(pt) Anarkismo.net: Análise da crise da Petrobrás e a agenda do 3º turno não concluído by BrunoL
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Segunda-Feira, 16 de Fevereiro de 2015 - 14:24:37 CET
Diante do quadro complexo da maior empresa do Brasil, entendo ser necessária a produção de
uma análise com maior profundidade, para além das posições de defesa e ataque do governo
de turno. Este texto começo no ponto em que a direção da Petrobrás pedira renúncia e o
“mercado”, sua mídia oficiosa e os algozes do desenvolvimentismo (de qualquer tipo) se
juntaram para comemorar a possibilidade de vitória à frente da petroleira nacional. ----
Os trabalhadores da Petrobrás, em todas as funções, são a única saída para retomada do
controle da empresa e a defesa dos interesses coletivos do povo brasileiro. ---- Vamos
começar constatando o óbvio. A renúncia de Graça Foster e o esquema de corrupção na
Petrobrás são temas indiscutíveis e indefensáveis. Não há manobra ou malabarismo
governista que possa defender esta posição e o modo como os agentes econômicos líderes do
Brasil atravessaram os negócios da companhia. Sejamos francos, não se trata de uma
novidade, a não ser o fato de vir à tona e trazer a alta direção das empreiteiras para as
páginas policiais.
Mas, de fato, existe outro jogo simultâneo, que tampouco é defesa do governo, mas é a
constatação de que há o interesse real de quebrar a empresa e modificar o sistema de
exploração do pré-sal. Na noite da renúncia, na 4ª dia 04 de fevereiro, a mídia eletrônica
brasileira foi bombardeada por especialistas pregando a necessidade de emplacar um "alto
executivo com livre trânsito no mercado" para comandar a empresa mais importante do
capitalismo brasileiro. Também houve a recomendação para sanear o endividamento da empresa
a revisão do modelo de exploração do pré-sal, aliás, modelo este que já conta com a
participação de transnacionais do petróleo.
Este jogo tem várias rodadas simultâneas e vai passar por uma aceleração de ataques
(contra a Petrobrás) e um jogo de defesa do alto empresariado brasileiro, de modo que as
empresas a ocupar o topo da cadeia alimentar no setor não sejam punidas. Do exterior, o
famigerado The Economist já mostra suas garras, assim como as agências de "análise de
risco", como Fitch e Moody's. Vem mais por aí. A meta agora é criar o ambiente propício
para retirar o grau de investimento da Petrobrás e criar perdas artificiais que somadas às
reais, tornem impossível o endividamento necessário para a exploração do pré-sal.
São vários conflitos e arenas simultâneas em torno da Petrobrás
Para dar continuidade, vamos desenvolvendo poucas ideias básicas. Primeiro, o debate
dicotômico e maniqueísta, onde quem investiga e denuncia o Petrolão é da oposição e quem
entende que há um ataque contra a empresa é governista, é algo limitado e que entendo
temos de ir além. Houve no período do lulismo e no co-governo de centro-direita um acerto
entre as oligarquias políticas de sempre (como PMDB e PP) e a chegada de um novo jogador.
Este, no caso, a direção nacional do PT e a alocação de cargos em comissão e, ao que tudo
indica, no tráfico de influência e advocacia administrativa, ambas as ações proibidas no
Brasil.
Já o ataque contra a empresa é visível, pois se trata de um problema clássico dos "valores
de mercado" X "a tecnocracia de Estado". A indicação do novo diretor-presidente Aldemir
Bendine implica uma vontade política de controle por parte do Planalto sobre a empresa
mais estratégica do país e não uma entrega para operadores de mercado ou executivos. A
evocação do "mercado", este maldito sujeito oculto que sobre tudo opina e ninguém vê, é a
vontade de que a Petrobrás sofreria alguém do tipo Joaquim Levy para comandá-la. Ainda
nesta maldita evocação, existe uma confluência de interesses e visões de sociedade de que
um Estado como o brasileiro não deveria comandar uma petrolífera e endividar-se ao ponto
de arriscar sua solvência para garantir a exploração de recurso estratégico de longo prazo
como o pré-Sal.
Voltando às mazelas da gestão do lulismo à frente da empresa, nota-se que o país como ele
é governou a empresa. Na divisão de cargos e dotações orçamentárias, houve a farra das
empreiteiras e contratistas, regando interesses privados, partidários e empresariais
através de relações privilegiadas. Este modus operandi é indefensável e deve ser
severamente atacado.
A arena que ainda está oculta – ou parcialmente silenciada – é a da retomada da
mobilização sindical dos petroleiros e no esforço para democratizar a empresa por dentro,
como a célebre luta do antigo sindicato dos petroleiros do norte fluminense e a
organização dos embarcados em plataformas de petróleo como a única saída com um corte
menos voltado para o andar de cima - seja tecnicista ou neoclássico - para resguardar o
patrimônio do povo brasileiro.
O sinal de alerta da (ex)-esquerda, conclamando novamente a esquerda restante para
socorrer ao governo
O alerta está soando na (ex)-esquerda restante, aglutinada em torno da Carta Maior. Sei
que estou devendo uma análise do caso Petrobrás mais fechada, mas com esta postagem eu
agrego a constatação de que CartaCapital (capa da edição número 836, semana de 07 de
fevereiro de 2015) tem razão ao colocar a ameaça de impeachment como concreta embora ainda
improvável e que, voltando para a Carta Maior, o juiz Sergio Moro está impondo uma agenda
republicana em nome de um jacobinismo (reconhecidamente presente desde os tempos da
Operação Chacal e da Satiagraha) muito semelhante ao caso Falcone e o fim da moribunda
ex-esquerda italiana. Trata-se do mesmo reconhecimento, já reincidente, com o apelo
permanente de Emir Sader e cia. para uma concertação por esquerda na defesa deste governo
de direita (o texto tem o título de “Urgente, falta uma ponte entre o apelo e a rua, Carta
Maior, assinado por Saul Leblon, de 08/02/2015)
Com este comentário concluo o que resta para juntar os pedaços de análise e tentar
interpretar em rasgos gerais o que pode estar ocorrendo no plano federal. A legitimidade
do governo Dilma em sua segunda edição passa por um momento delicado. É óbvio que a
direita derrotada em outubro aproveita a oportunidade para fortalecer esta campanha. O
chamado 3o turno não terminou em dezembro, sendo 2014 o ano que insiste em não terminar.
Este foi retro-alimentado pela CPI da Petrobrás e agora pela difusão das audiências e
inquéritos da Lava-Jato. Se algo concordo com Emir Sader (surpreendentemente), é o fato de
quem impõe a pauta e a agenda é o juiz Sergio Moro, titular da investigação. Infelizmente
não é Fausto De Sanctis e a causa está atravessada dos oportunismos políticos de sempre.
O tema do impeachment de Dilma só pode vir a ocorrer se houver uma prova material
contundente responsabilizando diretamente a presidente por alguns dos desmandos ou roubos
ocorridos na Petrobrás quando de seu governo. Do contrário, vai reforçar ainda mais as
direitas - dentro e fora do Planalto - e tornar a ex-esquerda que hoje ainda governa uma
parcela do Poder Executivo em mera guarda-costas de um governo de coalizão, combalindo com
o fogo amigo da "base aliada" e de correligionários da própria legenda de Lula e José Dirceu.
A única saída para a Petrobrás é o protagonismo de quem nela trabalha
Finalmente chegou ao caso da Petrobrás quem estava ausente ou tornado invisível. É um
absurdo o que estão fazendo com a empresa, tanto as oligarquias partidárias e seus
cúmplices corruptores do empresariado como os ataques para liquidar a companhia, vindos
dos porta-vozes oficiosos do capital especulativo e do "mercado". Tivéssemos uma base
sindical ainda autêntica e com independência de classe e já haveria uma grande greve de
ocupação na Petrobrás, como a de 1995 e a luta dos demitidos de 1992-1993. Na ausência
desta ação soberana por um período prolongado, esta luta dos trabalhadores petroquímicos é
um alívio e uma possibilidade de resistência. Espero que a manifestação dos funcionários
do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), realizada contra as demissões no
setor e ocupando metade da Ponte Rio-Niterói no dia 10 de fevereiro seja o início de
alguma reação da força de trabalho dentro da empresa mais importante do país.
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