(pt) Anarquista Gaucha - Edição nº 29 - Ano X - Março de 2014 - 50 Anos do golpe: os crimes do Estado seguem vigentes (en)
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Segunda-Feira, 31 de Março de 2014 - 17:44:37 CEST
logo soliVivemos um momento emblemático em nosso país, com o aumento das perseguições
políticas a lutadores sociais e organizações políticas, inquéritos com acusações absurdas
e descabidas e um constante ataque por parte dos grandes meios de comunicação às lutas
sociais, destilando seu ódio de classe, suas mentiras, e pintando uma realidade existente
apenas em suas cabeças. As manifestações são alvo constante da "inteligência" policial,
que xereta, espiona, classifica e identifica manifestantes que eles consideram criminosos
perigosos, vândalos, subversivos. As reivindicações dos de baixo são ignoradas pelos
governos e tratadas como caso de polícia. Tudo isso em um ano que marca os 50 anos do
golpe civil-militar de 1964. Há uma herança deixada por esse período e a natureza
criminosa e perversa do modo de dominação capitalista mantém sua vigência.
O aniversário do golpe no atual estado nada democrático de direito
CARTAZ MEMÓRIA 2011Necessitamos contextualizar a conjuntura em que vivemos a partir dos
mecanismos e dispositivos legais e ideológicos deixados pela ditadura civil-militar.
Mecanismos e dispositivos atualizados pelas práticas dos aparatos repressivos e utilizados
pelos governos de turno para neutralizar e reprimir as lutas sociais. O golpe de estado
civil-militar de 31 de março de 1964 foi um golpe da classe dominante, responsável pela
repressão, pelo sequestro, pela tortura, pela prisão e assassinato não apenas de
militantes, mas de todo o povo oprimido. Os povos indígenas e quilombolas também foram
alvo da ditadura, que retirou inúmeros direitos sociais e políticos de amplas camadas da
população ao passo que disseminou generalizadamente o medo e uma mentalidade conservadora
que parece estar sendo reatualizada em nossa época de Estado Democrático de Direito. Se
não podemos dizer que estamos às portas de uma ditadura ou mesmo de um estado policial,
podemos sim dizer que há uma onda crescente de repressão, criminalização e cerceamento de
direitos políticos e sociais. O Estado continua cometendo crimes e não é à toa que,
segundo dados da ONU, a taxa de homicídios no Brasil é de 43 mil por ano.
Lei Geral da Copa, Lei Antiterrorismo e a Portaria do Ministério da Defesa de "Garantia da
Lei e da Ordem" são exemplos de como o governo dito "progressista" de Dilma/PT vem
conduzindo suas políticas e de como vem dando respostas às pautas de reivindicação
exigidas nas jornadas de luta de 2013, que voltam à cena com força nesse início de 2014.
As manifestações são tratadas como casos de polícia e classificadas entre as "boas" e as
"más" manifestações. Mulheres e homens são presos arbitrariamente, espancados, humilhados
e expostos pela mídia burguesa. Isso sem falarmos na cotidiana violência que sofrem os
homens e mulheres das periferias, que são seqüestrados, assassinados e tratados como
animais (como o caso da trabalhadora negra que foi arrastada por uma viatura da PM do Rio
de Janeiro). Máscaras são proibidas, casas e sedes públicas são invadidas, espantalhos são
criados, bodes expiatórios utilizados para montagens absurdas que claramente visam
perseguir as ideologias e organizações políticas combativas. Os movimentos sociais são
tratados como "Forças Oponentes" e passíveis de serem combatidos por manobras e táticas
militares próprias de um contexto de guerra. Querem acabar com o direito à greve e à livre
manifestação durante a Copa do Mundo.
Trata-se de uma conjuntura em que, assim como na ditadura civil-militar, Estado, aparato
repressivo e grande mídia operam em conjunto como um elemento de choque do sistema de
dominação capitalista, perseguindo e montando factóides contra militantes sociais
diuturnamente.
Não começou em 2013, não vai acabar em 2014
1964910_284530675038418_164829884_nAs jornadas de luta de 2013 abriram novas
possibilidades em nosso país. Possibilidades de gestação de um novo período de embates,
com novas características, contra as forças da ordem na peleia por melhores condições de
trabalho e de vida. As experiências de ação direta, de mobilizações massivas e de forte
repressão vividas por amplas camadas da população deixaram marcas que podemos perceber no
conjunto das lutas do início do ano. A greve dos correios e dos rodoviários em Porto
Alegre e as lutas pela água com corte e barricadas de rua na região metropolitana do RS; a
greve dos garis e a dos operários do Complexo Petroquímico de Itaboraí, no RJ; as
mobilizações de rua contra a Copa do Mundo e outras inúmeras greves que são deflagradas em
todo o Brasil demonstram que o ciclo de lutas aberto pelas jornadas de 2013 está longe de
se fechar.
Se não vemos a mesma massividade de 2013, salta aos olhos a combatividade destas lutas.
Suas características indicam uma maior radicalização e protagonismo das bases, que em
vários casos tem atropelado as direções sindicais pelegas e conquistado vitórias. É pelo
medo de que essas lutas tenham continuidade e se aprofundem em seu grau de organização e
radicalização que os de cima e seus lacaios têm tentando a todo custo intimidar e acabar
com a luta dos de baixo. A grande mídia pretende forjar consensos e pavimentar o caminho
para uma ferrenha fuzilaria repressiva contra os lutadores sociais.
Brazilian Anarchist Coordination - CAB
No Rio Grande do Sul há uma intensa campanha contra alguns lutadores sociais do Bloco de
Luta pelo Transporte Público e contra professores combativos do magistério estadual.
Inquéritos policiais claramente políticos e ideológicos vem sendo construídos como forma
de intimidação. Até "constituição de milícia privada" aparece nas acusações. Em Santa
Catarina o foco da repressão policial com prisões e violações de direitos humanos é
realizado para manter o modelo de exploração capitalista no transporte coletivo. Além das
prisões, processos criminais são encaminhados para tentar punir a população organizada que
luta pela tarifa zero e por uma empresa pública de transporte coletivo. Em São Paulo vemos
o emprego das tropas "ninja" e de efetivos cada vez maiores de policiais - entre tropa
ninja, de choque, força tática, cavalaria, etc. - com o claro intuito de intimidar e
restringir o direito de se manifestar dos/das que lutam; e no Rio de Janeiro, foram os
garis que tiveram de enfrentar uma forte campanha midiática disposta a deslegitimar sua
greve histórica, uma prefeitura conservadora obstinada a não atender suas reivindicações e
uma polícia militar que agiu como os antigos "capitães do mato"; a mesma polícia que
assassina diariamente centenas de Claúdias e de Amarildos.
É na esteira desta ampla campanha, com vistas a forjar um consenso e impor uma ordem
marcada pela pasmaceira de um povo obediente frente aos desmandos e abusos dos de cima, de
garantir uma "esquerda" domesticada ao calendário eleitoral, de transformar os atos em
meras manifestações cívicas com propósitos conservadores, que temos as dezenas de casos de
repressão, abusos e perseguições político-ideológicas em todo o país. Trata-se de uma
intensa guerra psicológica que estes meios vêm desatando contra a esquerda que resiste ao
pacto social costurado pelo governo de turno em aliança com as classes dominantes e as
burocracias de diversos movimentos sociais que cada dia mais vão perdendo o seu vigor para
se assimilarem a meras ONGs.
A morte do cinegrafista Santiago Andrade em um trágico acidente no Rio de Janeiro é o
maior exemplo de como essa guerra psicológica vem sendo travada em escala nacional. Com
isso, tentam justificar a aprovação da famigerada lei antiterrorista com a qual pretendem
impedir que os setores populares e a esquerda superem a trágica dispersão e desorganização
que os caracterizaram nos últimos anos. Quando o real motivo é o medo da classe dominante
diante de um novo ciclo de lutas marcado por uma outra cultura política, que não esteja
enraizada em ilusões institucionais, mas sim no protagonismo popular, na ação direta e
trabalho de base de todos os dias.
É em meio a esse clima de intensa guerra psicológica que vemos os atuais governos
"progressistas" ensaiando uma dobradinha com os oligopólios da imprensa, os mesmos que de
forma reiterada acusam de sabotá-los e criar um ambiente golpista. Enquanto a grande
imprensa denuncia e planta factóides, diversos governos estaduais, com a aprovação do
governo Dilma, não vacilam em seguir o bonde e autorizar mandados de busca e apreensão,
indiciamentos farsantes, infiltrações, intimidações a crianças, tropas ninja e tudo mais
que seja necessário para garantir seu pacto social neodesenvolvimentista e a sua
comemoração a partir dos mega-eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Revelam,
assim, o seu real caráter político e de classe.
Não temos dúvidas com relação ao nosso papel enquanto esquerda libertária de intenção
revolucionária. Cabe a nós defender que as lutas em curso e a organização dos setores que
compõem as classes oprimidas ganhem a profundidade e a intensidade necessárias para
impedirmos o avanço desse estado de repressão e criminalização sobre as lutas sociais. A
unidade dos de baixo não só é desejável como extremamente necessária na conjuntura em que
estamos vivendo e as ilusões alimentadas por uma esquerda eleitoralista precisam ser
questionadas, pois nossas urgências não caberão nas urnas dos de cima! Se não há direitos
para o povo, não vai ter copa para os ricos.
Nossa memória aos de ontem será nossa luta com os de hoje! Ditadura nunca mais!
Barrar a criminalização do protesto e dos lutadores sociais com organização e pela força
das ruas!
Rodear de Solidariedade à todos(as) os(as) que lutam!
Coordenação Anarquista Brasileira - CAB
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