(pt) [CABN] CRÔNICA DO SARAU DE 1º DE MAIO
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Segunda-Feira, 25 de Maio de 2015 - 11:26:04 CEST
O 1º de maio é uma data importante no calendário da luta popular. É momento de lembrar os
seis mártires de Chicago, quando em 1866 lutaram contra o capitalismo e o Estado para
conquistar 8 horas de trabalho, 8 horas de lazer e 8 horas de descanso. Os mártires foram
condenados e mortos. Os mártires eram anarquistas, mas a data não é uma data do
anarquismo, é uma data da classe trabalhadora. Às pessoas interessadas na história da
data, deixamos a animação "Maio, Nosso Maio" que sintetiza a inspiradora luta dos nossos
irmãos e nossas irmãs de classe. -- https://player.vimeo.com/video/23105830 ---- Em
Joinville, apesar de ter a sua história ligada ao processo de industrialização,
imigração/migração e especulação, a classe trabalhadora pouco se lembra da data com um
marco de combate. O projeto dominante capitalista pauta a data como dia do trabalho, como
foi feito em outros períodos. É neste contexto que a atividade Sarau 1º de Maio, realizada
pelo Coletivo Anarquista Bandeira Negra, é importante para construir uma identidade de
luta por meio de uma ação política organizada fora das instituições do Estado. Se a classe
dominante tenta promover a inversão do nosso calendário, inclusive utilizando do lazer e
do entretenimento, cabe a nossa força organizada realizar o combate por baixo e à esquerda
por meio das diferentes manifestações artísticas.
O Sarau não teve por objetivo fazer "arte anarquista", o intuito foi envolver companheiros
e companheiras que lutam no cotidiano opressivo da cidade. Irmãos e irmãs que dialogam ou
que estão inseridos até a carne nos combates contra todas as formas de opressões. Compas
que nos brindaram com exposição de seus desenhos, pinturas, seu muralismo. Compas que
compartilharam sua poesia, sua leitura, seu teatro. Pela arte, socializamos nossa
experiência, nossa luta e nossos sonhos.
Agradecemos as mais de 80 pessoas que compareceram, trouxeram comida, encamparam a ideia e
fizeram desse um belo dia. Seguimos, companheirada!
As fotos são do Coletivo Metranca, há mais fotos aqui.
https://www.facebook.com/media/set/?set=a.802144096530409.1073742106.206314556113369&type=3
O texto de abertura à atividade pode ser lido aqui
http://www.cabn.libertar.org/fala-de-abertura-do-sarau-1o-de-maio-joinville-2015/
.
http://anarquismopr.org/2015/05/22/cabn-cronica-do-sarau-de-1o-de-maio
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Coletivo Anarquista Bandeira Negra
Integrante da Coordenação Anarquista Brasileira
Fala de abertura do Sarau 1º de Maio - Joinville, 2015
Olá companheiros e companheiras,
No 1º de Maio de 1914, Neno Vasco (1878-1920), anarquista português que residira e
militara no Brasil durante dez anos, alerta, no artigo "O Significado do 1º de Maio",
publicado na edição alusiva à data da Voz do Trabalhador:
"Eis a festa do 1º de Maio, isto é, a manifestação proletária que a inconsciência de uns,
a astúcia e velhacaria de outros e a cumplicidade de todos reduziram em tantas partes a
uma absurda 'festa do trabalho', como lhe chamam os burgueses complacentes. [...] Vós, só
o podereis festejar quando tiverdes conquistado. E é dessa conquista que se trata, tanto
no 1º de Maio como nos outros dias. (A Voz do Trabalhador, 53-64, 1914)"
Pois bem, 101 anos depois, nos reunimos para trazer à memória o significado do 1º de maio.
O ato de hoje é uma tentativa de construir uma identidade de organização das e dos
oprimidos, combate frente todas as formas de dominação. Afinal, o 1ª de maio é uma data
fundamental na história dos e das trabalhadoras: empregadas e desempregados, do campo e da
cidade. Historiadores nos lembram que é o único feriado que é destinado para
trabalhadores. A grande imprensa, os porta-vozes das entidades empresariais ou até mesmo
os governantes tentam impor que é um dia de culto ao trabalho. É atitude para promover o
esquecimento sobre a nossa própria história de luta, alegria, organização, incertezas,
combates, paixões e conquistas com objetivos revolucionários. A medida tem como outra
camada a tentativa de conciliar o inconciliável, que são os diferentes objetivos entre a
classe dominante e a oprimida. Por isso, como membros da classe oprimida, nos fazemos
presentes na promoção do Sarau 1º de maio.
Nas últimas décadas do século XIX, Oscar Neede, militante anarquista e funileiro, relatou
o que vivenciou nos postos de trabalho nos EUA:
"Eu trabalhava numa fábrica que fazia latas de óleo e caixas para chá. Foi o primeiro
lugar em que vi crianças de 8 a 12 anos trabalharem como escravas nas máquinas. Quase
todos os dias acontecia de um dedo ser mutilado. Mas o que isso importa... Elas eram
remuneradas e mandadas para casa, e outras tomariam seus lugares."
Neste cenário de exploração de homens e mulheres de todas idades, inclusive crianças, o
capitalismo se consolidava como sistema econômico dominante e expandia o seu poder sob a
tutela do Estado, o detentor do monopólio da violência, como escreveu Mikhail Bakunin.
O movimento operário com seu acúmulo de lutas e histórias de organização, como Iª
Internacional, declarou nos EUA, o 1º de maio de 1886 como data que "a jornada de oito
horas de trabalho passaria a vigorar, apesar dos capitalistas afirmarem que isso era
impossível."
No entanto para tratar sobre o tema, exibimos a animação "Maio Nosso Maio".
Para alguns companheiros e companheiras é possível dizer, com certo desdém; "Os tempos são
outros, os problemas dos trabalhadores de 100 anos atrás são diferentes dos nossos. Hoje
já conquistamos, temos de comemorar". O curioso é que os patrões insistem em fazer
acreditar que o 1º de maio é o dia do trabalho, escamoteando as relações de trabalho
contemporâneas com permanências do passado, assim como a dominação capitalista no campo
econômico.
A escritora Naomi Klein, ao aponta criticamente sobre o mundo do trabalho na globalização
do capital em seu livro de 2006, que diz:
"Em todas as zonas de exportação da Ásia, veem-se filas de adolescentes em camisetas azuis
nas estradas, de mãos dadas com suas amigas e carregando guarda-chuas para protege-las do
sol. Parecem estudantes indo para casa depois da escola. Em Cavite, como em toda parte, a
grande maioria de trabalhadores é de mulheres solteiras entre 17 e 25 anos de idade. [...]
Mulheres são frequentemente demitidas de seus empregos na zona de exportação por volta dos
25 anos, ouvindo dos supervisores que elas são "velhas demais", e que seus dedos não mais
suficientes ágeis. Essa prática é uma muito eficaz de minimizar o número de mães na folha
de pagamento da empresa."
Alguém pode dizer que é equivoco buscar uma referência "extrema" do atual modelo
econômico, como o relato de Naomi Klein.
Podemos mencionar as condições de trabalho presentes hoje em Joinville, como as jornadas
dupla, sendo uma delas ou até mesmo as duas sem carteira assinada - como no caso dos
imigrantes haitianos, muitos vivendo em moradia precárias, improvisadas e compartilhadas
por outros e outras imigrantes nas mesmas condições.
É possível trazer para discussão as condições dos e das trabalhadoras das fábricas em
Joinville, que mediante o cenário de crise e políticas de austeridade, veem suas entidades
sindicais aceitar acordos que prejudicam a sua categoria.
Não é possível deixar de mencionar as condições impostas pelo governo Colombo aos
trabalhadores e trabalhadoras da educação do Estado. Sem falar que, neste contexto, o
sofrimento também é aplicado à juventude.
Ao falar em jovens, quando os estudantes buscam a sua organização nos grêmios estudantis
para combater o desmantelamento da educação pública, o poder judiciário junto com a
Secretária do Desenvolvimento Regional age para reprimir a luta estudantil.
Nas últimas semanas temos debatido também o projeto de lei da terceirização, a PL4330,
apontada por muitos como o maior golpe da história aos direitos trabalhistas no Brasil,
esses mesmos direitos que foram conquistas do movimento operário no início do século XX. É
momento de dar resposta incisiva a esse ataque do governo e dos empresários, uma resposta
que parta de todas e todos nós que lutamos, desde nossos espaços de inserção.
As classes dominantes massacram companheiros e companheiras. A opressão opera ainda mais
forte para camaradas gays, lésbicas, trans, negros, imigrantes. Em Joinville, como
mencionamos, não é diferente.
O Sarau 1º de Maio é o espaço destinado para cruzar a memória de luta com as experiências
de hoje, tendo como enredo as diferentes manifestações criativas e combativas dos nossos
companheiros e companheiras que se dispuseram a construir o ato com o Coletivo Anarquista
Bandeira Negra.
- A atriz Grazi Sousa contará a história "O que os olhos não vêem", de Ruth Rocha.
- Bez Vieira, membro do grupo de maracatu Morro do Ouro fará a leitura dos seus "Poemas
Indestinais".
- Kethelen Kohl estará com uma mostra dos seus trabalhos visuais com os títulos
"Transconstruções" e Panotipos Comestíveis".
- O Coletivo Muralista Pinte e Lute apresenta uma breve exposição com os trabalhos
realizados nas paredes da cidade.
- O curso de iniciação teatral do Espaço Cultural Casa Iririú apresenta a peça "O homem
que enganou a morte".
- Momento Galeno será uma homenagem ao escritor uruguaio que tão inspirador foi com suas
palavras latino-americanas.
- O evento encerra com a apresentação de estréia do projeto musical "Eu também sou Zé", de
Vinicius Ferreira.
Que o Sarau 1º de Maio seja uma modesta atividade para fazer do dia de hoje um momento de
luta e luto. Que as nossas memórias de combate inspirem a nossa organização política e
estimule a criação de uma cultura política que tenha como princípios norteadores a ação
direta, a autogestão, a solidariedade, o classismo, a luta popular e um mundo socialista
com liberdade, como bem cobrou Neno Vasco há 101 anos atrás.
Está aberto o Sarau!
http://www.cabn.libertar.org/cronica-sarau-de-1o-de-maio/
http://anarquismopr.org/2015/05/22/cabn-cronica-do-sarau-de-1o-de-maio/
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