(pt) Organização Anarquista Terra e Liberdade - «Meu corpo, minhas regras!». Nota sobre o desaparecimento de Jandira Magdalena dos Santos
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Segunda-Feira, 15 de Setembro de 2014 - 12:30:10 CEST
Desaparecida desde o dia 26 de agosto, a trabalhadora Jandira Magdalena dos Santos parece
ser mais uma vítima do Estado, mais uma mulher que, não tendo acesso aos procedimentos
seguros de um aborto legalizado, público e de qualidade, entra para a ficha obscura de
vítimas do descaso do Estado, uma lista sem dados precisos - pois até morrer nessas
condições é crime - de milhares de Jandiras que têm seus úteros perfurados por agulhas de
croché, que sangram até a morte ou que não resistem à infecções pós-operatórias, ou que,
como aconteceu com ela, desaparece por duas semanas e seu é encontrado esquartejado e
carbonizado. ---- Nesse país, Jandira nunca possuiu seu corpo plenamente. Seu corpo e de
todas as mulheres estão diariamente presos entre as grades de uma ditadura da beleza, dos
padrões da magreza, e dos grilhões da dieta. As regras nunca foram suas. Além disso, desde
pequena ela vem aprendendo que «aborto paterno» é legal e não é crime, pois essa mesma
sociedade que recrimina uma mulher que não quer ser mãe, naturaliza o fato de um homem não
querer ser pai, mesmo tendo umx filhx.
Mas essa não é a realidade de toda as mulheres no Brasil ou dos países que ainda proíbem o
aborto. A escolha pelos procedimentos inseguros e que podem mutilar muitas mulheres é a
tenebrosa opção que parece ser a mais acessível para as negras, trabalhadoras e faveladas.
Existe sim no Brasil clínicas de aborto seguro, porém caras, que atendem a fração mais
rica da sociedade.
Por que não há as mesmas condições para todas as mulheres? Por que o preconceito e
conservadorismo atinge em peso mais as mulheres pobres? Por que o discurso do apelo à vida
do feto não abrange as vidas dessas mulheres que vão à clínicas clandestinas sem saber ao
certo se voltam sem sequelas?
Aproveitamos um dos poucos casos que vem a público para denunciar as opressões sistêmicas
e as questões de classe das quais são vítimas as Jandiras que diariamente se submetem a
essa humilhação e o Estado e seus governos que patrocinam o feminicídio e disseminam
conscientemente, em troca de apoio político, a misoginia e todas as opressões através de
Marco Feliciano, Jair Bolsonaro, pastor Everaldo e outros tantos fascistas no poder. A
OATL entende como colonialismo político o preconceito e a perseguição religiosa que,
infelizmente, é comum entre praticantes de certos cultos, mas denuncia o autoritarismo
ideológico por trás das práticas que visam padronizar toda a população em torno de um
modelo hetero-normativo único e criminalizam as pessoas que não se encaixam nestes requisitos.
O aborto não é um caso de religião ou de biologia. Estamos falando sobre a saúde e a vida
de mulheres, do autoritarismo absurdo que é o controle sobre seus corpos e de mais uma
morte que vai para conta da classe trabalhadora.
Não esqueceremos!
Aborto livre, público e seguro!
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