(pt) coletivo anarquista lutade classe CALC Batente #5 -LUTAS SOCIAIS E O RETORNO DO ANARQUISMO ORGANIZADO ÀS TERRAS PARANAENSES NOVEMBRO
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Domingo, 8 de Novembro de 2015 - 08:33:26 CET
Anarquismo e a luta de classes: no mundo, no Brasil, no Paraná ---- O Anarquismo,
Socialismo Libertário, é um projeto político ideológico forjado na luta entre a classe
dominada e a dominante, surgindo no século XIX. É na Europa e na luta entre os
trabalhadores urbanos e seus patrões que o anarquismo vai se constituindo, consolidando-se
enquanto projeto político dentro da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT). A
partir da segunda metade do século XIX, o anarquismo passa a ter muita relevância nos
movimentos do campo e da cidade, destacando-se em movimentos revolucionários em Paris,
México, Ucrânia, Manchúria e Espanha. ---- No Brasil, o anarquismo começou a se
desenvolver a partir do final do século XIX, em meio ao crescimento da população urbana e
da indústria. A exploração dos trabalhadores e trabalhadoras, com jornadas de trabalho
extenuantes, condições insalubres e salários baixos, deu espaço a inúmeras revoltas e
greves. Neste período, milhares de imigrantes europeus vieram ao Brasil e se juntaram a um
povo lutador e mestiço que já batalhava aqui, trazendo consigo também a ideologia do
anarquismo que tinha grande influência nos movimentos populares na Europa.
É no final do século XIX que a Colônia Cecília surgiu, comuna que ocorreu no município de
Palmeira no Paraná, e no começo do século XX que as mobilizações urbanas tiveram grande
força e influência anarquista no Paraná e no Brasil.
Com greves e revoltas históricas, os trabalhadores e trabalhadoras brasileiras
conquistaram aumentos de salário e direitos trabalhistas, mas, com a repressão e
criminalização do Estado, tanto o movimento sindical como a articulação dos anarquistas
enfraqueceu. Com centenas de deportações e prisões, o anarquismo deixou de ter destaque
nas mobilizações populares por quase todo o resto do século XX no Brasil e até o século
XXI no Paraná.
Após a repressão e criminalização às organizações anarquistas no início do século XX, o
anarquismo perdeu seu vetor social, isto é, perdeu sua relevante inserção nos movimentos
populares durante várias décadas. No Paraná, o CALC tem como objetivo retomar este vetor
social, assim como as demais organizações da CAB pretendem fazê-lo em seus estados. Para
nós, é essencial que a organização anarquista influencie os movimentos sociais para que
eles sejam os mais combativos e agreguem mais gente possível, construindo a partir das
bases a luta contra a dominação.
O Paraná é e foi palco de muita luta da classe oprimida. No campo e na cidade, a revolta e
a organização dos de baixo é marca presente neste estado do sul do Brasil. Os conflitos
agrários e sindicais estão muito presentes desde o final do século XIX, a luta por reforma
agrária e melhoria de salários já perdura por mais de um século e a resistência dos de
baixo se manteve contra a ditadura civil-militar, contra os latifundiários e patrões.
Desde o final da ditadura no Brasil, muita luta e organização foi feita no Paraná,
surgindo aqui o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), fundado em Cascavel na
década de 80; existindo um histórico forte de luta sindical nos 80 e 90 nos centros
urbanos; criando-se vários movimentos de luta por moradia e associações de moradores que
permitiram que milhares de pessoas tivessem uma moradia e conquistassem serviços públicos
nas periferias desde a década de 80; além de um movimento estudantil que luta a décadas
contra a precarização e privatização.
Atualmente vivemos uma conjuntura muito difícil para a classe oprimida, no Paraná e no
Brasil. Para grande parte do povo brasileiro o Partido dos Trabalhadores (PT) representou
a esperança de mudança e melhoria de vida. Porém, apesar de o PT estar inserido fortemente
em inúmeros movimentos sociais no campo e na cidade, seu objetivo sempre passou por
"conquistas eleitorais", de modo que qualquer transformação radical deixa de ser possível.
Especialmente quando o PT ganha a presidência do Brasil evidencia-se como vários
instrumentos de luta da classe oprimida (como sindicatos, associações de moradores,
entidades estudantis, movimentos do campo) estavam dependentes desse partido, passando a
ser cada vez mais burocratizados e atrelados a interesses partidários. Entretanto, tais
interesses são muitas vezes antagônicos aos de quem o partido se propõe a representar.
Retomada do Anarquismo Organizado nas lutas sociais no Paraná
Neste cenário recente é que o CALC surge e tem como tarefa se inserir nos movimentos e
contribuir para que não se reproduzam os mesmos erros e vícios da esquerda institucional,
que considera os movimentos sociais como meio de disputar o Estado. Propomos e temos agido
no sentido da busca de transformações da realidade concreta, a partir da defesa do caráter
classista e combativo dos movimentos, acumulando força social para que consigamos acabar
com o sistema capitalista.
Desde seu surgimento, o CALC atua em diversas frentes de luta e seu esforço é para ampliar
ainda mais sua atuação. Mesmo antes de seu lançamento público, seus militantes fundadores
atuaram no movimento estudantil universitário, na luta pelo transporte público e na luta
comunitária, em Curitiba. E com o decorrer dos anos foi estendendo sua atuação para a luta
sindical, pela saúde e expandindo sua influência para além da capital paranaense.
Luta pela Educação
Atuamos nas greves de 2011, 2012 e 2015 na UFPR, que tiveram várias conquistas importantes
no âmbito da assistência e permanência estudantil, com caráter combativo e organizado
desde as bases dos cursos.
Diante da crise econômica gerada pelos de cima, os de baixo são obrigados a pagar a conta,
mais uma vez. No Brasil, o ano de 2015 iniciou com a ameaça de um ajuste fiscal que
pretendia enxugar os gastos públicos para aumentar o lucro dos grandes bancos e
empresariado. A educação sofreu corte de 18 bilhões de reais e está previsto corte ainda
maior para o ano de 2016, com congelamento dos salários e na contratação de professores
até 2017. Em consequência disso, diversas universidades pelo país estão sem verbas para
manter seu funcionamento; sem verbas de custeio (pagamento de trabalhadores terceirizados,
água, luz, telefone) e com inúmeros prejuízos para programas de assistência e permanência
estudantil (corte de bolsas, programas pesquisa, extensão e monitoria). Em resposta ao
grande golpe que a educação enfrenta, 46 universidades federais entraram em greve neste
ano. A UFPR não ficou de fora da luta, trabalhadores técnico-administrativos, professores
e estudantes entraram em greve geral em defesa da educação pública e contra o ajuste
fiscal. Diante da postura intransigente do Reitor Zaki Akel, os estudantes decidiram
ocupar o prédio da Reitoria e só saíram de lá com negociação de pautas e garantia de um
calendário de negociação continuado.
No âmbito estadual a educação pública também sofre cada vez mais ataques dos governos e,
atualmente, sofre duros golpes do Governador Beto Richa (PSDB), tanto cortando
investimento, como reprimindo e criminalizando a luta dos estudantes, trabalhadores e
trabalhadoras. No primeiro semestre de 2015 tivemos uma luta histórica contra as medidas
de austeridade do governo Richa, duas ocupações da Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP)
e muita ação direta para impedir o "pacotaço de maldades" do governo. O movimento sindical
dos servidores públicos, com destaque aos professores do magistério estadual, em conjunto
com o movimento estudantil secundarista e universitário barraram medidas que cortariam
direitos dos trabalhadores, sucateariam ainda mais as escolas e tirariam a autonomia
universitária.
Porém, com as dívidas do Estado do Paraná podendo colocar em risco o futuro político de
Beto Richa, era "necessário" atacar a previdência dos servidores públicos para conseguir
pagar as contas. Mas o movimento de luta não aceitaria isso de braços cruzados. Então, no
histórico dia 29 de abril, a Praça Nossa Senhora da Salete no Centro Cívico de Curitiba,
tornou-se cenário de guerra. Milhares de trabalhadores, trabalhadoras e estudantes
indefesos contra uma artilharia de guerra. Apenas um lado tinha armas, o que houve não foi
um confronto, mas, sim, um massacre. Centenas de pessoas desmaiaram, ficaram feridas, e
tiveram sequelas. Sem contar com inúmeras detenções que ocorreram naquele dia e os
milhares de trabalhadores e trabalhadoras que estão tendo sua previdência roubada.
Durante e após as mobilizações contra as medidas de austeridade, Beto Richa e seus
comparsas do governo do Paraná tentaram criminalizar os libertários e anarquistas como
sendo "infiltrados" no movimento legítimo dos professores e colocando o anarquismo como
sinônimo de bagunça e desordem. Ao mesmo tempo em que a burocracia sindical fazia o
desserviço de pedir para que abaixássemos as bandeiras rubro-negras. Não vão nos
intimidar! A bandeira rubro-negra continuará erguida! Protesto não é crime!
Luta Comunitária
A luta comunitária e por moradia tem um grande histórico no Paraná, especialmente em
Curitiba. Entretanto, nas últimas décadas anda desarticulada e burocratizada, com
associações de moradores servindo na maioria das vezes para apoiar candidatos em épocas
eleitoreiras e sem fazer luta direta ou articular os moradores e moradoras para conquistar
direitos e moradias dignas. Os movimentos por moradia ligados ao PT, após a "vitória nas
urnas" passaram a se desarticular e perder força nas periferias. Como resposta a isso, é
criado o Movimento de Organização de Base (MOB) no Paraná em 2014 - movimento social
comunitário e por moradia que é baseado na independência de classe, democracia de base e
ação direta. Hoje o CALC contribui para o fortalecimento do MOB em Curitiba e no Paraná,
movimento que tem lutas importantes por regularização fundiária, água, luz, e tem
construído cooperativas e ações culturais.
Luta pelo Transporte
A luta pelo transporte público tem seu ápice nas Jornadas de Junho de 2013, primeira vez
em mais de 30 anos foi feita uma luta de massas a revelia das lideranças e organizações
alinhadas ao PT, com manifestações com dezenas de milhares de pessoas e ocupações de
prédios públicos - em Curitiba tivemos a ocupação da Câmara Municipal em outubro daquele
ano. O CALC compõe desde lá a Frente de Luta Pelo Transporte em Curitiba, e contribuiu com
a construção do Coletivo Tarifa Zero (CTZ), que faz parte da federação do Movimento do
Passe Livre (MPL). No Paraná, quem manda no transporte público são as máfias do transporte
e só com muita força social organizada conseguiremos transporte coletivo público e tarifa
zero.
Luta pela Saúde
Outra luta relevante e intensa em que tivemos inseridos foi a luta contra a EBSERH
(Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), privatização do Hospital de Clínicas da
UFPR, o maior hospital público do Paraná - a partir da Frente de Luta pra Não Perder o HC.
Em 2014, o movimento estudantil e sindical da UFPR se organizou para não permitir que a
EBSERH fosse aceita na universidade, algo que já estava acontecendo em quase todos os
outros hospitais escola do país. Após muita resistência do movimento, em um golpe
articulado pelo Reitor Zaki Akel e em meio a bombas de gás lacrimogênio e tiros de bala de
borracha, a EBSERH foi aprovada em 28 de agosto. A privatização do HC-UFPR foi aceita em
uma "reunião por celular" entre os conselheiros universitários.
Muita luta aconteceu e muito mais está por vir!
Pela construção dos movimentos pela base!
Viva a organização do povo!
Lutar! Criar Poder Popular!
Retirado de:
https://coletivoanarquistalutadeclasse.files.wordpress.com/2010/11/no-batente-out2015-versc3a3o-final.pdf
http://anarquismopr.org/2015/11/03/lutas-sociais-e-o-retorno-do-anarquismo-organizado-as-terras-paranaenses/
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