provocar esses
actos, mediante agentes às paisana, infiltração nos grupos, etc. Mas o que é certo é que
ficou na memória colectiva a pancada que a bófia repartiu à toa, perseguindo pessoas que
tentavam fugir sem se poderem defender.
Também se destacou a importância de adoptar uma postura crítica frente às divisões que o
poder tenta criar face à violência que é dirigida à própria estrutura da sociedade, que é
- ela também - muito violenta. A criminalização dos movimentos sociais procura marcar um
limite entre aquilo que é "aceitável" e aquilo que não o é, de forma a definir a forma dos
protestos futuros - cada vez mais suaves e com menos confrontação.
Também se falou do caso da Es.col.a okupada no Porto, e da importância das práticas que
estão de ensino e educação alternativas que estão a ser criminalizadas. Esse espaço
tornou-se num sítio de encontro, num espaço de exercício de uma educação anarquista,
entendida aqui como prática de auto-formação de singularidades livres a partir de práticas
autogestionárias de troca de saberes e de produção de conhecimentos. Uma das
características fundamentais do espaço foi que se formaram relações éticas e estéticas
baseadas na amizade como valor fundamental. Portanto, a Es.col.a não foi só um recurso
material, com a sua biblioteca, actividades e comissões. Foi, sobretudo, um sítio de que
as pessoas se apropriaram, dando uso a um espaço abandonado e defendendo-o quando chegou o
momento da expulsão. Mas como era de esperar, os políticos sabotaram todo o processo e os
meios de comunicação limitaram-se a repetir as versões institucionais.
Finalmente, xs organizadorxs do evento conseguiram ligar o streaming e puderam-se ouvir as
conclusões dos colectivos. Todos os colectivos convidados salientaram que o
anti-terrorismo tem-se utilizado para reprimir as lutas mais exemplares e que, por isso
mesmo, mostram de forma prática e quotidiana que outro mundo é possível. Em Portugal,
essas ferramentas anti-terroristas ainda só se traduziram em operações contra utilizadorxs
das redes sociais. Mas a repressão anti-terrorista nunca afecta só a liberdade de
expressão: o anti-terrorismo procura influir sobre a liberdade de consciência. Pretende
que os sujeitos tenham medo das suas próprias ideias e se auto-censurem. E, à medida que
se silencia a cultura popular e a sua capacidade subversiva, vai sendo mais fácil aprovar
novas leis que legalizam e sistematizam as práticas repressivas excepcionais. Quando a
excepção se torna a norma, o direito é utilizado à medida das necessidades da policia.
Os colectivos da mesa redonda instaram a audiência a dar a conhecer estes casos, a
incentivar a reflexão acerca destas questões, e a continuar a luta. O caso dos
marionetistas revela que estas acusações de terrorismo são essencialmente uma matéria
política, de direito à liberdade de expressão e de criação, e nada têm a ver com o
"terrorismo". Em consequência, o esclarecimento da opinião pública tem uma grande
importância, uma vez que muitas vezes é a própria população, quando devidamente
esclarecida, a não acreditar naquilo que o poder diz. No entanto, também é importante
lembrar que esta
https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2017/02/07
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