(pt) Anarkismo.net: A lista de Janot, a Operação Lava Jato e o sistema político sob suspeita by BrunoL
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Domingo, 8 de Março de 2015 - 08:18:03 CET
Dez anos após o escândalo do Mensalão vir à tona o Brasil vivencia um novo escândalo
envolvendo operadores políticos. Em 2005 o caso que veio a ser uma ação penal condenatória
pelo STF, tratava-se de uma composição de maioria através de sistemáticos pagamentos a
parlamentares da "base aliada". Na ocasião, a direita que não estava - e pouco ou nada
está - no governo arvorou-se do espírito da UDN e tentou emparedar o governo Lula ainda em
seu primeiro mandato. Com a ausência de apoio popular e pouca disposição para o conflito
direto, Lacerda ficou nas profundezas e não veio à tona para golpear a combalida
democracia representativa brasileira. ---- O senador Renan Calheiros e o deputado federal
Eduardo Cunha, ambos peemedebistas, ao constarem na lista de pedido de investigados da PGR
aceita pelo Supremo, podem aumentar a pressão sobre o Planalto pedindo apoio e sustentação
da Presidência.
Uma década depois e a UDN regozija, e de certo modo, como razão. No momento de descenso do
pacto lulista e guinada cada vez mais à direita do governo Dilma, o sistema político se vê
diante da suspeita de corrupção endêmica através do vínculo entre políticos de carreira,
grandes empresas e contratos de vulto. A lista dos pedidos de investigação do
procurador-geral da República Rodrigo Janot veio a público pelas mãos do ministro do STF
Teori Zavascki. Constam nos 28 inquéritos abertos, 32 membros do PP, 9 do PMDB (incluindo
os presidentes das duas casas legislativas), 6 do PT, 1 do PSDB e 1 do PTB. Eis a lista
completa dos operadores políticos que serão investigados:
PP: Senador Ciro Nogueira (PI); Senador Benedito de Lira (AL); Senador Gladson Cameli
(AC); Deputado Aguinaldo Ribeiro (PB); Deputado Simão Sessim (RJ); Deputado Nelson Meurer
(PR); Deputado Eduardo da Fonte (PE); Deputado Luiz Fernando Faria (MG); Deputado Arthur
Lira (AL); Deputado Dilceu Sperafico (PR); Deputado Jeronimo Goergen (RS); Deputado Sandes
Júnior (GO); Deputado Afonso Hamm (RS); Deputado Missionário José Olímpio (SP); Deputado
Lázaro Botelho (TO); Deputado Luis Carlos Heinze (RS); Deputado Renato Molling (RS);
Deputado Roberto Balestra (GO); Deputado Roberto Britto (BA); Deputado Waldir Maranhão
(MA); Deputado José Otávio Germano (RS); Deputado Gerônimo Pizzolotto Goergen (RS);
Ex-deputado e ex-ministro Mario Negromonte (BA); Ex-deputado João Pizzolatti (SC);
Ex-deputado Pedro Corrêa (PE); Ex-deputado Roberto Teixeira (PE); Ex-deputada Aline Corrêa
(SP); Ex-deputado Carlos Magno (RO); Ex-deputado e ex-vice governador João Leão (BA);
Ex-deputado Luiz Argôlo (BA) (filiado ao Solidariedade desde 2013); Ex-deputado José
Linhares (CE); Ex-deputado Pedro Henry (MT); Ex-deputado Vilson Covatti (RS)
PMDB: Senador Renan Calheiros (AL), presidente do Senado; Senador Romero Jucá (RR);
Senador Edison Lobão (MA); Senador Valdir Raupp (RO); Deputado Eduardo Cunha (RJ),
presidente da Câmara; Deputado Aníbal Gomes (CE); Deputado Alexandre Santos (RJ)
(arquivado); Deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) (arquivado); Ex-governadora Roseana
Sarney (MA).
PT: Senadora Gleisi Hoffmann (PR); Senador Humberto Costa (PE); Senador Lindbergh Farias
(RJ);Deputado José Mentor (SP); Deputado Vander Loubet (MS); Ex-deputado Cândido
Vaccarezza (SP).
PSDB: Senador Antonio Anastasia (MG).
PTB: Senador Fernando Collor (AL).
Na semana anterior da divulgação dos nomes, a crise da base "aliada" foi o fogo amigo para
complementar a chantagem das agências de análise de risco
Ao devolver a Medida Provisória que resultava em aumento de impostos sobre a folha de
pagamento de vários setores, o senador alagoano Renan Calheiros (PMDB) fez pirraça e não
tinha - aparentemente - vontade política alguma de proteger algum setor econômico ou
impedir o aumento da carga tributária. O país entrou em regime de caixa, demanda "ajuste
fiscal" e não toca na questão sacra do gasto corrente líquido. No dia da teima, por
momentos ínfimos, Renan Calheiros aparentemente portou-se como um tribuno, ao atacar a
Medida Provisória vinda da equipe econômica. Mas, não era essa a intencionalidade de
Calheiros e cia.
A chantagem internacional que o Brasil está sendo submetido pelas agências de análise de
"risco" é um tema. E, a barganha de sempre a qual a base "aliada" submete o Poder
Executivo é outro tema. A Standard & Poor's visitou o Ministério da Fazenda nesta primeira
semana de março; enquanto isso, Renan, Eduardo Cunha e cia. jogam o governo contra a
parede. Dilma fora eleita com um discurso radicalmente oposto (ao menos no 2o turno) ao
das suas realizações de governo. Isso enfraquece seu capital político e faz com que, por
um lado, reforce a desconfiança de seus eleitores; por outro, obriga o Planalto a contar
cada vez mais com o inflacionado e nada confiável apoio do PMDB (ou dos PMDBs).
No cenário macro, o ambiente externo nos coage de todos os lados, desde capas do The
Economist até pressões de rebaixamento vindas das agências de sempre, as mesmas que deram
AAA para Lehman Brothers pouco antes de quebrar. Agora, o baixo clero do Parlamento tentou
fortalecer sua posição a prepo, aumentando o poder de barganha e reforçando a imagem
irracional de que vivemos um caos institucional.
Definitivamente, sabotar o governo eleito é uma atividade bastante produtiva. Apenas
alerto para a direita que não ganhou nas urnas: tamanha esquizofrenia terá um preço, pois
uma série de ministérios já está sob controle direto dos agentes econômicos no topo da
cadeia alimentar brasileira. Será que vivemos um conflito entre classe dominante X elites
dirigentes? Esta dúvida será saldada em breve, a partir do dia 15 de março.
A denúncia da PGR e suas possíveis consequências
Podemos resumir a Operação Lava Jato em uma longeva investigação - iniciada pela Polícia
Federal - onde se apura a existência de uma organização criminosa formada por executivos
de empreiteiras, políticos, funcionários públicos e doleiros. Tamanho abalo na forma da
democracia indireta vai resultar em um severo abalo do sistema político, em especial no
estatuto da representação. Atendendo a PGR, o Supremo autorizou a investigação de
operadores políticos de PP, PMDB, PT, PSDB e PTB. Trata-se de inegável oportunidade para X
objetivos: no curto prazo, aprofundar a crise política; acumular o transe midiático e na
internet para fazer do dia 15 de março uma realização de protesto de tipo udenista; e no
médio - ao atingir a Petrobrás dificultar aos interesses estratégicos do país,
aprofundando o modelo de desenvolvimento baseado no Bismarckismo tropical e no pacto de
classes representado pelo lulismo.
Bruno Lima Rocha é professor de ciência política e de relações internacionais
site: www.estrategiaeanalise.com.br
email: strategicanalysis riseup.net
Facebook: blimarocha gmail.com
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