(pt) União Popular Anarquista (UNIPA) - A luta e a agonia entre os dominantes
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Segunda-Feira, 30 de Março de 2015 - 12:23:04 CEST
As marchas convocadas para o dia 13 e 15 de março se inserem dentro da lógica binária e de
desestabilização e desgaste eleitoral de governos. O mais sintomático é o PT provando de
seu próprio remédio. Durante toda a década de 90 deslocou a luta popular e sindical para a
disputa eleitoral e de controle do Estado Burguês. No final do segundo governo FHC definiu
a bandeira: "FORA FHC!" na qual embarcou quase todo o movimento sindical, estudantil e
social. Também marcou a sua verborragia moral contra a corrupção. ---- A disputa entre as
marchas do dia 13 e 15 são um conflito pela participação no aparelho estatal. PT e PSDB
estão juntos na ofensiva conta os direitos dos trabalhadores, camponeses, indígenas e
estudantis. Neste sentido, o dia 13 e o dia 15 foram uma farsa. Um dia depois da marcha da
oposição de direita o Ministro da Fazenda Joaquim Levy, tucano do governo PT-PMDB, foi
aplaudido pela bancada federal do PT. E na Assembleia Legislativa de SP todos os deputados
petistas votaram no candidato tucano para presidente da casa. Na quinta-feira (19/03) o
governo tucano de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), declarou seu apoio a Dilma. Na
sexta-feira (20/03), Dilma esteve no assentamento do MST, em Eldorado do Sul (RS), onde
Stédile declarou seu apoio ao governo.
O dia 13 e dia 15 de março mostraram a agonia e fragilidade dos dominantes que tentaram se
apropriar das ruas. As ruas é onde agora se faz a grande política, principalmente a partir
do levante popular de junho de 2013. Entretanto, os dois setores estavam vestidos e
gritando em defesa do "Brasil Potência", com claros apelos ao nacionalismo.
Vimos nas ruas no dia 15 a "elite" brasileira representada, a mesma que um ano atrás
estava dentro dos estádios de futebol, pagando fortunas para ver a seleção da CBF e vaiar
Dilma e o PT. A crítica cinicamente se dirigiu a mesma Dilma e o mesmo governo que gastou
milhões do dinheiro público para construir estádios para esta elite, que não estava nem um
pouco preocupada com a corrupção da Copa da FIFA. Mais cínico ainda foi a atitude
"crítica" do PT frente a simbologia das camisas da CBF, quando foi o seu partido que criou
o "Vai Ter Copa", alimentou esse setor, embalou, pavimentou as ruas, construiu os estádios
e reprimiu as manifestações para permitir que essa elite frequentasse os megaeventos.
Agora, encurralado pela crise econômica, ambiental e das organizações sindicais e
populares a medida governista para combater a crise é atacar os setores populares.
Ao mesmo tempo, dois setores criados e alimentados pelo desenvolvimentismo da ditadura, e
realimentados pelo neodesenvolvimentismo do PT, estão em agonia: 1) A aristocracia
operária, a elite dos trabalhadores assalariados, hoje representados pelos empregados do
setor de petróleo e gás, metal-mecânico e uma parcela do funcionalismo público; essa
aristocracia, beneficiada pelos ganhos salariais durante os governos do PT (depois do
arrocho FHC), defende o governo achando que o Governo defende seus interesses; 2) Outro
setor é a tecnocracia, um grupo que parte está nos assalariados e em parte na burguesia,
composto de profissionais liberais, engenheiros, empresários e também de funcionários
públicos que gostam de usar do espaço público para acumulação privada. Esse realmente é o
setor que foi e dirigiu as ruas no dia 15, o setor "golpista" que gostaria de ver uma nova
"ditadura".
Por que agonia? Por que a aristocracia operária tem a ilusão de que com a retórica
nacionalista vai impedir o ajuste fiscal quando ele já está determinado e em curso. O
setor do dia 15 quer simplesmente trocar seis por meia dúzia, trocando um grupo corrupto
por outro. Sejam eles partidos como PSDB ou os militares.
Por sua vez, a aristocracia operária está descolada dos interesses de uma classe
trabalhadora de mais de 100 milhões de pessoas. Apoia o governo incondicionalmente, como
ficou claro nos levantes operários (como de Jirau), nas mobilizações no campo (como as
retomadas dos Terenas), e no Levante Popular de junho de 2013. A defesa da CUT do Governo,
como fez no caso de Jirau, e o ataque dos governistas às Jornadas de Junho são
sintomáticos da política de defesa da ordem burguesa. E grande parte da política
governista, como as últimas declarações da presidente, deriva da sua análise do levante
popular de junho de 2013 e dos protestos contra a Copa do Mundo.
Para o PT e seus aliados o levante configurou não um protesto de massa e insatisfação dos
jovens trabalhadores contra as péssimas condições de vida e trabalho, mas uma ação
estimulada pela mídia e diversos grupos de "direita". Para os governistas o povo é
incapaz. Só o Estado e as elites (até de esquerda) são capazes de organizar alguma ação
possível. Logo se o levante não partiu das organizações governistas, partiu de setores de
outra elite, a de direita. Foi assim que o PT viu e ainda vê o levante de junho de 2013.
Não por acaso, as vésperas do dia 13/03 a CUT e o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC
assinaram o "Manifesto da Coalizão Capital-Trabalho para a Competitividade e o
Desenvolvimento" com o Instituto Aço Brasil, ABIMAQ, Associação Brasileira da Indústria
Têxtil e de Confecção (Abit), União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), Organização
Nacional da Indústria do Petróleo (Onip) e Câmara Brasileira da Indústria da Construção
(CBIC). Assim como a Força Sindical, União Geral dos Trabalhadores (UGT) e Central de
Trabalhadores do Brasil (CTB). Assim, o PT e a CUT alimentam o caráter superxexplorador da
economia dependente brasileira.
Por sua vez, os setores anti-dilma estão descolados da classe dominante, do capital e dos
militares, estes sim comprometidos com o governo Dilma e o PT. Pois é a política econômica
do atual bloco no poder que ainda está garantindo os interesses do grande capital e do
projeto estratégico de fortalecimento das forças armadas e do sub-imperialismo. Assim, o
setor anti-Dilma não tem materialidade para derrubada do governo, uma vez que este está
alinhado com o grande capital e os militares.
O PT se autoengana com sua propaganda de classe média e de que o levante de 2013
significava a "direita" na rua. Para o partido não há possibilidade de um levante dessa
magnitude se não foi criado e estimulado pelos setores burgueses, da mídia, etc. Logo os
protestos de massa e sua radicalidade foram entendidos como ações de extrema direita. A
oposição de direita classificou a radicalidade dos protestos como ações de extrema
esquerda. E ambos classificaram essas ações como fascistas. Lula deu entrevistas
criticando os jovens que protegiam seus rostos com máscaras. Haddad e Alckmin deram uma
coletiva conjunta de imprensa oficial condenando ações diretas. O governo Tarso Genro
(PT), como todos os governos estaduais, passaram a caçar militantes, como fizeram com
militantes da FAG. Não por acaso a mídia burguesa e os defensores do ato do dia 13 e 15
março destacam o caráter pacífico e ordeiro dos dois dias.
E mais que isso, essa luta entre os setores para ficar no Bloco no Poder tem como unidade
a desarticulação do poder popular. Daí a unidade do PSDB com o PT no combate ideológico às
lutas de junho, as greves e a ação direta de classe trabalhadora. O PT tomou para si a
defesa da República Burguesa e sua análise é essencialmente elitista. Disso deriva a
análise da realidade dualista, maniqueísta, realizada por seus grupos, militantes e
apoiadores. Aí esta sua miopia e agonia.
O PT reaparelha o Estado Burguês
A política petista não só reorganizou o aparelho de Estado dentro do neoliberalismo como
buscou a construção de uma unidade burguesa. Neste sentido, o cenário internacional e o
crescimento econômico possibilitaram o desenvolvimento e avanço de transnacionais de
origem brasileira com financiamento dos fundos de pensão, controlado por sindicalistas, e
do BNDES.
Internamento o governo avançou os grandes projetos de infraestrutura interligados ao IIRSA
dando origem ao PAC e atingindo as comunidades quilombolas, indígenas, ribeirinhas e
camponesas. Favorecendo como sempre as grandes empresas nacionais, como Odebrecht, Camargo
Correa, OAS, Votorantim e Gerdau. A luta pela terra retrocedeu e poucas terras foram
homologadas. O PT se aliou ao agronegócio consolidando uma aliança pelo desenvolvimento do
setor, fundamentalmente para manutenção do crescimento econômico na era Lula.
Por sua vez o governo aumento o aparato repressor. A repressão e a violência nas favelas e
periferias, principalmente contra a juventude negra, não arrefeceu nem um pouco, pelo
contrário. O Estado penal e policial cresce a cada dia assassinando jovens negros nas
favelas e periferias por todo o país. Como os recentes massacre de Cabula, na Bahia, os
assassinatos e fuzilamentos na Maré e favelas cariocas. Os assassinatos no país,
fundamentalmente nas favelas, periferia e nos campos, somam 50 mil por ano. A política é
de aumento da repressão e da criminalização do movimento popular. Presos políticos se
somam no Rio e Janeiro (Igor Mendes e Rafael Silva), São Paulo (Fabio HIdeki), Goiás e Rio
Grande de Sul (Vicente Metz).
Os aparatos estaduais de repressão estão se unificando sob o comando do Exército. Para
conter possíveis distúrbios no campo e nas grandes obras foi criada, em 2004, a Força
Nacional de Segurança, vinculada diretamente ao Ministério da Justiça. O governo do PT
reestruturou e iniciou o reequipamento das Forças Armadas, lidera tropas de ocupação no
Haiti e agora na Maré. Para isso, reorganizou as forças armadas com base na Estratégia
Nacional de Defesa (END) determinado pelo governo Lula em 2007. Disso deriva toda
reorganização das Forças Armadas no Brasil com deslocamento de tropas do sul para
centro-oeste e norte, reequipamento e reativação da indústria bélica nacional. Dentro do
quadro de reorganização foi formado o Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA),
órgão vinculado ao Ministério da Defesa, que elaborou o "Manual de Garantia da Lei e da
Ordem" onde colocou os movimentos sociais como "forças oponentes". Houve uma confluência
entre a estratégia regional e global do PT e o "nacionalismo" das forças armadas
brasileiras. O PT alimentou a ideia de Brasil Potência.
A burguesia foi uma das maiores beneficiárias das políticas petistas, fato assumido por
Lula, enquanto para os trabalhadores o governo criou uma série de programas de atendimento
social para combater a miséria extrema e aumento do salário-mínimo, sem reverter a
desigualdade econômica do país. Tal situação levou ao boom do consumo individual,
facilitado pelo crédito e cenário internacional, com alta do preço das commodities, que
favoreceu o crescimento econômico nacional. Esse crescimento baseado também em
megaprojetos que afetam milhares de populações rurais e urbanas e aumentando crises
ambientais devido ao modelo de desenvolvimento assumido pelo PT.
No plano internacional a burguesia brasileira contado com apoio dos fundos de pensão,
controlado pelos cutistas, e do Governo, através do BNDES, se espalharam por todo o
continente em projetos de infraestrutura vinculado ao IIRSA de transformar a América do
Sul em exportadora energética. As empresas transnacionais brasileiras se espalharam pela
América do Sul controlando áreas estratégicas da economia da Bolívia, Paraguai e
Argentina, por exemplo. Desde de sempre, por exemplo, a Odebrecht financiou o PT e no
governo contou com sua ação para expansão dos seus negócios.
O ataque imperialista dos EUA e suas contradições
Por outro lado, os EUA estão coordenando ataques contra a América Latina, depois da crise
de 2008, das derrotas e impasses no Oriente Médio e das disputas com o avanço Sino-Russo
na região. Precisam ampliar a margem de lucro e controlar ainda mais o preço do petróleo.
Por isso os EUA atacam a Petrobras e financiaram o ato de domingo: para desestabilizar um
governo sub-imperialista. No entanto, não tem apoio e unidade interna suficiente e, por
fim, acabam por desestabilizar um governo que os ajuda.
O anti-dilma, a pequena-burguesia branca, os empresários e a tecnocracia são antipopulares
e antinacionais, pois favorecem os interesses do imperialismo dos EUA, uma vez que o
projeto político regional e global do PT se articula aos interesses militares, mas o
ímpeto sub-imperialista do Estado Brasileiro por vezes bate de frente com os interesses
norteamericanos. Os ataques ao Governo Maduro na Venezuela e agora contra o governo Dilma
e a Petrobras fazem parte da concorrência no interior do imperialismo pelo controle dos
mercados. Assim, os protestos anti-Dilma favorecem os interesses das grandes empresas
americanas, principalmente de suas construtoras e petrolíferas. São antipopulares e
antinacionais. Neste momento a burguesia está dividida e débil, assim como o imperialismo
e o governismo.
A defesa da República Burguesa
O PT se entregou de corpo e alma aos esquemas corruptos existentes no sistema, e sua
verborragia da ética se desfez rapidamente. O processo de terceirização da Petrobras,
fonte da corrupção e precarização do trabalho dos operários, não retrocedeu, avançou nos
últimos anos. O PT chamou a força nacional de segurança para reprimir estudantes e
trabalhadores, inclusive operários da Petrobras, que protestavam contra o Leilão de Libra.
As privatizações, "concessões" como preferem os governistas, avançaram e segundo o último
discurso presidencial não irão retroceder.
A aristocracia operária e sindical e a tecnoburocracia gerencial e empresarial são as
forças que estão se engalfinhando pelo poder de Estado, pois são para elas que os cargos a
mais fazem diferença. A mídia burguesa e o Imperialismo (seu tutor), tentam aumentar a
superexploração sobre a massa, não vendo que isso apenas cria mais complicações para seu
poder.
A massa de trabalhadores precarizados estão em oposição ao grande capital nacional. No
entanto, a aristocracia sindical é incapaz de perceber que os interesses dos trabalhadores
e os interesses nacionais não são representados pelo projeto de Governo. Assim, se aliam a
setores da burguesia para defender um projeto que superexplora a massa de trabalhadores e
camponeses em toda América do Sul e África.
Um setor anti-Dilma mais radical, por sua vez, não vê que os seus interesses estão muito
bem representados, uma vez que o projeto do governismo garante a desigualdade, a
acumulação e a financeirização. A oposição de direita (PSDB, DEM, PP, PPS, Solidariedade),
elitista e conservadora, conjuntamento com os grupos midiáticos está aproveitando os
escândalos de corrupção para sangrar o PT e inflam com isso sites de pequenos grupos
neoliberais e conservadores, que contam com aportes de grupos econômicos norte-americanos.
Ao jogar a disputa para as ruas estão atiçando novamente as mobilizações populares. Estão
brincando com fogo. O dia 15 de março foi um fiasco considerando o poder econômico
implicado por detrás dele. Como dissemos não foi nada além da mobilização do público dos
estádios, da elite branca que assistiu a Copa do Mundo e viu a seleção da CBF tomar uma
coça em pleno Mineirão. Esse setor está simulando querer derrubar o Governo, mas sem o
apoio do grande capital e dos militares, que perde com a queda do governo. A brincadeira
da desestabilização pode sair cara. Enquanto isso, o PMDB aproveita para cacifar seu poder
político por meio da chantagem política, ou como disse o ex-ministro da educação, Cid
Gomes, por meio do achaque.
O Ajuste fiscal está mantido e está acordado. O distracionismo em torno da "corrupção" não
impede que o ajuste seja feito. Assim temos claramente os seguintes campos: o governismo,
o anti-Dilma e as massas rebeladas em luta por melhores condições de vida. Hoje a montanha
burguesa pariu um rato. E os ratos são os primeiros a abandonar o navio quando este começa
a afundar.
A farsa do dia 15/03 foi revelada quando vimos que 70% dos participantes do dia 15 segundo
o Data-folha eram eleitores de Aécio, ganhavam em sua maioria mais de 5 salários mínimos e
estiveram na rua pela primeira vez, ou seja, eles não eram a massa do levante de 2013. A
camisa da seleção como ícone dos protestos dos anti-Dilma mostra que eles estão num campo
muito distinto do movimento de massas que cunhou a palavra de ordem "Não Vai Ter Copa".
Eles saíram dos estádios construídos pelo PT para clamar por um governo do PSDB. O dia 13
mostrou a fraqueza da aristocracia operária e sindical, 70% eleitores de Dilma no mesmo
ato. Um setor que não tem mais a força para enfrentar as ruas: de um lado a classe
trabalhadora quer derrubar da direção das organizações sindicais, do outro a burguesia que
lhe quer "tirar" do Estado. Esses setores não representam o levante de junho de 2013 e nem
representam as contradições reais e profundas da sociedade brasileira. Neste sentido, fica
cada vez mais claro que a massa de 37 milhões de que se abstiveram ou votaram nulo nas
eleições não estava nos dois atos, assim como a massa de junho de 2013. É essa massa que
deverá caminhar para construção do poder popular.
O povo deve sair do "Fora Dilma" e "Fora Aécio" para: Fora todos: Poder para o Povo!
Assim, estará contribuindo para criar as condições para um novo Junho ainda mais forte e
incisivo. Isso é uma possibilidade. Mas a massa dos marginalizados de Junho de 2013,
daqueles que se abstiveram ou votaram nulo, parece caminhar para uma possível emergência
do Poder Popular uma vez que o Governo Pseudo-Popular e a Oposição antipopular não são
capazes de melhorar suas condições de vida. Por isso, estivemos nas jornadas ao lado e com
a massa proletária de marginalizados, por isso boicotamos as eleições burguesas e por isso
lutamos para destruir a ordem burguesa através de uma Revolução Social!
"Fora todos: Poder para o Povo!"
Lutar para Organizar! Construir o autogoverno dos trabalhadores e o socialismo!
Construir o Sindicalismo Revolucionário!
Organizar a Greve Geral contra o Estado e o Capital!
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