(pt) anarkismo.net: TPP, Aliança do Pacífico e a nova presença dos EUA na América Latina by BrunoL
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Quinta-Feira, 5 de Novembro de 2015 - 15:58:51 CET
"O passo seguinte da presença comercial da China seria o de projetar uma nova arquitetura
financeira mundial e é justamente contra esta possibilidade que se voltam os defensores da
'multilateralidade' pronunciada pelos porta-vozes de EUA e Japão", escreve Bruno Lima
Rocha, professor de ciência política e de relações internacionais. ---- Eis o artigo. ----
O TPP é uma ponta da projeção de poder do Império, cuja meta inclui a assinatura do hoje
ainda distante Tratado Transatlântico de Comércio e Investimentos (TTIP), também conhecido
por TAFTA. ---- Em momentos de crise política brasileira e fim de modelo de crescimento em
cima da venda de produtos primários para o mercado externo temos a tendência a fazer uma
espécie de entropia, focando em assuntos internos e não observando as relações
continentais. Parte do esforço analítico aqui tratado busca relacionar o desenvolvimento
interno de nosso país com o ambiente regional e continental.
Diante do crescimento do eixo do Pacífico através da expansão da interpendência comandada
pela China, há uma tentativa evidente de concorrência e contrapartida dos Estados Unidos
(EUA), conforme veremos a seguir. Nesta disputa, o Brasil e qualquer perspectiva de
desenvolvimento autônomo - não subordinado ao aumento sem freios de circulação de
mercadorias e serviços - entra em evidente desvantagem. A fragilidade da soberania popular
caminha lado a lado com o aumento do poder do capital transnacional e a desregulação da
força de trabalho, com a retirada óbvia de direitos sociais. Tal debate, portanto, é
urgente e necessário.
O TPP e a projeção ao Pacífico
No dia 5 de outubro de 2015, Estados Unidos e Japão lideraram a assinatura de um marco do
governo de Barack Hussein Obama, dentro de sua proposta de tentar uma inflexão ao
Pacífico. O Tratado Transpacífico (TPP) foi firmado por EUA, o derrotado império japonês,
Austrália (aliada incondicional do Império, equivalente a Inglaterra na região do Sudeste
Asiático), Canadá e México (zonas de influência diretas do NAFTA - Área de Livre Comércio
da América do Norte - e das cadeias de valor dos EUA), Brunei, Malásia, Cingapura, Vietnã
(estes três últimos com grande capacidade de produção e concorrentes em pequena escala da
China), além de Chile e Peru. Tais Estados em conjunto equivalem a 40% do PIB mundial e,
vale comentar que, apesar do conceito de Produto Interno Bruto ser muito contestado dentre
os economistas políticos críticos, aceitam-se este conjunto de dados para análise de
comparação internacional.
O TPP é uma ponta da projeção de poder do Império, cuja meta inclui a assinatura do hoje
ainda distante Tratado Transatlântico de Comércio e Investimentos (TTIP), também conhecido
por TAFTA. O início das conversações oficial foi em junho de 2013 e, de acordo com as
regras da União Europeia, quem pode assinar o mesmo é a Comissão Europeia, especificamente
sua comissão para tratados comerciais. Caso os EUA entrem neste nível de acordo com a
Europa Unificada e especificamente com a zona euro, terão consolidado uma condição de
domínio na chamada guerra fria comercial do segundo período pós-11 de setembro.
O Tratado, portanto, é parte desta grande estratégia que obedece a "regras" da geopolítica
mundial, estando de acordo com as previsões do início primeiro período Pós-Guerra Fria.
Durante o governo do democrata Bill Clinton, sua assessoria direta e indireta para temas
internacionais e de segurança apontou como o grande risco uma reaproximação entre China,
Rússia e Índia. Passados vinte anos do prognóstico, o mesmo se revelara acertado, sendo
que o "risco" considerado pelo Departamento de Estado da Superpotência trata da capacidade
de expansão chinesa pela via comercial e de investimentos diretos em diversos países.
O passo seguinte da presença comercial da China seria o de projetar uma nova arquitetura
financeira mundial e é justamente contra esta possibilidade que se voltam os defensores da
"multilateralidade" pronunciada pelos porta-vozes de EUA e Japão. Como afirma um de nossos
especialistas brasileiros em potências médias e BRICS, o professor de Relações
Internacionais Diego Pautasso, sabe-se que o volume de investimentos chineses está criando
um sistema sinocêntrico, sendo que o mesmo ainda não tem uma estrutura financeira à altura
de sua capacidade econômica. O passo avançado da marcha de Beijing se verifica com a
presença de capitais chineses através do Banco de Desenvolvimento e do Eximbank chineses -
superando o total de investimentos do Banco Mundial na América Latina - sendo
complementados pelo Fundo de Contingência e do Banco dos BRICS.
O mesmo está ocorrendo com o Banco Asiático de Investimentos em Infraestrutura (AIIB), o
adversário direto dos proponentes do TPP. EUA e Japão, além dos associados menores,
entendem que o mundo não pode ser multipolar em sua estrutura financeira. Apesar de
reconhecerem que a era de domínio absoluto estadunidense está realmente sendo modificada,
a "nova arquitetura" pode implicar um "perigoso" giro considerando a aproximação
estratégica entre Rússia e China.
E para a América Latina, o que resta?
Para a América Latina, a presença de México, Peru e Chile neste tratado é mais uma
inflexão no rumo do Pacífico, acompanhando a guerra fria comercial entre EUA e China e
afastando-nos de buscarmos saídas entre nós mesmos. Dentre estes países, o caso peruano é
ainda mais complicado, pois como já assinaram um Tratado de Livre Comércio (TLC) com a
China, o TPP vai deixa-los ainda mais expostos à enxurrada de manufaturas produzidas com
mão de obra semiescrava e através do trabalho superexplorado.
A presença de empresas transnacionais em territórios ricos em minérios estratégicos causa
uma evidente ameaça e tensão social em distintas regiões do país, como é o caso da empresa
Southern Peru (subsidiária do Grupo México, mega-exploradora de minério e petróleo) e o
conflito na região de Arequipa, província de Islay. O projeto de mineração de Tía María já
indica uma hiper-exposiçao de nossos países como uma selvagem plataforma de exportação
primária. Com a presença do TPP, tal exposição aumenta os danos sociais e ambientais já
ultrajantes.
Já os efeitos para o Mercosul também são nefastos e cabe discuti-los em um texto próximo.
Bruno Lima Rocha é professor de ciência política e de relações internacionais
Site: www.estrategiaeanalise.com.br
Email: strategicanalysis riseup.net
Facebook: blimarocha gmail.com
http://www.anarkismo.net/article/28678
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