(pt) Coordenação Anarquista Brasileira (CAB) - Elementos da conjuntura Eleitoral 2014 (en)
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Quarta-Feira, 10 de Setembro de 2014 - 14:26:07 CEST
Eleições: A saída à esquerda não é nas urnas, mas nas Ruas! ---- Elementos da conjuntura
eleitoral - Coordenação Anarquista Brasileira (CAB) ---- O contexto de eleições em nosso
país precisa ser analisado a partir de alguns elementos da conjuntura brasileira que
procuraremos apontar na presente análise. São aspectos que acreditamos relevantes e em
certa medida condicionantes de uma compreensão mais rigorosa das eleições e de algumas
conclusões libertárias que no final apontaremos. ---- Quando o "Ganha, ganha", pode se
tornar o "Ganha, perde" ---- O Partido dos Trabalhadores já governa o país há 12 anos,
desde 2002. Sua fórmula tem sido a de fortalecer o financiamento aos grandes capitalistas
"tupiniquins", bem como a expansão do crédito pessoal, que por tabela fortalece o mercado
consumidor. O governo busca fortalecer os grandes capitalistas e, de quebra, cria empregos
e melhora as condições de consumo da massa trabalhadora. Para completar temos ainda
programas sociais que atendem a massa, a exemplo do Bolsa Família - "36 milhões de
brasileiros foram tirados da extrema pobreza" (DILMA, 2014) e o Mais Médicos - que segundo
o governo cobriu 50 milhões de pessoas desassistidas. Toda esta forma de governar tem sido
sintetizadas por nossa corrente, no bojo da CAB, como o neodesenvolvimentismo, porque
representa uma nova busca pelo desenvolvimento de alguns setores da economia como sua
inserção na economia internacional por meio da injeção de recursos públicos (isto é mais
intervenção que no período neoliberal), todavia com certa repaginação, pois não podemos
comparar essas com as políticas desenvolvimentistas de outrora, afinal o Estado entra mais
como financiador do que como agente direto do desenvolvimento, nesse sentido privatizações
e parcerias público privadas vigentes da época neoliberal se mantém, quando muito ganham
outra roupagem.
O que temos visto, nos últimos anos, são sintomas de certo "cansaço" deste modelo de
desenvolvimento e crescimento. Falamos de alguns sinais desse esgotamento em nosso último
documento:
"Em relação ao desenvolvimento capitalista, o PT atingiu alguns índices que permitem certa
estabilidade e crescimento, como os 4,6% de desemprego, que permitem certa fluidez à
economia; afinal, o consumo de massas é um de seus carros-chefes. Todavia, a não
distribuição real de renda, ou seja, a socialização da miséria, gera índices de
endividamento preocupantes, que prometem desacelerar o consumo de massas e o mercado
imobiliário, com um grande risco desse endividamento se tornar inadimplência. As grandes
obras e os megaeventos têm prazo de validade, e, quando finalizados, prometem desacelerar
ainda mais a economia. O agronegócio, como apontado, está sujeito ao mercado internacional
e, por isso, sensível às oscilações econômicas externas. Resta saber, também, até que
ponto os bancos públicos suportarão manter o crédito no mercado, sem que o Estado se
endivide ou tenha suas contas pressionadas, em especial no que tange aos programas sociais.
Como vemos, temos um modelo econômico que está distante de uma perspectiva transformadora;
ele não pode ser assim caracterizado sequer em uma perspectiva reformista. Mesmo no que
diz respeito ao equilíbrio capitalista, ele parece estar sustentado em "bases" instáveis,
sujeitas a desequilíbrios. "(CAB, 2014)
Sem ser taxativos e sem buscar fazer do alarmismo e catastrofismo elementos da análise,
temos de ficar atentos a alguns movimentos do capitalismo brasileiro, pois certos sintomas
de desaceleração e certa instabilidade econômica despontam na realidade, e sabemos os
impactos que têm na conjuntura política do País.
O próprio governo de turno (Dilma-PT) , e seu programa eleitoral apontam que seu pilar é,
e continuara o mesmo
(...)A competitividade produtiva será atingida por meio dos investimentos em produção e
consumo de massa, investimentos em infraestrutura social e econômica, na construção de um
Brasil sem Burocracia e nas áreas de Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação, construindo
uma sociedade do conhecimento."(DILMA, 2014)
Deste modo, não podemos ser otimistas, no sentido de esperar algo diferente nos próximos
anos, a despeito de certa desaceleração da economia, teremos mais do mesmo. O próprio
governo admite que o PIB que tinha a expectativa de crescimento de 2,5%, deve crescer no
máximo 1,8%, o mercado e instituições financeiras apontam para 1,5% (os mais pessimistas
instrumentos financeiros 0,52%), sendo que o PIB teve um crescimento de 1,03% no período
da crise mundial (2009), como vemos estamos com nossa economia com taxas muito próximas do
período de recessão. Claro que esta é uma tendência global, a Economia mundial deve ter
expansão de 2,8% este ano. Mais pessimismo se aponta com a dita "recessão técnica", que
aponta para encolhimento da economia do Brasil no primeiro trimestre de 2014, de menos
0,6%. A expectativa de crescimento do Banco Mundial para os países em desenvolvimento em
2014 foi reduzida para 4,8%, ante uma expansão de 5,3% esperada no relatório divulgado
pelo órgão em janeiro. Todavia, há de se destacar que dos BRICS o Brasil é melhor somente
que a Rússia, nesse sentido passa a ter um desempenho econômico fraco mesmo quando
comparado com países de mesmo perfil.
Com todos estes resultados preocupantes, o que vemos nas campanhas, e no próprio programa
do PT, é a reafirmação do que foi feito e alguns "avanços" que serão feitos na mesma
direção. Parece que viveremos do passado nestas eleições, afinal seus principais
adversários são o PSDB, que representa o que de pior temos na política, e o PSB, uma
"terceira via" que não traz nada de novo e já aponta que governará em prol do capital.
Deste modo não podemos esperar mudanças vindo destes setores, ao menos mudanças positivas
no que se refere a população e a economia do País. Assim, o processo eleitoral tem pouco a
oferecer nesta área, de um lado o PT que promete reeditar aquilo que vemos patinar, do
outro aqueles que governaram o País por anos, e tem governado alguns Estados (exemplo do
Paraná, estado que Richa quebrou literalmente, o Estado está sem empréstimos federais e
sequer tem dinheiro para abastecer carros oficiais).
Os principais setores da economia nacional sofrem para crescer. O setor automobilístico
enfrenta significativa recessão, a produção de veículos é a principal queda na indústria,
aponta IBGE no mês de maio de 2013. Em comparação com maio de 2013, setor de automotores
recuou 20,1%. A produção industrial registrou terceira queda seguida em maio, com -0,6%. A
venda de veículos no primeiro semestre de 2014 caiu 7,33% em relação ao ano passado,
aparecendo como pior resultado desde 2010. O varejo tem desacelerado, e dos 8,4% do ano de
2012 (crescimento foi de 2004 a 2012), tem como estimativa para 2014 4%, segundo
Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). No setor imobiliário vemos
significativa desaceleração este ano também, se em 2013 o financiamento imobiliário
aumentou 34% em relação ao período anterior, este ano vemos acrescidos no setor meros 7%,
a estimativa de crescimento é de 15% (menos da metade), de acordo com dados da Associação
Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). Se o consumo de massa
é um dos pilares para o crescimento, tudo indica que está em um processo de decadência,
pois os principais setores se encontram em franca desaceleração, deste modo entramos em um
momento de enfraquecimento da economia. Tal queda nas taxas de crescimento são reflexos
dos índices de endividamento da população, pois na medida em que o crescimento e
aquecimento do mercado é fruto da expansão de crédito, e não dos ganhos reais, a tendência
que se confirma é o endividamento das famílias. Segundo Roberto Luis Troster,
ex-economista chefe da Federação Brasileira de Bancos, a situação em 2013 era a seguinte:
63% da população brasileira possui algum tipo de dívida e 20% de contas atrasadas; 76%
destas pessoas têm dívidas no cartão de crédito e o juro médio desse tipo de conta, no
Brasil, atualmente se encontra no patamar dos 130%. A inadimplência ainda era baixa,
fechou 2013 em 2,33%. Recentemente, um dado no mínimo preocupante revelou que 57 milhões
de brasileiros já se encontram inadimplentes, destes 60% dos endividados têm contas
atrasadas que superam toda a renda mensal. Outro dado aponta que 53% das pessoas com
dívidas possuem até duas contas não pagas no prazo. É necessário observar que este número
representa que, do total da população brasileira com 18 anos ou mais (144 milhões de
pessoas), cerca de 40% estão inadimplentes. Um cenário de crise não se estabelece devido
ao desemprego baixo que gira, de acordo com dados do IBGE entre 4,6% e cerca 5%, que
garantem um cenário de pleno emprego.
Como podemos explicar esta desaceleração? Bom já havíamos apontado em uma análise anterior
que este modelo de crescimento não era sustentável, em seu sentido de gerar um ciclo de
crescimento. Pois nota-se que desde que o PT assumiu, colocou em curso seu projeto
neodesenvolvimentista, baseando-se no aumento da oferta de crédito e não da distribuição
de renda, o que logicamente leva a população ao endividamento, estagnando, ou ao menos
diminuindo a capacidade de crescimento. Anteriormente já havíamos levantado dados recentes
que apontam a situação do aumento dos salários no Brasil
"No que tange ao ganho real nos salários, este é muito pequeno no atual cenário. Apesar de
que 84,5% das categorias que são monitoradas pelo DIEESE tiveram aumentos acima do INPC,
apenas 0,6% receberam aumentos acima de 5%. A maior fatia recebeu entre 0,01% e 1%,
somando 34,8% destes 84,5%. Nesta mesma pesquisa, constata-se que 64% tiveram um aumento
da ordem de 0,01% a 2% acima do INPC. Em 2012 houve a maior taxa de aumentos acima de 5%
do INPC. Isso atesta que o aumento no consumo se deu com a ampliação do crédito e
corrobora a afirmação de que não há uma distribuição de renda significativa no país."
(CAB, 2014)
No que se refere o panorama da distribuição de renda encontramos também um quadro não
muito positivo:
Enquanto isso, a maior parte da população brasileira continua vivendo com menos de um
salário mínimo: trabalhadores com 15 anos ou mais de idade que ganham menos de um salário
mínimo somam 26,080 milhões, isso representa que 43% da famílias brasileiras apresentam
uma renda per capita inferior à um salário mínimo. (2)
Estes dois elementos quando se defrontam, demonstram a crueldade da realidade brasileira:
enquanto 124 pessoas concentram mais de 12% do PIB, 26 milhões de trabalhadores vivem com
menos de um salário mínimo por mês.
Mas para manter a aparência de "país rico", o governo e a mídia disseminam o conceito de
"classe média" como se houvesse mesmo, na prática, esse segmento que se diferencia dos
pobres e miseráveis. Para o governo, essa "classe média' abrange a população com renda per
capita de R$ 291 até R$ 1019, ou seja, mais da metade da população brasileira pertence à
classe média. Mas na prática, o que isso significa? O governo está mesmo redistribuindo a
riqueza? Sim e não. Esta renda média está muito abaixo daquilo que o DIEESE aponta como
necessário para se ter acesso aos direitos fundamentais, a instituição estipula que o
salário mínimo brasileiro deveria ser de 2.621,70 R$ (2013). Percebe-se que, na realidade,
o que acontece é que o governo redistribui a miséria. Segundo o IPEA, a pobreza reduziu no
brasil de 32,4% para 22,6%, incluindo mais essa parcela da população na classe média, mas
os mais ricos continuam da mesma forma, acumulando. Vejam: 1% da população mundial detém
43%da riqueza do globo, e 43% detém 2% da riqueza. (Banco Credit Suisse); apenas 6% dos
brasileiros detém meios de produção próprios (IPEA); ou ainda: 1% dosproprietarios de
terra brasileiros detém 45% da terra, 90% dos proprietários detém 20%(INCRA). Assim o que
aparece como distribuição de riqueza nas afirmações do governo, na verdade se configura
como uma dispersão da renda dos mais pobres, enquanto a acumulação dos mais ricos mantém
os mesmos padrões, ou mesmo se intensifica, afinal com o crescimento da economia
brasileira não contemplando a desconcentração de riqueza, acaba por estes segmentos se
afastarem cada vez mais, afinal o crescimento dos mais ricos é assombrosamente maior.
(CALC, 2013)
Como vemos, para além da distribuição de riqueza relacionada à população mais pobre, por
meio de programas sociais (cujo o carro chefe é o bolsa família), não existe uma
desconcentração real de riqueza, o que impede um ciclo contínuo de crescimento.
Em contra partida, os setores dominantes sentem a desaceleração, com um crescimento menor
e com menores lucros (menores porque não batem recordes). Entre os bancos vemos na lista
de maiores lucros, o Banco do Brasil, um banco público com lucro líquido de R$ 15,75
bilhões em 2013, ficando em primeiro lugar. O que demonstra que a oferta de crédito ainda
é responsabilidade do Estado. Na sequência vem o O Itaú Unibanco com lucro líquido
contábil de R$ 15,696 bilhões, acima do resultado de R$ 13,594 bilhões registrado um ano
antes. Em terceira posição está o Bradesco, com um lucro líquido contábil de R$ 12,011
bilhões em 2013, valor acima dos R$ 11,381 bilhões obtidos no ano anterior. Não à toa
vemos a pressão para o aumento da taxa Selic, a taxa básica de juros, pois como vemos tais
bancos garantem um bom percentual de seus lucros no Brasil. O Santander, quarto nesta
mesma lista, garante quase ¼ de seu lucro somente no Brasil. As classes oprimidas veem seu
poder de compra diminuir com seu endividamento e com a inflação corroendo-as. A resposta
para conter a inflação tem sido aumentar a taxa de juros, assim de um lado ou de outro
quem "perde" é a população (com a alta da inflação ou com a alta dos juros), afinal
investir no aumento da oferta não é do interesse dos grandes capitais financeiros. Pois no
mesmo momento que governo declarou a diminuição do crescimento do PIB, alertou para um
aumento na estimativa da inflação para o ano. Mesmo com desaceleração em junho, ainda
batia o teto (de 6,5%) atingindo um acumulado de 6,52% nos últimos 12 meses. Em julho
sofre ligeira desaceleração e se manteve por pouco, mas ainda acima do teto 6,51%.
Como vimos o governo continua apontando como modelo de crescimento a expansão de programas
sociais, infraestrutura e a tal "competitividade produtiva". Não vemos nenhum apontamento
que o governo ira radicalizar na política de distribuição de renda ou ainda no
investimento em setores estratégicos para fortalecer a indústria nacional realmente. O que
vemos é que temo uma equação complexa a resolver, como manter o crescimento no consumo sem
aumentos reais na renda? Como ampliar ainda mais o consumo e frear a inflação, se para
conter a inflação o governo aumentou a taxa de juros para frear um pouco a procura? E mais
como modernizar a indústria e o parque produtivo sem investimentos massivos na área
ciência e tecnologia (o ápice de investimento é no ciência sem fronteiras, e não na
montagem de equipamento em de C & T em solo nacional)? Como segurar capitais sem um
disciplinamento dos mesmos (isto é, regulação, pois não há nacionalismo que faça
capitalistas segurar o dinheiro em nossa economia)?
É inviável pensar em como atrair mais capitais produtivos para o País com uma taxa de
juros de 11%, que favorece o capital financeiro, não à toa a venda de títulos públicos
(títulos de dívida) bateu o recorde de R$ 57,97 bilhões. Não à toa a dívida pública volta
a crescer 3,4%, chegando aos 2,12 trilhões. Não à toa vemos que as previsões para
indústria são de encolhimento de 0,67% (pesquisa Fócus) neste ano de 2014 (a três meses a
indústria encolhe). Entre os BRICS deixamos de ser a 4º economia com mais investimentos
para passar a ser a 7º.
Qual solução apresenta o Governo? Por óbvio o aumento do crédito, a exemplo inverso do
crescimento econômico os desembolsos do BNDES sobem 35% no 1º bimestre. No período,
desembolsos chegaram a R$ 28,5 bilhões. Desembolsos para o setor de infraestrutura tiveram
aumento de 82%, não à toa vemos que estes são os setores que mais financiam campanhas
eleitorais. Não por acaso as contas do governo têm pior resultado para o 1º semestre em 14
anos.
Em junho, houve déficit de R$ 1,94 bilhão, pior resultado desde 1997. A arrecadação tem o
pior crescimento desde 2009, isso resultado de desonerações fiscais, em especial a
automóveis e eletros. Outro caminho encontrado pela presidente, e citado em seu programa
como mais uma solução para o crescimento, são as parcerias público privadas, onde o
governo entra com o financiamento (via BNDES), e o setor privado com a "gestão eficiente",
e é claro o lucro, tudo em prol do desenvolvimento. Entraram na onda da privatização
portos, aeroportos, rodoferrovias, rodovias e Hospitais. Todas estas medidas para buscar
manter as classes dominantes satisfeitas, e por outro lado impedir que as classes
dominadas enfrentem o desemprego e achatamento ainda maior em sua capacidade de consumo.
Como vemos a economia enfrenta turbulência, e as classes dominantes ainda continuam a
expandir seus ganhos, já ganharam mais, mas continuam ganhando. As classes dominadas vem
perdendo o acesso a uma das únicas conquistas que obtiveram junto a este governo: o
consumo. Têm percebido pouco a pouco perda de seu poder de compra, afinal endividados não
tem condições de contrair mais despesas. Perdem com a alta da inflação, perdem com a alta
dos juros, perdem quando o Estado se endivida e investe menos em áreas sociais, o mesmo
ocorre quando o Estado arrecada menos, de um jeito ou de outro perde, e paga as contas do
neodesenvolvimentismo. Tais aspectos não poderiam deixar de influenciar o panorama
político. Afinal quando a política do "ganha-ganha" não é possível, sabemos quem tem de
"perder".
Acabou a festa do crescimento, acabaram os amigos...
Vemos junto das condições de instabilidade econômica, despontar os primeiros
questionamentos a cerca do governo. O consenso de classes forjado pelo PT em seus 12 anos
de governo, parece se abalar frente a incapacidade de manter um cenário de crescimento
econômico. Se este governo já teve avaliações positivas acima de 60%, chegando a 68% em
Dezembro de 2010, e mesmo em março de 2013 ainda contava 63% de aprovação, atualmente sua
avaliação caiu a quase metade disso, pois em 4 meses a aprovação ao governo caiu nove
pontos, de 43% para 34%. Ainda segundo a mesma pesquisa do Ibope (abril) a desaprovação à
maneira de Dilma governar subiu de 43% para 48%. Segundo pesquisa do mesmo instituto
realizada em julho, gostariam que o/a presidente mudasse totalmente o governo do país:
29%; mantivesse só alguns programas, mas mudasse muita coisa: 41%; fizesse poucas mudanças
e desse continuidade para muita coisa: 18%;
desse total continuidade ao governo atual: 10%; e não sabe / não respondeu: 2%. Essa
desaprovação ao governo Dilma, que possui influência indireta nas eleições, não consegue,
contudo, ser captada por Aécio, mas por Marina, uma suposta alternativa, que como veremos
não pode ser encarada como uma "saída"
Como dito, os problemas para reprodução do ciclo de crescimento, e a desconfiança na
política do governo já tem seus resultados eleitorais, que se não retiram a estabilidade
do governo, fazem o consenso em torno do PT ser atingido. Percebe-se o quão frágil são as
conquistas petistas, que garantiram crescimento aos de cima, e acesso ao consumo e emprego
(de baixa qualidade diga-se) aos debaixo, que ao demonstrar seus primeiros sinais de
cansaço devido o modelo de desenvolvimento adotado, já mostra que aquilo que era tão
consensual, talvez não o fosse tanto assim. São os frutos da engenharia do pacto social
montada em todos esses anos de governo petista que, ao priorizar e fazer de centro de sua
estratégia conchavos e alianças com os setores dominantes acabou deixando de lado a
mobilização e organização dos de baixo, enterrando de vez qualquer perspectiva de
transformação Socialista.
Sem crescimento econômico: debandada dos de cima... Sem garantia de Direitos: Insatisfação
dos de baixo!
Como apontamos, a diminuição na taxa de crescimento aliada a fatores de coerência
ideológica tem gerado tensionamentos por parte dos setores dominantes ao governo petista.
Muitos deles feitos por meio da mídia, que ataca o PT e busca ampliar o clima de
instabilidade, buscando favorecer a "oposição" ao governo, que agora promete modernizar a
base produtiva com uma reforma tributaria, isto é sempre menos Estado, no que tange a
gestão da economia e direitos, afinal não estão falando de uma reforma tributaria para
implementar impostos progressivos. Mesmo a direita entrou na onda de criticar a copa (como
alguns apontavam o General Figueiredo não fez a copa), e contrastando os estádios com
serviço público.
Como apontamos anteriormente também, se não houve uma mudança radical na distribuição de
riqueza também não houve atendimento à população no que tange aos serviços fundamentais.
Se observarmos os principais serviços de atendimento a população: educação, saúde,
transporte e saneamento, os mesmos não passaram por mudanças significativas, esperadas de
um partido reformista. Nem podia ser diferente, se olharmos o orçamento de 2014, 42% são
destinados à dívida pública. Somando isso à Lei de Responsabilidade Fiscal, torna-se
difícil discutir qualquer mudança, ou reforma que seja. Não surpreende a privatização
estar em uma crescente. Vemos recentemente esta noticia: Fusão da Anhanguera e Kroton cria
a 17ª maior empresa da Bovespa
"Nova empresa passa a ter valor de mercado de mais de R$ 24 bilhões. Associação cria
empresa com quase 1 milhão de alunos."
(...)
De acordo com o CFM, do investimento federal total de R$ 47,3 bilhões em 2013, os R$ 3,9
bilhões da saúde representam 8,2%. Esse percentual, segundo a entidade, é menor que as
fatias destinadas aos ministérios de Transportes (23,3%), Defesa (18,6%), Educação (16%) e
Integração Nacional (9,3%).
Como pode-se notar a educação no Brasil continua a ser um negócio, e o aumento do
investimento público se dá no setor privado. No ensino superior, por exemplo, veio por
meio do PROUNI, que não é nada mais que a privatização de vagas públicas (estima-se que
cada vaga no PROUNI custa cerca de 3 nas Universidades públicas). Ainda quando vamos olhar
em como se encontra a educação, nos defrontamos com o seguinte panorama
Quando tocamos a situação das universidades, temos uma situação ainda mais crítica no que
tange à administração do serviço por parte do poder público. Apenas 11% da população entre
25 e 64 anos de idade atingiu esse patamar educacional, quando o recomendável para nações
desenvolvidas é, pelo menos, 31%. Atualmente, ao menos 74% dos estudantes do ensino
superior têm de recorrer ao ensino privado, pois as instituições de ensino superior
privado correspondem à maior parte deste serviço no Brasil. São 2.112 instituições
privadas para 304 públicas. Somente 62% das pessoas com ensino superior e 35% das pessoas
com ensino médio completo são classificadas como plenamente alfabetizadas. Segundo
pesquisa do Instituto Paulo Montenegro e da ONG Ação Educativa, os níveis de alfabetização
e alfabetização funcional melhoram seu desempenho de acordo com a renda. Percebe-se que o
produtivismo imposto à educação brasileira por órgãos internacionais nos anos de
neoliberalismo ferrenho, combinado com a falta de atenção naquilo que tange às políticas
de bem-estar social (em que renda é somente um elemento) e com uma universalização que não
representou aumento suficiente em verbas (por consequência em ganho estrutural e pessoal),
gerou uma estrutura sobrecarregada (salas lotadas) com número pequeno de professores,
acabando por se converter em uma educação massificada de péssima qualidade. Nosso país não
somente tem uma educação de péssima qualidade, como, por conta da expansão via
universidades privadas, é incapaz de promover o desenvolvimento tecnológico, pois as
privadas não investem em pesquisa e possuem um frágil sistema de produção de conhecimento.
O Brasil é responsável por meros 2,7% da produção científica no mundo, o que é pouco para
uma das maiores economias mundiais. Não é à toa que somente quatro universidades
brasileiras estão entre as 100 mais bem avaliadas dos BRICS. Nessa área, a privatização se
estende a todos os níveis, do básico ao superior, seja por meio da privatização de
receitas, da estrutura pública ou pela liberalização que transforma um direito em mercadoria.
No recém aprovado PNE (Plano Nacional de Educaçao), grande parte da discussão ficou em
torno de orçamento, os famosos 10% do PIB, e 100% do Pré-Sal. Se estas discussões são
importantes, não podemos esquecer de pensar na qualidade e gestão da educação, justamente
o que mais preocupa no PNE que preve a privatização do sistema de educação de cima a
baixo, desde a educação infantil até a pós graduação.
Na Saúde não temos melhores situações em pesquisa recente, realizada pelo TCU aponta que
64% dos Hospitais encontra sempre superlotados, 81% das unidades tem falta de médicos, e
73% das instalações são inadequadas. Em pesquisa ainda deste ano (2014), constatou-se algo
que não soa nada estranho frente a este panorama, 93% da população se encontra
insatisfeita com o SUS e convênios privados. Recentemente ainda encontrávamos o seguinte
cenário
Segundo pesquisa de 2011, cerca de 70% da população se encontra insatisfeita com os
serviços prestados pelo SUS. Esse número se refere àqueles que, frequentemente, buscam o
serviço. A principal reclamação é de falta de médicos, seguida da demora em agendar
consulta ou exame na rede pública (IPEA), que podem chegar, segundo algumas fontes, a 9
meses. Segundo outra pesquisa, cerca de 60% da população usa somente o SUS, enquanto
outros 30% combinam o uso do SUS com a saúde privada. Na prática, cerca de 90% da
população depende dos serviços do SUS. Ele não obtém aumento real em sua suplementação
desde 1994, pois, a inflação no setor de saúde acumulada na última década, de 83,3%,
acabou por absorver os 32% de aumento em subsídios no setor. Vemos o atual governo romper
somente na retórica com a antiga política privatizante, impondo-a por meio de medidas
mascaradas, como no caso das empresas públicas de direito privado (como a EBSERH), que
abrem espaço para as privatizações (hospitais de porta dupla) e promovem a mercantilização
da saúde (não só no sentido comercial, mas também de submetê-la à lógica da administração
empresarial em detrimento do bem-estar. Em nível estadual temos as suas equivalentes, as
Organizações Sociais (OSs). Somente apontando esses dados preliminares, sem nos determos à
fundo nas estatísticas relacionadas à saúde pública brasileira, é notável que a sua
situação é catastrófica.
Ainda no que se refere o saneamento básico, tema diretamente ligado a Saúde Pública, dos
100 maiores municípios, 34 não tem plano de saneamento estima-se que 35,5 milhões de
pessoas não acessam o saneamento básico.
No que se refere aos transportes, dos 50 bilhões adicionados por Dilma no orçamento para
área, parece que pouco se investiu em transporte para a população. Acabou que a única
conquista real da população foi a redução da tarifa nas mais de 100 cidades, e algumas
cidades que passaram a garantir o passe livre por meio da força das ruas. Em geral o
transporte continua na mão das velhas máfias do transporte, mais do que isso, esse
orçamento suplementar caiu na mão de velhas oligarquias. O Cade realizou denuncia de
cartéis nas obras de metro em São Paulo, Distrito federal, Rio de Janeiro, Rio Grande do
Sul e Minas Gerais. Como vemos a situação continua igual ou mesmo pior.
Tais dados revelam a realidade de um Brasil que ocupa a posição de 46° lugar em novo
índice que mede a qualidade de vida. O Indicador global IPS avaliou 'progresso social' em
132 países. Brasil foi o melhor dos Brics, mas foi superado por outros latinos. O país
mais bem-sucedido da região foi a Costa Rica, que apareceu em 25° lugar. Em seguida,
vieram Uruguai (26°), Chile (30°), Panamá (38°) e Argentina (42°). Como vemos não
necessariamente "País Rico é País sem Pobreza" pois, mesmo em índices de instituições
burguesas, aparecemos atrás no que tange a qualidade de vida de países com economias muito
menores.
Igual não é, mas também não cai muito longe...
Parte da esquerda desqualifica seu próprio debate apontando que o PT segue a mesma
cartilha neoliberal do PSDB. Entendemos que tais afirmativas, para além de serem de certo
modo inverdades, desqualificam a esquerda que acaba por afirmar que a realidade promovida
pelo PSDB, de privatizações estrito senso, e menos participação do Estado na economia são
idênticas por parte do governo PT. Não se pode comparar o atual governo ao período do
PSDB, quando somente de 95 a 2000 o desemprego cresceu 155,5%, e o investimento público na
geração de emprego declinou 32,2 %. Soma-se que em 2000 o desemprego batia os alarmantes
15%, dos quais hoje estamos distantes. A política de protagonismo econômico do Brasil
frente a economia mundial também é um diferencial. O Banco do Brics é um de seus últimos
exemplos. A lógica ainda é a lógica capitalista, por óbvio, em especial porque o
multilateralismo brasileiro pouco leva em conta as alianças políticas, mas o pragmatismo
econômico (basta ver que Rússia e China estão longe de serem países democráticos), e visa
em especial criar zonas de influência do imperialismo brasileiro.
Todavia vemos que a lógica privatizante permaneceu (agora sob a égide das PPPs), e que o
investimento público, como demonstramos, não atingiu aquilo que espera-se de um governo
reformista. Deste modo destacar diferenças não significa capitular ao "melhorismo" do PT,
nem mesmo defendê-lo, mas compreender uma reconfiguração dos inimigos de classe. Ou seja,
não há como negar que o governo PT se preocupou, de alguma forma, em favorecer a parcela
mais precarizada da população brasileira, porém, sempre com políticas dualistas, onde os
pobres ganham um pouco e os ricos ganham mais. Exemplo disso são os programas sociais que
o governo PT desenvolveu durante sua gestão, como o Minha Casa Minha Vida ou o Minha Casa
Melhor que, claramente, são políticas de estímulo ao consumo que visam aquecer o mercado.
Outro tema que vem aproximando o PT do PSDB é a forma como vem sendo tratados os
movimentos sociais. Pois a repressão aos mesmos se tornou uma constante, como a
judicialização da luta política. Os casos de São Paulo (2 presos) e do Rio de Janeiro (23
indiciados) são exemplares, e, se não são de responsabilidade direta do PT, são realizados
com sua benção. Não é raro a guarda nacional e o exército serem acionados para combater
movimentos. E mais, o PT foi um dos partidos que mais se esforçou por aprovar o projeto de
lei que visava conter os protestos, aderindo mesmo ao projeto da bancada do PDT para
acelerar a criação de dispositivos legais para reprimir manifestações. Cabe mencionar que
o próprio exército vem sendo mobilizado para investigar manifestantes, algo que desde a
ditadura não se via. Parece que estamos a relembrar a onda de terror e medo de
investigações massivas, que chegam a absurdos para condenar militantes. A própria anistia
internacional interveio no tema dos protestos relacionados à Copa, apontando que o Brasil
vinha infringindo o direito a livre manifestação. Isto parece um contrassenso em um
governo que tem sua presidente saída dos quadros da luta contra a ditadura, e mais absurdo
quando vemos o cinismo da mesma: "Na minha época eramos presos por fazer política". Tem se
tornado lugar comum, os movimentos sociais serem tornados caso de polícia, e temos visto o
mesmo tipo de montagem de "farsas" contra movimentos, dignos das épocas mais reacionárias
de nosso país, botijões da gás que viram explosivos, livros de determinadas ideologias (em
especial anarquistas) que se tornam prova de crimes (como na invasão do Ateneu Batalha da
Várzea), mais recentemente ainda camisas, bandanas e suvenires de banda se tornaram prova
de crime.
Para criminalizar o protesto, o PT e o PSDB vem contando com o apoio da mesma mídia que o
PT acusa de golpista (e realmente o é até hoje, o wikileaks recentemente revelou
documentos que revelam ligações de agentes da Globo e Folha de São Paulo a cônsules
americanos). Mídia que os governistas apontam como sua principal oposição. Todavia há de
se lembrar que se as concessões continuam na mão dos oligopólios da informação, é com a
anuência do PT. Governos como o de Chaves e Kichiner revisaram tais concessões. Todos
estes processos de criminalização buscam silenciar aqueles que denunciam o "bem estar"
tupiniquim, criado por um governo que concede muito aos de cima, e que cede pouco aos de
baixo, que precisa se comparar o tempo todo àquilo que existe de pior na política
institucional para se situar a esquerda. Não tem existido deste modo menor constrangimento
por parte do governo do PT na montagem e sustentação de farsas (é o caso de Tarso no RS)
contra os movimentos sociais e na intensificação da repressão e organização de uma máquina
de repressão aos movimentos sociais. A criação de bodes expiatórios como mascarados, black
blocs, "fascistas" etc., se mostra como a faceta de farsas criadas para abafar as vozes
descontentes, afinal a população deve aceitar resignada que o melhor que podemos alcançar
em matéria de mudança social é o PT, e que qualquer oposição fortalece a oposição tucana,
isto, claro, na visão do governismo. Estas farsas, que sim podem ser aproximadas
(guardadas as proporções) aos tempos tucanos, e mesmo dos "anos de chumbo", de alguma
maneira obtiveram êxito em certo esvaziamento das ruas. Porém se a mídia consegue cumprir
o papel de confundir, e busca esvaziar as ruas elegendo novos inimigos para colocar no
lugar das classes dominantes, criando um antagonismo entre população e
militantes/ativistas, estabelecendo as urnas como lócus da política, por outro vemos que o
descontentamento e concordância com a necessidade de mudança não muda. Temos de observar
ainda que em matéria de direitos humanos, este governo já firmou seu pacto com os setores
mais conservadores, demonstrando que não podemos esperar nem as tímidas mudanças sociais
que ensaiou o Uruguai, onde se descriminalizou o aborto e o uso da maconha, e mais
deixando voltar a tona pautas de direita como internação compulsória para usuários de
drogas e a malfadada "cura gay". O PT é conivente com tais absurdos, pois nos bastidores
Dilma já acalmou alguns dos setores mais conservadores da sociedade, (a exemplo de seu
"pacto" com os neopentecostais) comprando seu apoio ao trancar pautas relacionadas a
liberdades civis e direitos Humanos.
Já não nos defrontamos com o momento em que 8 em 10 brasileiros apoiavam as manifestações
(Datafolha, 2013), que dois milhões saíram as ruas, em um contexto onde ocorreu uma
manifestação a cada 3 dias na paulista (CET, 2014), não podemos dizer que a população está
"acomodada" com a situação. Em uma recente pesquisa mostrou-se que se 73% dos paulistas
vêm mais prejuízos do que ganhos nas manifestações, ainda sim 52% dos mesmos apoia as
mesmas (Datafolha, 2014), cabe destacar a que pesquisa foi realizada no primeiro dia da
greve de ônibus. De São Paulo, Estado mais rico em pesquisas do tipo, vemos que com o
início da Copa caem 61%, mas que por outro lado temos 14,5% mais manifestações que em 2013
no primeiro semestre. O que podemos apurar disso, é que se as manifestações estão menores,
se tornaram frequentes e parte do cotidiano, o "senso comum" já as compreende como parte
da vida política, e isso podemos entender como uma mudança ideológica significativa na
consciência dos brasileiros. Se a massa saiu às ruas, os velhos movimentos ganharam nova
força em uma conjuntura ideológica mais favorável, vimos greves massivas, sem teto, etc.
Por outro lado vemos uma confusão instaurada pelos meios de comunicação, endossadas por
nossas personalidades políticas, que demonstram que se não existe uma homogeneidade entre
PT e PSDB, as classes que os mesmos representam (ambos disputam a capacidade de
representar as classes dominantes) tem uma mesma preocupação, assim passam a existir
muitos pontos de contato, talvez o principal é de que os poderosos não gostam da
organização e luta dos de baixo, e que seu trato é o mesmo, cooptar quem se pode cooptar,
reprimir quem não concordar. Não é à toa que o candidato à presidência do reacionário PSDB
(que tem em seu seio desde narcotraficantes, a membros da Opus Dei) não tem problema algum
em colocar: "Política e administração pública é você copiar as coisas que dão certos e
aprimorá-las. [...] Não tenho o menor constrangimento de mantê-los e aprimorá-los [os
programas socias do PT]". Como vemos escolhemos no máximo com qual "molho" vamos ao fogo.
O problema é da democracia burguesa, e não dos partidos em questão, salvaguardadas as
diferenças, ambos terão que manter a "ordem", sem ao mesmo tempo alterar nada de fato,
pois não se pode distribuir direitos sem mexer na concentração de riqueza. Isso ficou
claro nos dividendos políticos gerados na "sala de cima" da política pelo junho de 2013:
mais repressão, fortalecimento do aparato militar, farsas e mentiras da mídia encomendadas
por estes senhores e senhoras e claro mais recursos públicos paras as quadrilhas que se
associam ao poder público.
Uma "Nova Velha" Alternativa
A "fatalidade" da queda do avião de Campos, abriu espaço a uma "nova" e ao mesmo tempo
velha conhecida do eleitorado, Marina Silva. Dirigente da Rede Sustentabilidade, sigla que
não foi legalizada, como herdeira natural de Campos assume a cabeça da chapa liderada pelo
PSB (Partido Socialista Brasileiro - cujo socialismo resistiu somente na sigla). A
fraqueza do PSB e seu programa fica eminente, na medida em que cede sua sigla a uma
"forasteira" no partido (afinal Marina apenas aluga a sigla por seu partido, a Rede, estar
ilegal) na eminência do sucesso eleitoral. Isso tanto procede, que quando o chefe da
campanha de Campos padece, tão logo o PSB anuncia Marina como nova candidata a presidência.
Não podemos deixar de lembrar que Marina, é uma velha novidade, na medida em que fez parte
do atual governo. Mas as semelhanças com o passado, não param por ai. Se temos como
"velhas" alternativas o PT de Dilma (mesmo lugar da onde saiu Marina) e o PSDB de Aécio, e
como novidade a Marina da Rede (travestida de PSB), nos bastidores da política, a
realidade é a mesma. Marina tem como grande financiador o maior banco privado do País: o
Itaú. Conta com Neca Setúbal como sua estrategista, nada mais nada menos que a herdeira da
rede bancária. Como já discutimos, sem enfrentar o capital financeiro que morde boa parte
dos recursos orçamentários do país (com a arrolagem da dívida pública), fica difícil
pensar em mudanças quaisquer. Quando tem-se o capital financeiro pagando a conta de uma
candidatura, é eminente que esta candidatura em nada rompera com o status quo.
Outra mostra de que Marina é mais do mesmo fica por conta de sua prontidão em abrir mão de
compromissos históricos seus e de sua legenda (no caso a Rede e não o PSB), que são com a
ecologia e a tal sustentabilidade (conceito tão disputado que sem uma longa discussão
pouco define, atualmente). Marina já se dispôs a apoiar e financiar o setor do agronegócio
(supostamente seus inimigos históricos na pauta ambiental). Se aquilo que era o "coração"
do programa de seu partido já se esvaiu na eminência de uma vitória eleitoral, no caso a
suposta "intransigência" da ambientalista na defesa do meio ambiente, não podemos esperar
que aquilo que está em um segundo plano resista. Deste modo temos uma terceira via que
renuncia seu "programa" na primeira oportunidade, que flexibiliza aquilo que lhe é mais
caro em nome do pragmatismo eleitoral. Diante de poucas certezas "programáticas" de
Marina, a suposta Terceira Via: também representa a vitória do Capital. Entendemos que
esses 3 projetos (PT, PSDB e PSB/REDE) representam variações administrativas no marco do
Estado e que seguirão ajustados às relações de poder do sistema de controles do
capitalismo financeiro. Não podemos nos deixar iludir pelas falsas alternativas; a SAÍDA À
ESQUERDA É SÓ UMA.
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As Ruas são a Única Saída à Esquerda
Junho de 2013 nos mostrou que existe certo descontentamento com o governo atual,
principalmente pelos setores médios da população. Porém, a esquerda combativa (leia-se
esta, a esquerda que luta por fora do poder burguês) tem tido imensas dificuldades de
aglomerar todo este descontentamento em termos de organização e construção programática
dos de baixo. Nesse sentido veremos setores oportunistas "surfando na onda", da
necessidade de mudança, chamando às "urnas" que são o "verdadeiro" lugar da cidadania
(Marina Silva tão prontamente tomou este posto). Mesmo assim, observamos uma disposição da
população para com a luta e ação direta, que a muito não víamos. Quando se trata da
juventude, aquela parcela da população escolarizada (os dados mostram que em junho a
maioria era de universitários), com um perfil etário que não viu as mazelas do PSDB, mas
que também não viu o PT em seus áureos anos de combate, tem aparecido com disposição para
exigir mais, e isso o próprio PT admite em seu programa para 2014. Segundo a Pesquisa
Agenda Brasil Juventude, nove em dez jovens acreditam que podem mudar o mundo, 83%
entendem que a política é importante, e destes 45 % ( a resposta mais escolhida) dos
jovens entendem "a participação e mobilização nas ruas e ações diretas" são o mais
importante, seguido de 44% para "atuação em associações ou coletivos que se organizam por
alguma causa", em terceiro "atuação em conselhos, conferências, audiências públicas ou
outros canais de participação deste tipo", com 35%. Podemos ver que as "ruas" vencem na
pesquisa, todavia os instrumentos da Política Nacional de Participação Social, ainda
ocupam um bom espaço, assim sendo a cooptação e manipulação da participação popular ainda
estão voga, em franca disputa com os movimentos sociais independentes, afinal esta foi uma
das últimas cartadas de Dilma para tentar capitalizar a revolta das ruas, a
institucionalização do PNPP. Sabemos que este é mais um engodo, não porque discordamos da
participação popular, mas porque sabemos que na ordem do dia não serão colocados o
orçamento, a dívida pública, mas sim a reforma política, que nada irá alterar, afinal as
eleições e nossos representantes são uma das facetas do poder burguês. As relações de
poder que garantem os privilégios e dominação das classes dominantes não serão alteradas
pelas eleições. Nesse sentido, antes mesmo das eleições começarem, podemos ter uma
certeza: as classes dominantes vencerão, e as classes oprimidas perderão, perder com
governos que já tem pactuados seus acordos com as elites, os donos do poder, perder quando
manipulados se enganarem e verem o poder neste processo, e assim se deixando cooptar pelo
processo que somente legitima a Ditadura Burguesa com a áurea de democrática. A única
vitória possível pelos oprimidos virá de sua organização e luta, pois mesmo as reformas
não virão de uma mágica varinha de condão do Estado, mas pela capacidade de pressão que
tem as classes oprimidas. É essa força que faz mesmo o reacionário PSDB aceitar programas
sociais (afinal é temperatura da luta de classes que faz a política ceder, e não a
benevolência ou consciência subjetiva destes senhores). Nesse ponto concordam PT e PSDB,
bem como a classe dominante, o poder não pode se reorganizar, tampouco se democratizar,
com reforma ou sem reforma política as eleições ainda serão uma encenação, o "espetáculo
democrático", pois os temas estratégicos para a população somente podem aparecer na ordem
do dia por meio de sua ação direta. Junho é uma pequena mostra disso, se arrefecendo o
espírito de luta na massa, as pautas das ruas saíram de cena ou fizeram uma metamorfose,
se tornando interessantes a burguesia (voltemos ao caso da suplementação orçamentária ao
transporte, cujo o dinheiro vem caindo nas mão dos velhos cartéis). PT e PSDB não são
iguais, mas ambos são partidos da ordem burguesa que disputam a gestão do aparelho, não um
projeto de sociedade. A esquerda "revolucionária" que participa das eleições sequer tem
força para disputar o aparelho, e serve como mera legitimação do processo, emprestando-o
ares de plural e democrático. As mudanças que se ensaiaram vieram todas das ruas, e
somente aí se apresenta uma saída à esquerda para o processo. Seus programas recheados de
"boas intenções", como eles mesmo sabem, sequer tem chances nas eleições minoritárias,
menos ainda nas disputas em torno do poder executivo, elucidando mais uma vez que não há
"milagre" que substitua o trabalho e a organização de base, demonstrando que sua
incansável propaganda (12 anos o PSOL, e 20 anos do PSTU) pouco renderam eleitoralmente ou
organicamente. Sequer são capazes de criar um campo de unidade da esquerda, apresentando
nas eleições uma esquerda que é minúscula e fragmentada, e que muito pouco pode definir na
atual política brasileira.
O terreno ainda é fértil ao nosso campo, que ganha mais espaço público que em outros
tempos. Não ao acaso nos tornamos o bode expiatório mais atingido pelas farsas policiais.
A população, em especial a juventude, está aberta para discutir uma nova política. Uma
"Outra Campanha" nunca esteve tão em voga, afinal o consenso dos Partidos da ordem atual
em torno da necessidade de pactuar as classes sociais, e de gerir a miséria capitalista da
forma mais "humana" possível, fazem com que as massas olhe com ceticismo o processo
eleitoral. Acreditamos que a única saída à esquerda possível é a organização dos de baixo
e sua luta direta nas ruas. Apostamos na construção de processos de massas, sem
"imposição" de programas "revolucionários" de cima. Afinal vanguardas descoladas não
radicalizaram os de baixo por osmose, pois estes constroem seu espírito reivindicativo no
dia a dia dos conflitos e das mobilizações.
As Ruas ainda jogam peso no imaginário daqueles que fizeram sua experiência de luta em
2013. O protagonismo político exercido pela população, na opinião dos anarquistas, sempre
teve como lócus as manifestações e ações diretas em geral. Diante da realidade, que nos
ofereceu uma recente revolta de massas no Brasil, este elemento das Ruas se mantém vivo no
imaginário coletivo. Tanto o é que todos os candidatos da extrema esquerda a extrema
direita reivindicam o legado de junho. O TRE tenta capitalizar nas urnas a "vontade de
mudança", tentando estabelecer uma disputa de "urnas" versus "ruas", tentando definir que
o lugar da política e da decisão, tem dia, hora e local marcado, estes definidos pelas
classes dominantes, que já venceram antes do "gongo soar".
Para nós Socialistas Libertários, a política dos de baixo não se faz nas urnas, mas no
cotidiano do protagonismo de classe e da ação direta. Falar disso no atual momento não
significa mais remeter a abstrações ou ao passado "dos anos dourados dos movimentos de
massa", mas remeter a algo que evoca no imaginário coletivo um real exercício do poder do
povo. Sem sermos ingênuos acreditando que só ir as ruas basta, sabemos que a falta de
organização de base fragiliza os processos de mobilização e facilitam as tentativas de
controle pelos dominantes. Deste modo, nossa aposta é nas Ruas como espaço privilegiado da
ação política, mas também é a aposta na organização horizontal e de base que fortalece a
ação direta, com uma agenda popular que delibera, encaminha e executa seu programa: um
programa dos de baixo, que não delega poder a nenhum político de plantão. Ou se vota com
os de cima, ou se organiza e se luta com os de baixo!
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