(pt) [Espanha] Ante a detenção dos dois integrantes dos “Fantoches Desdebaixo” (ca, en)
a-infos-pt ainfos.ca
a-infos-pt ainfos.ca
Terça-Feira, 16 de Fevereiro de 2016 - 13:07:38 CET
Na sexta-feira, 5 de fevereiro, dois membros da companhia “Fantoches desde Baixo” (Títeres
desde Abajo ) foram presos no curso de sua última obra, “A Bruxa e Don Cristobal”, sob a
acusação de elogiar o terrorismo. Na atuação de 5 de fevereiro em Madri parte do público
se sentiu irritado com o trabalho, e longe de se limitarem apenas a uma questão estética
ou de critérios, chamaram a polícia, que prendeu os membros dos “Fantoches desde Baixo”,
que tiveram que interromper a obra por ação dos descontentes. Imediatamente se disparam os
alarmes do poder: não só eram artistas críticos também eram anarquistas. Em um ato
judicial que beira o absurdo legal, a Audiência Nacional decidiu encarcerar os detidos
“por glorificar o terrorismo”. O partido da senhora Manuela Carmena, prefeita de Madri,
não tardou em anunciar para a mídia.
Em um ato de hipocrisia monumental, se publicou uma declaração em que chamam de
“irresponsáveis” os dois marionetistas que vão a caminho da prisão depois de passar pelos
julgamentos da Audiência Nacional e ao anunciar que a denúncia se funda no fato de que
eles cometeram atos “ofensivos ou prejudiciais para a sensibilidade”, mas que espera que
se mantenham suas “garantias legais”. Um vergonhoso fato repressivo, se sabe perfeitamente
(leram o processo), que não respeitou as menores garantias legais e que colabora
conscientemente e diretamente na articulação da enésima montagem policial contra os
movimentos sociais. Nem uma palavra pedindo a liberação dos detidos, e sim que “tomará as
medidas legais” contra artistas que representam uma obra que reconhecem ter não visto.
Desde a CNT denunciamos este novo ataque à liberdade de expressão. Dois artistas foram
presos em sua apresentação por sua clara oposição à sociedade atual. Por denunciar a
repressão de uma forma satírica. Ou seja, eles foram detidos por uma questão puramente
ideológica. O aparato policial-judiciário-político do Estado Espanhol continua a perseguir
e prender pessoas por razões ideológicas. Neste país, Sra Carmena, Senhores juízes, isso
não acontece desde os dias de Franco, que, aliás, morreu há muitos anos. Não se preocupem,
a vocês caberá ante a história à honra ignominiosa de o haver ressuscitado da pior
maneira. De que adiante apagar sua memória se eles vão a recuperar o pior de suas piores
práticas? Mas, Sra Carmena, Senhores membros da Audiência Nacional, não parem por ai, não
se limitem a prender os artistas que atuam hoje na sua cidade. Queimem as obras de Zola,
destruam página por página as de Grave, apaguem da face da terra as memórias das obras de
Gorki, destruam os teatros que representam Brecht, peçam um mandado internacional de busca
e captura contra Dario Fo, executem com o garrote vil seus editores, e não se esqueçam de
perseguir os seus leitores. Iniciem a queima de livros e, nessa fogueira, invoquem o
espírito do Generalíssimo.
No Irã, para nomear um lugar qualquer de muitos lugares onde não se respeita o direito a
dissidência ideológica, Rassoulof e Panahi são presos por colocar sua obra a serviço do
povo. Keywan Karimi foi condenado a 223 chibatadas. Farão vocês o mesmo com todas as
pessoas que têm escrito ou representado, ou mesmo imaginado, a necessidade de um mundo
mais livre e mais justo, um mundo sem polícias a nos perseguir e torturar, sem exércitos a
nos massacrar, sem juízes nem promotores que nos julguem e prendam? Será que vão fazer o
mesmo com todos os que rejeitam os privilégios e defendem a justiça popular? Com todas as
pessoas que acreditam que a propriedade é um roubo e defendem a desapropriação e a
partilha de todos os bens materiais? Com todas as pessoas que pensam que a nossa dignidade
não cabe em suas urnas, muito menos ficará calada por suas prisões? Fará isso, a Audiência
Nacional e a prefeitura de Madri, com todos aqueles que acreditam na necessidade e justiça
de uma revolução? Rafael Alberti dizia que “as palavras, então não servem: são palavras. /
Balas. Balas”. Darão vocês retorno a esta canção antifascista e atirarão em nós? Ou pensam
em nos perseguir por repetir estes versos?
Desde a CNT denunciamos a este novo passo na escalada de repressão contra o movimento
anarquista que vem ocorrendo nos últimos anos. É muito esclarecedora a forma como o poder
atua quando ataca aqueles que o questiona, seja qual for a cor que tal poder é pintado. Se
desde a prefeitura de Madri se denunciava os artistas pelo bem das crianças, o Ministro do
Interior os condenava publicamente, os tratando desde o início como culpados e os
criminalizando apenas pela ideologia dos detidos. Onde está agora a presunção de
inocência, o direito à imagem dos acusados, que estes personagem pedem para os ladrões do
público que formam seu governo? Onde está a figura do investigado que reclamam para
salsichas como Rato e os outros que são personagens habituais nos julgamentos dos tribunais?
Desde a CNT entendemos que estes eventos são o resultado do processo de recuperação e
cooptação sistêmicas que partidos como o Podemos tem levado a cabo com as lutas populares
em que se apoiaram para tentar seu assalto ao poder. É que todo o poder deve eliminar seus
críticos, e aqueles que se misturam com eles. Nestes processos, todos os políticos ao
final se colocam de acordo. Assim, desde a CNT nos reafirmamos na autonomia das lutas
populares, a independência dos partidos políticos e denunciamos mais uma vez o caráter
autoritário, antipopular e reacionário do “assalto das instituições”.
Desde a CNT exigimos a libertação sem processos dos componentes dos “Fantoches desde Baixo”.
Em definitivo, Sra. prefeita de Madri, Sr. Ministro do Interior, Srs. Juízes da Audiência
Nacional, com atuações como esta vocês não serão capazes de silenciar as vozes que clamam
por uma sociedade mais justa, na qual vocês, efetivamente, sobram. Não poderão, a farão
ainda mais forte, a multiplicarão, e um dia se verão cercados por ela. Na construção desse
dia estamos avançando.
NOTÍCIA DE ÚLTIMA HORA:
Depois de quatro noites em uma prisão, foram libertados ontem (10 de fevereiro) os dois
marionetistas detidos na semana passada em Madri, embora recaiam sobre eles ainda as
acusações de “enaltecimento do terrorismo” e de “delito contra as liberdades individuais”.
Raúl García e Alfonso Lázaro ficarão também sem passaporte e com a obrigação de se
apresentarem diariamente às autoridades.
Fonte:
http://cnt.es/noticias/ante-la-detenci%C3%B3n-de-los-dos-integrantes-de-t%C3%ADteres-desde-abajo
Tradução > Liberto
More information about the A-infos-pt
mailing list