(pt) Federação Anarquista Gaúcha (FAG) Lutar e vencer fora das urnas - Opinião Anarquista sobre o 2º turno das eleições (en)
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Domingo, 26 de Outubro de 2014 - 11:23:29 CET
Os resultados parciais das eleições para o governo federal em 1° turno repetem a
polarização entre o PT e o PSDB dos últimos 20 anos. Votos brancos, nulos e abstenções
chegaram perto de alcançar 30% dos eleitores. O congresso nacional teve pouca renovação e
posições conservadoras lograram um avanço. Ao que tudo indica o governo Dilma terá no
próximo dia 25 de outubro uma disputa apertada com o candidato Aécio Neves. ---- Em nosso
Ato Público de 20 de setembro reafirmamos que a via eleitoral é bloqueada pelos poderes
econômicos, pelos mecanismos conservadores do Estado e pelos oligopólios da mídia para
fazer mudanças que atinjam as estruturas do poder dominante. Trocando em miúdos, quem faz
carreira e se habilita a governar com o sistema, pelo sistema é governado. O espaço de
manobras da política dentro das instituições e as relações de poder que a fazem funcionar
é marginal e controlado para que nada saia da ordem de coisas estabelecida.
Com isso, não fazemos vista grossa com o que tem de específico e singular entre os
candidatos e os partidos da democracia burguesa. A rigor está fora do panorama das
eleições presidenciais um projeto reformista, por esquerda, no sentido clássico. O que
vemos são variáveis administrativas, modos de operar a máquina que ao final não põem em
causa as suas engrenagens, não questionam, ainda que timidamente, as suas regras de
funcionamento.
Os governos Tucanos foram a mão pesada do neoliberalismo no Brasil. Dirigiram o ingresso
violento do país nos circuitos ideológicos e econômicos do mercado capitalista
globalizado. Privatizações de bens públicos, arrocho salarial, recorte de direitos
sociais, desemprego de massas e desmonte dos serviços públicos fizeram parte de seu
expediente. Em que pese toda rejeição popular suscitada, a direita logrou impor no
fundamental os seus estabilizadores da ordem. O que se chama pelo nome de estabilidade
econômica é, antes de tudo, a produção de um consenso conservador que tomou de assalto o
discurso político e fez recuar posições de esquerda até o ponto de fazer o seu setor
majoritário renunciar as pautas mais caras da classe trabalhadora e se integrar ao poder
como mais uma peça funcional.
?O PT governista, na sua escalada ao parlamento e, finalmente no governo central, é
expressão de uma história de capitulação ao sistema. Esse processo não começa quando o
Lula chega Lá, mas toma definições no curso de uma linha que faz da política parlamentar e
da carreira burocrática-institucional a sua escada. Que se consuma em 2002, com a
declaração de fé da "carta ao povo brasileiro", feita ao pé da bandeira da ordem e do
progresso capitalista.
O período de 12 anos de governo petista possui elementos distintos aos dos dois mandatos
do governo FHC. O PT cria governabilidade com uma política de alianças que atrai e divide
setores oligárquicos da direita. Foi empurrado pra vala comum dos conchavos, lobbies,
propinas, caixa dois entre tantos esquemas de desvios de verbas públicas e favorecimentos
de negócios privados. Na sociedade organiza um pacto social que faz chegar mecanismos de
governo nas duas pontas da estrutura de classes. Faz política de crescimento dos ganhos do
sistema financeiro e dos grandes capitais e, junto a isso atende com programas sociais os
mais pobres que estavam desassistidos de políticas públicas, incluindo os setores
populares no mercado via consumo. Contudo, deixa de fora o combate às estruturas de
concentração da riqueza e do poder e medidas que atuem nessa direção como a taxação das
grandes fortunas, redução da jornada de trabalho sem perdas salariais, fim da
terceirização, reforma agrária e urbana que ataque a concentração fundiária e a
especulação imobiliária, etc.
O governismo petista conduz ideologicamente a um desarme do projeto independente das
organizações e das lutas das classes oprimidas. Quebra a unidade de classe e planta
confusão, ambições e valores que formam um perfil técnico-burocrático absolutamente
estranho aos valores militantes de esquerda. Faz do sindicalismo oficialista aparelhos de
transmissão da vontade do governo e co-gestores de fundos de pensão, quebrando toda a
cultura organizativa e de luta com perspectivas de acumulação a um projeto de ruptura e
transformando os tradicionais instrumentos de organização da classe em meros gestores
burocráticos.
Esse processo de enfraquecimento progressivo da organização da classe trabalhadora atingiu
níveis absurdos com a ascensão da coalizão pretensamente reformista ao Planalto, mas vem
de antes, muito antes. Em que pese as inúmeras expressões de sindicalismo combativo e de
base no seio da CUT ao longo dos anos 1990, podemos afirmar que nessa década,
fundamentalmente após o lamentável desfecho da greve dos petroleiros de 1994, a CUT vem
consolidando um fazer sindical alheio a sua base. Não são poucos os exemplos onde o
aparato governista no movimento sindical atua de forma deliberada para desmobilizar e
desmoralizar o conjunto dos trabalhadores.
Nesse sentido, o próprio PT é responsável por criar o estado de coisas que pode impedir
sua continuidade enquanto governo. O Partido dos Trabalhadores não está enfrentando
simplesmente uma ofensiva dos setores mais à direita, mas fundamentalmente a sua própria cria.
Organizar a rebeldia que vem de baixo
Nosso voto é NULO e ATIVO!
Enquanto anarquistas, não participamos no 1º turno e não participaremos nesse 2º turno das
eleições com o nosso voto. Nosso voto foi e será nulo! Um voto nulo ativo, pois ativo é e
será nossa militância cotidiana na organização independente dos diferentes setores das
classes oprimidas. Enquanto anarquistas politicamente organizados na Federação Anarquista
Gaúcha (FAG), apostamos na inserção social orientada estratégica e programaticamente e que
dê passos concretos na construção do Poder Popular. Um esforço de fomento e impulso
criativo no interior dos movimentos sociais e espaços de base da participação, iniciativa
e protagonismo. Nas fábricas, oficinas, escolas, faculdades, bairros, no campo e na floresta.
?Não temos nada a oferecer, hoje, àqueles e àquelas que pensam as eleições burguesas como
um meio mais fácil, rápido e eficaz de resolução dos nossos problemas enquanto povo. O que
temos a oferecer é um espaço de organização, um projeto coletivo a se construir no
cotidiano das lutas por melhores condições de vida e um horizonte Socialista e Libertário.
Não estamos falando de algo para um amanhã que nunca chega e sim da forja diária de
valores combativos, de lutas por conquistas parciais no marco de conquistas estratégicas,
de acúmulo de forças e de experiências coletivas que não são perdidas tão facilmente na
troca de governos de turno.
Nosso voto é nulo, nossa militância ativa, constante e cotidiana!
Organizar a rebeldia que vem de baixo!
Lutar e vencer fora das urnas!
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