(pt) [Grécia] Práticas antissociais e violência contra os princípios do movimento. -- Auto-organização social e solidariedade de classe By A.N.A.
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Domingo, 6 de Novembro de 2016 - 10:47:58 CET
O seguinte texto foi distribuído em 15 de outubro nas ruas do bairro ateniense de
Exarchia, e foi publicado em várias páginas web. ---- É óbvio que as agressões que tem
caráter de canibalismo social não são um fenômeno que se dá somente no bairro de Exarchia.
Estas práticas constituem uma parte integrante da crise social, a qual se vê cada vez mais
intensificada durante os últimos anos, conforme vai apodrecendo o capitalismo. A ausência
de estruturas de solidariedade de classe e de organização política dos oprimidos nos
bairros, e a incapacidade de fazer uma frente de luta que possa injetar a perspectiva
revolucionária na sociedade, conduzindo a saídas da crise, criam vazios sociais e
políticos. E é bem sabido que na pol&iac ute;tica, assim como na natureza, não há vazios.
A área de Exarchia deveria constituir um modelo de bairro libertário e um exemplo de
auto-organização social e de classe para os demais bairros. Não obstante, este bairro,
sobretudo durante a crise, se converteu em um bairro no qual se desenvolveram e
generalizaram fenômenos antissociais e reacionários. Os meios de desinformação não
deixaram de tirar proveito deste fato, difamando a nível do bairro a luta do movimento
anarquista. Apesar de tudo isso, em grande medida o destino deste bairro está associado
com as propostas e as lutas dadas nesta área. Exarchia foi um bairro de resistência
durante a ocupação[N.d. T.: Dos nazis e seus aliados na segunda guerra mundial], um campo
de luta contra a ditadura dos coronéis, e segue constituindo o bairro do componente mais
combativo da sociedade, o qual se rebela ao serem assassinados jovens manifestantes e
rebeldes, e o campo de expressão da solidariedade de classe mais esperançador.
Assim pois, a imagem do bairro de Exarchia não pode ser nada mais que o reflexo da imagem
atual do movimento. O bairro de Exarchia, como um campo de imaginação, politização e
socialização, deve e pode competir e derrotar as relações de Poder capitalistas, tanto na
forma (fazendo deste bairro uma zona sustentável para seus habitantes) como no conteúdo
(cultural, social), aplicando relações e estruturas de antipoder. Claro, não convertendo o
bairro em uma ilha de "liberdade" alternativa, senão edificando um bairro que seja modelo
(protótipo) de resistência na guerra que nos proclamou a Troika, assim como na guerra
contra o sistema econômico e político local, que &e acute; cúmplice no genocídio realizado
contra a sofrida sociedade. Para levar a cabo, no entanto, de maneira acertada nossas
planificações estratégicas, devemos salvaguardar, de uma maneira igualmente acertada e
vitoriosa, os objetivos intermediários de nossa luta, já que para nós é algo mais que
óbvio que um movimento sem princípios é um movimento sem conteúdo político, e vice-versa,
claro. A luta contra as máfias das drogas, a repressão estatal e o canibalismo social, é a
condensação da tática de nossa assembleia, definindo ao mesmo tempo estes conceitos não
como algo composto por várias partes fracionadas, senão como componente de uma estratégia
do Estado e do Capital contra os que resistem. Justo por esta razão não poderíamos
permanecer calados ante os fenômenos do canibalismo so cial, já que seu impacto tanto em
nosso bairro como nas fileiras de nosso movimento é de importância fundamental. A apatia
(passividade) ante incidentes como alguns dos citados mais abaixo, não é neutralidade,
senão cumplicidade no monopólio da imposição de opiniões e atitudes autoritárias, as
quais, se prevalecem, alterarão a nivel estrutural tanto o conteúdo como a substância da
luta libertadora. Porque é claro que a responsabilidade recai sobre nós coletivamente,
sobre os grupos organizados e os companheiros individuais, e se optamos por enfrentar-nos
com eles, daremos com patogênesis estruturais e com vazios, por causa de cuja existência
cresceu esta gangrena dentro do movimento. Porque a formação do movimento hoje é um dever
e uma missão histórica para todos os que lutam por mudar o mundo.
Agressões (surras) no bairro
A lei da selva reina em uma área em que durante os últimos anos a libertariedade e a
tolerância (permissividade) estão agonizando na unidade de cuidados intensivos. A lei do
mais potente, do mais forte, está em contradição com os valores e os princípios que
defendemos como assembleia pela recuperação do bairro de Exarchia. As surras que receberam
várias pessoas por haver olhado de lado ou por haver tomado uns copos a mais, a miúdo
acabam em agressões sangrentas, sendo o exemplo mais recente o incidente na padaria "Ta
Stajia" (As Espigas), quando um grupo de jovens acabou no hospital com os dentes quebrados
por ter a má sorte de ligar fora da padaria. Tem havido agressões de caráter de
canibalismo social, como o incêndio de uma rouparia, cujo resultado foi a destruição
econômica de uma família. No bairro há pessoas que legalizam sua presença saudando-se com
outras pessoas na praça. Trata-se de pessoas que de vez em quando participam em greves e
mobilizações, e que são traficantes de importantes quantidades de drogas. Habitantes do
bairro e companheiros têm recebido surras com o pretexto do incêndio de um carro da
Polícia de Tráfico. Trata-se de pessoas com pós-graduação no canibalismo e com memória de
licenciatura na arte da delação. Estas pessoas ocultam as acusações contra eles por haver
cometido ações antissociais vergonhosas, e se apresentam como "juventude selvagem".
Violência em manifestações
Os ataques a bancos, embaixadas, sedes de agências tributárias, alvos policiais, a miúdo
vão acompanhados por danos em semáforos, paradas de ônibus, surras a trabalhadores em
lojas, agressões contra companheiros que reagem verbalmente a estes fenômenos de
degeneração e difamação da violência insurrecional-revolucionária. Deste modo, se perde o
conteúdo e o significado de um banco incendiado ou de um ministério quebrado, quando estas
ações são apolíticas e vazias de conteúdo antiestatal e anticapitalista. A opção da
violência desenfreada, sem tratar de vinculá-la com o conteúdo e os objetivos da luta de
classe, não constitu í violência política.
Universidades
Na ocupação da Faculdade de Direito de Atenas (durante a greve de fome dos presos
políticos) tiveram lugar e prevaleceram montões de incidentes de canibalismo social e de
violência apolítica, e ao final (estes incidentes) foram justificados por alguns: Invasão
e roubo de dinheiro na cantina autogestionada da Faculdade de Direito, ataque ao local da
emissora de rádio "Radio Entasi", vandalismo de locais de grupos esquerdistas, agressões
contra pessoas que foram ali (à ocupação da Faculdade de Direito) para informar-se sobre a
evolução da greve de fome (dos presos políticos), mas foram qualificadas como
"suspeitosas" pelos okupantes. Uns meses depois, a velha Escola Polité cnica se converteu,
de espaço que ofereceu hospitalidade às demandas de várias gerações, em uma suposta
estrutura de solidariedade de classe com os refugiados. A pretensão de converter um espaço
dentro da Escola Politécnica, como o do edifício Guini, de um lugar que pertence ao
movimento e que foi "conquistado" com o sangue de muitos milhares de pessoas, em feudo de
uns poucos, foi uma ação de imposição autoritária, contra o movimento e sua gente. O
emprego da solidariedade com os refugiados como veículo (pretexto) para justificar
condutas antissociais e contra os princípios do movimento, é um método de imposição de um
sem fim de percepções elitistas e de práticas apolíticas, pequeno burguesas e autoritárias.
Keratsini
A memória do antifascista Pavlos Fyssas em seu bairro não pode ser honrada com ações
(intervenções) de conteúdo autoritário contra donos de pequenos negócios no bairro (de
Keratsini), ou seja, contra um sujeito ao qual nos devemos dirigir, o qual é um potencial
(de fato) aliado nosso. A memória não é lixo. O honrar a memória de um lutador morto
requer maiores responsabilidades, se não, o desvio a confusão e a eliminação do
significado pode acarretar resultados contrários.
Monumentos, cabines telefônicas e paradas de ônibus quebrados. Trólebus incendiados no
centro de Atenas (próximo da Escola Politécnica)
No momento em que a sociedade segue sofrendo o empobrecimento mais duradouro e intensivo
das últimas décadas, os estratos sociais proletários ocupam na metrópole um campo
geográfico e de classe que está determinado exclusivamente por suas possibilidades
materiais. Portanto, os meios de transporte público, a comunicação e a espera na
metrópole, constitui uma condição integrada num entorno capitalista estritamente formado.
Os ataques a tais estruturas não são concebidas, claro, como ações antiestatais, não
porque os proletários sejam estúpidos, senão porque não são tais. Em troca, ações como a
sabotagem das máquinas de picar bilhetes são percebidas pelo povo como tais: Como ações de
solidariedade com os que não têm dinheiro para pagar o bilhete. Com esta ação o movimento
abraça o povo e seus problemas, enquanto que ações que pertencem ao primeiro caso agravam
o processo da exploração da pessoa e do aproveitamento de seu tempo livre por seus patrões.
Destroem monumentos e estátuas em espaços públicos, claro não tendo como finalidade a
desestruturação (ainda que seja simbólica) de seus potenciais simbolismos sócio-políticos
reacionários (tais "detalhes" nem os conhecem nem os preocupam), senão tendo uma conduta
que é regida por uma obsessão catastrófica arrasadora e apolítica, do tipo lifestyle
(estilo de vida), adotada por eles quando não correm o mínimo perigo. A "vítima" mais
recente desta raiva fictícia, falsa e antihistórica, foi o busto da estátua de Lela
Karagianni, uma mulher de ideias conservadoras, a qual, não obstante, não há que esquecer
que foi pres a junto com cinco de seus filhos, foi acusada de haver resistido (aos nazis),
e foi assassinada após ser submetida a umas torturas horrorosas no calabouço da rua
Merlin, após haver-se negado a colaborar com os nazis.
Emboscadas a membros da Esquerda extraparlamentar e do movimento anticapitalista
As agressões contra organizações e membros do movimento anticapitalista, realizadas por
pessoas apolíticas (narcotraficantes, ultras) em nome da anarquia, são uma sequela das
relações sociais e políticas formadas no interior do movimento, carentes de critérios
(morais, éticos), assim como do estilo de vida da violência pequeno burguesa que esmagou a
personalidade do lutador edificada com muito esforço e com sacrifícios.
O enfrentamento (ideológico, material) com certos fragmentos da Esquerda é um assunto
exclusivamente dos companheiros organizados em assembleias, organizações, sindicatos de
base e grupos políticos. Com razão alguém poderia perguntar: Quer dizer, que na anarquia
os indivíduos não têm o direito de enfrentar-se a forças da Esquerda, se sentem que está
em perigo sua integridade física ou sua opinião justa em uma certa conjuntura? Claro que o
tem. Basta com que tenham a coragem política e a moral de poder participar em um
enfrentamento semelhante. Quando sua motivação está apodrecida, por não serem lutadores
sociais senão partidários da violência e do lincha mento, os resultados de suas ações
serão concordantes com elas. Se a confrontação (ou enfrentamento) entre correntes e
tendências ideológicas e políticas tem rasgos de conflito entre aficionados (ultras) e de
práticas mafiosas (por exemplo, emboscadas), o conteúdo do enfrentamento perde suas
características políticas, e lhe tira a luta social e de classe seu significado,
funcionado de uma maneira difamatória.
Conclusões
Seria antidialético e falso tirar a conclusão que tudo vai bem no movimento, exceto as
ações de umas certas quadrilhas. A verdade é que durante os últimos anos, com a exceção de
algumas iniciativas tomadas por companheiros e companheiras, nenhuma estratégia de luta
foi elaborada (criada) tendo como veículo o bairro de Exarchia. Por conseguinte, não houve
nenhum plano. No entanto, se não se aprofunda nesta constatação, ela será o pretexto para
as coisas feias e os comportamentos antissociais desenvolvidos no bairro. Porque o papel
do lutador anarquista e comunista é ser o compasso para seus companheiros, para o
movimento e para a sociedade, inclusive quando as condições não são favoráveis. Lutar por
seu bairro, lutar contra os poderosos, lutar pela revolução social. A constatação de que
não tem havido um plano coletivo, apesar de que a miúdo é verdadeira, é a desculpa para
justificar desvios coletivos e individuais ao canibalismo e a delinquência, e para ocultar
outro fato: Que tais comportamentos, sobretudo em nome da luta e da anarquia, constituíram
e seguem constituindo uma das razões principais da desintegração e fragmentação do sujeito
coletivo da resistência. A reprodução do canibalismo social, através de ataques violentos
e sem motivo algum, é contraditória à tentativa de reforçar o movimento anarquista, semeia
a decepção e cria confusão sobre nossos objetivos e nossas pretensões.
Estando contra a violência "pacífica" institucionalizada da relação Capital-trabalho, o
cimento da sociedade de classe, consideramos que a contra-violência constitui um modo de
recuperar momentos de Poder no presente para e com os oprimidos. A resistência gera novas
relações entre as pessoas. Também, se formam novas demandas. A própria resistência, e não
a violência isolada, é o motor da História. Desde uma greve em um lugar de trabalho, até a
luta armada, o fato de que estás lutando é o que muda a situação. Porque se estamos de
acordo de que a essência do plano revolucionário se apoia no desenvolvimento da criação de
possibilidades para conseguir a emancipação humana, podemos crer que o primeiro passo
contra o individualismo e o canibalismo é a criação de laços de solidariedade palpáveis,
com vários meios. Porque o romper o isolamento criando estes laços de solidariedade, é o
começo de uma devoção e de um ativismo que não estará "contra" algo, senão que será "por"
a vida e a alegria.
Hoje em Exarchia, amanhã em cada bairro.
Coletivo anarquista de Nea Filadélfia, Coletivo anarquista O72, Coletivo anarquista
Vogliamo Tutto e Per Tutti, Coletivo anarquista Rubicão, Anarquistas do bairro de Galatsi,
Parque autogestionado da rua Navarinu, Okupa da mansão Kuvelu, Okupa Lelas Karagianni,
Centro Social Ocupado K*Vox, Linha Vermelha-Grupo pelo contra-ataque obreiro, Assembleia
de anarquistas-comunistas pelo contra-ataque de classe contra a União Europeia,
Companheiros/as
O texto em grego:
http://www.ainfos.ca/gr/ainfos02678.html
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