(pt) CAB, PUBLICAÇÕES: [ORL] Contra a violência de gênero em organizações políticas!
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Terça-Feira, 17 de Novembro de 2015 - 09:38:35 CET
A resistência é a vida! ---- Organização Resistência Libertária [ORL/CAB] ---- "Saúdo a
todas aquelas valentes mulheres (...). O velho mundo deveria temer o dia em que aquelas
mulheres finalmente decidam que já tiveram o bastante. Aquelas mulheres não fraquejarão. A
força se refugia nelas. Tomem cuidado com elas... Tomem cuidado com as mulheres quando se
cansem de tudo o que as rodeia e se levantem contra o velho mundo. Nesse dia um novo mundo
começará." ---- Louise Michel (1830-1905) ---- Toda forma de opressão e autoritarismo é
nociva. E nós, anarquistas, sabemos - ou deveríamos saber - disso melhor que ninguém.
Buscamos a liberdade, essa liberdade agregadora que aumenta quando quem está perto de mim
também a vive. Tentamos a todo o momento cumprir ou proporcionar realização à ideia de que
a liberdade da outra pessoa estende a minha ao infinito... certo? É, parece que nem sempre.
Sabemos também que possuímos valores enraizados, incentivados pela mídia e pelo Estado,
valores que vêm de uma sociedade opressora por todos os lados (elitista, patriarcal,
racista, extremamente homofóbica, individualista, e tanto mais). Sabemos, mas parecemos
não nos importar com nossa propensão ao machismo e à homofobia, que também temos, pois
vivemos em uma sociedade patriarcal e heteronormativa. Assim, muitas vezes utilizamos o
rótulo de pessoas libertárias sem nos importarmos com as diversas esferas que a liberdade
deve proporcionar.
Quando falamos de luta de classes, o primeiro exercício que fazemos com a pessoa oprimida
é reconhecer (de forma lenta ou rápida) que ali há uma relação de opressão, que a resposta
não é virar um opressor, que devemos diariamente lutar para que esse tipo de relação não
possa mais acontecer. Resumidamente seria isso, certo?
Pois bem, com o gênero não temos feito isso. Com sinceridade, metade das mulheres sequer
reconhecem as coisas que vivem como opressões, da mesma forma que várias vezes a pessoa
trabalhadora não se vê oprimida. Existe até a imagem de empresárix bonzinhx! O capitalismo
tem dessas facilidades, de mascarar as relações e fazer você pensar que ela não está ali.
E de individualizar o conflito, de dizer que o problema foi que alguém é assim, de que
naquele dia tinha acontecido tal coisa, e que cada uma dessas ocorrências estão isoladas,
como se não fossem ações em massa.
A opressão de gênero, comumente chamada de machismo, pode se dar nas relações
interpessoais ou institucionais. Nas relações interpessoais ela ocorre, sobretudo, nos
lugares pretensamente privados - mas pode acontecer também no âmbito de uma Organização
Política, por exemplo. O machismo interpessoal relaciona-se às atitudes e condutas
negativas que os homens dirigem às mulheres nas relações interpessoais. Já o machismo
institucional dá-se com a violência de gênero perpetrada pelo Estado, muitas vezes através
da falta de políticas públicas ou via ações do judiciário.
Lembramos que a violência de gênero possui várias interfaces, que se separam de forma
didática, mas inevitavelmente aparecem em nossas vidas (de nós, mulheres) de forma
entrelaçadas: violência física, psicológica, sexual, simbólica... Portanto, não é porque
você nunca espancou ou estuprou uma mulher que isso significa nunca ter cometido uma
violência de gênero.
Diante de tudo isso, propomos parar. Sabemos que é difícil inclusive encontrar em nós
mesmos certos valores e crenças. É um processo de autoavaliação e de prática constantes.
Da mesma forma que a própria luta de classes o é. Não nos perguntamos quando nossas
atitudes favorecem ou não uma emancipação? Devemos perguntar o mesmo para todas as esferas
de nossa vida, e aqui incluímos em tom permanente nossas preocupações com as questões de
gênero.
Quase toda mulher (senão todas) passou por opressões que a construíram e que hoje as
formam, independente se lutam contra isso ou não. É-nos ensinado a baixar a cabeça, a não
criar conflitos, a cuidar apenas da casa, a falar baixo, a não se impor, a cuidar da
beleza, a não confiar nas outras mulheres, a sermos sempre as culpadas, a ter rixas, e
preocupar-se apenas com uma boa relação amorosa, a evitar espaços públicos etc. Que mulher
de respeito não é estuprada e que aquela que foi, na verdade, estava com a roupa errada.
Se estivesse "bem vestida" estava no lugar errado. Se estiver no "lugar certo" era no
horário errado. A sociedade sempre busca justificar o estupro colocando a culpa na vítima.
E nunca a culpa é da vítima. Nunca!
Da mesma forma que posso não entender completamente o que é trabalhar nas condições
precárias de um minério, mas posso me solidarizar, haverá coisas que os homens não
entenderão completamente. Não entenderão completamente que as possibilidades de violência
de gênero são muitos sutis. Compreendemos que é difícil quebrar com o que nos foi ensinado
e aquilo que a sociedade reforça todos os dias. Não entenderão que, dentro de uma
Organização Política ou de um movimento social, por exemplo, serem as mulheres
constantemente chamadas de mandonas e chatas, e com homens sendo chamados muitas vezes
"apenas" de líderes e persistentes é sim uma violência.
Por falar em Organização Política, é importante reafirmar o que entendemos por "perfil
militante", ou seja, as qualidades que, ao nosso ver, reúne uma boa militante ou um bom
militante. Afinal, nessa jornada de militância vimos muitos homens serem afastados e/ou
desligados de organizações políticas por violências de gênero perpetradas contra mulheres
dentro ou fora dos espaços de militância. Da mesma forma, vimos homens serem "perdoados",
"daremos outra chance"! Em um ou em outro caso, ainda que haja lamentação, a justificativa
se dá, muitas vezes, sob alegação de que o camarada tem "perfil militante". Para nós, um
perfil militante é definido não só como a capacidade de disciplina, de organização, de
inserção social e/ou de formação política. Um "perfil militante" também agrega, como
condição, trabalhar o machismo dentro de si, evitando perpetrar violências de gênero em
todos os âmbitos de nossas vidas, família, trabalho, organização política e movimentos
sociais em que atuamos. Da mesma forma, atuar com repúdio a homofobia. Assim, um militante
machista ou homofóbico não tem, em nossa concepção, um "perfil militante". Isso não
significa necessariamente, ou expressamente, que se precise ser desligado ou afastado.
Afinal, é o grau da violência que deve ditar como uma Organização Política deve lidar com
isso.
Não ter noção desses elementos como problemas, ou seja, não questioná-los ou
problematizá-los, faz com que nós reproduzamos esses padrões e atitudes sem hesitar. Dar a
essas questões um caráter de secundário faz com que elas se repitam, e massacrem cada vez
mais militantes ao nosso lado, massacrando também qualquer ideal que tenhamos sobre
Liberdade. Reproduzir opressões não leva à liberdade, mas à ilusão. Não queremos nos
enganar, queremos mudanças reais, mesmo que lentas, porque como sempre dizemos: é preciso
- sempre - manter uma coerência entre os fins e os meios. Em outras palavras, sobre a
forma como estamos caminhando em direção ao mundo novo que ainda vemos ao longe, mas que
idealizamos e construímos neste instante.
Construir mulheres fortes!
Construir um povo forte!
Organização Resistência Libertária [ORL]
Retirado de:
http://www.resistencialibertaria.org/index.php?option=com_content&view=article&id=157%3A2015-11-13-02-15-54&catid=38%3Aeleicoes&Itemid=56
http://anarquismopr.org/2015/11/13/orl-contra-a-violencia-de-genero-em-organizacoes-politicas/
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