(pt) O lugar das greves na experiência histórica da classe trabalhadora
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Sábado, 20 de Junho de 2015 - 12:39:28 CEST
É a atividade de resguardar a livre organização da classe trabalhadora e sua capacidade de
(re)criação permanente que pode promover um novo sujeito coletivo e social. Por Edgard
Silva* ---- Caminho áspero e penoso, mas único. Trabalhos, dores, duras batalhas até ao
fato inicial, a destruição dos privilégios políticos e econômicos da burguesia; penosos
esforços e árdua labuta depois, na laboriosa edificação de um mundo novo, e na luta
constante contra os germens de uma possível degeneração. ---- Neno Vasco ---- o longo de
sua história, a classe trabalhadora desenvolveu e aperfeiçoou inúmeros métodos de luta e
organização para fazer frente aos desmandos dos patrões e do Estado. Marchas e
demonstrações públicas, obstrução de vias públicas, ocupação de locais públicos ou
privados, greves, dentre diversas outras criações imaginárias e autônomas que constituem
uma trajetória de sonhos, esperanças, conquistas, vitórias e também de derrotas, de perdas
de inestimáveis companheiros.
Entre todos estes métodos, a greve historicamente se destacou por seu peculiar dinamismo e
capacidade de marcar uma ofensiva dos trabalhadores aos seus algozes. Por melhores
salários e, sobretudo, por melhores condições de trabalho, especialmente pela redução da
jornada de trabalho sem redução de salários, a classe trabalhadora desenvolveu uma rica
experiência histórica que deve ser recorrida e resguardada por todos aqueles que acreditam
na necessidade de sua emancipação do jugo dos opressores. Sob a bandeira de 8 horas de
trabalho, 8 horas de lazer e 8 horas de descanso, a classe trabalhadora vivenciou suas
mais memoráveis batalhas.
O criativo dinamismo que proporciona a greve é, sobretudo, sua capacidade de exigir da
classe trabalhadora uma ação em conjunto, solidária e que seja capaz de se articular
através de diversos métodos. Na greve temos a oportunidade de assumir nosso destino pelas
nossas próprias mãos, sem confiá-lo aos "chefes" de turno, aos espíritos avarentos das
estruturas de poder do Estado, das patronais e seus instrumentos de propaganda ideológica
e produção de consensos: os grandes meios de comunicação. É no momento em que os
trabalhadores param que, pela primeira vez, estes mesmos espíritos avarentos se dão conta
de que sem o nosso suor podem ser reduzidos a sua insignificância histórica. Por isso sua
fúria, sua ira descontrolada que procura nos atacar, intimidar e assediar das formas mais
covardes e vis possíveis. Em linhas gerais, se encontram desesperados por verem as bases
de seu velho mundo desrespeitadas. Nas greves os trabalhadores têm a oportunidade de
deixar o rei nu!
A importância dos métodos de luta e organização
Todavia, as greves também são momentos em que nos deparamos com as limitações e as
"misérias" que também habitam a classe. Na greve temos também de lidar com nossos colegas
inseguros, seja por espírito vacilante, seja por excesso de assédios, abusos e falta de
uma maior solidariedade do conjunto de seus companheiros de classe para com a sua situação.
lém disso, não raramente, também há de se lidar com aqueles que, oriundos da classe
trabalhadora, ao galgar postos em suas organizações, vão aburguesando seu espírito,
adquirindo hábitos de verdadeiros "xerifes" do destino das reivindicações e anseios dos
trabalhadores. Adquirindo privilégios econômicos ou não, a sedução que proporciona, o
prestígio e a fama quando tocada em lideranças que condicionam suas ambições às suas
próprias carreiras pessoais em detrimento de um projeto histórico, coletivo, de
empoderamento e emancipação do vasto mundo dos de baixo, tende a criar profundas chagas em
meio às lutas e organizações de classe. Desorganiza, despolitiza, desmoraliza; canaliza o
caminho das lutas à gestão de seu pequeno grupo de confiança, ambicioso por manter-se ad
eternum em seu posto de privilégio.
Prepara o caminho para a pior de todas as derrotas, aquela que nos desmoraliza: a derrota
sem luta, no covarde e permanente recuo. É por este caminho, a partir do desenvolvimento
de valores ideológicos, de sentimentos, perspectivas e horizontes que vai se desenvolvendo
aquilo que conhecemos, tristemente, enquanto burocracia sindical e/ou partido.
Reagir ao desenvolvimento deste trágico fenômeno é, portanto, um caminho determinante
àqueles que não titubeiam em destinar todas as suas energias à busca de um novo porvir, de
justiça e igualdade, de socialismo e liberdade. Não se reage a esse fenômeno, portanto,
sem o desenvolvimento da maior atividade possível para que o conjunto dos trabalhadores
tomem em suas próprias mãos este projeto histórico. Que pensem e caminhem com suas
próprias pernas à essa busca criativa. É, portanto, a atividade de resguardar a livre
organização da classe trabalhadora e sua capacidade de (re)criação permanente que pode
promover um novo sujeito coletivo e social, capaz de sepultar a injusta e odiosa sociedade
que conhecemos. Embora toda sociabilidade humana seja marcada, em determinado grau, por
relações de poder e "autoridade", essa busca não passa pela atividade de chefes, sob pena
de nascer intoxicada e, portanto, condicionada à morte mais ou menos lenta.
aí resulta a implacável necessidade de sermos rigorosos com nossos métodos de luta e
organização muito mais do que o somos em relação à administração e conduta das necessárias
"negociações" que, ainda que contra nossa vontade, somos levados a ter com nossos algozes.
Todo conflito termina com algum lado "negociando e cedendo", a não ser que esteja posta a
possibilidade de um aniquilamento estratégico de alguma das classes em pugna. Negar (ou
insinuar que se esteja negando) a necessidade de negociação sem a perspectiva de uma
vitória estratégica em nosso objetivo finalista é um tanto absurdo e sugeri-la não passa
de devaneio ou, o que é mais recorrente, um artifício retórico para indicar que a força da
classe trabalhadora reside não em sua capacidade de se colocar em movimento, golpeando de
forma altiva seus algozes, mas sim na habilidade e no carisma de um pequeno grupo capaz de
administrar a situação, de negociar de forma "consequente e responsável" as demandas
coletivas, evitando assim toda sorte de "descontroles", de uma explosão catártica de
revolta daqueles que julgam controlar.
É com o brio de nossos métodos de luta e organização que somos capazes de impor medidas de
força que sejam capazes de dobrar nossos inimigos e não apresentar ardilosas medidas que
ingenuamente podem ser vistas como um recuo dos patrões e governos, quando do que se trata
é de um sagaz movimento que vai para trás, para frente e para os lados, em suma, que nos
convida a bailar em sua própria festa.
Com a força das ocupações, dos trancaços, piquetes e barricadas que encontramos a divisão
crível para a devida definição de quem são nossos companheiros, nossos camaradas. São
nestes métodos que residem a têmpera e a fibra de nossas greves e lutas, onde pulsa a
forja de um porvir de socialismo e liberdade tal como se fortalecem os antídotos para as
degenerações burocráticas que seguem pairando como trágica sombra obscura que conspira
contra a derradeira vitória de nossa classe.
*Edgard Silva, militante da Federação Anarquista Gaúcha (FAG) e Resistência Popular.
Publicado originalmente em: http://www.passapalavra.info/2015/06/104862
http://www.federacaoanarquistagaucha.org/?p=1139
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