(pt) anarkismo.net: 20 anos a enraizar anarquismo by Federação Anarquista Gaúcha - FAGanarkismo.net: 20 anos a enraizar anarquismo by Federação Anarquista Gaúcha - FAG
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Domingo, 29 de Novembro de 2015 - 15:30:56 CET
Entre os dias 20, 21, 22 e 23 de novembro a FAG/CAB realizaram um conjunto de atividades
programadas para as comemorações do 20° aniversario de vida militante desta organização
política anarquista. Foram momentos de fraternidade libertária, de debates e cultura
política, afirmação da concepção especifista para as lutas de classe e dos povos
oprimidos. Onde o emotivo também fez sua presença. Brindaram gerações que não tem visto
cansados seus esforços. Trocaram experiências, aportes e solidariedades delegações de
distintas partes do Brasil, América Latina, Europa e Estados Unidos. ---- Um plenário
sindical de militantes da CAB tomou lugar para fazer planos e afiar as ferramentas de luta
no movimento dos trabalhadores. As companheiras fizeram seu debate no dia 22. Como
contexto geral uma feira libertária em praça pública com charlas diversas, livros e
materiais de propaganda, teatro e música popular. Dia 23 uma reunião internacional de
delegações para firmar pactos de apoio mútuo, discutir elementos de concepção para um
anarquismo forte politicamente e inserto nas lutas sociais, gerar internacionalismo desde
as conjunturas concretas e as estruturas do poder que tocam nossos povos.
O Ato Público se fez num teatro cheio no coração do centro de Porto Alegre. Entre os
oradores a FAU, a FAR, o cancioneiro popular libertário e "rompidiomas" de Chito de Melo.
Por fim a palavra de CAB e FAG. Ambiente muito concentrado no que era exprimido pelos
oradores e com uma emoção que não disfarçava as alegrias e as recordações do caminho
percorrido até aqui. Cartas de adesões vindas de muitos lugares, sopros de generosa
saudação a este momento tão especial. Saúdos em própria voz de Alternativa Libertária da
França, Alternativa Libertária/FdCA da Itália, Federação Anarquista Rosa Negra dos Estados
Unidos, Grupo Via Libre da Colômbia, núcleo sul do Congresso Comunista Libertário do
Chile. No encerramento do Ato, um desfecho simbólico marcado de lenços vermelho e negros
ao som de A Internacional.
Entre os dias 20, 21, 22 e 23 de novembro a FAG/CAB realizaram um conjunto de atividades
programadas para as comemorações do 20° aniversario de vida militante desta organização
política anarquista. Foram momentos de fraternidade libertária, de debates e cultura
política, afirmação da concepção especifista para as lutas de classe e dos povos
oprimidos. Onde o emotivo também fez sua presença. Brindaram gerações que não tem visto
cansados seus esforços. Trocaram experiências, aportes e solidariedades delegações de
distintas partes do Brasil, América Latina, Europa e Estados Unidos.
Um plenário sindical de militantes da CAB tomou lugar para fazer planos e afiar as
ferramentas de luta no movimento dos trabalhadores. As companheiras fizeram seu debate no
dia 22. Como contexto geral uma feira libertária em praça pública com charlas diversas,
livros e materiais de propaganda, teatro e música popular. Dia 23 uma reunião
internacional de delegações para firmar pactos de apoio mútuo, discutir elementos de
concepção para um anarquismo forte politicamente e inserto nas lutas sociais, gerar
internacionalismo desde as conjunturas concretas e as estruturas do poder que tocam nossos
povos.
O Ato Público se fez num teatro cheio no coração do centro de Porto Alegre. Entre os
oradores a FAU, a FAR, o cancioneiro popular libertário e "rompidiomas" de Chito de Melo.
Por fim a palavra de CAB e FAG. Ambiente muito concentrado no que era exprimido pelos
oradores e com uma emoção que não disfarçava as alegrias e as recordações do caminho
percorrido até aqui. Cartas de adesões vindas de muitos lugares, sopros de generosa
saudação a este momento tão especial. Saúdos em própria voz de Alternativa Libertária da
França, Alternativa Libertária/FdCA da Itália, Federação Anarquista Rosa Negra dos Estados
Unidos, Grupo Via Libre da Colômbia, núcleo sul do Congresso Comunista Libertário do
Chile. No encerramento do Ato, um desfecho simbólico marcado de lenços vermelho e negros
ao som de A Internacional.
Aqui reproduzimos os textos de apoio dos oradores do ATO:
DISCURSO DA COORDENAÇÃO ANARQUISTA BRASILEIRA - CAB
ATO 20 ANOS DA FAG
Porto Alegre, 21 de novembro de 2015.
A CAB faz sua saudação a este Ato Público que se realiza quando cumpre 20 anos a nossa
Federação Anarquista Gaúcha.
Não se trata de uma trajetória militante isolada num canto do país, digamos de passagem.
São 20 anos percebidos dentro das coordenadas de uma construção nacional e de um vivo e
incansável trabalho pra fortalecer a resistência libertária num marco regional
latino-americano. Internacionalismo que se faz desde o pedaço de mundo que nos toca atuar,
que não ignora, em nome de um cosmopolitismo de propaganda, o complexo e específico
processo histórico-cultural que nos conforma como região. Projeto onde cooperaram muitas
mãos, culturas e sotaques brasileiros, do qual a FAG é uma das expressões.
A Coordenação Anarquista Brasileira pretende ser uma ferramenta de união militante, escola
de lutas e capacidade política para atuar em contextos históricos concretos. Nos
reconhecemos como parte somada na caminhada das rebeldias que vem de baixo, das lutas
insurgentes contra as relações de dominação, os dispositivos e estruturas opressivas que
atravessam nossa formação social. O Anarquismo não é a "planta exótica" que sugeriu o
discurso do poder quando se referia ao brasileiro como um povo dócil, estranho aos
conflitos. Antes que um setor do movimento operário levantasse a ideologia anarquista como
sua bandeira de combate anti-sistema, aqui deixaram seu caudal de resistência e liberdade
as lutas indígenas, quilombolas e populares contra o escravismo-colonial.
A formação da ordem burguesa, do mercado capitalista, do Estado nacional e das ideias,
valores e crenças que produzem a norma onde se reconhece o "povo brasileiro", foram
construídos pela guerra social sancionada pelos vencedores. Tem o sangue rebelde que
peleou batalhas contra o genocídio, a escravidão, o saque e a violência colonialista, a
propriedade da terra, o racismo de estado até chegar nas formas da exploração do trabalho
assalariado no regime das fábricas.
Mais que comemorar os 20 anos de vida da FAG, o Anarquismo brasileiro comemora 20 anos de
um projeto militante que faz luta e organização com as classes oprimidas e com as cores de
nosso povo. História peleada que não começa com a gente e também não termina conosco.
Jornada que tem seus passos, tropeços, provas e ajustes e que na modéstia e com firmeza
afia ferramentas para um posto de combate libertário. Criar um mundo novo que tem que ser
peleado hoje, com meios que se articulam ao cotidiano, inseparável das noções de um
imaginário radical carregado de socialismo e liberdade.
Esse lugar no mundo, com tantas riquezas naturais e culturais, de formação mestiça,
contrasta com desigualdades brutais que reservam os privilégios e o poder político e
econômico para uma fração das classes dominantes associadas com a estrutura do
imperialismo. Sociedade marcada por estruturas de dominação que operam pelas classes, pelo
racismo e por toda sorte de violências que segregam e oprimem. Dispositivos de poder que
classificam na vida cotidiana os sujeitos de direitos, selecionados pela competição
perversa do mercado, e os sujeitos de exceção governados pelo Estado penal. Pesa forte na
nossa formação social uma ideologia que normaliza tanta miséria e injustiça, dor e
tragédia de setores populares jogados ao azar, convivendo ao lado de tanta ganância,
soberba e impunidade ostentada pelos de cima.
***
Compas:
A narrativa triunfalista do crescimento econômico, do pacto social feito com os capitais
com vocação "desenvolvimentista" pra fazer crescer o bolo nacional e ajeitar um lado pros
mais pobres, veio abaixo. A locomotiva da desapropriação de bens e produção de commodities
minerais e agrícolas para o mercado freiou com a desaceleração da China. Todo o frenesi
das mega-obras e da especulação imobiliária foi desmanchado pós-copa pelo escândalos de
propinas e os esquemas que sangraram a Petrobras para o benefício do empresariado e das
campanhas eleitorais. O novo setor dos trabalhadores integrados, pela lógica financeira,
no mercado de consumo, vê subitamente as dívidas, o aumento dos preços e o desemprego
cobrarem caro pela fantasia de "nova classe média" que vendeu o governo. O que se chamou
entre analistas de distintas lentes de neo-desenvolvimentismo foi um vôo de galinha que
mal começou bater as asas e despencou.
O cenário recessivo mundial toca o país. Desde o começo do ano está em cena um ajuste
violento contra o povo, representado por um pacote de medidas que corta direitos
adquiridos dos trabalhadores, aumenta os preços administrados pelo Estado que atingem o
custo de vida das massas e arrocha o orçamento público e do seguro social para pagar os
juros dos agiotas da dívida pública.
O sistema financeiro reforça seus controles sobre os gastos públicos. Seus quadros ocupam
setores privilegiados na máquina do Estado, constituindo uma equipe blindada junto a
Joaquim Levy, formada nas idéias da escola de Chicago. O cassino global especula com a
fome dos povos ao converter alimentos em commodities no mercado capitalista e ao torná-los
derivados financeiros. Os juros adotados pelo COPOM causa um impacto bilionário na dívida
pública, gerando lucros fantásticos ao capitalismo rentista e dando a essas corporações um
poder privado sobre os recursos nacionais. As montadoras transnacionais usam de milhares
de demissões e do expediente das férias coletivas para ajustar seus planos ao novo
cenário. A patronal força por mais flexibilização do trabalho com a lei das
terceirizações. O Programa de Proteção do Emprego ofusca uma bandeira histórica do
movimento operário condicionando a redução de jornada com redução de salários, financiados
com fundos do FAT- Fundo de Amparo ao Trabalhador.
Como dissemos: uma conjuntura de deterioração acelerada do modelo de pacto social e de
políticas residuais de ajuda social dos setores populares integrados pelo mercado de
crédito e pelo consumo e do modelo de geração de empregos precários vinculados ao regime
flexível das obras e serviços.
O desfecho do segundo turno das eleições presidenciais de novembro de 2014 ligaram o
alerta para um escandaloso estelionato eleitoral em curso manobrado pelo governo reeleito.
Foram enterrados os votos do "menos pior" ou a esperança das regiões mais pobres de que os
direitos, o trabalho e condições de vida não seriam castigados pela recessão. O segundo
mandato de Dilma, ao longo do ano, afundou o modelo de controle social que vinha se
corroendo pelo tempo junto com a calamidade da situação internacional e evoluiu,
violentamente, para as pautas da austeridade, das barganhas da direita alugada e a
precarização dos direitos trabalhistas reclamados pela ofensiva patronal.
Ao lado do desengano dos seus eleitores, agrega-se o impacto no imaginário social dos
escândalos das redes de corrupção que as investigações da Policia Federal com a operação
Lava Jato tem apurado. O espólio e o saque de recursos da Petrobrás pelas redes do poder
político e econômico colocam em evidência conexões corruptas que capturam banqueiros,
políticos de todas as cores e empresários que controlam os capitais que festejaram como
ninguém o crescimento atribuído aos melhores anos da administração do PT. A rigor, estão
todos de rabo preso. Esse é o sistema corrupto e criminal dos de cima, assim funciona suas
estruturas fundamentais e assim agem seus operadores privilegiados. No entanto, é o PT em
particular que recebe os holofotes por ser a autoridade máxima na gestão da máquina. A
"corrupção" representada sob um viés moralista possibilita o oportunismo da direita
opositora. Também é o artifício de pressão das oligarquias aliadas ao governismo. Por sua
vez, os monopólios informativos tiram partido dessa situação para livrar uma luta
ideológica implacável contra toda cultura de esquerda, atacando movimentos populares,
direitos sociais, trabalhistas e bens públicos.
O discurso da estabilidade dos últimos vinte anos, produtor de sentido das relações do
sujeito com o governo e as instituições e enquanto técnica de controle da vida das massas,
sofre uma pressão desestabilizadora. Foi a prática do PT no governo de coalizão junto do
PMDB que afundou este modelo. Em princípio foi o refresco, foi o fator político de um
pacto de classes que desarmou o antagonismo social ao sistema. Agora é o fator detonador
que frustrou as expectativas que vinham por esquerda, e ao se acomodar às estruturas de
poder, jogou água no moinho da direita. Cooptou as utopias de parte da esquerda do Fora
FHC e dos Fóruns Sociais Mundiais capturando pelas instituições de Estado a força social
dos de baixo, desorganizou e fragmentou a classe trabalhadora e os setores oprimidos. Por
correlação deu lugar, voz, gabinetes, verbas e lugar pro coro reacionário gritar em massa
na ruas e jogar na confusão setores populares.
A tragédia é que as decepções, os fracassos e as capitulações ao modus operandi do sistema
ativaram um recalque coletivo que conduz a um rebaixamento das expectativas gerais da
sociedade com a política. Deixa lastro ideológico para os discursos de ódio que fazem
aparecer rebentos de fascismo na classe média ou de fundamentalismos religiosos entre os
populares.
Mensalão, petrolão, cortes de direitos sociais, privatização de infraestrutura e reservas,
"Plano de Desinvestimento da Petrobras", jogam definitivamente o PT na vala comum da
política burguesa e produzem uma dilatação confusa e ambígua dos sentidos de esquerda e
direita. A cena política privilegia as luzes e as sombras de um discurso polarizador que
seleciona e narra os acontecimentos conforme uma lógica binária que exclui o desejo e os
interesses das maiorias. Temos uma disputa mais feroz entre setores das elites dirigentes
e as classes dominantes pela direção da máquina do Estado. Não é rigorosamente uma luta de
classes, onde se enfrentam setores populares contra a burguesia e seus conexos. É uma luta
de poder entre vizinhos do mesmo condomínio particular, que jogam seus efeitos de
subjetivação no povo ao qual se reserva historicamente, quando muito, a área de serviços.
Os setores populares do país vêm sentindo cada vez mais os efeitos dessa conjuntura de
aumento do custo de vida, de recortes nos benefícios sociais, falta de água e luz,
desemprego, crise urbana e ambiental. A deterioração do governismo e do sistema político
está agravando o desencanto com o modelo capitalista brasileiro. A insatisfação cresce por
todos os lados e em alguns momentos chega a derramar pra fora dos velhos recipientes, das
normas e das regras que o sistema reserva para sua canalização.
As jornadas de junho de 2013 puseram a insatisfação social e distintas e as vezes
controversas demandas de setores populares e médios nas ruas. Abriram um espaço de
indeterminação na política nacional ao fugir das regras dos conchavos oligárquicos, dos
lobbies corporativos e os acordões entre partidos que formam o expediente normal da
governabilidade. Por alguns momentos, correram por fora do jogo do poder capturado pelas
instituições burguesas, formas sociais de protesto, de rechaço e saturação do sistema que
escaparam do monopólio oficial da luta política, romperam o preto no branco e fizeram
vazão de um imaginário social que é irredutível a polarização das elites.
Nos rastros do alegórico discurso de melhoria na condição de vida dos brasileiros
apresentados nos programas de propaganda da gestão Petista vem à tona a dor dos povos
desterrados, das mães que choram os filhos vítimas do racismo da cadeia e do extermínio,
os moradores despejados de suas casas, os atingidos pela sanha predadora das empreiteiras
e mineradoras, os trabalhadores estafados pelo regime de exploração, a juventude revoltada
com seus horizontes negados.
Há poucos dias atrás fomos golpeados com a notícia da maior tragédia sócio-ambiental da
história recente do Brasil. Ainda neste mês, 5 de novembro de 2015, o distrito de Bento
Rodrigues em Mariana, interior de Minas Gerais, foi literalmente soterrado de lama tóxica
depois do rompimento de duas barragens de rejeitos operada pela mineradora Samarco,
propriedade das empresas Vale e BHP. As imagens são espantosas. Um povoado inteiro
arrasado, dezenas de mortos e desaparecidos, entre elas crianças, cerca de 700 famílias
desabrigadas, destruição da infraestrutura de bens e serviços públicos, contaminação
irreparável do meio ambiente, e danos a toda a bacia do rio doce que abastecia a região,
da terra cultivada pelos trabalhadores do campo. Afetando também cidades do Espirito Santo
segundo estimativas de técnicos cerca de 3.000 km2 no litoral norte e uns 7.000 km2 no
litoral ao sul, atingindo três Unidades de Conservação marinhas do território capixaba. Os
estudos preliminares indicam alta concentração de metais pesados no meio ambiente, pois
amostras de água coletada, por exemplo, apontam um índice de 1 milhão e trezentos mil por
cento acima do tolerável.
Os rastros de morte que avançaram de Mariana ao Espírito Santo pra nada se referem a uma
fatalidade natural. Tragédia que tem a marca tóxica e repugnante de seus proprietários. Do
arranjo burocrático-corporativo que viola as licenças ambientais, que desrespeita a vida e
os bens comuns para o deleite dos seus acionistas. O poder voraz e assassino do
capitalismo extrativista escreve mais uma página da ação predadora e ecocida do sistema.
Em outro lugar do país, região centro oeste, estado do Mato Grosso do Sul, ao crescimento
da produção da carne, da soja e da cana as cadeias do agronegócio fazem prospecção de
negócios com a invasão violenta dos territórios indígenas Guarani e Kaiowá, Terena e
Kadiwéu. O discurso de ódio das oligarquias se traduz em um repertório de ações atrozes
sobre esses povos. Assassinatos e emboscadas, pulverização de veneno sobre as terras e
águas da aldeia, cerco armado sobre os locais de conflito, mortes de crianças por fome e
inanição. Em fins de agosto Semião Vilharva, kaiowá, foi assassinado com uma bala na
cabeça de calibre 22 em mais um ataque de pistoleiros a soldo do ruralismo. A policia e a
justiça são coniventes, aparelhos articulados na mesma estrutura do poder dominante.
Nos últimos 12 anos foram assassinados 390 indígenas no estado e 586 se suicidaram.
Contabilidade sinistra do genocídio, produção de commodities para o mercado global com o
sangue de um massacre covarde e implacável sobre os povos originários. Fatura da classe
ruralista e da especulação financeira sobre a fome dos povos pelo modelo mortal e imundo
do agronegócio.
No nordeste brasileiro, no último dia 12 de novembro, a chacina da Messejana, periferia de
Fortaleza, deixou 11 mortos e vários feridos. Destes 10 jovens e metade menores de idade.
Os moradores contam que policiais fardados agiram durante a madrugada, invadindo casas e
arrastando as vítimas. Execução sumária da policia que dizem ter sido motivada por
represália a morte de um soldado, durante assalto. No princípio do ano os policiais da
Rondesp da Bahia, depois de executarem 12 jovens na chacina da Cabula em Salvador, foram
estupidamente agraciados pelo governo estadual e ganharam a impunidade da justiça.
Em Osasco, mês de agosto, a chacina acabou com a vida de 19 pessoas. Noite de terror na
periferia paulista acossada pela fúria sanguinária do grupo de extermínio da policia
militar. Por regra geral, pobres e negros são o alvo.
Das mais de 56 mil mortes por homicídio no Brasil divulgada pelo Mapa da Violência de 2014
mais da metade são de jovens e destes 77% são jovens negros. O sistema prisional tem cerca
de 600 mil presos e destes maioria jovem e quase 70% são negros. A polícia militar do RJ
responde por 15% dos assassinatos do estado. O extermínio da juventude negra volta a
apontar o Estado como uma máquina de matar, arrebentar, punir e prender os de baixo.
Em fins de outubro uma mobilização de mais de 5 mil companheiras ganhou a Cinelândia no
Rio de Janeiro para dar luta contra um projeto de lei que corre no congresso nacional para
modificar o atendimento de mulheres vítimas de violência sexual. O projeto de autoria do
presidente da câmara Eduardo Cunha ataca os direitos femininos e criminaliza o aborto da
gestação que resulta do estupro. O protesto se espalhou em várias capitais do país. A
violência contra mulheres em 2013 registrou uma média de 13 homicídios por dia. A cada 1
hora e 50 minutos uma mulher é assassinada nesse país, a quinta posição do feminicídio
mundial. Entre as negras um aumento de 54% dos homicídios em 10 anos. Números que
certamente não podem mensurar todo o universo de violências sexuais e simbólicas a que
estão sujeitas. Essas micro relações do poder reproduzem e conservam uma ordem
sociocultural que oprime debaixo do patriarcado mais da metade da sociedade.
O capitalismo brasileiro tem avançado a passos largos para a terceirização e junto com ela
o trabalho precário e mais vulnerável ao poder dos patrões, o aumento dos acidentes de
trabalho. De cada 10 acidentes 8 são de terceirizados. Acrescenta-se jornadas esticadas
por horas extras, salários baixos e repressão da organização de classe nos locais de
trabalho. Violências de classe que estão codificadas nas técnicas e nos modos de gestão da
força produtiva dos trabalhadores, poder que mata, mutila e invalida. O discurso da
economia dominando como valor supremo, que faz da tragédia operária de todos os dias mola
propulsora do crescimento capitalista.
Extrativismo depredador do meio ambiente, dos modos de vida e parasita dos bens comuns.
Genocídio indígena. Encarceramento e extermínio da juventude e do povo negro. Violência
estrutural sobre as mulheres. Regime de precarização dos trabalhadores. Ajustes que cortam
fundo na carne do povo. Lei antiterrorismo que amordaça a ação direta popular e faz a
"segurança jurídica" dos abutres do sistema capitalista. A formação social brasileira
produz sujeitos historicamente (des)qualificados como bucha de canhão. Toda uma produção
subjetiva que age nas relações sociais e que funciona pela rotina das instituições,
naturaliza a tragédia social e sofrimento dos de baixo e faz dos privilégios e das
posições de controle na hierarquia social um prêmio pra quem "merece". A democracia que
promete o sistema é a verdade cruel e traçante de quem joga nas regras do seu mecanismo de
seleção. Os direitos para quem tem o mérito de tê-los. Punição para quem não aceita, de
uma ou outra forma, o jogo da injustiça e a brutalidade: os desajustados, os indesejáveis.
O Brasil não tem saída a curto prazo que não venha pela mão dos concertos que vem de cima,
do palco do sistema corrupto da democracia burguesa, do golpe do ajuste na carne do povo
que cobram as classes dominantes. Tampouco das velhas fórmulas de frente popular das
burocracias do sindicalismo e dos movimentos sociais atados ao governismo. Mas a luta de
classes e dos povos oprimidos terá vazão com ou sem o PT e qualquer especulação que
possamos fazer sobre o futuro do governo da república. As estruturas do poder dominante o
ajoelharam e o fizeram jogar nas suas regras, como um partido da ordem, um personagem que
se equivale com todos os outros no balcão de negócios da moeda podre do sistema.
O ajuste do Governo Dilma tem previsão de um corte de 32 bilhões em 2016 que atinge a
saúde, a educação, moradia, programas sociais e os trabalhadores dos setores públicos. No
congresso nacional, avançam as pautas de restrição de direitos das mulheres e da livre
orientação sexual, violação dos territórios indígenas e quilombolas, desmonte da
legislação ambiental para as mineradoras, a infame Lei Anti-terrorismo cobrada pelo
sistema financeiro. Estados e municípios sangram o orçamento dos serviços públicos para
pagar a dívidas infames.
E o povo reage!!!! Os petroleiros pelejam com greve contra a venda de ativos da Petrobrás
e o leilão de campos de exploração ao capital transnacional.
Em São paulo até o momento mais de 70 escolas foram ocupadas por estudantes e professores
contra a reforma do ensino do governo do PSDB que fecha 94 escolas e atinge a educação de
cerca de 300 mil alunos.
Os trabalhadores da Usiminas fazem luta pelas táticas de ação direta ao plano de 8 mil
demissões anunciado pela empresa.
Em Cubatão a resistência operária e a disposição de não ceder os empregos e enfrentar a
patronal pela greve foi severamente reprimida pela polícia e coagida a volta ao trabalho.
As marchas contra o genocídio do povo negro ganham expressão em várias partes do país.
Os sem teto ocupam terrenos e prédios.
Camponeses, indígenas e quilombolas lutam sem trégua pela terra e contra o complexo do
agronegócio, das mineradoras e as mega-obras de infraestrutura e energia como o da Belo Monte.
Teimosos das famílias de pescadores tradicionais e dos pequenos agricultores do 5o
distrito de São João da Barra no RJ que resistem as remoções que beneficiariam o complexo
logístico do Porto do Açu terminal do maior mineroduto do mundo que rouba minério de ferro
do solo da cidade Conceição do Mato Dentro MG, rasgando a vida de 33 municípios em
mineiros e fluminenses desembocando matéria-prima pro capital transnacional.
A CAB não faz aposta no quanto pior melhor da mesma forma que não cai na armadilha do
menos pior. Nossa concepção anarquista parte das resistências que produz esse drama
cotidiano, encontra seus modos de ser no antagonismo ao sistema, como ideologia que
conjuga liberdade, justiça e apoio mútuo na experiência diária desses combates. Toma a
ferramenta da organização política em articulação com as dinâmicas das lutas sociais,
aprende, elabora e se une com elas. Não faz exercício diletante no alto da torre vigilante
dos princípios puros e estáticos. Desafiado a arriscar suas críticas, propostas e ações no
interior dos problemas que tocam os oprimidos, as classes trabalhadoras e os setores
populares, a autodeterminação dos povos, os direitos étnicos-culturais, das mulheres e da
diversidade sexual, a ecologia social e a defesa dos bens comuns.
Como já dissemos: somos partidários de um programa de lutas pra construir um povo forte,
que não troque sua independência de classe por cargos, favores ou razões governistas. Como
pequena mas resoluta forças de combate ao lado dos oprimidos continuaremos como sempre nas
lutas que vem de baixo, fora do governo e da colaboração com os patrões. E vamos construir
resistência junto com quem luta por soluções práticas, sem renunciar nossa intenção
libertária e socialista, com o sentimento de que nada podemos esperar que não seja de nós
mesmos.
Ir tecendo pelas práticas da democracia de base e o federalismo, por dentro do
sindicalismo classista e dos movimentos populares, a rede de solidariedade que seja vetor
de uma frente dos oprimidos. Desenvolver a musculatura de um povo forte pela ação direta
popular. Gerar a cultura e os valores de um mundo novo pelo exercício das formas de poder
popular que vem de baixo.
Contra o ajuste econômico e
a criminalização do protesto e da pobreza.
A rebeldia não se ajusta.
Sempre com os que lutam.
Lutar e criar Poder Popular.
DISCURSO DA FAG
Boa noite companheiros e companheiras
Estas últimas semanas têm sido muito especiais para nós anarquistas da FAG. Receber
companheiros e companheiras de distintas partes do Brasil, da América Latina e do mundo
para juntos celebrarmos um pedacinho dessa rica história do anarquismo, nos enche de
alegria! Aqui encerramos um ciclo para começarmos um novo. Um ciclo de maior organização;
de maior firmeza em nossos vínculos e em nossos laços de fraternidade e solidariedade; de
reafirmar a luta, o protagonismo popular e a transformação revolucionária das nossas
relações e da nossa sociedade como os únicos caminhos fecundos para romper definitivamente
as amarras desse sistema sanguinário que nos oprime todos os dias.
São 20 anos de construção anarquista nacional. São 20 anos de FAG, de OSL, de FAO, de CAB,
de FARPA, de Rusga Libertária, de CALC, de FARJ, de CABN, de ORL, de FACA, de OASL e de
muitos outros que com seus esforços vem forjando anarquismo militante, classista, com
raízes na história de combate do nosso povo. Duas décadas cultivando raízes anarquistas
para que floresça bela e forte o poder do povo, o Poder Popular.
Na ocasião do Ato Público de 10 anos da FAG dizíamos:
"Nascemos porque morreram homens como Mikail Bakunin, Errico Malatesta, Nestor Makhno,
Sepé Tiaraju, Zumbi dos Palmares. Nascemos porque morreram mulheres como Espertirina
Martins, Malvina Tavares, Anastácia, Anita Garibaldi e tantos outros e outras anônimas ou
não que morreram defendendo a justiça e a liberdade.
Nascemos pelas mesmas mãos que o anarquista Djalma Feterman usou para atirar uma bomba
disfarçada de buquê de flores, que carregava a também anarquista Espertirina Martins com
seus 15 anos de idade, na carga de cavalaria da Brigada Militar durante a Guerra dos
Braços Cruzados em 1917.
Nascemos pelas mesmas mãos que pegaram em armas no Uruguai, enfrentaram a ditadura, foram
torturados e presos, porém, não desistiram: já completaram meio século e foram decisivos
para a formação da FAG neste canto do Brasil: assim foi o apoio generoso da FAU, presente
conosco hoje e sempre.
Nascemos e renascemos todos os dias pelas mesmas mãos das pessoas simples, gente humilde,
que nas suas mãos, carregam as marcas de ser parte dos de Baixo.
Dizem por ai que pobre vive de teimoso. Foi por teimosia que a FAG nasceu. É por teimosia
que continuamos vivos e lutando e vamos completar mais dez anos insistindo em dizer que é
somente o povo organizado e em luta que vai conseguir conquistar tudo o que precisa e quer."
E aqui estamos companheiros e companheiras, 10 anos depois, cumprindo e dando continuidade
a um Compromisso, a uma Idéia, a uma Prática: O SOCIALISMO COM LIBERDADE!!!
Não tem sido tarefa fácil. Nossa busca tem sido sempre a de fazer do anarquismo uma
ferramenta atual e à altura das diferentes conjunturas que nos toca viver e atuar. Uma
ferramenta dinâmica, que nos permita ampliar coletivamente as forças que individualmente
seriam muito limitadas; um anarquismo militante e organizado que construa junto, ao lado
dos de baixo, propostas concretas contra os ataques dos de cima. Um anarquismo prático,
dotado de táticas e de um programa mínimo e, ao mesmo tempo, uma anarquismo finalista,
dotado de um programa estratégico e de longo prazo. No fim e ao cabo, um anarquismo
político que contra e por fora do Estado solucione o problema do Poder, do que colocar no
lugar das instituições burocráticas, centralistas e autoritárias do Sistema de Dominação
Capitalista.
Um anarquismo Federalista, Autogestionário, que produza com suas práticas, métodos,
críticas e experiências, uma ideologia de transformação. Sem vanguardismos, ditaduras
ditas proletárias, vocação pra partido único. Pois não se trata de fazer da Política a
tarefa de conduzir um Estado, seja ele qual for, em nome das classes oprimidas para daí
impor a nossa vontade enquanto povo às classes dominantes. Trata-se de fazer da Política a
tarefa de construir um Povo Forte, com seus instrumentos, instituições, ferramentas que
vão gestando o novo na medida em que vão golpeando e destruindo o velho. Colocaremos no
lugar do Estado e de seus aparatos as instituições das classes oprimidas, construídas
desde baixo, articuladas e coordenadas entre si.
Como já escrevemos em outro momento,
É certo que o trânsito até uma sociedade distinta deve ser feito dentro deste sistema. Mas
a experiência vivida indica que existem meios, orientações, uso de instrumentos, de
instituições e formas de organização de atividades sociais que devem ser dispensados se
queremos ir conformando forças sociais capazes de produzir verdadeiras mudanças nas formas
da organização social. É imprescindível outro enfoque se queremos ir construindo uma
sociedade distinta. Não parece ser boa estratégia escolher aquelas vias, aqueles lugares e
trajetos que tem dono e o poder de imprimir seu selo ao que ali entra. Quantas
organizações políticas, quantos lutadores cheios de ideais e sonhos terminaram pensando
com a lógica do sistema e vendo como inimigos a seus queridos companheiros de ontem.
Outro sujeito histórico não virá do nada, não aparecerá como arte de magia, deve ser o
fruto de práticas que internalizem outras questões que chocam com o dominante. A
participação efetiva, a autogestão, a ação direta, a forma federal de funcionamento
realmente democrático, a solidariedade e apoio mútuo, necessitam de mecanismos,
organizações, práticas regulares para seu desenvolvimento. E só se produzida no povo é que
a mudança se tornará uma realidade.
Uma estratégia que tenha em seu interior um mundo distinto que vai emergindo desde o seio
de outro que lhe é antagônico. O famoso "usar todos os meios" pode ser uma maneira efetiva
de assegurar que não se construa nenhuma estratégia antagônica portadora dos elementos de
desestruturação do sistema vigente.
Relacionado a isso, está a necessidade de forjar um inconfundível estilo de trabalho.
Um estilo de trabalho também é elemento da produção ideológica, se define como um modo
especial do fazer político-social em todos os seus atos, no discurso, no comportamento de
grupo, nas relações entre companheiros e com a sociedade, nos planos de ação, etc.. A
ideologia libertária se materializa, é produzida e reproduzida, entre outras coisas, nessa
forma estimulada de representar seus valores, sua ética e aspirações nas práticas de todos
os dias. Assim, o estilo de trabalho que marcamos nos processos de luta e organização, em
uma boa medida, vai dizer quem somos pelo que fazemos, como fazemos, com que coerência
ideológica estão formados nossos atos de organização militante.
Reconhecer entre iguais a dignidade do outro, como irmãos na luta e no projeto para mudar
a sociedade, sempre será a base da estrutura e das normas jurídicas que constituem um
pacto federativo. A fraternidade que permeia um projeto militante dá o vínculo moral
fundamental para formação das relações de confiança. E a política, como apontam as
investigações teóricas que temos estudado, tem suas razões e suas sem razões. Não é só
feita de escolhas racionais, tem boas doses de conteúdo sensível, está atravessada pelas
formações ideológicas que constituem o sujeito.
Está em jogo uma pedagogia do exemplo, a forja de referências a partir daquilo que
fazemos, pelos valores que veiculamos em nossas práticas, e nas nossas ações diárias.
O estilo pra promover nessa perspectiva deve produzir: iniciativa pras tarefas,
responsabilidade plena com os mandatos coletivos, resoluta solidariedade, pedagogia do
exemplo, liderança moral, maturidade para crítica, exigência fraterna, preocupação formativa.
São esses alguns dos desafios a que nos propomos todos os dias ao participarmos do
movimento sindical, do movimento estudantil, na militância nos bairros, vilas e favelas;
nas lutas urbanas, contra as violências de gênero e raça; no campo e na floresta e em toda
ação de solidariedade aos enfrentamentos da diversidade dos sujeitos que compõe as classes
oprimidas. UNIR O DISPERSO, ORGANIZAR O DESORGANIZADO, SOLIDARIEDADE É MAIS DO QUE PALAVRA
ESCRITA, RODEAR DE SOLIDARIEDADE OS QUE LUTAM, são algumas consignas que expressam bem de
que transformação social estamos falando.
Porque é mais importante para nós CRIAR UM POVO FORTE do que UM PARTIDO FORTE. Uma nova
articulação entre o POLÍTICO e o SOCIAL, como dois planos de ação simultânea e devidamente
articulados. Mas cada um com sua independência relativa, com sua própria especificidade.
Somos assim partidários de um trabalho simultâneo, dentro de um mesmo projeto: da
organização política libertária e do trabalho em todo o campo social.
Esse é o nosso especifismo, essas são as bases da nossa construção.
E que Base precisamos para esses tempos difíceis em que estamos vivendo. Já vivemos épocas
difíceis, pois quem não se lembra do ataque aos profesores, aos catadores e aos sem terra
no governo Yeda do PSDB, em que o sempre presente Elton Brum da Silva foi assassinado com
um tiro de calibre 12 pelas costas pela Brigada Militar? Ano em que tivemos nossa sede
pública invadida e companheiros procesados. Quem não se lembra dos 10 mil gaseificados,
das balas de borracha, das pauladas, da violência psicológica e da nova invasão de nossa
sede pública assim como de casas de outros lutadores sociais na jornada de lutas de 2013
durante e sob as ordens do governo Tarso Genro do PT? Ano em que companheiros foram
procesados, presos e criminalizados em processos judiciais políticos e ideológicos.
2013 merece nossa consideração a parte, pois foi um ano intenso e atípico para nossa
militância. Participamos desde o inicio das jornadas de luta por um transporte 100%
público em Porto Alegre. Construímos juntos e em unidade com outros setores da esquerda o
Bloco de Lutas pelo transporte público e fizemos días memoráveis lado a lado de milhares
de lutadores. Não poderia ser diferente. Assim, Porto Alegre formou parte de um processo
nacional de lutas que brindou novos elementos para nossa análise. Diziamos na ocasião de
nosso 6º Congresso:
"O povo fez dias de luta no país que se fizeram irreprimíveis em junho. A luta por um
transporte público coletivo, que é organizada por militantes de esquerda de um movimento
social que leva anos, e a indignação com relação aos altos gastos na Copa das
Confederações em detrimento de outras áreas como saúde, educação, etc.; deu vez a um
turbilhão de demandas que latejavam na vida neurótica, precária e estafante dos setores
médios e populares. Grande parte da geração jovem e combativa que forma as mobilizações de
massa dessa hora cresceu nos últimos 10 anos de governos do PT e encarna a expressão
conflitiva e saturada do seu modelo capitalista de crescimento econômico.
Traz na bagagem a confusão e as incertezas que se gestam numa nova experiência com a
política, com um imaginário nos protestos que sacodem o mundo, muito apoiada aos modos de
interação e reconhecimento social que produzem as novas tecnologias de comunicação. O povo
em conceito amplo não opõe classe contra classe e joga na cena dos acontecimentos uma
disputa de ideias, de valores e projeto social para atuar criticamente, com uma concepção
classista em dia com a formação social brasileira dos tempos que vivemos. Contudo, não
temos dúvidas que o movimento que vem debaixo é o terreno mais fértil para fazer luta de
classes, construir democracia direta e desenvolver músculos para uma estratégia de poder
popular.
Na gestação dessa nova correlação de forças a luta contra o aumento das tarifas do
transporte coletivo é a expressão mais articulada de uma avalanche de sentimentos e
demandas reprimidas que extrapolam os controles dominantes da sociedade brasileira.
As chamadas jornadas de junho e julho foram, portanto, expressão do descontentamento com o
quadro acima descrito. Indicam, por sua composição, magnitude e mesmo pelas formas com que
foram convocadas em algumas cidades, mudanças e elementos a tomar em consideração na hora
de concebermos uma estratégia própria daqui pra frente."
Levando em consideração estes e outros elementos, procuramos caracterizar o período (a
etapa) em que estávamos entrando como uma ETAPA DE RESISTÊNCIA COM VIÉS COMBATIVO. Por
este conceito, sem referência com velhos esquemas que sugerem um traçado reto e linear do
processo social-histórico, quisemos representar um cenário político para os fatores de
cambio social e os elementos característicos de uma correlação de forças na sociedade.
"A luta das classes oprimidas e do projeto socialista passa uma etapa de refluxo, de
restruturação dos meios organizativos, de ações dispersas e fragmentárias que não alcançam
formar um conjunto com elementos ideológicos e programáticos que façam um antagonismo
forte ao sistema. Uma parte importante dos setores populares, das organizações e
sindicatos, embarcam nas velhas promessas do crescimento econômico e se curvam para as
ideias do neodesenvolvimentismo. Há uma crise de movimento social, de organizações de
base, de forças acumuladas pela luta que superem atos espontâneos e alcancem a ação
federada. Estão seriamente ajuizadas pela história recente as estratégias de esquerda que
buscam mudanças sociais por dentro das instituições funcionais as relações do poder
dominante. O tempo é de divisão de águas, ajuste de lentes para pensar as condições e
possibilidades da relação de forças do momento. Exige capacidade de inserção de um projeto
finalista revolucionário no interior dos problemas e conflitos deste presente histórico.
Trabalho de base entre as demandas populares que não são absorvidas pelos controles do
modelo capitalista, na direção de um povo forte, de práticas de ruptura que favoreçam a
construção histórica de um sujeito antagonista as estruturas do capitalismo."
Neste sentido concreto e operativo que aplicamos esta categoria para fazer baliza de
condições e possibilidades de nossa prática política. Contudo, tinham emergência na cena
dos acontecimentos históricos, ventos novos que nos provocaram uma leitura mais matizada,
elementos conflitivos com certo peso ideológico que indicavam abertura para um passo
diferente. Percebíamos a possibilidade de uma acumulação de forças combativas que até
então estava fora de nosso panorama.
Deriva daí nossa aposta estratégica expressa no conceito de intersetorial dos combativos:
"vamos operar nesta etapa com uma proposta militante para ligar o espectro das lutas
sociais que confrontam com o modelo dominante do capitalismo brasileiro com um programa
mínimo de soluções populares. Ajudar na forja de unidade de baixo pra cima, criar um povo
forte que imponha na cena nacional uma nova correlação de forças pra aplicar um projeto de
transformação social.
Nessa linha atravessa o trabalho metódico e determinado de radicar nossas posições
libertárias em organizações de base, em sindicatos, coletivos e movimentos sociais que
serão nosso vetor social. Mas vai além. Implica fazer uma costura com outros setores
sociais e políticos que atuam também onde não alcançamos, não pisamos, pra formar um campo
de alianças dentro de princípios e acordos que fortaleçam uma posição de força para a
independência de classe. Que favoreça, concorra e apoie a gestação de uma nova estrutura
de massas, catalizadora do poder social das classes oprimidas, articulada pelas bases, que
não se integre nas vias burocráticas dos controles institucionais burgueses."
Desde então muita água rolou. Entramos no ano de 2015 e novos elementos se apresentaram na
conjuntura do RS. O eleito ao governo estadual, o gringo José Ivo Sartori do PMDB, veio
para aprofundar os ataques aos direitos e condições de vida dos de baixo. Aprovou um
pacote de medidas que cortou fundo na carne do povo oprimido em benefício da manutenção
dos privilégios e lucros de governos e patrões. Parcelou salários do funcionalismo
estadual, quis extinguir orgãos públicos fundamentais à pesquisa e preservação ambientais
e cortou verbas de áreas imprescindíveis aos trabalhadores como as de saúde e educação.
Sem falar na sua brigada militar que segue matando a juventude negra e pobre nas periferias.
"Ao lado do ajuste que saca dinheiro dos hospitais e postos de saúde, das escolas,
programas sociais, da ampliação do espaço comum e da rede de serviços públicos que
aumentam bem estar e condições de vida do povo, é martelada diariamente, sobretudo pela
voz do grupo RBS, a bandeira da segurança. O grupo de comunicação que é bom pagador de
propina pra sonegação fiscal, dono de um patrimônio que figura na lista seleta das elites
gaúchas, avaliza o ajuste e faz campanha de terror e medo pra reclamar mais segurança. Aí
está! Segurança é um discurso que dá sentido e faz funcionar um poder de controle e
vigilância que institui a paz para a vida normal do sistema e dos bem nascidos e que
instala a guerra que pune e criminaliza a pobreza. A segurança que ecoa fundo nas
preocupações das elites e da classe média é a que sempre reforça a violência policial
sobre as "classes perigosas".
"Faltam recursos porque os capitalistas reservam os privilégios e os lucros para suas
propriedades e estouram as contas públicas nas costas do povo. Todo um sistema de pilhagem
que funciona pelo mecanismo da dívida pública, que espreme o patrimônio construído pelos
trabalhadores, que desmonta e privatiza bens públicos e produz um discurso econômico
liberalóide de déficit e responsabilidade fiscal. Os partidos de governo se sucedem sempre
dentro desta ordem: uma camisa de forças do sistema que todos vestem. O PT subscreveu os
contratos com o Banco Mundial durante o governo Yeda Crusius que ampliou o poder do
sistema financeiro sobre o controle dos gastos públicos. Na sua vez no Piratini, Tarso
Genro teve que amargar a pena de devedor do Piso Nacional do magistério."
Um contexto em que frente aos ataques dos de cima, houve luta e resistência dos de baixo.
"Uma série de setores sociais dão fôlego a seus processos de mobilização e indicam a
disposição de luta para dar combate a lógica imposta pelos de cima que precariza a vida do
povo. Diversas mobilizações e ações de rua que no nosso entendimento contribuem para o
fortalecimento da organização, capacidade de enfrentamento e acúmulo de forças dos de
baixo para o próximo período. Experiências como as greves em curso, os piquetes, as
manifestações de rua, o diálogo com a população e os cortes da via pública em todo o
Estado são ensaios de um processo que não termina aqui."
Infelizmente, as burocracias sindicais fizeram de tudo para frear os ânimos e conduzir as
rebeldias populares para a arena institucional de seus partidos da ordem. O desespero e a
indignação dos trabalhadores frente a essa política de austeridade não encontraram eco e
canais adequados para a promoção de uma luta sem trégua que alterasse a correlação de
forças em seu favor. Acelerar pisando no freio e manter o controle e a ordem das ações de
base das categorias foram e são marcas de uma concepção sindical burocratizada e
verticalizada que não se movimenta no sentido de organizar e dar impulso a disposição de
luta da base.
A mobilização do funcionalismo público estadual, em especial os trabalhadores em educação
gaúchos, é um exemplo emblemático dos resultados nefastos de tal concepção sindical.
Deslegitimar e isolar as iniciativas combativas de setores de base; apostar numa greve
unificada com setores da repressão; fazer da categoria base de apoio a politicagem de seus
deputados na Assembléia Legislativa; promover fragmentadas paralisações para fingir que
faz pressão nos políticos de turno ao invés de promover, organizar e favorecer uma greve
por tempo indeterminado com a solidariedade e participação dos estudantes e das
comunidades para dar uma resposta a altura dos desmandos do governo; são alguns dos feitos
responsáveis pela desmobilização de uma categoria que há anos não se mobilizava como se
mobilizou.
E como não seria diferente...
"Nessa conjuntura, a criminalização veio forte. Por lutar, rodoviários da Carris em
solidariedade a paralisação estadual do dia 03/08 foram demitidos, e os servidores
municipais da Assistência Social e da Saúde de São Leopoldo-RS sofreram processo de
criminalização judicial. Esses são nítidos exemplos de perseguição política e sindical e é
emblemático o caso da Carris em que os demitidos são militantes sindicais que tiveram seu
direito ao trabalho anulado.
E ainda sobre o aparato repressivo
Duas prisões na capital durante uma Manifestação de trabalhadores da Educação vinculados
ao Cpers. Além desse fato, cabe destacar a intimidação realizada pela "segurança" nos
piquetes no Centro Administrativo Fernando Ferrari (CAFF) e o assassinato, pelas costas,
de um jovem negro no Morro Santa Tereza, em Porto Alegre. Esses são nítidos indícios de
que a repressão nunca estará ao lado dos trabalhadores e dos de baixo e que seu papel é de
repressão aos que lutam e de extermínio da juventude negra e pobre das periferias.
"Nem com os que mandam por cima, nem com os que reprimem por baixo!" diziamos.
Nacionalmente, uma conjuntura de intensificação nos ataques aos direitos dos
trabalhadores, do golpe dos ajuste fiscal que corta na carne e no bolso dos de baixo para
manter os privilégios e os lucros dos de cima, de aumento da violencia contra as mulheres,
em especial as mulheres negras, de retrocesso nos processos de demarcação das terras
indígenas e quilombolas; de aumento da criminalização da pobreza e do protesto; de cortes
de verbas na educação e de forte investida de setores conservadores contra uma educação
transformadora; de lei dita "anti-terrorista" mas que na verdade é uma lei contra os
movimentos sociais. Tudo isso no marco de um lastro político e ideológico de desarme
organizativo das classes oprimidas deixados por 12 anos de governo petista. Esses são
alguns dos elementos atuais que precisamos ter em conta na hora de atuar.
Um novo ciclo também parece se abrir na politicagem e nas disputas entre vizinhos de um
mesmo condominio, o dos de cima. Uma nova descontinuidade que vai reelaborar elementos
gestados no pasado recente para manter a dominação político, económica e ideológica de
sempre. Assim, afiar os nossos instrumentos para uma conjuntura e quem sabe uma etapa mais
peleada para os de baixo é demanda permanente. Nossa FAG e nossa CAB estará ai! Assim como
estarão ai nossa FAU, nossa FAR e todos os nossos companheiros e companheiras que de cima
a baixo de nossa América Latina e de todos os outros continentes vem construindo processos
de luta e organização.
São curdos, africanos, norte americanos, mapuches, kaingang, chilenos, uruguaios,
argentinos, brasileiros, quechuas, palestinos, gregos, guaranis, espanhóis, zapatistas,
entre tantos outros povos, os que lutam, se erguem contra as opressões, forjam exemplos,
inscrevem pelas suas práticas, referências! É sobre todos que a criminalização se coloca.
É assim, uma luta que deve ser feita em conjunto e a partir da diversidade de lutas, de
combate as opressões e dominações que cada segmento dos de baixo levanta!
É porque não esquecemos os milhares de Eltons, de Claúdias, de Amarildos, de Zumbis, de
Dandaras, de Elenas, de Pochos, de Idilios, de Espertirinas, de Hebers, de Louises, de
Lucys, de Polidoros, de Domingos, de Emmas, de Marias Lacerdas e de tantos outros homens e
mulheres inscritos em nossa memória com seus exemplos de luta e resistência que ESTAMOS AQUÍ!
E AQUÍ ESTAREMOS ATÉ O FIM DESSE SISTEMA DESUMANO E CRUEL CHAMADO CAPITALISMO!
QUE VENHAM MAIS 20, 30, 50, 100 ANOS A ENRAIZAR ANARQUISMO!!!
NÃO TÁ MORTO QUEM PELEIA!
VIVA A FAG, VIVA A CAB!
VIVA A ANARQUIA!!!
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