(pt) federacao anarquist gaucha FAG: “Se ficarmos parados seremos engolidos”, afirma cacique Kaingang
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Quarta-Feira, 24 de Fevereiro de 2016 - 13:20:47 CET
Debate no interior do Paraná criticou atual cenário de ameaças aos direitos dos povos
tradicionais e apresentou a comunicação popular como ferramenta de apoio à luta indígena
na região. ---- Por Julio Carignano, ---- De Nova Laranjeiras ---- Original:
http://www.brasildefato.com.br/node/34167 ---- A questão indígena e atual conjuntura de
ataques a direitos das comunidades, o Levante Zapatista no México, a autodeterminação
destes povos e a utilização de ferramentas de comunicação popular em apoio à luta dos
povos originários pautaram um debate no último sábado (13/2) na Terra Indígena Rio das
Cobras, uma das maiores reservas do sul do país, localizada nos municípios de Nova
Laranjeiras e Espigão Alto do Iguaçu, Centro Sul do Paraná.
A roda de conversa reuniu lideranças e juventude da Terra Indígena, militantes de
movimentos sociais, comunicadores populares e professores e estudantes da Universidade
Federal da Fronteira Sul (UFFS) e foi organizada pelo Coletivo Anarquista Luta de Classe
(CALC), coletivos da Rádio Gralha (PR) e Rádio Xibé (AM) e o Coletivo Estudantil Indígena
de Rio das Cobras. A atividade teve o intuito de abrir vias ao diálogo com a comunidade,
discutir seus problemas e reunir aliados que possam intervir na realidade, respeitando a
autonomia dos povos indígenas.
O cacique Sebastião Tavares apresentou um histórico e o cotidiano da reserva que reúne
cerca de 3 mil indígenas divididos nas aldeias da Lebre e Pinhal. Ele falou sobre o atual
cenário de ataque a direitos históricos dos povos originários, representado especialmente
pela Proposta de Emenda Constitucional 215 (PEC 215), que poderá inviabilizar as
demarcações de terras indígenas e quilombolas; o Novo Código de Mineração e o veto da
presidenta Dilma Rousseff ao PL que instituiria o ensino multilinguístico nas escolas.
“Nossa organização neste momento é fundamental. Se ficarmos parados seremos engolidos”,
citou o cacique.
Apesar das críticas ao governo federal, o cacique fez questão de questionar a falta de
apoio das prefeituras em relação às necessidades das comunidades, citando a falta de
transparência no repasse do ICMS ecológico. “Não sabemos como é gasto esse dinheiro. Em
época de política [eleições] eles olham para os indígenas. Nossa saúde está precária,
trabalhamos somente com os medicamentos básicos e às vezes até isso falta em nosso posto
de saúde”.
Educação e valorização
Preocupada com a formação de novas lideranças, a Terra Indígena Rio das Cobras está
constituindo um coletivo estudantil, formado por indígenas que cursam Educação do Campo na
UFFS. Segundo Sebastião Tavares, serão esses jovens que irão ser a voz das comunidades e
que terão o trabalho da preservação das identidades Kaingang e Guarani. “É a valorização
de nossos filhos, de nossa juventude, pois são esses que irão ser as futuras lideranças.
Eles têm aprendido muito com os sem-terra e os sem-terra tem aprendido com os indígenas”,
comentou Sebastião, lembrando que o curso também é integrado por jovens do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
“Nunca tivemos a oportunidade de participar das decisões coletivas da comunidade. Nosso
papel também na faculdade é não deixar que se perca nossas danças, nossas crenças, nossa
língua. Vemos as vezes alguns índios na faculdade com vergonha de dizer que é indígena.
Não é porque estamos na universidade que deixamos de ser indígenas”, comenta Lucas
Kaingang, acadêmico da UFFS.
Levante Zapatista
O Zapatismo, movimento indígena do México que nasceu em um levante em 1994, também foi
debatido no sentido de falar sobre autonomia das comunidades indígenas. A insurreição
incentivou a criação de redes de apoio aos indígenas do México em todo o mundo. A
revolução indígena mexicana foi um marco histórico no aparecimento de uma nova onda de
movimentos e protestos populares no mundo. O professor de Ciências Sociais da UFFS, Cássio
Brancaleone, falou de sua vivência em 2008 em Chiapas, território autônomo zapatista. “O
que podemos trazer de grande influência dessa insurreição foi o conceito de autonomia
indígena e autodeterminação destes povos”.
Comunicação Popular
O debate sobre a utilização de ferramentas de comunicação popular em apoio à luta dos
povos indígenas foi coordenado por membros da Rádio Xibé e do Coletivo de Mídia
Independente de Tefé, no Amazonas, e do Coletivo Rádio Gralha, de Curitiba.
Uma das experiências apresentadas foi o projeto de extensão ‘Somos todos desta terra’,
desenvolvido na UFFS (Universidade Federal da Fronteira Sul), campus de Laranjeiras do
Sul. Lançado em novembro do ano passado, o projeto consiste em um programa de rádio
voltado ao público indígena. Ele é desenvolvido por estudantes indígenas, professores e
servidores técnicos da universidade.
Transmitido pela Rádio Campo Aberto AM, o programa tem seu conteúdo trabalhado nas línguas
portuguesa, kaingang e guarani. O objetivo da proposta é dar visibilidade e tornar
conhecidas as etnias presentes na Reserva Indígena. Além disso, o projeto visa fomentar o
respeito ao princípio da igualdade, conforme preconiza a Constituição Federal, e o
respeito à diversidade cultural e étnica, bem como o respeito à tolerância.
A professora Nádia Teresinha Franco, coordenadora do projeto, destaca o desconhecimento da
sociedade não-indígena em relação às comunidades tradicionais. “É um projeto que me
encanta. O que me motivou foi o sofrimento que os indígenas passam com a questão de sua
identidade. É uma proposta modesta de fortalecer a identidade através do uso da linguagem
num meio de comunicação de massa”.
O programa é dividido em três momentos. No primeiro, são apresentadas informações gerais
sobre a Reserva Indígena; no segundo momento é apresentado um texto da área de Economia,
História, Direito ou Antropologia, preparado por professores; e a terceira é utilizada
para divulgar a língua kaingang e guarani, com palavras e expressões relevantes para estas
etnias.
Para a professora, é fundamental que a comunicação de massa auxilie no respeito e
preservação da identidade dos povos tradicionais. “Há um limbo cultural neste momento. O
que sentimentos aqui é que os indígenas são estrangeiros dentro de sua própria casa”,
conclui a Nádia Terezinha.
https://federacaoanarquistagaucha.wordpress.com/2016/02/18/se-ficarmos-parados-seremos-engolidos-afirma-cacique-kaingang/
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