(pt) federacao anarquista gaucha: Definições de um companheiro - Gerardo Gatti¹ Buenos Aires, junho/ julho de 1975
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Quinta-Feira, 20 de Abril de 2017 - 09:20:30 CEST
O poder da burguesia sintetiza-se e funde-se no Estado. Não há possibilidade de
transformar a sociedade sem destruir esse Estado burguês, e como lutamos por uma sociedade
sem classes sociais, queremos que se elimine todo aparato burocrático do Estado, toda
separação entre governantes e governados. Os privilegiados de todos os tempos e de todos
os tipos, horrorizados diante da possibilidade de perder seus privilégios, sempre
afirmaram que isto é impossível. Da mesma forma que antes se afirmava que o mundo era
plano ou quadrado. ---- Nós acreditamos que também no que se refere à administração
política da sociedade, deve-se acabar com a propriedade privada e terminar com esta ordem
em que uns mandam e outros obedecem. Conselhos e federações de comitês operários, de
vizinhos de bairro, comunas ou conselhos rurais de camponeses são distintas formas através
das quais os trabalhadores vêm se organizando para defender os processos revolucionários
contra a contrarevolução interna ou a agressão externa, e para administrar, ordenar e
conduzir o conjunto da vida social. A partir destas bases, entendemos que devem
estruturar-se os organismos sociais. Efetivo poder dos trabalhadores, maior gestão direta,
menor representação indireta, nenhum tipo de diferenciação salarial, nenhum tipo de
vantagem ou privilégio. Isso é o que entendemos por poder popular.
Nada disso é algo novo. É por estes ideais que em várias partes do mundo os trabalhadores
fizeram revoluções, celebraram vitórias e sofreram derrotas. E há mais de um século,
homens provenientes da classe operária e outros que, sem ter esta origem, colocaram-se
realmente a seu serviço, organizaram conspirações, redigiram manifestos, juntaram fundos
para a causa operária, desenvolveram a solidariedade. Foi-se sintetizando a experiência e
os trabalhadores foram encontrando explicações para suas desgraças.
Sem conhecer esta história, sem ter lido estes livros, ainda sem conhecer estas
explicações, em todo o mundo, todos os dias, milhões e milhões de seres humanos que sofrem
a prepotência, querem a igualdade; aqueles que têm fome desejam comer; os que passam frio
e não têm teto querem ter uma casa e um abrigo; aqueles que sofrem a humilhação buscam
fraternidade; aqueles que se reconhecem ignorantes aspiram a uma escola, pelo menos para
seus filhos.
De forma muitas vezes vaga, dando muitas vezes denominações distintas, a maioria das
pessoas que conhece sofrimentos, ditaduras, infelicidades, despotismo, pobreza, aspira ao
bem estar, à solidariedade e ao entendimento entre os humanos.
A origem primeira e a razão de nossa luta não estão em qualquer razão de alta política de
Estado, ou de governo, de partido ou de organização, de grupo ou de movimento. Essa origem
está na dor e no desejo desta grande humanidade, da qual nosso povo é uma parte.
Porque sabemos que o homem é um ser social, queremos que desenvolva sua capacidade e a
coloque a serviço da sociedade; porque queremos que todas as decisões que digam respeito à
sociedade sejam assumidas e resolvidas de forma social; porque queremos que a riqueza não
seja individual ou de alguns poucos, mas social, de todos, e por isso nos chamamos
socialistas.
Porque confiamos mais no acordo que na imposição, mais no conhecimento que na coerção,
mais na liberdade que na autoridade. Por isto somos libertários.
Mas já aprendemos que, às vezes, as denominações são enganosas. Por isso não nos dedicamos
a pregar etiquetas na luta dos oprimidos. Pode haver gente que, denominando-se de maneira
parecida, não saiba bem o que quer, e há também quem, com outro nome, ou às vezes até sem
saber dar um nome, busca o mesmo.
A todos os que lutam por estes ideais, sem mesquinharias, à sua maneira e em sua medida,
chamamos companheiros.
1. Militante da Federação Anarquista Uruguaia (fAu), desaparecido em 1976 pela Ditadura
Militar da Argentina.
*Tradução: Daniel Augusto A. Alves
Leia também:
A Greve Geral - Errico Malatesta
Reflexões sobre trabalho de base de matriz libertária
Ecologia Social, ecologia profunda - Murray Bookchin
https://federacaoanarquistagaucha.wordpress.com/2017/04/13/definicoes-de-um-companheiro/
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