(pt) A presença dos EUA na América Latina e a mentalidade colonizada da elite brasileira by BrunoL
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Quinta-Feira, 19 de Novembro de 2015 - 09:43:14 CET
"Os jovens nascidos na era da comunicação cibernética estão com menos freios para
incorporarem as marcas e a cultura do consumo suntuoso que marcam a vida cotidiana nas
metrópoles dos EUA. Isto pode ser tristemente evidenciado observando a presença da
juventude de periferias em shopping centers brasileiros, trajando roupas com mímicas e
trejeitos estadunidenses", afirma Bruno Lima Rocha, professor de ciência política e de
relações internacionais. ---- Eis o artigo. ---- México e Colômbia, são os dois mais
afetados pela ingerência dos Estados Unidos, especificamente através de sua agressiva
política anti-drogas, ou alegadamente anti-narcóticos, comandada pela força conjunta da
Agência Federal Antidrogas (DEA) e da Agência ---- Abertura: Neste texto, realizo uma
reflexão ao estilo ensaístico, observando como a juventude das classes subalternas
brasileiras termina por se mimetizar com o andar de cima e, através deste, sendo
duplamente alvo de ataques ideológicos, na forma tanto da aculturação como da incorporação
de valores de mercado no dia a dia. O consumo suntuoso e a bolha de crédito, bandeiras do
pacto lulista (conservador e capitalista), operam reforçando esta carga valorativa. Vamos
ao debate.
Um tema recorrente
Em artigos anteriores com esta mesma temática abordei o Tratado Transpacífico (TPP) e a
necessidade da superpotência em tentar o contra-ataque à expansão chinesa e sua aliança
que se solidifica com a Rússia. Em outros momentos, analisei o avanço das propostas de
tipo economia integrada com pouco ou nenhum valor agregado, como é o caso da chamada
Aliança do Pacífico, composta por Chile, Bolívia, Peru e México. Dentre estes, dois
países, México e Colômbia, são os dois mais afetados pela ingerência dos Estados Unidos,
especificamente através de sua agressiva política anti-drogas, ou alegadamente
anti-narcóticos, comandada pela força conjunta da Agência Federal Antidrogas (DEA) e da
Agência Central de Inteligência (CIA).
Para além da Aliança do Pacífico, observamos no caso completo latino-americano, temos
atualmente a interdependência de todos os nossos países para com a China e sua enorme
capacidade de investimento, além da eterna "doença holandesa", quando nossos países,
Brasil à frente, insiste em operar como plataforma agro-exportadora e extrativista,
focando no mercado chinês como novas fronteiras comerciais. Já foi debatido neste espaço a
absurda primarização das estruturas produtivas brasileiras e dos países Hermanos, assim
como o equívoco de apostar em soluções transitórias do pacto de classes, onde o populismo
(ou o conceito de liderança carismática policlassista) quase sempre termina por roer a corda.
Se há uma rara exceção deste é o caso venezuelano, onde ao menos o governo de Chávez e seu
sucessor montaram uma retaguarda mobilizada. Fica a crítica para Venezuela, Bolívia e
Equador no sentido da necessidade de liderança carismática, de permanente manutenção das
estruturas de poder e da falta de protagonismo do povo organizado. Se estas condições se
materializassem, seria possível pensar em saídas de democracia semidireta e formas de
poder emanados sem a intermediação das burocracias profissionais.
A Doutrina Monroe agora se aplica através dos "Diálogos Interamericanos" e do capital
financeiro
Se já não temos a presença ostensiva do Império, sendo que as ameaças de aplicação da
Doutrina Monroe não se fazem tão presentes como no período da Guerra Fria, é um terrível
engano subestimar a projeção de poder de Washington sobre nossas sociedades. O México é um
caso a parte, país dilacerado pela expansão sub-imperialista ainda no período do Destino
Manifesto e hoje tem grande parcela de sua economia - legal e ilegal - vinculada ao fluxo
de capitais dos EUA. Já os países do sistema Caribe-Antilhas, incluindo os
centro-americanos, ainda têm toda sua história no tempo presente vinculada aos desígnios e
posicionamentos do Comando Sul do Império.
Na América do Sul, através do Plano Colômbia e do Diálogo Interamericano e seu programa de
"prevenção às drogas" (ver: dialogo-americas.com) as agências de espionagem e as forças
regulares realizam um cerco estratégico sobre a Amazônia, especificamente cercando a
Amazônia Brasileira com tropas terrestres. Já no Paraguai, ainda com a alegação de combate
contra ilícitos e através de acordos bilaterais, duas bases estadunidenses estão
assentadas sobre o Aquífero Guarani. A todo este potencial de agressão somemos o cerco ao
Atlântico Sul (EUA e Inglaterra) e a agressividade da Aliança do Pacífico, costurada com
Tratados de Livre Comércio (TLCs) de seus membros com os Estados Unidos.
Mesmo com todo o poderio militar e a tradição imperial, ouso afirmar que o maior dano dos
EUA sobre nossos países não está hoje em sua dimensão econômica ou bélica, e sim no âmbito
financeiro (pelo regramento e o esquema de fraude estrutural articulado no eixo Nova
York-Londres) e, em escala superior, no plano da cultura e projeção ideológica. O conceito
de soft power - poder branco ou suave - cunhado pelo professor de Harvard Joseph Nye,
forma a melhor definição de domínio difuso dos Estados Unidos no Continente. Não haveria
concordância total e por vezes sequer parcial com a política externa de Washington, mas é
tamanha a difusão de valores, cultura, presença institucional e educacional (incluindo o
sistema universitário), além da obrigatoriedade do domínio da língua inglesa que é
perceptível esta onipresença simbólica do Império.
O Império está presente em todas as classes sociais brasileiras
A onipresença acaba por influenciar na formação de mentalidades, com especial efeito no
maior país latino-americano. Ainda que exista uma maior aproximação nos últimos doze anos,
estruturalmente a sociedade brasileira (através do colonialismo interno e subserviente da
elite dirigente e das frações de classe dominante), ainda reproduz as formas mais banais
de colonialismo, colocando-se de costas para o Continente. Algumas evidências deste
doentio afastamento do Brasil para os países Hermanos podem ser facilmente verificadas:
temos elevada desinformação de nossas conjunturas comuns; boa parte da classe média e
quase toda a classe alta brasileira fala inglês, mas sequer arranha o castelhano; o
consumo cultural em língua espanhola de América é ínfimo se comparado com o lixo cultural
em língua inglesa, incluindo todas as subculturas deste período da internet.
Infelizmente o fenômeno atravessa todas as classes, incorporando na massa da periferia e
subalterna os códigos das juventudes do Império; mas sem trazer os elementos de rebeldia e
antirracismo de latinos e afro-americanos. Os jovens nascidos na era da comunicação
cibernética estão com menos freios para incorporarem as marcas e a cultura do consumo
suntuoso que marcam a vida cotidiana nas metrópoles dos EUA. Isto pode ser tristemente
evidenciado observando a presença da juventude de periferias em shopping centers
brasileiros, trajando roupas com mímicas e trejeitos estadunidenses.
Aculturação e colonialismo de mentalidade formam o binômio que estruturam o andar de cima
latino-americano e seu complexo de vira-latas. Para desgraça coletiva, o país que mais
adere ao código simbólico e projeção cultural eurocêntrico e anglo-saxão é justamente o
Brasil. Parece que vivemos sob a eterna maldição do golpista de 1964 e general do Exército
de Caxias, Juracy Magalhães, ao proferir a ignóbil frase: "o que é bom para os Estados
Unidos, é bom para o Brasil!". Mais estratégica do que a frase entreguista clássica é a
definição do Pentágono e da Casa Branca a respeito do peso relativo do Brasil para o
Continente: "para onde for o Brasil, irá a América do Sul e talvez toda a América Latina".
As assertivas, já de domínio comum e ultrapassando o terreno apenas de especialistas em
história e geografia política e relações internacionais, indicam o óbvio. A formação de
mentalidades dos brasileiros é o embate estratégico para os latino-americanos.
Bruno Lima Rocha é professor de ciência política e de relações internacionais
Site: www.estrategiaeanalise.com.br
Email: strategicanalysis riseup.net
Facebook: blimarocha gmail.com
http://www.anarkismo.net/article/28718
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