(pt) Anarkismo.net: Eleições presidenciais brasileiras e as mazelas deste processo democrático by BrunoL (en)
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Segunda-Feira, 1 de Setembro de 2014 - 16:46:10 CEST
No meio da corrida eleitoral de 1º turno, onde a 7ª economia do mundo vai decidir seu
destino consultando a vontade e desinformação da 79ª sociedade mundial em índice de IDH, é
preciso fazer uma série de reflexões. Para tal, precisamos ir além da denúncia do
esvaziamento da democracia em sua versão liberal e indireta. Entendo que vivemos um
problema estruturante, que tem relação direta com dois fenômenos. O primeiro passa pela
individualização do cotidiano, com tarefas que se multiplicam e tempos esgotados. O
capitalismo em sua era informacional não dá tempo hábil para a vida coletiva e menos ainda
para as experiências políticas massivas. Quando isto ocorre, temos uma "crise", como em
junho de 2013. Saudável "crise" por sinal. ---- Na ausência de plena capacidade de
participação e crítica, a democracia representativa acaba se tornando um ritual onde os
que decidem pouco percebem sobre o que estão decidindo.
O segundo se aplica no descolamento do processo eleitoral em relação ao processo político.
A escolha massiva de governantes, em especial dos concorrentes para o Poder Executivo, é
atravessada pela linguagem publicitária, passando longe da propaganda política, anos luz
das grandes ideologias e universos de distância das realizações de governo ou proposição
de políticas públicas. Má notícia. Estes dois fenômenos não são fruto da infeliz
democracia publicitária brasileira e sim um padrão no mundo ocidental, onde as democracias
liberais, indiretas, não deliberativas e com tendências oligárquicas esgotam sua
capacidade de representar as vontades de maiorias que decidem sem sequer saber ao certo
sobre o que estão decidindo.
O descolamento eleitoral é simples de ser observado. Em alguns testes - não científicos,
sem variáveis de controle - venho observando o seguinte processo, usando como ponto de
debate a corrida eleitoral para a Presidência em 2014.
Se admitirmos como válidos os critérios sócio-econômicos do IBGE, indivíduos das classes C
e D estariam propensos a votar em Marina, ainda que não consigam definir uma política de
governo com a qual ela se comprometera. A medição dos candidatos se dá, majoritariamente,
através de efeitos midiáticos, sendo que a maioria não entende o funcionamento do Estado
brasileiro e menos ainda o peso da dívida pública, ainda que esta pauta tenha sido
ressaltada no debate televisivo inicial (na Rede Bandeirantes, na 3ª dia 26/08/2014).
Assim, as primeiras impressões definem mais as escolhas do voto do que qualquer análise
mais racional dos benefícios advindos através do lulismo e seu governo de conciliação de
classes e jogo do ganha-ganha. A fórmula é simples. Um ponto de variação da Taxa Selic
implica em um ano de gastos do Bolsa Família. Ainda assim, nada indica a fidelização de
votos dos beneficiados pelas tímidas políticas sociais do lulismo.
Já nas classes A e B, ao menos onde circula um bom nível de informação e o alinhamento
tanto com o Ocidente como com o pensamento neoliberal mais duro não são tão evidentes, a
tendência é vir a votar em Dilma pela lógica da sequência da projeção do Estado brasileiro
e das políticas públicas abrangendo tanto os empreendimentos como as políticas sociais.
Parece que o Aécio só ganha - segundo o tracking do Ibope - com gente com renda acima de 5
salários mínimos. Trata-se de oposição classista (do andar de cima e ideológica), assim a
esperança dos tucanos que não são tão vinculados a um comportamento de tradição udenista
migra para a chance de vitória com Marina.
Como o que vale é a regra de campanha, a presidente de fato é simbolicamente frágil. Dilma
fala mal, se expressa mal e tem dicção truncada. É um péssimo produto televisivo e uma boa
operadora de governo. Sem o Lula empurrando e com algum esgotamento do modelo brasileiro
de crescimento, pode emperrar no 2o turno. Quanto ao PSDB, entendo que José Serra e
Alckmin estão puxando votos para Marina, esvaziando a campanha do Aécio. Mas, pode ser que
Marina não surfe nesta onda positiva por mais 30 dias e chegue com algum desgaste nas
eleições (o caso do avião de Campos e o grupo de assessores diretos de campanha, com a
Natura e o Grupo Itaú ao seu redor).
Se houvesse algum tipo de racionalidade neste processo, duas constatações óbvias seriam
consenso. A primeira afirma ser a centro-esquerda a melhor gestora do capitalismo (e isso
não é um elogio ou uma apreciação). A segunda constatação afirma que qualquer proposta de
esquerda e democrática, deveria passar cada vez mais longe das urnas e sim na luta direta
por direitos e formas democráticas deliberativas.
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