(pt) Rusga Libertaria: QUEM É LUCY PARSONS? A MITOLOGIZAÇÃO E A RE-APROPRIAÇÃO DE UMA HEROÍNA RADICAL. (Casey Williams)
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Terça-Feira, 3 de Março de 2015 - 14:31:53 CET
Estamos compartilhando aqui nosso primeiro trabalho de tradução. Queremos deixar claro que
estamos passíveis de erros em alguns trechos, o material ainda passa por uma revisão mais
minuciosa. Resolvemos publicar pelo tempo que ficamos pendentes em compartilhar esse
material traduzido. Que fala um pouco da vida de uma importante anarquista
norte-americana, Lucy Parsons. Estamos abertos para sugestões e revisões solidárias. ----
Forte Abraço e boa leitura! ---- *Anarcho-Syndicalist Review número 47, Verão, 2007.
Colaborador: CREAGH Ronald. Por citar essa página: WILLIAMS, Casey. “Whose Lucy Parsons?
The mythologizing and re-appropriation of a radical hero”. Edição: 23 de Dezembro de 2007.
---- QUEM É LUCY PARSONS? ---- Como uma anarquista radical, Lucy Parsons dedicou mais de
sessenta anos de sua vida a lutar pela classe trabalhadora norte-americana e pobre.1 Uma
oradora habilidosa e escritora apaixonada, Parsons desempenhou um papel importante na
história do radicalismo norte-americano, especialmente no movimento operário da década de
1880, e permaneceu uma força ativa até sua morte em 1942. A única pergunta da qual ela
nunca se desviou foi “como levantar a humanidade da pobreza e desespero?”.2 Com essa
questão impulsionando o trabalho de sua vida, Parsons foi ativa em uma infinidade de
organizações radicais, incluindo o Socialist Labor Party (Partido Socialista Trabalhista),
a International Working People’s Association (Associação Internacional das Pessoas
Trabalhadoras) e a Industrial Workers of the World (Trabalhadores Industriais do Mundo).
Paralelamente com seu longo envolvimento no movimento trabalhista norte-americano, estava
sua solida visão de uma sociedade anarquista, filosofia que era a base de sua crítica às
instituições econômicas e políticas opressivas dos Estados Unidos da América.
Sua oposição ao capitalismo e ao autoritarismo estatal foi solidificada em 1887,
quando seu marido, Albert Parsons, foi executado injustamente.3 Após a bomba e as
execuções de 1886, na manifestação de Haymarket, Parsons dedicou os próximos cinquenta
anos de sua vida aos desempregados e à classe trabalhadora norte-americana. De fato, o
poder do caso Haymarket na formação da vida adulta de Parsons não pode ser subestimado. Os
acontecimentos de 1886 e 1887 fixam uma animosidade inflexível entre Parsons e o
Departamento de Polícia de Chicago. Durante a vida de Parsons, a polícia a perseguiu,
suprimindo sistematicamente seu direito à liberdade de expressão, prendendo-a várias vezes
sem justificação.
Quase seis décadas após sua morte, a polícia de Chicago deu nova vida a este legado
de animosidade mútua, lutando em uma proposta para nomear um parque da cidade de Lucy
Parsons. Em março de 2004, quando o Chicago Park District (gerenciador de parques
municipais) propôs nomear o lote 4712 da Avenida Belmont no lado noroeste da cidade
“Parque Lucy Elis Gonzales Parsons”, Mark Donahue, presidente local da Ordem Fraternal da
Polícia, atacou a proposta – descartando Parsons como uma anarquista “cujas raízes
históricas viriam” apenas a partir da “defesa de seu marido.” Da perspectiva de Donahue,
teria sido uma farsa nomear um dos parques de Chicago com o nome de uma mulher que
“promoveu a derrubada do governo e o uso de dinamite.” Infelizmente, as autoridades da
cidade não contrariaram as acusações de Donahue com os fatos históricos sobre a própria
vida e as realizações de Parsons. Em vez disso, os funcionários do parque ressaltaram a
importância dos esforços de Parsons em nome dos trabalhadores, das mulheres e dos
afro-americanos. O prefeito de Chicago, Richard M. Daley, explicou, “Nós estamos
homenageando Lucy Parsons”, não “seu marido”, porque “ela era muito bem vista entre os
reformadores sociais por seus esforços para promover os direitos civis” e observou que
teria sido injusto e sexista “culpar a mulher por causa das ações de seu marido.”4
Claramente, tanto o prefeito Daley quanto o oficial Donahue não compreendem a
história de sua cidade. No entanto, Donahue, pelo menos, estava disposto a reconhecer que
Parsons era uma anarquista, em vez de rotulá-la como uma reformista de direitos civis.
Como uma anarquista, Parsons rejeitava o conceito de direitos civis que pressupunham a
cooperação e aceitação do estado capitalista para conceder privilégios que ela acreditava
serem os direitos naturais. De fato, uma rápida revisão da história do caso Haymarket
demonstra que nem as alegações da polícia nem da cidade eram completamente corretas.5
Embora Parsons fosse inocente de qualquer envolvimento no atentado de 1886, ela
compartilhou uma visão anarquista da harmonia social que defendia a destruição do
capitalismo por meio de atos revolucionários, e rejeitou o reformismo e os direitos civis
como curativos. Assim, há uma grande discrepância entre as reais crenças e ações de
Parsons e as mitologizadas ou comemoradas que são apresentadas pela Chicago Parks Distric.
Como e por que esse abismo surgiu garante uma investigação mais aprofundada, com
implicações não só sobre Lucy Parsons, mas sobre a própria memória histórica.
As repostas a estas perguntas estão no cerne da motivação subjacente à
proposta dos funcionários dos parques. A sugestão surgiu a partir de um esforço de toda a
cidade para homenagear mais mulheres em um sistema em que apenas 27 dos 555 parques
receberam nomes de mulheres.6 Assim, o parque proposto tinha menos a ver com o
reconhecimento de Parsons do que com o desejo dos funcionários de criar um sistema de
parques mais “politicamente correto”. No entanto, essa idealização encontrada na
incorporação de Lucy Parsons à história pública também se reflete no trabalho acadêmico
sobre Parsons. Muitas vezes, os historiadores que mencionam Parsons têm moldado a vida
dela para atender suas inclinações políticas. Mais notavelmente, apenas a biógrafa de
Parsons, Carolyn Ashbaugh, afirmou que Parsons não era uma anarquista e que se juntou ao
Partido Comunista.7 Fazendo isso, Ashbaugh havia reformulado Parsons de uma heroína
anarquista em uma Marxista. A discrepância entre as próprias palavras de Parsons e a
memória pública de Parsons pode ser atribuída, em grande parte, à reformulação histórica
de Ashbaugh. A manipulação no trabalho de Ashbaugh já foi exposta com êxito.8 Ainda assim,
tem havido pouco ou nenhuma análise sobre as ideias perdidas por essa manipulação do
registro histórico.
Um Histórico Contestado
Com poucos registros conservados, juntar o início da vida de Lucy Parsons tem
sido difícil para os historiadores. Na verdade, é pouco provável que os fatos do início de
sua vida sejam completamente conhecidos. Ashbaugh afirma que Parsons nasceu em março de
1853, perto de Waco no noroeste do Texas. De acordo com Albert Parsons, os dois se
conheceram em 1869, enquanto ele estava vivendo uma vida perigosa como um republicano
radical na pós-reconstrução do Texas. Ao viajar através do condado de Johnson como
correspondente para o Houston Daily Telegraph, Albert conheceu Lucy no rancho de seu tio.
Animadamente, Albert descreve-a como uma “encantadora jovem donzela hispano-indígena.”9
Muitas perguntas sobre o início da vida de Parsons ainda estão sem respostas. Por exemplo,
de acordo com algumas fontes, os dois se casaram em 1871, enquanto outros datam o
casamento em 1872. O casamento nunca foi confirmado por uma certidão de casamento ou outro
documento oficial.10
A biografia de Ashbaugh desafia a descrição de Albert Parsons sobre Lucy, afirmando que
ela era, na verdade, uma antiga escrava. De acordo com Ashbaugh, Parsons era uma escrava
dos irmãos Gathings, que possuíam 62 escravos perto de Waco em 1860. Ashbaugh afirmou que
Parsons foi provavelmente nomeada em homenagem à filha Philip Gathings, nascida em 1849; e
afirma que Henry e Marie del Gather, que Parsons chamou de sua mãe e seu tio, eram de
ficção. Além disso, Ashbaugh sugere que Albert não conheceu Lucy no rancho de seu tio. Em
vez disso, ela concluiu que eles se conheceram em Waco, onde as defesas de Albert dos
direitos políticos negros fizeram dele uma figura popular entre a população negra.
Ashbaugh especula que, enquanto vivia em Waco como uma antiga escrava, Parsons testemunhou
atrocidades da Ku Klux Klan, que cresceu no poder como Reconstrução e desmoronou. Entre os
inúmeros acontecimentos violentos que ela pode ter presenciado, estão a castração de um
menino Africano-Americano, em 1867, e o assassinato cometido pela Klan de 13
afro-americanos perto de Waco, em 1868.
Sem dúvida, a brutalidade racial que tomou conta do noroeste do Texas na década de 1860
influenciou profundamente a sensibilidade de Parsons e a aversão pela violência contra os
oprimidos. No entanto, mesmo que Parsons não fosse, como Ashbaugh especula, uma antiga
escrava, ela ainda teria testemunhado a violência racial. A degradação e opressão do povo
negro levou Albert Parsons, que era um ex-soldado confederado, a iniciar seu próprio
jornal/boletim, em 1868, The Spectator (O Espectador), para desafiar a Ku Klux Klan e
políticas de reconstrução de apoio.11 Como testemunha e talvez vítima da brutal violência
racial do sul, ainda é importante notar que os registros de escravos dos irmãos Gathings
não incluem nomes e, portanto, não é possível identificar Parsons como uma antiga escrava.12
Ao longo de sua vida, Lucy Parsons insistiu que ela era de ascendência mexicana e
americana nativa. De acordo com Parsons, sua mãe era mexicana e seu pai, John Waller, foi
um índio Creek. A afirmação faz da herança mexicana e indígena de Parsons e sua negação
apaixonada da ascendência Africana é facilmente documentada. Ao cobrir o julgamento de
Haymarket, um repórter do Chicago Tribune observou que Parsons “opõe-se ao termo ‘mestiço’
como significado de que ela tem sangue negro nas veias. Ela diz que sua mãe era uma
mexicana e seu pai um índio.”13 Em setembro de 1886, um antigo escravo que viveu em Waco
acusou Parsons de abandonar a ele e a seu filho para viver em Chicago. Quando a acusação
foi à primeira página do jornal em Chicago, Parsons arrastou um repórter do Herald até a
cela do marido, onde Albert explicou que o homem em Waco tinha confundido Lucy com outra
mulher, e que “Sra. Parsons não tem sangue Africano em suas veias.”14 A identificação com
a ascendência indígena e mexicana de Lucy Parsons não era apenas para negar a herança
escrava. Ao falar em Londres em 1888, Parsons explicou:
Eu sou aquela cujos ancestrais são indígenas neste solo da América. Quando Colombo
avistou pela primeira vez o continente ocidental, antepassados do meu pai estavam lá...
Quando os anfitriões da conquista das Cortes se moviam sobre o México, antepassados da
minha mãe estavam lá para repelir o invasor; de modo que eu represento o genuíno Americano.15
Parece que Parsons tinha orgulho de sua identidade étnica. No entanto, a identidade negra
foi empurrada em cima de Parsons ao longo de sua vida. Parsons foi repetidamente referida
nos jornais como uma Negress, Negro, escuro, colorido ou mulato. 16 Embora muitos desses
termos tenham sido utilizados para identificar as pessoas de raça mista, a implicação
subjacente era, como um repórter do Tribune colocou, “que pelo menos um de seus pais era
um negro.”17 Assim, durante sua vida, havia uma discrepância entre a identidade racial que
ela alegou e a identidade racial colocada sobre ela pela sociedade. A tradição ao ver Lucy
Parsons como negra, apesar de suas próprias palavras, continua até hoje.
Ashbaugh sustentou que a auto identificação de Parsons como mexicana indígena foi uma
tentativa de encobrir sua herança Africana.18 Há uma série de razões pelas quais Parsons
poderia ter feito isso. Em primeiro lugar, o perigo físico simples de estar em um
casamento inter-racial durante a década de 1880 poderia ter levado Parsons a negar uma
ascendência Africana. Juntamente com sua proteção contra alguns dos perigos de ser negro,
tal rejeição pode ter criado mais oportunidades para Parsons, especialmente em um
movimento operário predominantemente branco. Contudo, não obstante a lógica por trás da
reivindicação de Ashbaugh, permanece a especulação, devido, em grande parte, à falta de
provas – contando o apoio principalmente de sua aparência física em fotos. Simplesmente,
não existem provas suficientes para declarar definitivamente que Parsons “era negra”, como
Ashbaugh faz. No entanto, muitos estudiosos, como Roxanne Dunbar-Ortiz, Marion Tinling e
Robin D. G. Kelly, têm rotulado Parsons como uma mulher Africano-Americana.19 Muitas
vezes, essa caracterização é uma tentativa de situar Parsons em uma narrativa maior, de
negros heróis americanos.20
A existência de tantas pessoas que veem Parsons como Africano-Americana,
apesar de suas próprias palavras, incita-nos a perguntar não por que Lucy Parsons
precisava não ser negra então, mas por que precisamos que ela seja negra hoje? No entanto,
seja negro, índio ou mexicano, Lucy Parsons ainda era uma mulher de cor, nascida e criada
em um estado extremamente violento e racialmente estratificado, Texas.
Encontrando o Anarquismo em Chicago
Após sua chegada em Chicago em 1873, Lucy e Albert Parsons entraram em um
mundo turbulento, caracterizado menos por tensão racial do que pelo capitalismo industrial
e problemas trabalhistas. Depois da Guerra Civil, as principais indústrias, incluindo as
empresas madeireiras e de gado, criaram raízes em Chicago, trazendo praticamente todas as
linhas de transporte para a cidade e fazendo de Chicago o mais importante centro econômico
do centro-oeste. A nova riqueza de Chicago a tornou um destino atraente para os americanos
em todo o país e imigrantes do outro lado do mar. Durante a década de 1860, mais de 74,000
imigrantes europeus entraram na cidade, junto com milhares de americanos. O aumento da
população rapidamente criou moradias superlotadas e pobres, que foram ofuscadas pelas
mansões enormes e o opulento estilo de vida dos capitalistas industriais da cidade.
O contraste entre a pobreza e a riqueza criou tensões de classe, e, em 1867,
os trabalhadores da cidade iniciaram o primeiro movimento para a jornada de trabalho de
oito horas. Fabricantes da cidade se recusaram a cumprir com as exigências do trabalho e,
após cinco dias de greve, as autoridades brutalmente reprimiram a primeira greve de oito
horas, marcando o início de uma longa história de repressão violenta do trabalho.
Quando Chicago entrou na década de 1870, as condições de vida e trabalho da cidade foram
exacerbadas ainda mais. Em outubro de 1871, um grande incêndio destruiu Chicago. No rastro
das chamas, 17.450 edifícios estavam em cinzas e 64 mil pessoas ficaram desabrigadas. A
devastação do fogo foi seguida, em 1873, por uma grande depressão, que deixou milhares de
pessoas em Chicago não só sem casas, mas também sem emprego. Os eventos associados com a
greve de 8 horas, em 1867, combinada com a devastação do grande incêndio e a depressão
criada em Chicago, criaram uma atmosfera de tensão e medo, tornando a cidade em um solo
fértil para um movimento operário radical em expansão.21 Quando Lucy e Albert Parsons
mudaram para o novo apartamento perto da rua Larrabee e avenida North, rapidamente
tornaram-se imersos na cultura turbulenta do conflito de classes em Chicago.
Depois de conseguir trabalho como tipógrafo do Chicago Times e aderir à União
de Tipógrafos, Albert Parsons tornou-se rapidamente uma figura proeminente no movimento
operário de Chicago. Em 1876, ingressou no Social Democratic Party (Partido Social
Democrata), onde ele dedicou um tempo considerável para as causas da classe trabalhadora e
tornou-se um dos mais famosos oradores da língua Inglesa na cidade. Durante esse tempo,
ambos, Lucy e Albert, estavam concentrados nas obras de Karl Marx, e por volta de 1877
eles estavam realizando reuniões em sua casa para o Working-Men’s Party (Partido dos
Trabalhadores). Nesse momento, Lucy e Albert Parsons não eram anarquistas, mas defendiam
uma "combinação de ação econômica e política para realizar a emancipação do trabalho.”22
Eles viam os sindicatos como ferramentas poderosas contra o calcanhar de ferro do
capitalismo, mas ainda acreditavam "que, contanto que os trabalhadores vivessem em uma
república, eles tinham esperança de ganhar o poder através do processo democrático."23
Várias experiências entre 1877 e 1880 direcionam Lucy e Albert Parsons a
abraçar o anarquismo. Em 17 de julho de 1877, uma greve massiva começou em West Virginia,
quando os engenheiros da estrada de ferro de Baltimore & Ohio reagiram contra o salário
cortado, parando os trens e desencadeando uma enorme paralisação do trabalho que se
espalhou no Ocidente, chegando a Chicago; onde, em 23 de julho, “uma onda de protestos
tinha se espalhado para fora dos pátios ferroviários e fábricas, serrarias e olarias”,
acumulando em uma grande marcha pela Market Street, em Chicago.24 Em reação, os principais
empresários de Chicago abriram seus cofres para os líderes da cidade, que usaram o
dinheiro para criar um enorme exército de 5.000 cidadãos comissionados. Então, em 27 de
julho, uma combinação de soldados, policiais e civis armados, violentamente esmagaram os
grevistas, deixando 30 homens mortos e um ar amargo de desconfiança e ódio entre as
classes de Chicago.
Essa rápida militarização de cidadãos proeminentes da cidade demonstrou a poderosa
influência que a classe capitalista teve sobre o governo. Lucy Parsons escreveria anos
depois que “a grande greve da estrada de ferro de 1877" ensinou-lhe que o "poder
concentrado" do governo seria sempre "exercido no interesse de poucos e em detrimento de
muitos.”25 Além disso, a sua crescente desconfiança com o poder governamental tornou-se
uma questão pessoal durante a greve, quando Albert Parsons ficou cara a cara com o poder
das lideranças industriais de Chicago. Um dia depois de fazer um discurso empolgante antes
dos trabalhadores entrarem em greve, Albert Parsons foi demitido do Times. Em seguida, o
Superintendente da Polícia Michael Hickey sequestrou rapidamente Albert e disse-lhe para
deixar a cidade. Mais tarde, quando Albert Parsons tentou reunir-se com membros do
sindicato no edifício Times, ele foi forçado a sair por dois homens armados que ameaçaram
atirar na cabeça dele. Durante o dia da grande greve ferroviária, Albert Parsons foi
demitido, com uma arma apontada para ele, dizendo que deixasse a cidade. Assim, a grande
greve ferroviária tocou os Parsons de uma forma extremamente pessoal e serviu como
catalisador para uma ideologia muito mais radical.
Nos anos seguintes da grande greve, o Working Men’s Party se fundiu com o Socialist Labor
Party (Partido Socialista Trabalhista) e tentou várias vezes eleger os socialistas para
alas da cidade. Mas, em uma eleição após a outra, os votos foram erradamente calculados ou
as urnas foram descaradamente recheadas, levando muitos a perder toda a confiança na
reforma eleitoral. Em uma carta a um jornal trabalhista, Lucy Parsons explicou que “as
chamadas leis” não “valem o papel em que estão escritas”, porque os capitalistas tinham o
poder de fazer o que eles queriam mesmo que “os produtores de toda a riqueza tivesse
desejado o contrário.”26
No início dos anos 1880, como as ações eleitorais repetidamente falharam e as
greves e as manifestações foram reprimidas pela polícia, milícia e bandidos contratados,
muitos socialistas de todo o mundo começaram a se concentrar na ação direta (muitas vezes
chamada de "propaganda pela ação") como um meio para inspirar as massas e trazer a
revolução. Em 1882, Johann Most, conhecido agitador revolucionário e ex-parlamentar, falou
em Chicago argumentando que os trabalhadores teriam de se armar e travar uma guerra contra
seus governantes capitalistas. O movimento de Chicago, em particular, combinou união e
trabalho de agitação com a defesa da autodefesa armada. Acreditando profundamente na
necessidade de organização, Albert e outros militantes de Chicago se estabeleceram em
Pittsburgh, em outubro de 1883, onde eles, Most e outros iriam fundar a International
Working People’s Association (Associação Internacional das Pessoas Trabalhadoras).
A declaração de princípios da IWPA, ou o Manifesto Pittsburgh, é o trabalho mais
importante surgido a partir da conferência de 1883. Ela também continua a ser uma
excelente expressão da ideologia anarquista de Parsons. Informado pela oposição de Bakunin
sobre a organização autoritária e teoria da mais-valia de Marx, o Manifesto Pittsburgh
expressa a crença dos escritores na inutilidade da cédula, o seu apoio à insurreição
armada, e o poder do sindicalismo revolucionário.27 O principal elemento anarquista do
Manifesto era seu ponto de vista a respeito dos sindicatos, vistos tanto como "um
instrumento de revolução social '' quanto como a fundação de uma ordem social baseada na
organização cooperativa que surgiria com a destruição do capitalismo. A combinação do
sindicalismo revolucionário e do anarquismo veio a ser conhecida como a “ideia Chicago”, e
logo iria captar a atenção da classe trabalhadora da cidade.
O Manifesto Pittsburgh descreve o capitalismo como “injusto, insano e assassino.” Escolas,
igrejas e imprensa estavam “na folha de pagamento e sobre direção das classes
capitalistas” para manter os trabalhadores reprimidos. Com um sistema tão corrupto, os
trabalhadores tinham de “organizar a revolta” e destruir o capitalismo por qualquer meio
necessário. Depois de descrever a natureza exploradora do capitalismo, o Manifesto
Pittsburgh conclui delineando seis metas para o IWPA:
Primeiro: Destruição da dominação de classe existente, por todos os meios, ou seja, por
uma ação enérgica, implacável, revolucionária e instrumental.
Segundo: Estabelecimento de uma sociedade livre baseada na organização cooperativa de
produção.
Terceiro: a livre troca de produtos equivalentes por e entre as organizações produtivas
sem comércio e especulação financeira* (profit-mongery*: especulação financeira foi a
melhor adaptação que escolhemos para dar sentido na tradução).
Quarta: Organização da educação em uma base secular, científica e igual para ambos os sexos.
Quinto: Direitos iguais para todos, sem distinção de sexo ou raça.
Seis: Regulamentação de todos os assuntos públicos por contratos livres entre as comunas e
associações autônomas (independentes), fundamentada em uma base federalista.28
Acreditava-se que esses objetivos poderiam ser alcançados através das federações de
grupos autônomos das IWPAs. Um departamento de informações facilitaria a comunicação entre
agrupamentos IWPA, mas não haveria nenhuma autoridade central ou comitê executivo; a
existência de uma entidade que controlasse estaria em contradição com a visão que o
movimento tinha de uma sociedade cooperativa.
Os princípios do Manifesto Pittsburgh é o que melhor expressam a visão de mudança
social radical ao longo da vida de Lucy Parsons. Anos mais tarde, escrevendo em um ensaio
sobre o anarquismo, Parsons explicaria que “os sindicatos são padrões embrionários” das
“comunidades cooperativas” vindouras.29 Parsons também voltou de novo e de novo à ideia de
que o Estado era tão somente um agente da repressão e, por isso, tinha de ser destruído
através da ação revolucionária. Além disso, os mecanismos específicos de transformação
social nomeados no Manifesto eram as suas armas escolhidas. Para Parsons, a revolução só
viria através da mobilização de massas, baseada na união de um movimento aberto ao poder
da ação violenta. Esse protótipo do anarco-sindicalismo impulsionaria seu envolvimento com
os Industrial Workers of the World (Trabalhadores Industriais do Mundo) em 1905, com a
Syndicalist League of North America (Liga Sindicalista da América do Norte) em 1912, e com
a Communist Party’s International Defense League (Liga Internacional de Defesa do Partido
Comunista) em 1927. Assim, o Manifesto Pittsburgh pode ser visto como a primeira e mais
concisa expressão da ideologia radical de Lucy Parsons. Após a convenção de Pittsburgh,
Lucy e Albert Parsons rapidamente centraram suas atividades radicais no desenvolvimento da
IWPA. Conforme numerosos agrupamentos iam se estabelecendo em todo o país, Albert assumiu
a editoria do único jornal de língua Inglesa da associação, The Alarm. O jornal tornou-se,
rapidamente, a base para os anarquistas de língua Inglesa no movimento operário de
Chicago. Lucy Parsons, com Lizzie M. Swank, começou a ajudar Albert com a produção do
jornal e, juntas, escreveram alguns de seus artigos mais contundentes. O mais conhecido
artigo de Parsons no The Alarm foi “A Word to Tramps” (Uma palavra aos Desempregados).
Aparecendo na primeira edição, “To Tramps” (Aos Desempregados) encorajou a “desempregados”
e “deserdados” a “aprender o uso de explosivos” e, quando à beira do suicídio, fazer uma
declaração revolucionária, tomando as “avenidas dos ricos” e dar fim às suas vidas
enviando “à frente, o clarão vermelho da destruição” através do poder da dinamite.30
Através de artigos como “To Tramps” e seus discursos inflamados, ela rapidamente se tornou
“uma das mulheres anarquistas mais ativas no país.” 31
Parsons também ficou ocupada trabalhando como costureira e cuidando de seus
dois filhos pequenos. No meio da luta pela emancipação dos trabalhadores, Lucy e Albert
tinham começado uma família com o nascimento de Albert Richard Parsons, em 14 de setembro
de 1879, e Lulu Eda Parsons em 20 de abril de 1881. Essa nova posição como uma mãe
trabalhadora explica, em parte, o seu envolvimento na organização de mulheres costureiras
para os “Knights of Labor” (Cavaleiros do Trabalho***). De fato, quando uma outra greve
pela jornada de oito horas de trabalho varreu Chicago em maio de 1886, Lucy Parsons
poderia ser regularmente encontrada em reuniões para organizar as mulheres costureiras de
Chicago.
Em 1 de maio de 1886, uma grande greve pela jornada de oito horas de trabalho
engoliu Chicago. As tensões entre os grevistas e a polícia rapidamente se intensificaram,
e, em 3 de maio, a polícia disparou e matou vários grevistas fora da fábrica McCormick. No
dia seguinte, alguns dos organizadores anarquistas da cidade responderam à violência
policial com um comício na praça Haymarket, onde haviam cerca de 2.000 trabalhadores
reunidos pacificamente em protesto. Lucy e Albert Parsons passaram a primeira parte da
noite em uma reunião para a união das mulheres costureiras, mas conseguiram participar do
comício de Haymarket depois, trazendo seus filhos junto. Albert falou por 45 minutos sobre
a história do movimento operário, tendo um grande esforço para evitar a retórica
inflamatória.32 Por volta das dez horas, uma repentina tempestade forçou Lucy, Albert e
seus filhos a deixarem a reunião. Nesse momento, o Capitão James Bonifeld e 170 policiais
marcharam até a praça Haymarket, ordenando que os restantes dos manifestantes, cerca de
300, se dispersassem. Quando o último discursante contestou a ordem, citando a natureza
pacífica da reunião, alguém jogou uma bomba na falange da polícia. Os oficiais responderam
com uma cascata de balas, disparando em vários de seus próprios homens e deixando inúmeros
trabalhadores mortos e feridos. Infelizmente, o número real de vítimas entre os
manifestantes, juntamente com a identidade da pessoa que jogou a bomba, nunca foram
definidos.33
Na sequência do atentado, os líderes anarquistas de Chicago foram perseguidos
por uma onda de repressão. Os dias seguintes foram marcados por prisões em massa. Em cinco
de maio, sozinha, Lucy Parsons foi presa, pelo menos, três vezes sem justificativa, na
tentativa de forçá-la a delatar o paradeiro do marido.34 Albert Parsons, antecipando a
repressão, havia fugido da cidade na noite do atentado. No entanto, quando foi feita uma
acusação de conspiração para cometer assassinato contra sete grandes anarquistas, Albert
voltou para a cidade; e, no dia da abertura do julgamento, se entregou ao tribunal. Com
pouca ou nenhuma evidência que pudesse relacionar os réus a pessoa que jogara a bomba e
com poucas pistas reais sobre o mesmo, o chefe promotor Julius Grinnell alegou que os
discursos e escritos dos réus nos jornais anarquistas, como no The Alarm, “tinham
inspirado uma pessoa desconhecida a lançar a bomba, e que eram, portanto, responsáveis por
conspiração.” As acusações de conspiração, embora com severa falta de provas, foram mais
do que satisfatórias para o júri lotado e um juiz abertamente hostil; e, em agosto,
condenaram um réu a 15 anos de prisão e os outros sete homens à morte.
As sentenças foram seguidas por vários meses de apelos que falharam, incluindo a recusa da
Suprema Corte dos Estados Unidos para julgar o caso. Dias antes da execução, o governador
de Illinois comutou duas das sentenças dos homens condenados, que puderam sobreviver; um
outro homem, Louis Lingg, cometeu suicídio em sua cela. Finalmente, quatro homens – August
Spies, George Engel, Adolph Fischer e Albert Parsons – foram enforcados em 11 de novembro
de 1887. A bomba em Haymarket e o assassinato judicial de dirigentes anarquistas em
Chicago lançaram uma sombra que assombrou o movimento sindical norte-americano. Além
disso, a tragédia pessoal caiu sobre Lucy Parsons, consolidando sua dedicação aos
movimentos radicais da classe trabalhadora; tal fato incidiu sobre ela como um novo dever,
o de compartilhar com o mundo a história da bomba de Haymarket e o julgamento dos anarquistas.
História de Lucy Parsons em Haymarket
Imediatamente após as sentenças de morte serem proferidas, Parsons deixou Chicago em uma
turnê nacional para gerar apoio e arrecadar fundos para a defesa. Falando em grande parte
aos “sindicalistas conservadores”, Parsons acreditava que ela iria “iluminar o povo
americano” sobre a “operação de assassinato judicial em Chicago.”35 Em fevereiro de 1887,
Parsons havia abordado mais de 200.000 pessoas em dezesseis estados. A turnê e o apoio
gerado por ela desempenharam um papel significativo na conquista de uma suspensão de
execução da Suprema Corte do Estado de Illinois. Além disso, a turnê de palestras de
Parsons chamou a atenção nacional, tanto para as injustiças do julgamento quanto para as
ideias dos anarquistas. No entanto, o sucesso da turnê foi limitado pela falta de apoio
dos dirigentes sindicais conservadores. Terence Powderly, grande trabalhador mestre no
Knights of Labor (Cavaleiros do Trabalho), recusou-se a apoiar a defesa e falou contra os
condenados, agravando ainda mais a tensão já existente dentro do movimento operário.
Contudo, a comissão de defesa criada por Parsons e o uso de uma turnê para angariar o
apoio público e financeiro iriam servir como importantes modelos para os futuros radicais.
Em um nível pessoal, a turnê iria introduzir uma das características mais persistentes da
vida de Parsons. De 1886 até sua morte em 1942, Parsons gostaria de voltar novamente e de
novo para o seu compromisso de compartilhar sua história em primeira mão de Haymarket em
suas audiências.
Através de livros publicados, discursos e escritos, Parsons dedicou 50 anos de sua vida
não só para limpar o nome de seu marido, mas também para a preservação, educação e
inspiração de outras gerações com a história do caso de Haymarket. Parsons compartilhou
essa história, em grande parte, através de materiais publicados. Menos de um mês após as
execuções, Parsons estava rodando propagandas de um livro de discursos de Albert em The
Alarm.36 Em 1889, Lucy Parsons estava vendendo Life of Albert Parsons (Vida de Albert
Parsons), uma coletânea de ensaios sobre a história do movimento operário americano e os
próprios escritos de Albert. Com o livro, Lucy se dispôs a criar uma obra que “não era
apenas biográfica, mas histórica – um trabalho que pode ser invocado como uma autoridade”
para o futuro.37 A dedicação de Parsons para garantir que essa história não seria
esquecida se estendeu muito para o século XX. Em 1909, Parsons escreveu para Mother Earth
(Mãe Terra), uma revista anarquista editada por Emma Goldman e Alexander Berkman, entre
outros, pedindo, “quem iria perpetuar a memória de nossos companheiros mártires”, para
ajudá-la a republicar seu outro texto, o Famous Speeches of our Martyrs (Discursos Famosos
de nossos Mártires).38 Muitas vezes, quando falava no 1º de Maio ou 11 de Novembro,
Parsons infundia a sua história com forte paixão, ao compartilhar a dor pessoal que sentiu
quando ela e seus filhos foram presos e detidos durante a execução.39 Frente às audiências
e publicações da IWW, ela contou as atrocidades de conspiradores capitalistas ao comparar
o julgamento de Chicago com a acusação do líder do IWW, Bill Haywood, em 1907.40 Mais
tarde, quando o socialista Eugene V. Debs e o sindicalista radical Tom Mooney foram
presos, Parsons enviou para eles dois exemplares de Life of Albert Parsons (Vida de Albert
Parsons).41
Lucy também tinha plena consciência de outras obras sobre Haymarket. Quando a
obra ficcional de Frank Harris foi publicada em 1908, Parsons tinha 10.000 folhetos
impressos e distribuídos para refutar as “declarações contidas nesse livro mentiroso.”42
Acreditando que a identidade do homem da bomba era “absolutamente desconhecida”, Parsons
opôs-se a Harris nomear um bombista e também ao papel secundário de Albert desempenhado em
The Bomb. Por outro lado, em 1937, Parsons elogiou o Labor Agitator: the Story of Albert
R. Parsons de Alan Calmer (Agitador de Trabalho: a História de Albert R. Parsons, de Alan
Calmer), chamando-o de “boa história do trabalho” que a atual “geração deve conhecer”.43
Parsons se dedicou para compartilhar as radicais histórias de Haymarket, que
estão profundamente disputadas. Um historiador precoce de Haymarket praticamente ignorou o
papel de Parsons nos esforços de defesa e limitou sua vida para as notas finais.44 De
acordo com Ashbaugh, na década de 1960, os editores da Radcliffe’s Notable American Women
(Notáveis Mulheres Americanas de Radcliffe) não optaram por incluir Parsons, chamando-a de
uma figura patética incapaz de escapar do passado e parar de chorar sobre injustiças.45
Aparentemente, de acordo com essas caracterizações, a defesa que Parsons fez de seu marido
e a dedicação aos mártires da história de Haymarket a fez historicamente insignificante.
Na verdade, a luta de Mark Donahue contra o parque Lucy Parsons atesta o fato de que essa
ideia ainda está viva hoje.
Na década de 1970, os historiadores revisionistas contra-atacaram essa
demissão. Em sua biografia, Ashbaugh denunciou “a impressão de que Lucy Parsons dedicou
sua vida a limpar o nome de seu marido” como completamente errada, retratando Parsons, ao
invés disso, como uma revolucionária comunista, não uma esposa devotada. Mais
recentemente, Gale Ahrens escreveu que seus “escritos e discursos sobre os acontecimentos
em 1886-87... são uma parte relativamente pequena do trabalho de sua vida”, e que ela só
estava tentando demonstrar a continuidade histórica entre Haymarket e julgamentos
políticos posteriores.46 Ambos estão corretos ao considerar Parsons uma revolucionária em
seu próprio direito. Entretanto, a história dos mártires de Haymarket não era uma pequena
parte da vida de Parsons, mas, em vez disso, foi uma característica central de sua vida.
Quase imediatamente após a bomba, as histórias populares do evento entraram
na esfera pública. Na maioria das vezes, essas histórias serviram apenas para apoiar
processos sensacionalistas que apregoavam concepções de anarquistas como perigosos
subversivos. “O mais notável destas histórias é o capitão da polícia Michael” de Schaack,
1889, Anarchy and Anarchists, que retrata o julgamento de Haymarket como uma grande
vitória para a lei e a ordem sobre terroristas anarquistas.47 Outra história inicial é a
“Anarchy at an End: Lives, Trial, and Conviction of the Eight Chicago Anarchists” de 1886,
que incide sobre os papéis heroicos do júri, acusação e juiz.48 Junto com outras histórias
populares da época, esses livros disseminaram a interpretação do Estado capitalista a
respeito dos eventos de Haymarket. Como contraponto à essas histórias conservadoras, Life
of Albert Parsons segue um esquema semelhante ao texto de Schaack. Ambos começam com uma
história do movimento operário muito antes da década de 1880 e, embora ambos sejam
extremante subjetivos, eles tentam apresentar um quadro histórico para a compreensão dos
acontecimentos de 1886.
Contudo, com o decorrer do tempo, Albert Parsons passou a ser o centro da história do caso
Haymarket, crescendo no trabalho de Parsons. De fato, Parsons tomou um interesse
particular na mitificação e criou um herói fora do legado de seu marido. Isso pode ser
visto pela comparação das respostas que deu a Harris em The Bomb e as que deu a Calmer em
Labor Agitator. Parsons, apaixonadamente, denunciou o The Bomb, porque ela acreditava que
Harris tinha identificado erroneamente a pessoa da bomba, e porque o The Bomb apresentou
Albert Parsons como uma figura secundária.49 Por outro lado, Parsons elogiou o livro de
Calmer, o que está diretamente ligado ao fato de que Albert toma o lugar central em Labor
Agitator. Claramente, Parsons apoiou a narrativa que colocou seu marido na vanguarda dos
acontecimentos, apesar de que sua importância no movimento operário era, em grande parte,
devido ao fato de ser ele um dos seus poucos agitadores de língua Inglesa. Assim, Parsons
era culpada de participar na transformação de si mesma em herói. No entanto, um
reconhecimento dessa subjetividade não só reforça a centralidade do caso Haymarket em sua
vida, mas também mostra que ela não era infalível. Parsons permitiu, por vezes, que suas
lealdades pessoais moldassem sua interpretação no caso de Haymarket, ainda que não fosse
patológica ou de grau obsessivo.
Ainda assim, há uma justificativa para o calendário e a forma de apresentação
encontrada na narrativa histórica de Parsons. Na maior parte das vezes, Parsons
compartilha essa história quando participa de eventos apropriados – especialmente nos
aniversários do dia da bomba ou da execução. Em seu jornal The Liberator (O Libertador) no
IWW, impresso de 1905 a 1906, demonstra claramente isso. Em The Liberator, Parsons dedica
amplo espaço para as questões da época, como o sindicalismo, a Guerra Russo-Japonesa e
próximas eleições, economizando uma discussão detalhada sobre a questão de Haymarket para
o dia 11 de novembro de 1905. Na memória do assunto, Parsons ofereceu sua narrativa de
assassinato judicial, apoiando seu argumento com registros do tribunal do Condado de
Cook.50 Além da edição de aniversário, quase todos os artigos sobre Haymarket em The
Liberator foram acoplados a um artigo sobre a história internacional dos trabalhadores,
refletindo sua consciência do lugar mais amplo de Haymarket na história.51
Da mesma forma, quando falava em eventos que não estavam diretamente relacionados com a
Haymarket, Parsons geralmente reservaria sua discussão sobre Haymarket para o final, como
uma pedra angular inspiradora. Seu discurso na convenção fundadora do IWW começou com uma
exposição da opressão das mulheres trabalhadoras, em seguida, discutiu a solidariedade de
classe e terminou com um histórico do caso de Haymarket. No entanto, na celebração do May
Day (Dia do Trabalhador) em 1930, Parsons dedicou a totalidade do seu discurso a
Haymarket, começando com "a grande greve" para "a jornada de oito horas" e terminando com
as últimas palavras do mártir no tribunal.52 As diferenças entre os dois discursos destaca
a racionalidade por trás das decisões de Parsons quando fala sobre a história de Haymarket.
Ao contar a história Haymarket para o público de trabalhadores, Parsons advertiu contra
visões ingênuas da democracia americana. Juntamente com as lições da greve em 1877, o
susto vermelho que se seguiu ao atentado ensinou Parsons, da forma mais pessoal, que o
estado norte-americano poderia derramar um “reinado de terror” em cima do radicalismo,
igual ao “cão de caça russo mais zeloso.”53 A história do caso Haymarket mostrou que o
governo podia se mover rapidamente para esmagar indivíduos e movimentos. A incapacidade do
comitê de defesa para impedir os assassinatos judiciais incutiu em Parsons a importância
central de angariar apoio em massa para desafiar o poder do capitalismo sobre o Estado.
Assim, o objetivo subjacente de compartilhar a história de Haymarket se estendeu para além
de limpar o nome de seu marido, pois almeja, no fim das contas, usar as lições do caso
para educar futuros radicais trabalhistas. As lições embutidas na história de Parsons
foram evidentes aos militantes posteriores. Organizadora do IWW, Elizabeth Gurley Flynn
explicou que Parsons “viajou de cidade em cidade, batendo nas portas de sindicatos locais
e contando a história do julgamento de Haymarket” a fim de alertar os jovens sobre a
“gravidade da luta adiante” e a possibilidade de que a “prisão e a morte” podem vir “antes
da vitória.”54 A natureza perigosa do radicalismo do trabalho foi ilustrada pela
explicação de Parsons em um discurso de que "a imprensa capitalista", o "púlpito", a
polícia, um júri lotado, e "juízes preconceituosos" agiram conjuntamente para executar
líderes anarquistas de Chicago.55 Assim, Parsons advertiu jovens radicais, usando a
história do caso de Haymarket para mapear as estruturas de poder em um estado capitalista.
Historiadores revisionistas que rejeitaram ou ignoraram a dedicação de
Parsons à história de Haymarket também têm mascarado o fato de que Parsons havia fixado um
significado alternativo para o caso Haymarket, que desafiou o significado criado por
poderes institucionalizados. Através de interpretações históricas de tais historiadores,
“comentaristas da grande mídia, porta-vozes do capital, e oficiais estaduais fundamentados
na legitimação das instituições” transmitiram a “ideia dominante de que a violência do
governo efetivamente protegeu” a América contra a “violência conspiratória e niilista de
terroristas da classe trabalhadora”, como Albert Parsons.56 Em outras palavras, histórias
como a de Schaack, que classificou os anarquistas como terroristas e subversivos
estrangeiros, deram aos acontecimentos de Haymarket um significado simbólico que mais
tarde justificou a criação de aparatos estatais repressivos, incluindo “esquadrões
vermelhos” (red squads, unidades de inteligência policial especializadas em se infiltrar),
legislação nativista, e agências de inteligência. Em oposição a essa caracterização
dominante, Parsons retratou os anarquistas como mártires, em vez de terroristas, exibindo
uma forte consciência desta luta pelo sentido. Praticamente, em todos os tempos, “a
reunião Haymarket” foi referida historicamente como o “motim de Haymarket”; e Parsons
teria, apaixonadamente, citado a natureza da reunião como “pacífica e tranquila”.57
Parsons sabia que ela tinha que “cavar os fatos” de uma história de mentiras que haviam
sido amontoadas sobre os mártires por aqueles que tentaram “encobrir [o] crime de enviar
cinco líderes de trabalhadores para a forca.”58 Além disso, o significado histórico
alternativo que Parsons atribuiu também construiu as bases simbólicas de comemorações
institucionais, como o May Day. Quando a dedicação de Parsons à interpretação histórica
radical do caso Haymarket é jogada abaixo, obscurece-se o papel influente que ela
desempenhou na fixação de um significado alternativo para o episódio da bomba na Haymarket.
Ao reconhecer que Parsons passou grande parte de seu tempo compartilhando a
história dos acontecimentos de Haymarket, é possível explorar a influência da narrativa
pessoal sobre o radicalismo. Embora bem versado no pensamento radical, a capacidade de
Parsons para moldar o significado dos eventos de 1886 não deriva de sua experiência
intelectual. Em vez disso, a influência de Parsons está enraizada no uso de uma narrativa
pessoal e sua posição como uma viúva do acusado e executado. Parsons explicou que ela
tinha um “direito como mãe e como esposa de um dos [a] os homens sacrificados, para dizer
o que quer”, que ela poderia “trazer a luz a incidir sobre” a judiciária "conspiração".59
Apesar de sua falta de poder institucionalizado, ela poderia usar seu poder simbólico como
uma viúva para impulsionar seu significado alternativo para a esfera pública por meio de
palestras e livros, e, assim, combater as ideias sensacionalistas divulgadas pela imprensa
mainstream (termo inglês que designa o pensamento ou gosto corrente da maioria da
população). Assim como as histórias institucionais do episódio da bomba em Haymarket
produziram poderosos sentimentos de medo no seio da sociedade, a narrativa de Parsons
havia criado sentimentos apaixonados de raiva e revolta entre os radicais. Quando os
historiadores ignoram que Parsons teria um compromisso de dizer a sua história alternativa
do caso Haymarket, destroem também a oportunidade de ver o poder que a experiência pessoal
pode ter na promoção de radicalismo na América, e em preencher as lacunas no registro
histórico.
Raça e a Criação da Consciência de Classe
A postura de Parsons sobre a opressão racial também é contestada bruscamente.
Relacionado à sua celebração como uma ativista dos direitos civis, muitas vezes, é
afirmado que Parsons foi uma forte porta-voz contra o racismo. A página inicial do site
comemorativo LucyParsonsProject.org afirma que Parsons desafiou a discriminação racial. Na
mesma linha, os funcionários dos parques de Chicago acreditavam que o parque proposto não
reconhece apenas o ativismo operário de Parsons, mas também os seus esforços em nome dos
afro-americanos.60 No entanto, essa celebração da militante como uma voz ativa contra a
opressão racial não tem sido afirmada por acadêmicos. O historiador Robin D. G. Kelly
argumenta que Parsons eloquentemente lutou contra a opressão da classe trabalhadora, mas
"ignorou a raça"; argumenta, ainda, que, embora ela escrevesse sobre linchamentos de
negros, Parsons visualizava a tamanha violência racial, principalmente, como uma extensão
da opressão de classe. Kelly baseou seu argumento, em grande parte, em um artigo de 1886
no The Alarm, em que ela escreveu que a opressão não foi “lançada sobre o negro porque ele
é negro”, mas porque “ele é pobre.”60 Kelly argumentou que Parsons praticou reducionismo
de classe, e acredita que esse reducionismo é explicado pela sua incapacidade de operar
fora “dos limites do pensamento ocidental socialista do século XIX.”62 Ashbaugh concorda,
argumentando que Parsons “acreditava que a abolição do capitalismo produziria
automaticamente igualdade racial.” Ashbaugh explica que a postura de Parsons (ou falta
dela) sobre a opressão racial refletiu sua profunda internalização do racismo branco, o
que tornou impossível para “ela analisar sua posição social em relação a tudo menos seu
status de classe.”63 Essa análise contradiz claramente a imagem mitologizada de Parsons
como “uma defensora ferrenha” para “os direitos dos afro-americanos.”64 Essa contradição é
explicada, em parte, pelos questionamentos às visões que Kelly e Ashbaugh tinham de
Parsons como uma reducionista de classe.
A historiadora feminista Roxanne Dunbar-Ortiz argumentou recentemente que Parsons, de
fato, reconhece o racismo como uma força fora dos limites da opressão de classe,
baseando-se em um artigo de 1892, em que Parsons protesta contra a violência racial,
“sendo perpetuada no Sul contra os cidadãos pacíficos, simplesmente porque eles são
negros.” Em resposta a esse racismo brutal, Parsons sugeriu que os afro-americanos
tirassem o espírito de John Brown e “ajudassem a si mesmos” pelo aumento da autodefesa.65
Dunbar-Ortiz argumenta que a postura de Parsons sobre o racismo se estende além do
“economicismo reducionista” e que sua “linguagem de autoconfiança e autodeterminação” foi
um precursor para o radicalismo de “Malcolm X e os Panteras Negras”.66 A conexão feita
aqui é bastante tênue. No entanto, ligando escritos de Parsons com as ideias do “movimento
dos direitos civis durante a década de 1960”, Dunbar-Ortiz plantou as sementes para
comemoração de Parsons como uma defensora dos direitos negros.
Parsons, em 1930, trabalhou para a defesa dos Scottsboro Boys, através da
International Labor Defense (ILD, Defesa Internacional do Trabalho), o que também é citado
como evidência de seu ativismo negro. Argumenta-se que o seu trabalho em defesa dos oito
homens negros, conhecidos como os “Scottsboro Boys”, em julgamento pelo suposto estupro de
uma mulher branca, mostra “dedicação... para as lutas dos afro-americanos.”
(www.lucyparsonsprojet.org/about_lucyparsons.html.) No entanto, na década de 1930, Parsons
também estava trabalhando com o ILD para obter a liberdade do líder trabalhista Tom Mooney
da prisão. Seus esforços em nome dos Scottsboro Boys parece refletir seu trabalho de longa
data contra o assassinato judicial, mais do que uma dedicação específica para os
afro-americanos.67 Na mesma linha, seu ensaio “Southern Lynchings” (Linchamentos no Sul)
não fornece provas suficientes para demonstrar que a opressão dos afro-americanos era um
foco central em sua obra. No entanto, o artigo demonstra que Parsons estava ciente do
racismo, e não ignora a questão. De fato, “Southern Lynchings” sugere que, antes que
Parsons passe a ser definitivamente marcada como uma reducionista de classe ou uma
ativista pelos direitos dos Negros, é necessária mais investigação.
Uma exploração mais profunda em sua postura sobre o racismo pode começar com uma análise
das alegações de Kelly e Ashbaugh a respeito do reducionismo em relação à dedicação de
Parsons para forjar a consciência de classe. Para reiterar, Kelly explicou a postura de
Parsons sobre o racismo como um reflexo de seu confinamento ao pensamento socialista
ocidental. Ao fazer isso, Kelly deu a entender que o trabalho de Parsons dentro do
movimento operário apenas a distanciava da opressão racial, que ela era incapaz de ver o
poder opressivo do racismo. Ashbaugh acreditava que o reducionismo de Parsons deveu-se ao
fato de que ela internalizou o racismo, a tal ponto que ela “negou a sua própria
ancestralidade negra” e, assim, ficou incapaz de ver tanto a sua própria “opressão como
uma mulher negra” quanto o papel do racismo na sociedade em geral.68 Essas explicações
são, em grande parte, especulativas e, paradoxalmente, apesar de Kelly e Ashbaugh chegarem
a mesma conclusão, um raciocínio contradiz o outro. É difícil imaginar que uma mulher de
cor viva, no início do século XX, não podia ver ou sentir o racismo. Além disso,
juntamente com o “Southern Lynchings”, uma exploração de dedicação de Parsons para forjar
uma consciência de classe racialmente inclusiva demonstra que Parsons estava ciente do
poder do racismo na sociedade em geral.
Ao longo da vida, Parsons se esforçou ativamente para construir uma identidade de classe
comum entre todos os trabalhadores norte-americanos.69 Muito antes do episódio da bomba de
Haymarket, Parsons pediu às “massas para aprender que” os seus interesses estariam sempre
em oposição à classe dominante.70 Parecia que a falta de apoio para a defesa dos líderes
dos Knights of Labor, junto com divisões pré-existentes dentro do movimento operário e um
medo geral de represálias, impediu o apoio unificado dos trabalhadores aos réus de
Haymarket. Parsons se afastou das execuções, acreditando que só um movimento massivo
baseado no interesse comum dos trabalhadores poderia desafiar com êxito o capitalismo.
Assim, no sentido de incitar a formação de uma classe operária auto identificada na
América, Parsons estava tentando fortalecer a única arma que ela acreditava realmente que
poderia derrubar o capitalismo. Em 1907, depois que o líder da IWW, Bill Haywood, foi
absolvido das acusações de conspiração para cometer assassinato, Parsons explicou que o
sucesso da defesa foi porque “a classe operária era unida e ficou ombro a ombro”; e
tornou-se consciência de classe ao reconhecer que a própria IWW, não só Haywood, era, na
verdade, levada a julgamento.71
Além disso, a sua visão de classe incluiu pessoas de todas as raças e etnias.
Parsons abraçou organizações que se recusaram a participar de bode expiatório racial e
rejeitavam políticas racialmente exclusivas. Em 1885, o IWPA declarou que não faria como
outras organizações de trabalhadores tinham feito e “declarou o Chinês responsável pelas
condições opressivas dos trabalhadores", como o “IWPA nunca iria sentir que suas fileiras
estavam completas se excluíssem trabalhadores de qualquer nacionalidade.”72 Parsons
continuaria a defender um movimento trabalhista racial, inclusive, muito depois do
desaparecimento das IWPAs. Falando antes do IWW, Parsons ressaltou a importância de formar
uma solidariedade inclusiva entre os trabalhadores, lembrando o IWW que:
O fluxo vermelho que corre nas veias de toda a humanidade é idêntico... Não importa onde,
seja nas planícies ensolaradas da China, ou no sol batendo nas colinas da África, ou nas
margens distantes cobertas de neve do norte, ou na Rússia ou na América... todos eles
pertencem à família humana e têm uma identidade de interesses.73
Claramente, Parsons estava ciente que questões de raça dentro do movimento
trabalhista americano poderiam ser poderosamente divisionistas. Na verdade, dialogando
diretamente com problemas de racismo que assolaram o movimento operário, Parsons
incentivou claramente o IWW a abraçar uma forma inclusiva da consciência de classe, não
permitindo que a união fosse dividida em linhas raciais ou nacionais; assim como muitos
outros sindicatos da época. Longe de ignorar raça, Parsons rejeitou a criação de
organizações de trabalhadores exclusivamente raciais ou estratificados.
Além disso, sua dedicação para forjar um movimento trabalhista racialmente
inclusivo desafia a ideia de que ela havia internalizado o racismo. Em vez disso, ela
reconheceu o poder de divisão do racismo e, junto com os outros fundadores do IWW, abraçou
e incentivou a formação de uma consciência de classe racialmente inclusiva, que poderia
atuar como um poderoso mecanismo contra o capitalismo.
Explorar essa dedicação de Parsons para forjar uma consciência de classe
racialmente inclusiva na América pode servir como um ponto de partida para uma análise da
sua postura de raça. Na verdade, em termos comemorativos, incluir nomes e as celebrações
do parque que leva o nome Parsons pode de fato estimular o movimento operário americano a
adotar mais práticas e políticas raciais inclusivas. Ainda assim, deve-se ressaltar que a
dedicação de Parsons para forjar uma classe trabalhadora racialmente unificada,
autoconsciente, estava enraizada em seu desejo de fortalecer a escolha das armas contra o
capitalismo - um movimento de trabalhadores em massa. Na realidade, implícita dentro de
sua postura de oposição, incluindo a sua crítica ao poder de divisão do racismo, Parsons
tinha o desafio de ter sua própria concepção para América como uma sociedade sem classes.74
Criando a Heroína Mítica
Grande parte da controvérsia sobre a vida de Parsons tem resultado da
remodelação inadequada e da criação de um ícone histórico. A história de Parsons foi
influenciada pelas afiliações políticas e objetivos daqueles que a gravaram, e por aqueles
que foram empenhados em criar um herói em sincronia com suas inclinações políticas
específicas ou suas necessidades. No entanto, são possíveis várias formas de comemoração
ou homenagem para Parsons sem alterar ou ignorar suas próprias palavras. Parsons pode ser
facilmente celebrada como uma figura fundamental na criação e preservação de uma história
alternativa de Haymarket. Ela pode ser vista como um herói trabalhador que rompeu com a
tradição e defendeu racialmente (e gênero) a unidade da classe trabalhadora dos Estados
Unidos - uma posição geralmente radical para esse período. No entanto, não é dada atenção
suficiente a como e por que essa manipulação é tão prevalecente na historiografia de
Parsons. Uma série de fatores influenciam a reformulação do seu legado. Ao explorar como e
por que Parsons tem sido rotulada como uma ativista negra, feminista e comunista, as
raízes dessa manipulação podem ser resolvidas na íntegra.
Muitos dos problemas associados com a rotulação de Parsons como Africano-Americana já
foram discutidos, mas a atratividade desse rótulo garante mais discussão. Em sua rotulação
como negra, torna-se possível se envolver com ela em um nível mais familiar. A
incapacidade dos Estados Unidos de reconhecer suas divisões de classe fez das identidades
raciais e étnicas uma área mais familiar no discurso. É mais fácil rotular Parsons em
questões afro-americanas e, em seguida, discutir questões que confrontam figuras negras na
história americana. Por exemplo, quando se compara Parsons com uma famosa anarquista
branca, Emma Goldman, Ashbaugh argumenta que “Goldman pudesse estudar na Europa e viajar
em meios educados”, mas a “pele escura” de Parsons impediram-na de tais oportunidades.75
Contudo, o registro histórico refuta tal argumento. Parsons foi calorosamente recebida ao
falar em Londres, em 1888, pelo menos, nos meios radicais; e sua visita à Inglaterra é
considerada um fator chave para levar muitos socialistas ingleses a abraçar completamente
o anarquismo.76 Sua popularidade na Europa durou décadas. Enquanto escrevia The Liberator,
um camarada de Paris lembrou Parsons de que ela ainda estava "bem conhecida na Europa" e
que qualquer conselho que pudesse oferecer sobre os perigos do sindicalismo iria "fazer
uma boa impressão” nas alas radicais parisienses.77 Claramente, Parsons poderia viajar
pela Europa. Assim, nem todas as restrições típicas das mulheres negras afetaram Parsons.
Em vez disso, uma comparação de classe e culturas constituintes serviria como melhores
mecanismos para a compreensão de diferentes experiências de Parsons e Emma Goldman na
Europa. Além disso, essa comparação exigiria que a comunidade acadêmica participasse mais
plenamente com Parsons em um nível de classe.
O legado de Parsons também foi transformado em história de uma heroína
feminista. Especialmente nas arenas de memória pública, Parsons é rotineiramente chamada
de feminista.78 Ao longo de sua vida, ela abordou muitas questões que as mulheres
enfrentam. Ela se enfureceu contra as práticas corrosivas que pressionavam as mulheres
para absorver empregos domésticos e incentivou as mulheres a abraçar o controle da
natalidade.79 Como uma mãe trabalhadora, Parsons acreditava que falava em nome de todas as
mulheres que trabalhavam quando participou da fundação do IWW.80 No entanto, seus esforços
em nome das mulheres sempre fizeram parte de sua dedicação à luta de classes.81 Seu
interesse pela libertação feminina manteve-se focado em questões que lhe foram mais
diretamente ligadas ao trabalho e ao capitalismo. Parsons respondeu às anarquistas que
defendiam maior liberdade sexual das mulheres, salientando que a rejeição das relações
sexuais e familiares tradicionais poderia aumentar a opressão das mulheres que trabalhavam
por removê-los da rede de segurança econômica da família.82 No entanto, com os escritos
dispersos de Parsons sobre questões femininas, como prova, os historiadores revisionistas
têm usado com sucesso o rótulo feminista para combater a visão de Parsons como uma viúva
apaixonada. Contudo, o rótulo feminista também é problemático. Pode ainda prejudicar a
exploração de sua dedicação à história de Haymarket, tornando difícil esquadrinhar as
maneiras pelas quais o poder de Parsons foi positivamente derivado de sua posição como
mulher e viúva. Além disso, tal como os termos dos direitos civis, o rótulo feminista
tende a ser usado de maneiras que fundem ideias de Parsons com as ideias e objetivos do
movimento das mulheres de 1960. Ao invés de usar o termo feminista, pode ser mais simples
afirmar que Parsons foi uma heroína para todos os trabalhadores.
A ideia de que Parsons foi membro do Partido Comunista é a identidade mais
contestada e sem fundamento já colocada a seu respeito. A imagem de Parsons como uma
comunista é apenas a criação de Ashbaugh. Escrevendo em 1976, no final de uma era de
intelectualismo marxista, Ashbaugh afirmou que Parsons perdeu a fé no anarquismo no início
de 1930; e, como o Communist Party USA (Partido Comunista dos EUA) cresceu em
proeminência, ela tornou-se ativa na International Labor Defense, um grupo da frente
comunista. Em 1927, Parsons foi eleita para o Comitê Nacional do ILD e, de fato, trabalhou
em uma série de casos, incluindo o caso Scottsboro.83 No entanto, Ashbaugh, dando, então,
um salto de fé, alega que, em 1939, Parsons entrou oficialmente para o Partido Comunista,
mas não forneceu qualquer evidência sólida para essa afirmação. O Partido não registra a
adesão de Parsons, seja na literatura promocional ou em seus registros. Em vez disso,
Ashbaugh usou um trabalho de Parsons com o ILD e seus discursos antes das audiências
comunistas como prova de filiação. Já se observou que o trabalho de Parsons com o ILD foi,
antes de tudo, uma continuidade de seus esforços na defesa dos líderes trabalhistas
vítimas da repressão. Os discursos de Parsons antes das audiências comunistas não indicam
necessariamente que era um membro do partido, mas que ela estendeu a mão para uma
organização que considerava eficaz no tratamento das questões trabalhistas.
A presença de Parsons na história do comunismo americano expõe uma das
principais formas de manipulação da sua história. Na década de 1920, o movimento
anarquista americano foi praticamente dizimado por políticas governamentais anti-radicais.
Na década de 1930, o Partido Comunista dos EUA foi a organização mais proeminente com foco
em questões trabalhistas. Desde o caso Haymarket, Parsons professava uma ideologia radical
simples: apenas uma sólida organização baseada em classes e que tivesse a atenção das
massas e aceitado a natureza violenta da luta de classes poderia trazer o ideal
revolucionário de uma sociedade livre.84 Parsons passou a vida se movendo de organização
para organização, a fim de apoiar a associação com o forte poder revolucionário. Ela
explicou, em 1930, que tinha “visto muitos movimentos de vir e ir” e havia “pertencido a
todos aqueles movimentos”, mas que sempre fora “uma anarquista, porque o anarquismo
[transporta] o próprio germe da liberdade em seu ventre.”85 Uma pequena lista de
organizações em que Parsons trabalhou inclui o Socialistic Labor Party (Partido Socialista
Trabalho), o IWPA, o Socialist Party (Partido Socialista), o IWW, o Syndicalist League of
North America (Liga dos Sindicalistas da América do Norte) e o ILD. Parsons, em um fluido
movimento de organização para organização, enfraquece a afirmação de Ashbaugh.86
Em vez de reconhecer a vontade de Parsons para trabalhar com uma ampla gama
de organizações da classe trabalhadora, Ashbaugh introduziu algo semelhante a uma
competição sobre quem poderia reivindicar Parsons. Por exemplo, a história documental de
Gale Ahrens foi uma tentativa de resgatar Parsons “para o movimento anarquista.”87 Ao
fazê-lo, Ahrens fornece ao anarquismo outro herói, mas faz pouco para desmistificar o
legado de Parsons. Ao enfatizar suas próprias afiliações políticas e não reconhecer a
dedicação de Parsons à criação de uma sociedade livre, superando suas lealdades
institucionais, historiadores abriram a porta para o legado de Parsons ser destorcido para
a história de um mero reformador social.
Por fim, deve-se salientar que essa mitologização de Parsons resultou na desvalorização e
expurgação de seu compromisso revolucionário. A adesão de Parsons à ideia de “propaganda
pela ação” praticamente desapareceu do registro histórico.88 Lidar com a história de
Parsons e o anarquismo de promoção da ação direta, às vezes violenta, tem sido uma tarefa
difícil para a esquerda norte-americana. Além disso, em um mundo pós-11 de Setembro, o
discurso em torno do surgimento e méritos da violência revolucionária tem sido quase que
totalmente limitado a sua repulsa. Tornou-se difícil para comemorar publicamente Parsons,
embora reconhecendo sua dedicação à “propaganda pela ação”. No entanto, sua vida pode
servir como um caso de estudo para a compreensão da relação entre as experiências de
repressão e de crença na necessidade ou inevitabilidade da violência como um mecanismo
para a mudança. Tal exploração nos permitirá visualizar as crenças de Parsons não como uma
anomalia a ser esquecida em uma outra vida louvável, mas como um elemento central de uma
ideologia radical profundamente influenciada pela experiência pessoal da repressão.
O Parque Lucy Elk Gonzales Parsons
Em 07 de março de 1942, Lucy Parsons morreu quando sua casa pegou fogo, pondo
fim há mais de 70 anos de trabalho incansável em nome da classe trabalhadora da América.
Parsons deixou para trás um longo histórico de contribuições influentes para o radicalismo
americano, mas o fogo e a remoção e supressão de seus registros pessoais pelas autoridades
estaduais contribuíram para ocultar o seu legado.89
Historiadores e funcionários públicos ainda sepultaram a influência de
Parsons, moldando sua vida para caber nos interesses políticos e culturais atuais. Essa
reformulação histórica está na raiz da criação de uma imagem heroica de Parsons que
contradiz muitas de suas próprias crenças. Através do esforço para ver a vida de Parsons
dentro do contexto de seu próprio tempo e retornando para muitos dos registros históricos
disponíveis, é possível lidar com essas contradições e deixar brilhar uma nova luz sobre
suas contribuições para o radicalismo americano. Parsons foi claramente a figura mais
formativa no sentido de garantir que a história do caso de Haymarket seria lembrado e não
fosse distorcida por aqueles no poder. Parsons usou essa história para educar líderes
trabalhistas jovens da América a respeito do poder repressivo do Estado, bem com infundir
no movimento operário uma indignação apaixonada. Além disso, Parsons acrescentou ao ideal
americano de justiça, promovendo políticas de trabalho racialmente inclusivas que ajudaram
a fortalecer a compreensão tradicionalmente fraca de classe na América.
Em maio de 2004, o conselho do Chicago Park District’s aprovou a proposta do Parque Lucy
Elis Gonzales Parsons. As contribuições de Parsons para o radicalismo americano certamente
merecem ser comemoradas, e o Parque Lucy Elis Gonzales Parsons pode servir como um
poderoso local para tal comemoração, apesar de os pressupostos historicamente imprecisos
que levaram a sua criação. Rodeado por um número de fábricas, em um bairro operário
intocado pela especulação imobiliária, o cenário do parque Parsons é bastante
apropriado.90 O parque poderia facilmente servir como um ponto de encontro de diversos
grupos para se unirem em torno de suas causas comuns. O parque também oferece uma
oportunidade para Chicago e América começarem a abraçar plenamente a sua história radical.
O passado da América está cheio de lutas pela liberdade econômica, e nossa sociedade não é
nutrida através da limitação de nossa celebração histórica para o movimento dos direitos
civis e de outras lutas que têm sido, muitas vezes, domadas em sua releitura.
Naturalmente, a verdadeira questão não é quem foi a heroica Lucy Parsons, mas como podemos
aprender com sua luta e como sua história pode proporcionar uma melhor compreensão do
radicalismo americano. Mais importante ainda, o Parque Parsons deve servir como um
lembrete de que a história que encontramos em uma placa ou espremido em listas de heróis
foi certamente influenciada pelo presente. A formação do legado de Parsons para atender às
necessidades de um governo da cidade, relutante ou incapaz de celebrar diretamente sua
história anarquista, nos ensina que histórias de banco de parque nunca devem ser vistos
como a história completa, mas deve servir como ponto de partida para um estudo mais profundo.
A pesquisa sobre a vida de Parsons está apenas começando. Com uma compreensão de como e
por que sua história tem sido deformada, existe uma oportunidade inestimável para cavar
ainda mais os registros, em uma tentativa de desmistificar sua vida. Existem áreas
inteiras de sua vida, especialmente na era da Primeira Guerra Mundial e na década de 1920,
que estão em falta, a partir do registro histórico, e devem ser exploradas.
A história Lucy Parsons é mais ampla e mais complexa do que sua condensação em uma
biografia ou do que um pequeno livro de fontes documentais pode capturar. Estudos sobre
Parsons e o radicalismo em geral, não podem ser considerados finais - como ela mesma
salientou:
“Nada é considerado tão verdadeiro ou tão certo, que as descobertas futuras não possam
prová-lo falso.”91
1 Sou grato a S. Kashdan que corrigiu e comunicou este artigo.
2 PARSONS, Lucy. “The Moving Inspiration of our Age,” The Agitator, 15 de Novembro de
1911, em Ahrens, ed. ____: Freedom, Equality and Solidarity (FES).p. 136.
3 Albert Parsons foi formalmente acusado e cúmplice por cometer assassinato. AVRICH, Paul.
The Haymarket Tragedy. p. 272.
4 “`Plan to Name Park after Anarchist Draws Fire,” Chicago Sun-Times, 22 de Março 2004, 7;
“Daley Backs Plan to Name Park after Anarchist,” Chicago Sun-Times, 24 de Março 2004, 17.
Tem sido muito aceito que Lucy e Albert Parsons não tiveram nenhum papel direto nos
atentados de 1886. Para uma sinopse sobre a natureza injusta do julgamento veja, o perdão
de Neebe, Fielden e Schwab do governador Altgeld; vindicação dos mártires de Chicago de 1887.
5 A melhor consideração do atentado é de Avrich, The Haymarket Tragedy.
6 “Park Plan Upsets Chicago Cops”, Chicago Tribune, 22 de Março 2004
7 De acordo com Ashbaugh, “Parsons afirmou ser uma ‘anarquista’, quando o título foi
fixado nela pela imprensa burguesa”. PARSONS, Lucy. American Revolutionary. p. 201. Alguns
historiadores têm o mesmo modo, buscou reformar visualizações dos Mártires para atender
suas próprias predileções.
8 AHRENS, “Lucy Parsons: Mystery Revolutionist More Dangerous than a Thousand Rioters,”.
p. 19-20.
Em: MCKEAN, Jacob. A Fury for Justice Lucy Parsons and the Revolutionary Anarchist
Movement in Chicago. Tese sênior, 2006.
9 Albert Parsons, “Auto-Biography” em The Life of Albert Parsons, Lucy E. Parsons, ed., 9.
10 ASHBAUGH. Lucy Parsons. p. 268.
11 AVRICH. The Haymarket Tragedy. p. 9-10.
12 ASHBAUGH, Lucy Parsons. p. 267.
13 “The Mayor Testifies”, Chicago Tribune, 3 de Agosto 1886, p.1.
14 “Parsons Dusky Bride”, Chicago Herald, 18 de Setembro 1886, p. 1.
15 “Mrs. Lucy E. Parsons Her Fisrt Address in London at A Welcome Extended Her on
Arrival”, The Alarm, 9 de Dezembro 1888, p. 1.
16 “Invoking the Law”, Chicago Times, 9 de Maio 1886, p. 2; “Lucy Parsons Talks”. New York
Times, 16 de Outubro 1886, p. 5; “Their Last Night”, Los Angeles Times, 11 de Novembro
1887, p; 5; “Philadelphia Anarchists Mrs. Parsons Appealing for the Chicago Anarchists”,
New York Times, 1 de Novembro 1886, p. 1; “Biographical Parsons”, Chicago Times, 7 de Maio
1886, p. 3. Deve ser notado que as descrições raciais de Parsons encontrados em jornais
são quase sempre ligados a uma maior tentativa de demonizar ela. Por exemplo, o Chicago
Times de 9 de maio de 1886 descreve o bronzeado mulato de Parsons é acompanhada pela
acusação de que seus “lábios grossos, pequena, olhos brilhantes e expressão sinistra” eram
prova de sua vontade de beber o sangue de crianças dos ricos.
17 “The Mayor Testifies”, Tribune, 3 de Agosto 1886.
18 De fato, “Lucy Parsons was Black” são as primeiras quatro palavras da biografia de
Ashbaugh.
19 Roxanne Dunbar-Ortiz, “One Infallible, Unchageable Motto: Freedom’ Reflections on the
Anarchism of Lucy Parsons,” em FES, p. 169. Dunbar-Ortiz tenta preencher a lacuna,
alegando que Parsons era de misto negro, do México, e ascendência indígena. Marion
Tinling, Women Remembered: A guide to Landmarks of Women’s History in the United States
(Greenwood Press, 1986, 479), refere-se a Parsons como “um negro de pele clara.” De acordo
com ROBIN, D.G. Kelly. Freedom Dreams: the Black Radical Imagination. Beacon Press, 2002.
p. 41. Parsons era “a mulher negra mais proeminente radical do final do século XIX”.
20 Ver, por exemplo, o site da African American Registry.
21 GREEN, James. Death in the Haymarket.
22 AVRICH. Haymarket Tragedy, p. 21-25.
23 GREEN, p. 85.
24 GREEN, p. 77.
25 PARSONS, Lucy. “The Principles of Anarchism”, 1905, p. 29.
26 PARSONS, Lucy. “On the ’Harmony’ Between Capital and Labor or the Robber and the
Robbed”. The Socialist, 7 de Setembro de 1878, p. 40.
27 AVRICH. The Haymarket Tragedy, p. 131.
28 “To the Workingmen of America”, The Alarm, 4 de Outubro de 1884, p. 3.
29 PARSONS, Lucy. “The Principles of Anarchism”, 1905, p. 32.
30 PARSONS, Lucy. “A Word to Tramps”. The Alarm, 4 de Outubro de 1884, p. 1.
31 AVRICH. The Haymarket Tragedy, p. 105.
32 De acordo com AVRICH (202), o discurso de Albert Parsons foi “surpreendentemente
temperado” em comparação com seus discursos anteriores.
33 AVRICH. The Haymarket Tragedy, xi. **Jeffory A. **Clymer, America’s Culture of
Terrorism, p. 33.
34 PARSONS, Lucy. “The Haymarket Meeting: A Graphic Description of the Attack on that
Peaceable Assembly”. 10 de Maio 1886, p. 53.
35 PARSONS, Lucy. “Challenging the Lying Monopolistic Press”, 11 de Outubro 1886, p. 56.
36 The Alarm, 17 de Dezembro 1887, p. 4.
37 PARSONS, Lucy. “Author’s Note”. In: The Life of Albert Parsons, p. xxx.
38 PARSONS. “To Lovers of Liberty”, Mãe Terra 4, n. 9 (Novembro 1909): 303; Lucy Parsons,
ed., The Famous Speeches of Our Martyrs.
39 PARSONS. “November 11: Fifty Years Ago”. One Big Union Monthly, Novembro 1937, p. 165.
40 PARSONS, “Speeches at the Founding Convention of the Industrial Workers of the World”,
28 de Junho 1905, p. 85; “The Proposed Slaughter”, The Liberator, 4 de Março 1905, 1; “The
Haywood Trial and the Anarchist Trial”. The Demonstrator, 4 de Setembro 1907, p. 130.
41 PARSONS. “Letter to Tom Mooney”, 11 de Junho 1936, p. 162; Parsons para Eugene V. Debs,
12 de Março 1926, em: CONSTANTINE. J. Robert. Letters of Eugene. University of Illinois
Press, 1990. p. 557-558.
42 PARSONS. “Letters to the Editor”. Freedom, Dezembro 1933, p. 6.
43 PARSONS. “Forward”. Em: CALMERS. Labor Agitator. International Publishers, 1937, p. 5
44 DAVID. The History of the Haymarket Affair, p. 476.
45 ASHBAUGH, p. 6.
46 AHRENS, “Lucy Parsons: Mystery Revolutionist, More Dangerous Than a Thousand Rioters,”
p. 12.
47 SCHAACK. Anarchy and Anarchists.
48 Anarchy at an End
49 AVRICH. The Haymarket Tragedy, p. 440.
50 PARSONS, Lucy. “The Great Conspiracy all Capitalist Lies”. The Liberator, 11 de
Novembro de 1905, p. 1.
51 Por exemplo, em outubro 1905 Parsons escreveu vários artigos sobre "Mulheres Famosas na
História", que incluiu um longo artigo sobre revolucionária francesa. MICHEL, Louise. The
Liberator, 29 de outubro de 1905, p. 1. The Liberator também demonstra que o interesse
Parsons não se limitaram a história radical. Por exemplo, um recurso de longa duração foi
"The Wonders of Science" da série, que se concentrou em questões científicas que variam de
exploração da Antártica para Crater Lake de Oregon. The Liberator, 8 de outubro de 1905,
3; 10 de dezembro de 1906, 3.
52 PARSONS, Lucy. “Speeches at the Founding Convention of the Industrial Workers of the
World”, 28 de Junho de 1905, p 85; “I’ll be Damned if I Go back to Work under Those
Conditions! A May Day Speech,” p. 155.
53 PARSONS, Lucy. “The Haymarket Meeting: A Graphic Description of the Attack on that
Peaceable Assembly”, p. 53.
54 FLYNN. I Speak My Own Piece, p. 70.
55 “The Haywood Trial and the Anarchist Trial”. The Demonstrator, 4 de Setembro de 1907,
p. 129.
56 CLYMER. America’s Culture of Terrorism, p. 6. Para uma discussão mais ampla sobre como
o significado do lance da bomba de Haymarket foi criado e utilizado pelo Estado, ver
CLYMER, p. 33-68.
57 PARSONS, Lucy. “The Eleventh of November, 1887”, 1912, p. 141-142.
58 “November 11: Fifty Years Ago,”One Big Union Monthly, p. 163-164.
59 “Speeches at the Founding Convention of the Industrial Workers of the World”, 28 de
Junho 1905, p 85.
60 “Plan to Name Park after Anarchist Draws Fire,” Chicago Sun-Times, 22 de Março 2004, 7.
61 “The Negro: Let Him Leave Politics to the Politician and Prayers to the Preacher”. The
Alarm, 3 de Abril 1886, 2.
62 KELLY. Freedom Dreams, p. 42.
63 ASHBAUGH. Lucy Parsons, p. 66.
64 LOWNDES, Joe Lowndes. “Lucy Parsons (1853-1942): The Life of an Anarchist Labor
Organizer”. Free Society 2:4, 1995, Internet.
65 “Southern Lynchings”. Freedom, 1892, p. 70.
66 “One Infallible, Unchangeable Motto: Freedom’ Reflections on the Anarchism of Lucy
Parsons”, p 181.
67 Em 1934, Parsons explicou que ela "passou a trabalhar para a International Labor
Defense, porque" ela "queria fazer algo para ajudar a defender as vítimas do capitalismo",
não fazendo qualquer referência ao racismo. Lucy Parsons para Carl Nold, 27 de Fevereiro
1934, p 161.
68 ASHBAUGH. Lucy Parsons, p 66.
69 Os artigos a seguir demonstram longa dedicação de Parsons para forjar a consciência de
classe através da educação dos trabalhadores em seus interesses comuns como produtções:
“On the ’Harmony’ between Capital and Labor Or, the Robber and the Robbed”. The Socialist,
7 de Dezembro 1878, p 39-40. “The ’Scab’ a Result of Conditions.” Freedom, Agosto 1892, p
73; “Are Class interests Identical? A Synopsis of the Aims and Objects of the Industrial
Workers of the World.” The Liberator, 3 de Setembro 1905, p 1; “Workers and the War.” The
Agitator, 12 de Fevereiro, 1917, p 151.
70 “On the ’Harmony’ Between Capital and Labor,” p. 40
71 PARSONS, Lucy. “The Haywood Trial and the Anarchist Trial." The Demonstrator, 4 de
Setembro 1907, p 129-130.
72 GRIFFIN. “Union of ’Black’ and ’Red.” The Alarm, 26 de Dezembro 1885, p 4.
73 “Speeches at the Founding Convention of the Industrial Workers of the World,” 28 de
Junho 1905, p 83
74 Parsons acreditava que um dos maiores problemas enfrentados pelos trabalhadores
americanos era a crença generalizada de que "não havia classes" na América. Assim, ela se
esforçou para educar os trabalhadores sobre seus interesses de classe, a fim de
desmascarar concepções míticas da liberdade americana. Parsons, “Are Class interests
Identical? A Synopsis of the Aims and Objects of the Industrial Workers of the World.” The
Liberator, 3 de Setembro 1905, p. 1.
75 ASHBAUGH, p. 200.
76 QUAIL, John. The Slow Burning Fuse: The Lost History of the British Anarchists.
Paladin, 1978, p 82. Para uma quente introdução ver “Mrs. Parsons in London.” The Alarm, 1
de Dezembro 1888, p. 2.
77 CUSAS, Lawrence. “Correspondence.” The Liberator, 10 September 1905, p 3.
78 Veja a LucyParsonsProject.org’s “About Lucy Parsons”, onde ela é chamada de “feminista
proeminente” e “pioneira dos direitos civis.” Aparentemente Julia Bachrach, historiadora
da Chicago Parks Division, considera Parsons uma sufragista, uma afirmação completamente
anulada pela rejeição de longa data de Parson da política eleitoral. ROSENFELD, KATHRYN.
“Looking for Lucy (in all the Wrong Places)”. Social Anarchism , 28 de Junho 2006,
WorldWide Web
79 “Working Women.” The Socialist, 1 February 1879, p. 42-43; “The Women Question Again.”
The Liberator, 3 de Outubro 1905, p 1.
80 “Speeches at the Founding Convention of the IWW,” 28 de Junho 1905, p. 79.
81 Por exemplo, Parsons estava disposto a defender a entrada das mulheres no mercado de
trabalho apenas se as mulheres se recusassem a aceitar “salários mais baixos do que os
humilhados pelos homens.” Se as mulheres aceitassem salários tão baixos ela acreditava que
o trabalho das mulheres só seria um “prejuízo... [para] as suas colegas de trabalho.”
“Woman: her Evolutionary Development.” The Liberator, 10 de Setembro 1905, p 2
82 Parsons destacou ainda que a discussão sobre a liberdade sexual feminina, referido na
época como “variedade” sexual, foi dominada por homens. “Comrade Lucy Parsons Writes.” The
Firebrand, 14 de Fevereiro 1897, p. 6. Dunbar-Ortiz situa Parsons dentro da história do
feminismo americano, mas com cuidado articula a natureza baseada em classes de trabalho de
Parsons para as mulheres. “One Infallible, Unchangeable Motto: Freedom’ Reflections on the
Anarchism of Lucy Parsons,”, p. 171-174.
83 ASHBAUGH. Lucy Parsons, p 251
84 Parsons refere-se a isso como “anarquismo de velha escola.” Em 1907, Parsons acreditava
anarquistas tinham abandonado a ideia de uma "organização" construída de "membros"
responsáveis por "pagar dívidas mensais e recolher fundos para propaganda", destinada a
grande ideal de uma sociedade livre. Ver “A Wise Move: on Anarchist Organization.” The
Demonstrator, 6 de Novembro 1907, p. 131.
85 “I’ll be Damned if I Go back to Work under Those Conditions! A May Day Speech,” p. 156-157.
86 Paradoxalmente, Ashbaugh reconhece que Parsons não se importava, “sob cujos auspícios
ela trabalhava”, enquanto ela trabalhava para a "classe trabalhadora". No entanto Ashbaugh
ainda indefensável declara-lhe um membro do Partido Comunista. PARSONS, Lucy, p. 256.
87 FLOOD, Andrew. “Review of Lucy Parsons: Freedom, Equality and Solidarity.” 5 de Maio 2005.
88 Por exemplo, em sua introdução biográfica, Ahrens dedica um único parágrafo para a
crença de Parsons na violência revolucionária, dando amplo espaço para a participação de
Parsons no Fórum da Sociedade de Antropologia de Chicago. “Lucy Parsons: Mystery
Revolutionist”, p. 13, 17-19.
89 Quando os amigos foram para recuperar a extensa biblioteca de Parsons do entulho foi
dito pela polícia de Chicago que tinha sido tomada por um agente do FBI. No entanto,
nenhuma agência já admitiu ter recebido a biblioteca de Parsons e seus papéis nunca foram
encontrados. ASHBAUGH, p. 266.
90 ROSENFELD. “Looking for Lucy...,” Social Anarchism. p. 37.
91 “The Principles of Anarchism,” 1905, p. 30.
Trabalhos Citados
AHRENS, Gale. Lucy Parsons: Freedom, Equality and Solidarity: Writings and Speeches,
1878-1937. Charles H. Kerr, 2004.
Anarchy at an End. Lives, Trial and Conviction of the Eight Chicago Anarchists: How they
Killed and What They Killed with: a History of the Most Deliberate Planned and Murderous
Bomb Throwing of Ancient or Modern Times: the Eloquent and Stirring Speeches of the
Attorneys for the Defense and Prosecution, with the Able Charge of Judge Gary to the Jury:
Seven Dangling Nooses for the Dynamite Fiends. Hastings Library, California; Chicago: G.S.
Baldwin, 1886. text-fiche.
ASHBAUGH, Carolyn. Lucy Parsons: American Revolutionary. Charles H. Kerr, 1976.
AVRICH, Paul. The Haymarket Tragedy. Princeton University Press, 1984.
CLYMER, Jeffory. A. America’s Culture of Terrorism: Violence, Capitalism, and the Written
Word. University of North Carolina Press, 2003.
DAVID, Henry. The History of the Haymarket Affair: A Study of the American
Social-Revolutionary and Labor Movements. Russell and Russell, 1936.
GREEN, James. Death in the Haymarket: a Story of Chicago, the First Labor Movement and the
Bombing That Divided Gilded Age America. Pantheon, 2006.
Governor Altgeld’s Pardon of Neebe, Fielden and Schwab; Vindication of the Chicago Martyrs
of 1887: Parsons, Spies, Fisher; Engel and Ling. New York Labor News Co, 1906.
FLYNN, Elizabeth Gurley. I Speak My Own Piece: Autobiography of “the Rebel Girl." Masses
and Mainstream, 1955.
MCKEAN, Jacob. “A Fury for Justice: Lucy Parsons and the Revolutionary Anarchist Movement
in Chicago.” Senior thesis, 2006.
PARSONS, Lucy. Life of Albert Parsons with Brief History of the labor Movement in America.
Chicago: by the author, 1889.
_____. Twenty-fifth anniversary, eleventh of November, memorial edition. Souvenir ed. of
the famous speeches of our martyrs delivered in court when asked if they had anything to
say why sentence of death should not be passed upon them, Oct. 7, 8, and 9, 1886. Nov 11,
1887-1912. Chicago: by the author, 1912.
ROEDIGER, Dave and Franklin Rosemont (eds.). Haymarket Scrapbook. Charles H. Kerr, 1986.
SCHAACK, Michael J. Anarchy and Anarchists. A History of the Red Terror and the Social
Revolution in America and Europe. Communism, Socialism, and Nihilism in Doctrine and in
Deed. The Chicago Hay-market Conspiracy, and the Detection and Trial of the Conspirators.
F.J. Schulte, 1889.
QUAIL, John. The Slow Burning Fuse: The Lost History of the British Anarchists. Paladin, 1978
Newspapers: The Alarm, 1885-88; Chicago Herald, 1886; Chicago Times, 1886; Chicago
Tribune, 1886; The Liberator, 1905-06.
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