(pt) Coordenação Anarquista Brasileira (CAB) - SINDICALISMO E AÇÃO DIRETA: Trabalhadores (as) decidindo os rumos da luta (en)
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Terça-Feira, 9 de Setembro de 2014 - 11:40:45 CEST
No primeiro semestre de 2014, a luta de diversas categoriais de trabalhadores (as)
ganharam as ruas para o desespero de patrões e governos. O contra-ataque dos poderosos
teve a ajuda da grande mídia, que tentou criminalizar os protestos e desmobilizar os
lutadores. Isso ocorreu antes, durante e depois da Copa do Mundo, momento em que os
noticiários buscavam legitimar as ações violentas dos aparelhos repressivos do Estado e
seus governantes. Na sequência, vieram também as perseguições políticas e prisões de
dezenas de manifestantes de forma autoritária, violando os meios democráticos e direitos
humanos. ---- Mas é inegável que as lutas destes/as trabalhadores/as tomaram grandes
proporções, e pode-se identificar nelas uma prática comum, que tem sido bastante rara
atualmente no sindicalismo brasileiro. Foram greves construídas nos locais de trabalho,
independente das direções sindicais - por vezes tendo até mesmo que enfrentá-las.
Conquistaram vitórias, totais ou parciais, que os antigos diretores sindicais, muitos
deles fazendo o jogo dos governos e patrões, diziam não ser possível conquistar. Esses
movimentos inspiraram diversos outros, em menores proporções e nem sempre com o mesmo grau
de avanço, mas com uma importância enorme na tentativa de renovar a maneira de fazer a
luta sindical no Brasil.
Essa prática pode ser identificada principalmente no protagonismo, na ação direta das
bases decidindo sobre os rumos das greves frente à burocracia e à centralização das
direções sindicais personalizadas e por correntes sindicais partidarizadas. Estas últimas,
por outro lado, são práticas sindicais viciadas, que em geral não dão conta das urgências
da classe trabalhadora, nem constroem espaços com autonomia política e participação direta
dos/as trabalhadores/as.
Assim, experiências de autonomia, luta e solidariedade de classe emergem pelo país, seja
no exemplo dos operários em protesto nas grandes obras de infra-estrutura do PAC
(principalmente no norte e nordeste do país), os garis no Rio de Janeiro, os rodoviários
em Porto Alegre, ou os metroviários de São Paulo. Demonstraram, na prática, que a luta
começa desde baixo, e não raras vezes sem a tutela ou mesmo contra as direções sindicais.
Em uma clara demonstração de que quem deve ter o controle das lutas é o conjunto da base e
não um grupo de dirigentes "iluminados".
Ações que também têm em comum a retomada de alguns importantes valores das várias lutas
históricas das classes exploradas e oprimidas em todo mundo:
Ação Direta: os métodos de lutas para fazer avançar as reivindicações tiveram um
repertório bastante diversificado desde as greves. São exemplos disso os piquetes,
ocupações, sabotagens e mobilizações que paralisaram a circulação e o funcionamento de
serviços essenciais. A Ação Direta é o uso de todos os meios necessários para
potencializar as lutas protagonizadas pelos/as trabalhadores/as. Significa não entregar na
mão de outros o poder de decisão sobre os assuntos do cotidiano. Ao contrario, é o
coletivo a exercer esse poder de forma direta, sem intermediários ou representantes.
Protagonismo de Base: há uma disposição da base dos trabalhadores em fazer avançar a luta
sindical e muitas vezes combatendo a postura burocrata da própria direção dos sindicatos.
Assim foi o exemplo das lutas sindicais nesse período, impulsionadas pela base das
categorias. Esse é o ingrediente de um sindicalismo forte, com controle dos/as
trabalhadores/as através da democracia direta. Combatendo a cultura autoritária e
anti-democrática presente nos sindicatos, inclusive em muitos daqueles dirigidos por
agrupações que se colocam à esquerda na composição política.
Na medida em que os/as trabalhadores/as se organizam e avançam, a reação do Estado e
governos têm sido a de criminalizar a greve e o protesto, reprimindo as lutas legítimas e
propagando a mentira através da mídia burguesa, a grande aliada dos patrões e poderosos.
Denunciamos aqui a cumplicidade entre essa hegemônica mídia capitalista, os governos e os
fortes grupos econômicos que controlam o país.
É com entusiasmo que vemos as retomadas desta combatividade nas lutas sindicais pelo país,
pois tomar o protagonismo de nossas lutas é fundamental. Os sindicatos são instrumentos
importantes que podem potencializar a luta sindical. Contudo, quando estão tomados pela
burocracia partidária, ou engessados pela patronal, deixam de ser um meio de luta e viram
um meio de vida para os oportunistas. Pessoas que se dizem representantes dos/as
trabalhadores/as, mas que se encastelam na estrutura sindical. Subordinam as urgências dos
trabalhadores aos seus interesses, ou aos de seu partido, distanciando-se da realidade dos
trabalhadores.
É no acúmulo das nossas forças e pelo nosso poder de mobilização que podemos enfrentar,
inclusive, as injustas decisões judiciais a serviço de governos e patrões. É também pela
nossa força coletiva que podemos alcançar as vitórias que almejamos. Que não percamos
nossos desejos por mudanças! Que cada luta, cada piquete, cada greve, com suas derrotas e
vitórias, possa fortalecer a ideia de que um novo mundo é possível.
Dentro desse processo de radicalização das lutas, é necessário ter como retomada de
objetivo o Sindicalismo Revolucionário. Concepção de luta sindical defendida por Mikhail
Bakunin, que o ano de 2014 comemoramos os 200 anos de seu nascimento, além de ter sido
apontado como um "suspeito em potencial" de estimular as lutas e ter envolvimento com
elas, na capital carioca.
Os 200 Anos de Bakunin
Em 2014, relembramos os 200 anos do nascimento do revolucionário e anarquista russo
Mikhail Bakunin. Militante exemplar, sua vida se confundiu com a luta dos trabalhadores de
sua época, principalmente dentro da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT).
Junto com outros companheiros, também foi responsável pela constituição do anarquismo como
força socialmente engajada na luta pela liberdade e igualdade. Em 1868, Bakunin ajudou a
fundar a Aliança da Democracia Socialista, organização clandestina e a primeira
especificamente anarquista da história, que atuou dentro da AIT.
Sendo a AIT o espaço que aglutinou e impulsionou as lutas dos trabalhadores nesse período,
é importante pontuar que foram os acúmulos das correntes anti-autoritárias da
Internacional que tiveram maior influência no movimento operário de nosso continente
latino americano. Após o Congresso de Haya, da Primeira Internacional, as concepções
estatista e federalista se separam em meio a fortes polêmicas e seguem caminhos distintos.
E é a corrente libertária do socialismo (federalista e anarquista) que vai impulsionar a
continuidade da AIT, e é em 1872, em Saint-Imier na Suíça, que Bakunin e os federalistas
fundavam a Internacional conhecida mais tarde como anti-autoritária.
As seções e federações vinculadas à Internacional que foram se formando em toda a América
Latina contavam com orientações gerais bastante precisas e com autonomia para o seu
desenvolvimento, dando continuidade às propostas federalistas e de sindicalismo
revolucionário de Bakunin. Ele entendia o sindicalismo como um meio e não um fim em si. E
o papel dos anarquistas deveria ser colocar combustível nos processos de mobilização da
classe e organizar as lutas junto com os/as trabalhadores/as. Fazendo a propaganda da
causa onde quer que se encontrassem os operários. Foi de fato na ação, e a partir das
táticas consagradas pela experiência, que os contornos de uma doutrina sindical mais
radical foi tomando forma, tornando-se a expressão histórica deste período.
A genealogia da Greve Geral
A idéia de greve geral foi lançada pelo Congresso da Internacional realizado em Bruxelas,
em setembro de 1868. Na ocasião, era uma ferramenta com o objetivo de lutar contra a
guerra naquele período. Mas foi em 1869 que Bakunin, de forma pioneira, analisou todas as
possíveis consequências e potencialidades da Greve Geral:
"Quando as greves ampliam-se, comunicam-se pouco a pouco, é que elas estão bem perto de se
tornar uma greve geral; e uma greve geral, com as ideias de liberação que reinam hoje no
proletariado, só pode resultar em um grande cataclismo que provocaria uma mudança radical
na sociedade. Ainda não estamos nesse ponto, sem dúvida, mas tudo nos leva a isso."
Bakunin traz assim importantes contribuições a esta concepção da greve como ferramenta de
mobilização de força dos/as trabalhadores/as, e que "já indicam uma certa força coletiva,
um certo entendimento entre os operários". Como prática da luta reivindicativa e de
formação na prática, a Greve Geral deve também encarnar a solidariedade entre os setores
da classe oprimida, pois "as necessidades da luta levam os trabalhadores a apoiarem-se, de
um país a outro, de uma profissão a outra".
Coordenação Anarquista Brasileira - frente sindical
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