(pt) anarkismo.net: Análise de conjuntura após a votação da comissão que avaliará pedido de impeachment by BrunoL
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Sexta-Feira, 18 de Dezembro de 2015 - 08:40:20 CET
"O problema aqui é – literalmente - a base podre do governo. A herança maldita do lulismo
para a esfera política traz um conjunto de manobras sem fim e quebra de lealdades além de
um projeto pífio de capitalismo periférico vinculado ao agente econômico oligopolista
atuando no Brasil", escreve Bruno Lima Rocha, professor de ciência política e de relações
internacionais. ---- Eis o artigo. ---- Eduardo Cunha é um homem forte no baixo clero do
parlamento deu início a uma série de retaliações ao governo para chegar, enfim, ao pedido
de impeachment da presidente Dilma. ---- Este ano começou em novembro de 2014 e parece que
não terá fim. 2015 já começou quente. Ainda no verão passado, o governo correu para
estreitar relações com o PMDB, sem perceber que perderia o controle da situação. A chegada
de Eduardo Cunha à presidência da Câmara era o golpe anunciado. Panelaços e protestos se
espalharam pelo país (com cobertura ao vivo da emissora líder, alguns pedindo até o
retorno da ditadura), enquanto as denúncias de corrupção da Petrobras ganhavam fôlego. O
desgaste maior veio com as acusações contra Cunha na Lava Jato e, posteriormente, o pedido
de seu afastamento no comando do Legislativo. Desde então, o ex-aliado de Garotinho e
homem forte no baixo clero do parlamento deu início a uma série de retaliações ao governo
para chegar, enfim, ao pedido de impeachment da presidente Dilma. Não parou aqui a crise
política, esta se aprofunda, com a boca grande do partido ônibus, onde cabem todos desde
que ninguém tenha uma proposta programática acima da necessidade fisiológica.
Com a hoje famosa carta endereçada para a presidente, o segundo homem da república chuta a
base da tal da governabilidade. O racha do PMDB – que até a manhã de 3ª, 07 de dezembro,
ainda era governista - se dá primeiro com o silêncio do vice-presidente Michel Temer,
anunciando o fim da aliança com o pedido de demissão de Eliseu Padilha do cargo de
ministro da Aviação Civil (antes ocupado pelo ex-governador fluminense, Wellington Moreira
Franco). Na sequência a carta do Vice-presidente abandona o barco, alinhavando ao
empresariado de São Paulo (sua base e motor dos destinos do agente econômico nacional) na
Ponte para o Brasil, onde os direitos adquiridos na Constituição de 1988 seriam – podem
vir a ser – solenemente rasgados.
A carta de ressentimento e projeto de poder implica que o golpe de Temer/PMDB está a
caminho. Ele foi eleito vice-presidente em uma aliança idealizada ainda por José Dirceu
ainda no cargo da Casa Civil. Em seu discurso de despedida da pasta, antes da cassação do
mandato de parlamentar, Dirceu disse exatamente isso. Pois bem, chamaram o Nosferatu para
o co-governo e agora se "surpreendem" que o vampiro se anima diante da orgia de sangue. A
lógica do PMDB é o acúmulo de poder a qualquer custo e sem projeto de país em escala
nacional. Não há espanto algum nisso e o núcleo duro da articulação política de Dilma se
viu, mais uma vez, emparedado.
No desespero, eis que o Planalto junta 16 governadores em seu apoio, sendo que a base
peemedebista é o alinhamento do governador fluminense Pezão e o líder do PMDB na Câmara
Leonardo Picciani. O filho de Jorge Picciani, tradicional político de estilo chaguista e
aliado do ex-governador Sérgio Cabral Filho (ele mesmo, aquele do guardanapo na cabeça
dançando em Paris aos embalos dos contratos da Delta Engenharia), fora o líder do partido
na Câmara até ser destituído na manhã de 4ª, dia 08 de dezembro, com a revoada dos
correligionários de Temer, agora mais próximos de reconstituir o Centrão, embalados nos
272 votos obtidos no jogo de empurra-empurra, bate boca e cabeçadas ocorridas nas
escaramuças parlamentares na montagem da comissão – e sua votação em plenário, no rito
secreto - que vai (iria, pois o ministro Luiz Edson Fachin, do STF, por enquanto melou o
golpe paraguaio no tapetão e a favor do governo) avaliar o pedido de impeachment antes de
ir - novamente a plenário na Câmara.
Como afirmei acima, a manobra é evidente. O desembarque do PMDB e sua proposição como
alternativa ainda mais à direita do que o governo de Levy e Kátia Abreu está demonstrado
no documento "Uma ponte para o Brasil", lançado antes de Cunha haver acatado o pedido de
impeachment formulado por Hélio Bicudo (ex-fundador do PT, mas que fizera campanha para
José Serra já em 2010), Miguel Reale Jr. (ex-ministro de FHC, assim como o senador Renan
Calheiros – PMDB/AL). Neste documento, lançado ainda em outubro e com pouca repercussão
até a saída de Michel Temer, seria o pacto de elites para destravar os poderes de veto das
maiorias sobre o orçamento da União. Se realizado for, Joaquim Levy poderia tranquilamente
assinar embaixo, tal e como Henrique Meirelles, Armínio Fraga e Pedro Malan. A proposta é
tão obscena que anuncia em alto e bom quebrar a base da receita vinculada, tripudiando em
cima do já minguado orçamento da Saúde e da Educação. Obviamente, este documento produzido
por sociopatas, em nada se refere ao espólio do rentismo que corrói de 42% a 48% das
verbas do governo central. Esta é a saída para o novo pacto social, uma vez que o acórdão
de classes, base do peleguismo professado por Lula, está fazendo água e o barco afundando
em águas lamacentas.
Fazendo contas de chegada
Se o padrão de votação das chapas – oficial e alternativa – para apreciar o pedido de
impeachment – eleitas em plenário na tarde de 3ª, 08 dezembro, for mantido, o governo tem
uma margem apertada e pouco sólida. Foram 272 votos para Cunha e a UDN, e 199 votos para o
moribundo pacto lulista e o que resta de ex-esquerda e esquerda duelando na Câmara do
jeito que foi possível. Óbvio que este é o retrato do momento e o tempo joga a favor dos
querem derrubar o governo, além de fortalecer a posição chave de Michel Temer como fiel da
balança. Se o recesso não for cancelado - e entendo que não deve vir a ser - a UDN terá
condições de adular as raposas de sempre amarrando uma nova base de governo - caso Dilma
venha a cair - e com uma orientação pró-capital transnacional. No caso o Brasil se alinha
com a Argentina e aí ficam isolados - ainda mais isolados - os governos bolivarianos (eu
diria chavistas, incluindo o governo Maduro agora sem maioria parlamentar).
O problema aqui é – literalmente - a base podre do governo. A herança maldita do lulismo
para a esfera política traz um conjunto de manobras sem fim e quebra de lealdades além de
um projeto pífio de capitalismo periférico vinculado ao agente econômico oligopolista
atuando no Brasil. Para tal basta ver a composição de ministério e também o falso apoio
dos oligarcas de sempre. Agora na hora do aperto vão convocar as bases sociais ainda
mobilizadas e, vergonhosamente, duvido que MST e MTST - por exemplo - condicionem a
mobilização a uma nova orientação de governo. De CUT e CTB espera -se qualquer coisa mesmo
e a força social represada que tomou as ruas em 2013 estando à esquerda do governo de
coalizão não vai se comover com o golpe paraguaio em andamento. Sim é um golpe branco e
proporcionado pela aliança do baixo clero com a direita que não é governo e alimentado
pela mídia e pela nova direita. E não, este governo não é defensável como governo. Hoje
sequer é de centro-esquerda e progressivamente cava a própria cova ao governar para e com
o outrora inimigo de classe.
Uma possível – embora improvável - reação à esquerda e a dimensão transnacional do golpe
paraguaio no Brasil
Afirmo que ainda é possível afirmar um programa social no momento de crise. Não tenho
ilusão quanto a alguma guinada à esquerda da base social restante dentro do pacto lulista.
Mas como na política sempre pode atuar o imponderável então não há como abrir mão de todas
as possibilidades. Se a Via Campesina e o MTST quiserem, é possível arrancar algum
compromisso - uma espécie de coação política - obrigando o atual gov
http://www.anarkismo.net/article/28878
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