(pt) [CAB] Superar o petismo e a burocracia na esquerda. Só a luta e a organização transformam a realidade by FARJ
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Quinta-Feira, 17 de Novembro de 2016 - 17:23:34 CET
O que pudemos aprender com a farsa político-judicial que tirou o PT do trono deve valer
muito nessa hora. Já dissemos o que pensamos do caso. E, para quem ainda não sabe,
repetimos: o arranjo da Lava Jato com a grande mídia, combinado com a crise social,
produziu discursos no cotidiano que prepararam o cenário perfeito para a ação dos
vigaristas. Mas nossa tese geral é que: O PT FOI O SEU PRÓPRIO COVEIRO. ---- Foi
progressivamente integrado na estrutura dominante durante os últimos 30 anos e bateu no
teto como um partido dobrado pela política do ajuste fiscal e sócio da corrupção
sistêmica. A escalada no governo e nas repartições burocráticas da institucionalidade
levaram para dentro do movimento sindical e popular todo cretinismo político burguês. Fez
simulação de parlamentarismo no interior das organizações de classe. Reproduziu os valores
e as ambições que são ideologia corrente dessas instituições.
O que mais uma vez nos certifica o presente histórico da política brasileira é que o
reformismo chega, quando muito, no governo pelas eleições. Para tanto, tem que se adaptar
às estruturas do poder ou sofrer implacavelmente a reação conservadora do Estado. Na
primeira opção, deixa de ser reformista, assume as pautas da direita e atua na margem
curta que sobra do pacto com as classes dominantes, quando tem conjuntura para isso. Na
segunda, nem sequer governa. O revés que carrega no colo essa concepção, que a aliança
PT/PMDB deixa bem registrada agora, é que, para inspirar confiança no sistema de poder,
rifa a independência de classe; ou seja, se coloca como gestor com a promessa de
desmobilização das forças populares. Cedo ou tarde, acaba montando a cama para reação mais
atroz se deitar.
Ainda há quem defenda o projeto democrático popular, como se o Estado fosse neutro e se
pudesse fazer mudanças por meio dele. Se agarram a um dogmatismo de que faltou o programa
e o partido certo da esquerda para mudar a sorte dessa aventura. O velho desejo
vanguardista e reformista de fazer um acordão eleitoral. Desejo que, na prática, conserva
os mesmos "meios", a mesma estrutura que conduziu a esse fracasso e mantém a exploração e
a desigualdade social. Um discurso no teórico-político que não consegue se libertar da
tentação da "varinha mágica" das direções, que faz uma simplificação letal quando o
assunto é o poder. Aquelas noções do poder como uma máquina neutra figurada pelo Estado
que pode ser usada ao gosto dos pilotos de ocasião. A velha arrogância vanguardista,
centralista, preconceituosa e elitista que desconfia do povo e não acredita em suas formas
de rebeldia e de organização popular. Que busca de todas as maneiras conduzi-lo e
dirigi-lo, burocratizando e matando as lutas sociais para capitalizar tudo para suas
correntes, centrais e partidos.
As práticas e objetivos das burocracias sindicais, estudantis e partidárias são bem
evidentes: aparelhar as estruturas sociais e usar o povo como correia de transmissão de
suas pautas já prontas, elaboradas de cima para baixo pelas elites dos comitês centrais.
Construíram assim, de forma sistemática, quase três décadas de uma cultura viciada em
burocracia e recuada, de conciliação com patrões e acordos entre cúpulas arte_web_cab-1de
direções. Uma prática política que exclui as bases de atuarem diretamente nos processos de
construção da luta, fazendo-as de massa de manobra para seus interesses eleitoreiros. E
essa prática se manifesta tanto nas ruas quanto no interior dos organismos populares. Por
isso, não haverá projeto combativo de mudança se a esquerda não superar o petismo e todas
as formas de burocracia entranhadas nos movimentos e demais organismos sociais.
Reação neoliberal, PEC do Fim do Mundo e ocupações
As eleições municipais nos indicam um triunfo relativo do discurso liberal-conservador
que defende a gestão técnica, a meritocracia como a grande solução para tudo, buscando se
colocar como algo eficaz diante da já manchada e descrente política tradicional. Mas só
aparentemente. A política miserável do ajuste vem casada com a repressão sobre a pobreza e
o protesto para disciplinar a produção da cidade privatizada. A crise do PT e a ofensiva
reacionária que se encorajou com sua queda explica muito. É forçoso admitir um valor
ambivalente para a rejeição eleitoral sinalizada pelo expressivo número de abstenções,
votos nulos e brancos. Leva dentro o mal-estar e a saturação com a fraude democrática
burguesa, mas também carrega um ressentimento antipolítica ao sabor dos ventos, que fica
no limiar do encanto com promessas mágicas, imediatistas e fascistas.
A PEC 241, aprovada em dois turnos na Câmara de deputados, agora vai para o Senado como
PEC 55 - já aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. A MP 746, da
reforma do ensino médio, foi incorporada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB). Pela educação, se registram os movimentos mais fortes de resistência, é a
estudantada que tem se mostrado mais combativa aos ataques sociais nessa conjuntura. Mais
de mil escolas foram ocupadas no país, com mais da metade no estado do Paraná. Nessa onda,
juntaram-se também Institutos Federais e Universidades país afora. As táticas das
ocupações reativaram, pelo menos no setor público, uma dinâmica de lutas pela base que
afronta e amedronta a burocracia vanguardista de esquerda, ao mesmo tempo que abrem
passagem para uma nova cultura política pela cara e a coragem, sobretudo, da juventude.
Está evidente que a juventude ganhou protagonismo nos últimos anos e que, na onda de lutas
que temos na cena social-política, o movimento estudantil tem mais gravitação. Contudo,
não podemos deixar de reparar que nesse cenário nos falta o movimento dos trabalhadores e
trabalhadoras e dos setores populares historicamente excluídos com mais força. Assim, se
pela tática podemos falar de reforço e ampliação das ocupações como medida imediata, pela
estratégia não podemos deixar de dialogar também com as dinâmicas sociais que são
características de outras frentes de luta. Em nossa atuação social, apontarmos para uma
frente das classes oprimidas, aglutinando os setores precarizados, terceirizados, povos
das florestas, camponeses, povo negro, mulheres, LGBTTs e outros(as). Ter uma política bem
resolvida para agrupar forças, como uma tendência combativa, e mantermos o passo firme na
hora que vem o cansaço ou a exaustação que a luta traz.
Todas as frentes de luta chamam para resistência.
O Supremo Tribunal Federal deu parecer favorável, no dia 27/10, à regra que corta o
ponto dos trabalhadores em greve do setor público. A bola da vez anunciada para as
próximas semanas é o julgamento das terceirizações de atividades-fim. A reforma
trabalhista avança a golpes de toga pela mão do judiciário. E o movimento sindical vem
amargando a duras penas o saldo negativo de todo um período amarrado na
institucionalidade, fazendo correia de transmissão dos governos de colaboração petistas.
Um plano de ação não deve ser manobra de um blefe ou discurso vazio de quem se acostumou a
ser patrão e a negociar em cima das costas da classe trabalhadora, do alto dos aparelhos
sindicais. De recuo em recuo, conciliação a conciliação, não se faz greve geral com
articulação de cúpula de direções sindicais e partidárias. O sindicalismo classista deve
combater a burocracia oportunista de centrais e dirigentes e fortalecer a base nos locais
de trabalho e não esquecer os setores precários da classe trabalhadora, para poder
encontrar forças reais para lutar e vencer a exploração capitalista.
Já sabemos que, após as reacomodações de poder dos de cima, a situação nacional
pós-impeachment traz um avanço pesado do elemento jurídico-repressivo. Temos o caso
emblemático do capitão do exército infiltrado na pequena formação black block de São Paulo
horas antes de um ato. Mais tarde foi apurada sua ligação com um militar reformado que
atuou no DOI-CODI. O assédio a professores para delatar estudantes por ordens expressas da
alta burocracia do ministério da educação e secretarias estaduais. Validação pela vara de
infância e da juventude do DF de técnicas de tortura para desocupar as escolas com corte
de água, luz, entrada de alimentos, emissões sonoras para impedir o sono. A escola de
formação Florestan Fernandes foi tomada de assalto por forças da Garra no interior de São
Paulo, entre tiros, golpes e prisões. Ou seja, há a total concepção de "inimigo interno"
pelos aparatos de inteligência e de repressão do Estado. E, nesse sentido, nunca
esqueceremos da criação da Guarda Nacional por Lula e da criminosa Lei Antiterror,
aprovada por Dilma contra o povo.
O governo Temer é um governo de choque, de uma formação especial do poder político, que
vai configurando um tipo de Estado policialesco autorizado pelas medidas de exceção do
judiciário. Sempre é bom repetir: nas favelas, subúrbios pobres e para a população negra,
a regra geral sempre foi e é o governo pela repressão, a política do extermínio e da
cadeia. A manutenção da pobreza e do racismo reproduzem o crime, organizado ou não, que é
mais uma forma de atuar do Estado nas favelas e periferias. O mesmo crime que ameaça a paz
para os negócios e investimentos de empresários é usado como justificativa para as
invasões, controle militar e extermínio dos moradores dessas comunidades. Mas, sabemos
também que o Estado usa da violência justamente para desmobilizar, aterrorizar e
possibilitar a implementação dos interesses do capital, da exploração e opressão. O que a
situação nacional vem caracterizando é uma ofensiva da restrição de direitos que vai mais
longe. As medidas de exceção como recurso da luta de poder do Estado e as classes
dominantes contra toda forma de resistência e de autodefesa.
Não se intimidar e abrir caminho pela independência de classe
O caminho fácil e rápido não é um atalho para qualquer saída a ser construída desde
baixo, com protagonismo popular efetivo. Com muita modéstia, nós formamos parte de um
setor das lutas sociais e políticas que apontam para uma ruptura que não ignora os limites
e possibilidades da etapa de resistência que atravessamos. Que não enxerga, de forma
alucinada, a insurreição na primeira esquina e tampouco declina sua vontade de mudança
radical frente à angústia, à descrença e ao individualismo presentes no dia a dia.
O que podemos e devemos marcar agora e sempre é um espírito de luta e solidariedade
irredutível, encarnado nas práticas sociais que fortalecem o movimento popular.
A ação direta como fator de luta de classe contra o capitalismo e todas suas formas de
opressão. A mais ampla participação popular como princípio de ação política de combate aos
usurpadores burocráticos das organizações de base. Essa postura é animada por uma
estratégia de trabalho, a médio e longo prazo, de construção de poder popular. Uma frente
de classes oprimidas com a capacidade política de enfrentar com seus organismos de
democracia de base e federalismo esse degradante e opressivo mundo burguês. Mais uma vez,
superar o petismo e as saídas oportunistas e burocráticas que apostam na via institucional
e buscam apenas consolidar seus projetos de poder para se encastelarem nos cargos e
privilégios da estrutura governamental. Colocar combustível e organizar os processos de
luta no trabalho de base cotidiano e, junto aos setores autônomos, não ceder, porque as
ruas estão em disputa também.
LUTAR! CRIAR PODER POPULAR!
https://anarquismorj.wordpress.com/2016/11/14/cab-superar-o-petismo-e-a-burocracia-na-esquerda-so-a-luta-e-a-organizacao-transformam-a-realidade/
https://anarquismo.noblogs.org/?p=583
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