(pt) UNIPA, A luta camponesa e a ditadura civil-militar brasileira: o papel da repressão e da tutela sindical sobre os trabalhadores do campo (en)
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Domingo, 8 de Junho de 2014 - 15:31:32 CEST
Ligas Camponesas - Brasil ---- Um relatório da Secretaria de Direitos Humanos (SDH),
datado de setembro de 2012, indica que os assassinatos durante a Ditadura Civil-militar
brasileira teriam sido muito superiores aos pouquíssimos casos reconhecidos legalmente
pelo Estado. O relatório indica o mínimo de 1.196 assassinados entre camponeses e
apoiadores da causa camponesa. Por outro lado, o número reconhecido legalmente é de apenas
29 assassinatos políticos no meio rural. Os camponeses são excluídos até mesmo de seu
direito à memória e justiça. A questão central que queremos retomar aqui é que o número de
mortos apresentado pelo estudo da SDH demonstrou mais uma vez o peso político da luta
camponesa neste país, fato esse omitido por muitos "intelectuais", partidos e até mesmo
pelo reconhecimento jurídico-estatal.
O período pré-ditadura: a radicalização da luta de classes e da luta de tendências
O momento que a antecede a ditadura de 64 é caracterizado pela ação e organização
relativamente livres e autônomas do campesinato frente ao Estado. As associações
camponesas, sindicatos e principalmente a organização nacional das Ligas Camponesas, não
possuíam nesse período um controle político e jurídico direto do Estado. Apesar de já
existir uma série de iniciativas e defesas da institucionalização do sindicalismo rural,
especialmente via Partido Comunista (PCB) e organizações católicas (CNBB e AP), até o ano
de 1960 não existiam mais do que 8 sindicatos rurais reconhecidos e registrados no
Ministério do Trabalho, sendo três nos Estados de Pernambuco e Bahia, e um no Rio de
Janeiro e Santa Catarina.
A defesa da institucionalização da organização camponesa via "sindicato oficial" feita
especialmente pelo PCB foi contraposta politicamente pelas Ligas. O fato é que os
comunistas acreditavam na "via pacífica" para o socialismo, conciliando com a burguesia
"progressista" e participando de governos junto com partidos burgueses. Manter a
tranquilidade e a ordem era uma necessidade dessa estratégia. Porém, os conflitos do campo
não cessaram de radicalizar-se frente as políticas desenvolvimentistas (apoiadas pelo
próprio PCB). Frente a isso, as táticas combativas e guerrilheiras utilizadas pelas ligas
e outras organizações camponesas foram tomando grandes proporções políticas, demonstrando
a viabilidade da luta armada contra o latifúndio e a exploração capitalista.
1964-1988: A ditadura e o autoritarismo como resposta da burguesia
José Campos Barreto, o "Zequinha", desenvolveu ao lado de Lamarca o trabalho político
revolucionário junto aos camponeses. Foram assassinados em 1971, na cidade de Pintada-BA.
Zequinha Vive!
Com a radicalização da luta por direitos no campo e na cidade (especialmente a luta pela
terra), bem como a incapacidade do governo populista-burguês de João Goulart em conter
essas lutas, a resposta da burguesia industrial, do latifúndio e das altas camadas
militares será o golpe de 31 de março de 1964. Como relembramos no início desse texto, a
ditadura organizou uma verdadeira máquina de guerra para matar, torturar e perseguir os
camponeses e seus aliados. O partido comunista se manteve apático frente ao golpe
fascista, vendo a sua desastrosa política democrático-burguesa cair por terra e inclusive
aliados da "burguesia progressista" passarem de mala e cuia para o lado da Ditadura (tal
como Mauro Borges, ex-governador de Goiás).
A história do movimento dos trabalhadores rurais está marcada para sempre pela repressão
da Ditadura Civil-militar. Se o governo de Getúlio Vargas pode ser definido como um marco
na imposição do sindicalismo de Estado nas grandes cidades e sindicatos operários, a
Ditadura de 1964 pode ser definida como um marco histórico na consolidação desta estrutura
no controle dos assalariados rurais e camponeses. Segundo o intelectual Armando Boito
Júnior: "A implantação da ditadura militar em 1964 selou a derrota das Ligas e a vitória
do sindicalismo de Estado no campo. A ditadura, além de dissolver as Ligas, criou milhares
de sindicatos oficiais no campo" (Sindicalismo de Estado no Brasil, 1991). Portanto, mais
ainda do que a perseguição e assassinato brutal de centenas de lideranças, a Ditadura
impôs uma nova estrutura de organização para os camponeses que permanece até os dias
atuais: o sindicalismo rural oficial, representado pela CONTAG.
A repressão militarista não acabou! Organizar novas Resistências Camponesas!
A última década de governo petista demonstra que o caminho da conciliação com a burguesia
em governos "progressistas" não traz avanços na luta dos trabalhadores. A repressão
continua ceifando vidas no campo. A Força Nacional segue atacando e matando indígenas e
camponeses em luta pela terra, e muitas vezes com o silencia e com aval das entidades
governistas (CONTAG, CUT, CMS, etc.). E tudo isso está ocorrendo hoje em nome do mesmo
modelo de "desenvolvimento rural" legado pela ditadura: a modernização conservadora, o
agronegócio, a produção para exportação, a concentração fundiária.
Greve em 2012 de cortadores de cana da Usina DECASA. A greve foi organizada de forma
autônoma e combativa pelo Sindicato de Trabalhadores Rurais de Presidente Venceslau e
Marabá Paulista.
Os bravos lutadores do campo não podem mais sustentar ilusões de que uma "reforma agrária"
será feita pelos acordos políticos dentro do Estado. Devemos sim retomar e aprofundar os
métodos combativos de organização camponesa: construindo sindicatos rurais autônomos,
oposições sindicais e movimentos camponeses combativos, bem como reforçar a ação direta
através das ocupações de terra, greves rurais e em defesa da Greve Geral campo-cidade.
Essa nova organização deve estar articulado sob a estratégia do Sindicalismo
Revolucionário. Devemos denunciar a repressão militar de ontem e hoje, denunciando também
as traições do antigo PCB e dos atuais PT e PCdoB, relembrando nossos mortos na Ditadura e
aqueles que tombaram no atual regime pseudo-"democrático", dando continuidade a luta e
bravura de tantos camponeses.
Punição aos assassinos e torturados da Ditadura!
Não esquecemos, nem perdoamos!
Morte ao Sindicalismo de Estado!
Ação Direta por Terra e Liberdade!
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