(pt) anarkismo.net: Crime histórico e farsa política no México (D.F), parte 3: uma crítica ao Museu Trotsky by BrunoL
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Terça-Feira, 8 de Março de 2016 - 08:31:10 CET
Nesta última postagem a respeito do crime histórico e da farsa política no México trago
algumas observações do Museu Trotsky, onde estive em fevereiro de 2016 durante viagem
absolutamente turística e curta, portanto, sem finalidades militantes, embora nunca se
consiga fugir do dever. Nesta casa onde viveu o camarada Lev Bronstein, cujo nome de
guerra era León Trotsky. O centro de memória funciona neste local no tradicional bairro
Coyoacán, e tem como entidade cobertura o Instituto de Direito de Asilo e segundo me
informaram no local, trata-se de uma instituição coordenada pelos familiares descendentes
do ex-comandante do Exército Bolchevique. ---- Trotsky tinha uma série de voluntários
tanto para sua guarda pessoal como para o trabalho político. Mas ao contrário do que
estamos acostumados no anarquismo, o ex-dirigente bolchevique trabalhava em um quarto
próprio enquanto sua base em outra sala.
Em termos de farsa histórica realmente observei uma, constando no material chamado de
Linha do Tempo. Para ampla difusão, este era vendido a um preço de 10 pesos, equivalente a
R$ 2,50 reais. O material faz uma analogia temporal entre a história política do México e
a trajetória do próprio León, incluindo os percalços dos militantes socialdemocratas até
se formarem como elite dirigente no território do Império Russo.
Nesta linha do tempo são citados Ricardo e Enrique Flores Magón por três vezes. Ao
reconhecerem o papel dos dois militantes libertários, ignoram que os mesmos são
anarquistas assim como seus correligionários. Ignorar a ideologia dos ideólogos da
Revolução Mexicana é muito grave. Mas tem mais.
No ano de 1921 aparecem dois levantes camponeses durante a Guerra Civil russa em seus
últimos meses assim como a revolta do Soviet do Kronstandt. Nenhuma linha sobre o massacre
deste último e menos ainda que o próprio León deu a ordem de “abatam-nos como perdizes”.
Assim como não fala de seu próprio crime não citam em nenhuma passagem a luta dos
camponeses da Ucrânia – através do reconhecido Exército Insurrecional dos Camponeses da
Ucrânia – e a traição contra a cavalaria negra (esquadrão de vanguarda desta força de
orientação anarquista), cuja ordem também fora dada pelo próprio Bronstein.
Nada de se espantar só se revoltar. Mas percebemos a vocação autoritária na disposição de
sua casa. Trotsky tinha uma série de voluntários tanto para sua guarda pessoal como para o
trabalho político. Mas ao contrário do que estamos acostumados no anarquismo, o
ex-dirigente bolchevique trabalhava em um quarto próprio enquanto sua base em outra sala.
A dimensão do dirigismo burocrático autoritário se nota nestes detalhes. No anarquismo
isso não acontece e falo com a experiência de quem conheceu a rotina de veteranos
militantes com trajetória semelhante em relevância.
Para completar a farsa da desinformação sobre os irmãos Magón, o Kronstandt e a luta na
Ucrânia, é curioso observar um quadro pintado em 1962 em plena União Soviética de
Kruschov. O quadro retrata uma sessão do comitê central do Partido Bolchevique e neste o
único não retratado é Trotsky. O pintor deixou seu gorro do Exército Vermelho sobre a
cadeira, burlando a censura pós-stalinista (mas com o mesmo estilo) e dando memória ao
fundador da 4a Internacional.
O veneno stalinista atinge o próprio Bronstein quando o mesmo é vítima e algoz mudando de
posição com Stalin, tendo teses diferentes, mas o idêntico estilo de trabalho e forma de
conduzir.
Não quero atirar toda a trajetória trotsquista na vala comum, pois temos raras e saudáveis
exceções, como o POUM espanhol e Hugo Blanco na América Latina. Mas é preciso reconhecer
que o próprio León como seus familiares e curadores do Museu operam a mentira e a
desinformação em nome de uma ideologia com pretensões científicas e práticas de religião
atéia. Este suporte de crenças e mais o fetiche da liderança como elite dirigente e a auto
– proclamação de partido de vanguarda e massivo formam um grande problema e um perigo para
as sociedades que por ventura venham a ser governados por qualquer partido que se pretenda
único e com delegação divina para “conduzir” massas.
Seria apenas uma pena se não representasse o assassinato de milhares de militantes na
Ucrânia e no Kronstandt. Fico à disposição de seguir este debate em bom nível com @s
militantes das várias linhas da 4a Internacional a quem respeito.
Bruno Lima Rocha é professor de ciência política e de relações internacionais
site: www.estrategiaeanalise.com.br
email: strategicanalysis riseup.net
facebook: blimarocha gmail.com
http://www.anarkismo.net/article/29147
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