(pt) quebrandomuros: O Bonde que só negocia com a Reitoria passou: 2 anos sem o Prédio do DCE
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Segunda-Feira, 24 de Abril de 2017 - 11:08:34 CEST
No dia 18 de abril de 2015, em pleno final de semana de Páscoa, a Polícia Federal em
Curitiba realizou uma operação de reintegração de posse do Prédio do DCE - o prédio dos
estudantes da UFPR - a mando da Reitoria da instituição, à época comandada pelo Reitor
Zaki Akel. A operação contou com dezenas de policiais fortemente armados que isolaram as
ruas ao redor do prédio que divide a quadra com o Restaurante Universitário Central e a
Casa da Estudante Universitária de Curitiba e fica em frente ao Campus Reitoria da
Universidade Federal do Paraná. Hoje completam-se, portanto, dois anos que o principal
espaço físico dos estudantes permanece fechado. ---- Os meses que antecederam o fechamento
do prédio foram marcados por intenso debate sobre a utilização deste espaço físico de
tamanha importância para a organização do Movimento Estudantil, seja para realizar
reuniões, discussões e grupos de estudos, sediar encontros nacionais e regionais de
cursos, armazenar documentos históricos ou mesmo para auxiliar no autofinanciamento de
Centros e Diretórios Acadêmicos e demais entidades e coletivos por meio de festas, sarais
e apresentações de bandas.
Esse debate foi impulsionado porque o prédio passou a receber as atividades dos coletivos
El Quinto, Rádio Gralha e Antifa 16, que não estavam diretamente vinculados à Universidade
e que viram nesse espaço um grande potencial de articulação. Esses coletivos passaram a
promover diariamente atividades como oficinas artísticas (de fotografia, de teatro, de
circo, de zine, etc.), oficinas de autodefesa (mista e exclusivamente para mulheres),
cine-debates e encontros formativos, além do funcionamento de uma rádio livre que contava
com variados programas. Dessa forma, o prédio passou a ter vida cultural e política
diariamente e não apenas quando havia uma atividade programada e abriu as portas para a
comunidade que não estava ligada à Universidade (sem fechar as portas para a comunidade
acadêmica e para as forças que compõem o movimento estudantil), o que passou a incomodar
não apenas a Reitoria, mas também alguns grupos políticos.
Assim que a gestão "Quem tá passando é o bonde", composta majoritariamente por militantes
de organizações próximas ao PT, assumiu o Diretório Central dos Estudantes, eles passaram
a se reunir com esses coletivos para conversar sobre uma reforma do prédio que aconteceria
nos próximos meses, uma vez que o complexo do qual ele faz parte não atende a algumas
normas do Corpo de Bombeiros (este complexo inclui os prédios Dom Pedro I e II, o RU
Central e a CEUC, ou seja, não apenas o Prédio do DCE descumpre às normas). De início, os
coletivos acreditavam que não poderiam se opor a isso por não fazer parte da comunidade
acadêmica, mas depois ficaram sabendo que essa não foi uma decisão informada e discutida
com todos os estudantes, mas apenas entre a até então gestão do DCE e a Reitoria. Isso
gerou revolta em todo o movimento estudantil que passou a se mobilizar para discutir a
reforma e buscar garantias para que ela acontecesse rapidamente e que o prédio voltasse às
mãos dos estudantes, garantia esta que não estava prevista no projeto de reforma
apresentado pela Reitoria - que inclusive já havia retirado dos estudantes de Medicina o
prédio do DANC (Diretório Acadêmico Nilo Cairo) que permanece fechado desde 2013 em função
de um suposto vazamento de água sem previsão de início de reforma ou devolução aos estudantes.
Em meio às discussões da comunidade estudantil sobre o uso do prédio e a rejeição à
proposta de reforma, a ocupação seguiu a contragosto da gestão do DCE e da Reitoria, que
passou a pressionar ainda mais pela desocupação do prédio. Os ocupantes recebiam visitas
inesperadas de membros da Reitoria que ameaçavam que, se eles não saíssem dali nas
próximas horas, a polícia seria acionada, água e luz foram cortadas, além da fatídica
tentativa de colocar a comunidade acadêmica contra a ocupação fechando o RU Central por
uma suposta contaminação da água provocada pelos "invasores" que se comprovou falsa
(convenientemente, o laudo só foi divulgado após a desocupação). Três estudantes da UFPR,
participantes de cada um dos coletivos, foram criminalizados e acusados judicialmente pela
Reitoria em função da ocupação.
Desde que foi desocupado e trancado, a única "revitalização" feita no prédio foi a pintura
da fachada e não há nenhuma previsão de início da reforma ou informações precisas sobre
quanto tempo ela levaria quando iniciada, o que exatamente será reformado e tampouco sobre
seu orçamento. Muitos estudantes que entraram na Universidade em 2016 e 2017 nem sabem que
esse espaço existe e a importância de retomá-lo. A gestão do DCE eleita posteriormente,
"Nós não vamos pagar nada", composta por organizações e pessoas que participaram
ativamente das discussões sobre o prédio no ano anterior, tentou retomar essa questão
promovendo espaços de discussão e deliberação sobre a reforma, inclusive criando uma
comissão para acompanhá-la. Isso porque, em uma Assembleia Geral dos Estudantes realizada
no dia 18 de agosto de 2016 que não contou com mais de 50 pessoas, sendo a maioria
participante de organizações que compunham o DCE e que no ano anterior haviam alertado
para os perigos de acreditar nas palavras da Reitoria (ainda mais em um contexto de cortes
de verbas para as Universidades Públicas), foi deliberado aceitar a reforma sob condições
como utilizar o espaço durante a mesma - o que já foi descartado pela Reitoria. Atualmente
não temos previsão ou garantia de retorno do prédio para as mãos dos estudantes e sabemos
que com os cortes do Governo Federal, que já afetam no funcionamento da UFPR, reformar o
espaço físico dos estudantes a fim de devolvê-lo está longe de ser uma prioridade para a
Reitoria.
Entendendo a importância desse espaço para atividades acadêmicas, culturais e políticas -
sobretudo em um momento de ataques como o que vivemos - reforçamos a necessidade de
retomar o Prédio do DCE a fim de manter a autonomia dos estudantes e de viabilizar
melhores condições de organização e mobilização estudantil por maior acesso, permanência e
qualidade de ensino dentro da Universidade, além de resistência contra ataques dos de
cima. Para isso, precisamos discutir amplamente e reviver na base a urgência de fazer com
que o prédio volte às mãos dos estudantes, ao invés de esperar por uma reforma que, na
prática, nada mais é do que nos conformar com que ele permaneça fechado pelos próximos
anos e todo esse debate caia em esquecimento.
https://quebrandomuros.wordpress.com/2017/04/18/o-bonde-que-so-negocia-com-a-retoria-passou-2-anos-sem-o-predio-do-dce/
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