(pt) anarkismo.net: Revelador diálogo a respeito da suposta política repressiva do governo de São Paulo e uma reflexão subsequente by BrunoL
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Sábado, 23 de Janeiro de 2016 - 12:14:02 CET
Na metade de janeiro de 2016 tive uma conversa através de rede social – no privado – com
um amigo de longa data, morador do estado de São Paulo, e profundo conhecedor da política
local. Este conhecimento inclui importantes municípios como Santos, Campinas, Guarulhos, a
região do ABCD, assim como do poder municipal em São Paulo capital, e óbvio, o Palácio dos
Bandeirantes. Além de acadêmico, este militante com muita experiência notou o avanço da
repressão policial contra as marchas organizadas pelo Movimento Passe Livre (MPL) e
entidades aliadas. As palavras a seguir são de fonte segura, e podem ser lidas como uma
suposição – já que não tenho a prova material – ou como uma hipótese bastante provável,
que é como eu as encaro. Eis a fala deste amigo:
“Aliás tem a orientação de bater muito, mas evitar sangue, braço quebrado, coisa que a
mídia possa escandalizar. Claro que é duro calibrar isso numa tropa com sangue nos olhos.
Também tem a orientação de “respeitar” apenas jornalistas da grande mídia".
“Fala Bruno, sobre a repressão em SP, uma amiga que trampa no governo bem próxima de
quadro tucano disse que a tática é apavorar prá esvaziar os atos e deixando só os mais
mais aguerridos, aqueles que justamente pela bronca acumulada tenderiam a se tornar mais
violentos e “justificar” a posteriori a repressão pelos “vândalos”. Enfim, a ideia central
é evitar que massifique.”
“Aliás tem a orientação de bater muito, mas evitar sangue, braço quebrado, coisa que a
mídia possa escandalizar. Claro que é duro calibrar isso numa tropa com sangue nos olhos.
Também tem a orientação de “respeitar” apenas jornalistas da grande mídia. Blogs,
independentes, etc são considerados ativistas e receberão o tratamento de militantes.”
“Novamente é difícil seguir isso à risca, pegaram pesado com jornalistas do UOL e da
Gazeta esses dias. Os caras estão tentando ficar num grau de violência suficiente prá
dissuadir, mas não tão alto que escandalize a mídia e gere solidariedade massiva como em
2013.”
Queria aportar uma breve reflexão. Infelizmente a maior parte da esquerda restante – nem
incluo mais a base do governo e as tradições do lulismo, stalinismo e trabalhismo –
conhecem pouco ou nada da interna do aparato repressivo e oscilam entre a denúncia e a
fracassada tentativa de arregimentação. As políticas de segurança pública, o funcionamento
interno destas corporações militares ou civis, os códigos de lealdade, o emprego da
violência oficial e do Terror de Estado (como é o caso do acionar policial nas áreas de
favela ou periferia) devem ser um tema da ordem do dia para quem quer analisar e
transformar este país. O período do lulismo não fez nada ou quase nada a este respeito,
deixando o entulho autoritário praticamente intacto.
Alianças espúrias com oligarquias estaduais e falta de coragem política levam a este
abandono de debate. O mesmo se dá na relação com as forças armadas e especificamente com o
exército de Caxias. Trago esta reflexão porque o caminho mais fácil seria responsabilizar
o governo tucano paulista pelas atrocidades, sem levar em conta, por exemplo, as
barbaridades e atrocidades cometidas pela PM baiana já no comando do terceiro governo
petista. Não se trata necessariamente de uma relação belicosa e repressiva do governo dos
Bandeirantes, haja vista o acionar da Brigada Militar em 2013 sob governo do ex-comunista
profundamente arrependido, Tarso Genro. Até presos políticos tivemos na província, sendo
que há seis processados e um condenado em primeira instância.
É urgente avaliar a relação permanente entre os governos estaduais e o aparelho repressivo
sob seu comando, mas nunca sob sua inteira lealdade. Não é nada difícil a autonomização
dos corpos tecnoburocráticos, em particular no caso de forças policiais. Estudar este
comportamento e tomar esta medida na promoção de lutas justas e massivas é tarefa urgente
para reconstruirmos o pensamento e a ação da radicalidade de esquerda em defesa do
interesse das maiorias no Brasil.
http://www.anarkismo.net/article/29001
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