(pt) Anarkismo.net: Dilma vaiada e a identificação não correspondida by BrunoL (en)
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Domingo, 22 de Junho de 2014 - 15:18:02 CEST
As vaias para Dilma, que vieram acompanhas de xingamentos e palavrões, foram a sensação do
início da Copa do Mundo. Naquele momento, após uma festa de abertura mais que clichê, o
lulismo deu de cara com seu pior desafeto. ---- Dilma foi vaiada daquela forma porque não
existe identidade com ela, não ao menos da maior parte do público presente no Itaquerão.
---- Por mais que os bajule, Lula e seus seguidores não formam uma identificação com o
Brasil que gostaria de falar em idioma estrangeiro e olha maravilhado e boquiaberto para o
centro do capitalismo como a quintessência da civilização. O outrora maior partido de
(ex)-esquerda do Continente é tolerado - e não amado - pelos que dominam o país nas
esferas ideológica, econômica e política. ---- Trata-se de uma dupla lealdade jamais
resolvida pelo PT em seu governo de coalizão oligárquica. A Era Lula (e Dilma) foi marcada
pelo jogo do "ganha ganha", onde o andar de cima fatura através do Bismarckismo Tropical
e, com as políticas sociais, melhora a vida do andar debaixo.
O problema está na ponta superior da pirâmide social. Como quase sempre ocorre, houve uma
interpretação medíocre de viés materialista. Os ex-militantes associaram a lealdade de
classe aos benefícios materiais das realizações de governo. O raciocínio até está correto,
mas quando se trata de conquistar uma reserva eleitoral massiva.
Como na América Latina a maior parte dos governantes age apenas em benefício próprio e de
sua fração de classe, qualquer ação distributiva é vista como excepcional, conquistando de
imediato a lealdade (no voto e no afeto), dos que obtiveram o mínimo esperado num sistema
democrático.
Este governo opera na lógica do fortalecimento das estruturas do capitalismo e a
consequente projeção do Brasil no cenário internacional, entendendo necessário o aumento
do poder das empresas de capital nacional ou associado.
O PT e seus aliados fizeram um bom governo para um país capitalista cuja estrutura de
Estado é patrimonialista. Seriam a escolha "menos pior" para qualquer pessoa lúcida que
fosse de direita. Mas, esqueceram de combinar isso com a classe dominante e sua fração
auxiliar, a média alta que opera como reprodutora dos grandes controladores materiais e
simbólicos da nação.
Dilma foi vaiada daquela forma porque não existe identidade com ela, não ao menos da maior
parte do público presente no Itaquerão. A ex-guerrilheira faz de tudo para construir um
país que ruma ao desenvolvimento do capitalismo tupiniquim, mas não tem uma classe
dominante pré-disposta a tal ousadia. Também, quem mandou governar tentando satisfazer a
quem mal se reconhece como elite brasileira?
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