(pt) anarkismo.net: A semana do ministro banqueiro e seu dia do fico e o desgoverno do RS by BrunoL
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Domingo, 13 de Setembro de 2015 - 19:52:02 CEST
"Estamos diante de um momento crítico de reversão de expectativas e com retirada de
políticas públicas. Piora o cenário a recessão inflacionada provocada pela elevação de
preços administrados. A hora é de enfrentar a crise do modelo e não de atirar salva-vidas
para quem escolheu governar com a direita por dentro do governo que, eleito no 2º governa
de fato no e 3º turno", escreve Bruno Lima Rocha, professor de ciência política e de
relações internacionais. ---- Eis o artigo. ---- Se as condições de permanência de Joaquim
Levy forem manter a maldita Taxa Selic por mais 12 meses batendo nos índices de 14,25% ao
mês, então não haverá outra saída a não ser avançar nos recortes das políticas sociais.
---- A Semana da Pátria, conforme nós aprendemos a recordar dentre aqueles e aquelas que
nasceram e cresceram durante a ditadura militar, vai concluir de forma melancólica no dia
07 de setembro. Não me refiro aos desfiles oficiais, mas a confusão derivada das oposições
sociais que insistem em manter - em sua linha hegemônica - o confuso e estéril "apoio
crítico e oposição para a política econômica".
Na farsa da independência promovida pelo filho do rei da metrópole que se transformara em
Reino Unido, necessitamos urgentemente reorganizar as esquerdas a partir da independência
de classe e visando antes de nada o destino coletivo, como povo, e não como suporte do
pacto de classes do governo de turno. Esta prática nefasta, típica do período em que Luiz
Carlos Prestes era um totem vivo dentro do partido de linha moscovita no Brasil pré-golpe,
é retomada na crise do modelo lulista.
Quando será dado este basta, não sabemos. Mas, a certeza é saber que o prazo de validade
já passou (há muito) e não há compromisso possível no 3º turno onde o governo é comandado
por um ministro banqueiro, outro líder empresarial e compondo o time do andar de cima, uma
autêntica representante do latifúndio. Vamos ao debate.
Roda Viva quem te viu e quem te vê - onde está o jornalismo? Como fazer o jornalismo sem o
contraditório? Jornal Hoje da Globo e a desinformação estrutural
Assistir ao programa Roda Viva na Rede Cultura (Fundação Cultural Padre Anchieta,
subordinada ao governo de São Paulo) é um exercício de paciência e capacidade de
abstração. Sob a condução de Augusto Nunes, o programa do dia 31 de agosto de 2015 debatia
"Saídas para a crise". Dentre os debatedores estava o ex-ministro da Fazenda de José
Sarney, Maílson da Nóbrega, assim como o ex-presidente do BNDES e ex-ministro das
Comunicações de FHC, Luiz Carlos Mendonça de Barros.
O primeiro teve a coragem de dizer que "já passamos por problemas maiores" e que "acredita
nas saídas do Brasil para a crise, como por exemplo, em algum momento, o aumento do tempo
de serviço para a aposentadoria". Ninguém lhe perguntou a respeito do período de inflação
galopante do governo Sarney e tampouco sobre as operações de consultor. O quadro de horror
das ausências ficou na pergunta que não houve: "ministro, como o senhor conseguiu
colaborar com o processo inflacionário no governo Sarney, contribuindo para a hiperinflação?".
Já o Mendonção disse com todas as letras que defendia uma agenda mínima e realizável. Deu
como exemplo o ciclo de privatização. Disse que queria empurrar a privatização da
Petrobrás e da Telebrás, mas que FHC afirmara que as duas juntas seria um preço político
impagável! Assim, Sergio Motta lhe aconselhara a tentar a privatização da Telebrás, uma
vez que a sociedade necessitava de uma telefonia moderna. Afirmou que queria privatizar a
Petrobrás com todas as letras e ninguém deu um ai, nenhum comentário após isso! Obviamente
tampouco ninguém citou a dívida pública interna que consome para o espólio rentista a mais
de 45% do orçamento executado em 2014.
O mesmo se deu na reportagem de mais de 4 minutos do Jornal Hoje da tarde do mesmo dia 31
de agosto. Não houve uma relação óbvia de causalidade quando o Executivo apresentou o
orçamento para 2016 com déficit de R$ 30 bilhões sem reduzir a taxa de juros básica
(Selic) e, por consequência, a relação dívida PIB e dívida orçamento da União. Mais do
mesmo no debate público operado pela opinião publicada. Onde está o jornalismo? É esta a
baliza da opinião pública ou é apenas a opinião publicada? Fico com a segunda escolha.
O malabarismo do ex-governador Tarso Genro - ataca a defesa do boneco de Lula e se esquece
dos lamentáveis episódios de repressão política durante o seu governo na Província do
Eucalipto
É curioso o malabarismo político do ex-governador do RS Tarso Genro em artigo de sua
autoria postado no excelente portal Sul 21 (jornal eletrônico), publicado em 31/08/2015
com o título "O boneco protegido". Se por um lado o seu governo fez uma inflexão no rumo
de uma economia política baseada no desenvolvimento regional e na atração de investimentos
que pudessem transformar as cadeias de insumos locais, por outro, Tarso perdeu o controle
sobre o aparato de segurança e aumentou a repressão no estado para níveis superiores ao
desgoverno de Yeda Crusius.
Agora, alçado para a condição de intelectual em busca da reconstrução de seu partido, o
ex-ministro da Justiça e da Educação de Lula apaga de sua trajetória a defesa que fez do
Tatu Bola, assim como não se recorda de haver taxado vergonhosamente a base mobilizada da
FAG de "fascista".
Tarso foi um excelente gestor do capitalismo rio-grandense e um cruel executor da esquerda
restante na província. Comprova com suas balelas que nada mais eficiente do que um
ex-comunista arrependido para servir como cavalo de batalha da direita ideológica. A mesma
que fora adulada por quatro anos à frente do Piratini o abandona para aderir ao desgoverno
oligarca e neoliberal de Sartori.
Tarso foi o equivalente ao ex-premiê espanhol Zapatero no RS. Preparou o retorno para a
direita política após haver reprimido com vontade a rebeldia de 2013. Parabéns ao
ex-dirigente do PRC, está à altura do SPD alemão quando esta legenda apoiou a contra
revolução anti espatarquista de Rosa Luxemburgo e dos conselhistas. Com uma ex-esquerda
como essa nem precisava de direita.
A crise fiscal do Estado brasileiro é diretamente proporcional ao poder das grandes
empresas em sonegar seus tributos
Este trecho da reportagem do excelente site Congresso em Foco é fundamental, economizando
as palavras deste analista:
"Os bancos Santander e Itaú são responsáveis pelas maiores dívidas em discussão no Carf.
Em um dos casos, a filial brasileira do Banco Santander S.A. negocia 24 processos de
execução fiscal junto à União. Ao todo, a instituição financeira foi autuada em R$ 27,3
bilhões pela Receita Federal. O segundo maior devedor é o Itaú Unibanco Holding .S.A., que
contesta um total de R$ 22,8 bilhões. No entanto, empresas do grupo Itaú não figuram entre
as investigadas na Zelotes, que desvendou um esquema de corrupção no âmbito do Carf. O
terceiro maior devedor é a Petrobras, que questiona cobrança de R$ 20,6 bilhões em multas
aplicadas pela Receita em 17 processos."
É conta de chegada. Não há como solucionar o rombo do país sem solucionar a sonegação e
diminuir a incidência do espólio rentista.
O dia do fico do ministro banqueiro e o país do imposto invertido
No dia 03 de setembro o ministro de confiança do Bradesco, Joaquim Levy, cancelou a viagem
para a Turquia onde se reuniria com os pares do G-20. O motivo foi uma reunião de
emergência no Palácio do Planalto, onde Dilma Rousseff, desesperada, o convoca para
garantir as condições de permanência. Respaldando o ministro banqueiro estavam os dez
maiores grupos econômicos e federações empresariais do Brasil. Os mesmos que escoram a
ex-guerrilheira no Planalto se posicionam de forma incondicional junto a Levy. Seu plano
de metas e ajuste fiscal foi bancado por Luiz Trabuco, todo poderoso número 01 do Bradesco
e seu superior de fato, no sentido de lealdade para com a classe dominante a qual ele -
Levy - presta serviços como elite dirigente.
Sem a permanência de Levy, entende o andar de cima que o caminho está aberto e autorizado
para as puxadas de tapete de Temer, como a declaração mais que óbvia quando o político de
estirpe quercista afirmara ser impossível Dilma aguentar 3 anos e meio com índices altos
de rejeição. A fala do vice-presidente foi em reunião para empresários paulistas - tal e
como Bush Jr. falava para os super ricos "I call you my base" - e cometeu uma suposta gafe
de sincericídio. Falou o óbvio e condicionou o apoio - por tabela - para o governo
moribundo onde o PMDB deita e rola, dentro e fora do próprio governo.
Se as condições de permanência de Joaquim Levy forem manter a maldita Taxa Selic por mais
12 meses batendo nos índices de 14,25% ao mês (juros de agiota que dariam vergonha aos
picaretas e laranjas da praça), então não haverá outra saída a não ser avançar nos
recortes das políticas sociais. Neste momento - que já se aproxima e de fato ocorre - a
centro-esquerda restante vai arriscar (já arrisca) seu prestígio e legitimidade ainda
presente para manter o tal "apoio crítico" embora sejam contra a política econômica.
Ao menos a semana apontou duas boas notícias: o Senado rejeitou o financiamento
empresarial de campanha (através de pessoa jurídica doando para partidos políticos),
devolvendo o tema para a mui nobre e leal e valorosa Câmara Baixa sob a batuta de Eduardo
Cunha (PMDB-Assembleia de Deus - RJ). A emenda foi operada por em cima do PL 75/2015, e
deixa a bola quicando na intermediária do baixo clero.
Já o plenário da Câmara, surpreendentemente aprovou a Medida Provisória (MP) 675/15, onde
prevê um aumento da Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL), passando de 15% para
20%. Já as cooperativas de crédito pagarão o índice de 17% sobre o seu lucro líquido. Pode
parecer muito, mas não é, e ainda na proporção, nós assalariados contribuímos muito mais
do que a Banca - o governo de fato - que recolhe os ganhos com cerca de 22% a 27% dos
lucros com a agiotagem oficial, financiando e refinanciando a rolagem da dívida pública e
recolhendo o espólio.
Outra pauta que ainda seria importante pelear por ela é o retorno da CPMF, mas cravando em
cima dos CPFs que movimentem a partir de uma determinada quantia, incidindo na camada
superior da pirâmide social brasileira. A CPMF é um imposto justo porque agarra no meio da
movimentação financeira, mas não pode ser isonômica e sim redistributiva. Quando
extinguiram a CPMF em 2007 foi reeditada por acórdão de líderes a maldita Desvinculação
das Receitas da União (a DRU), sempre a sangrar institucionalmente o orçamento das
receitas vinculadas como garantias de direitos constitucionais.
Entendo que estamos diante de um momento crítico de reversão de expectativas e com
retirada de políticas públicas. Piora o cenário a recessão inflacionada provocada pela
elevação de preços administrados. A hora é de enfrentar a crise do modelo e não de atirar
salva-vidas para quem escolheu governar com a direita por dentro do governo que, eleito no
2o turno, governa de fato no 3o turno.
Bruno Lima Rocha é professor de ciência política e de relações internacionais.
Site: www.estrategiaeanalise.com.br
Email: strategicanalysis riseup.net
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