(pt) Anarquismo tem extensão mundial e está presente até hoje Por Lara Deus
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Terça-Feira, 7 de Janeiro de 2014 - 09:55:19 CET
Mikhail Bakunin e Piotr Kropotkin, maiores clássicos do anarquismo internacional
Atualmente, muito do que se fala sobre o anarquismo é baseado em senso comum, leituras
ideológicas ou mesmo em estudos com problemas metodológicos. Por isto, uma pesquisa da
Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP buscou desvendar os equívocos dos
estudos de referência anteriores e propôs uma nova abordagem. Para fugir da
superficialidade com a qual é tratada a ideologia, o pesquisador Felipe Corrêa produziu
uma introdução ao tema em sua dissertação de mestrado. Depois de analisar mais de 150
escritos, livros, artigos e manifestos anarquistas, o estudo conceituou o anarquismo, seus
debates e correntes mais importantes, concluindo que a ideologia é coerente e pode ser
descrita por um conjunto preciso de princípios.
"As relações entre o anarquismo eo idealismo, o anarquismo eo utopismo, tomado em seu
sentido pejorativo, vêm sendo realizadas por seus adversários políticos", explica Corrêa,
que considera muitas leituras meramente doutrinárias. O anarquismo não pode ser associado
ao individualismo, já que se trata de um tipo de socialismo e sua concepção de liberdade
individual se insere no âmbito da coletividade.
Apesar de serem consideradas utópicas, "as teorias sociais do anarquismo buscaram, sempre,
conectá-lo com a realidade", conta o pesquisador. A ideologia é um tipo de socialismo
revolucionário que, ao inserir em seus princípios a crítica à dominação capitalista,
propõe a autogestão e estratégias para tanto.
De 1868 ao Black Bloc
Ao conceituar esse conjunto de pensamento e ação, olhando para sua história nos cinco
continentes, Corrêa pôde perceber que o anarquismo existe de 1868 até o presente, com
seguidores no mundo inteiro. Além disto, mobilizou as mais distintas classes oprimidas,
mas principalmente os proletários urbanos industriais, contradizendo a afirmação de que é
uma ideologia seguida exclusivamente por camponeses do "mundo atrasado".
"O anarquismo tem evidenciado sua presença na sociedade contemporânea, e os protestos de
2013 evidenciam isso. Não se trata somente de Black Bloc mas, principalmente, de
anarquistas que têm construído e participado de movimentos sociais nas cidades e nos
campos constituindo uma força determinante", completa.
Além de ser pouco pesquisado, "muitas vezes os pesquisadores incorrem em problemas
teórico-metodológicos significativos, que complicam as investigações", explica Corrêa.
Daí, vêm conclusões equivocadas que até hoje fazem parte desse amplo senso-comum sobre o
assunto, que está presente inclusive nos meios acadêmicos. Segundo ele, um problema comum
é a base de dados da pesquisa ser restrita, com análise de poucos autores e episódios. O
foco dado à Europa Ocidental e ao Atlântico Norte também contribui também para que se faça
generalizações sem fundamentos. Muitos estudos baseados nesses equívocos concluem,
erroneamente, por exemplo, que o anarquismo acabou em 1939, com a derrota da Revolução
Espanhola, e que este foi um dos raros casos em que o anarquismo se tornou um movimento de
massas.
A foto foi tirada na cidade de Buenos Aires, em 1919. Neste momento, o anarquismo
constituia a força hegemônica no movimento operário
Revisão do cânone
Considerar anarquistas todos aqueles que se definem assim é outro erro frequentemente
cometido por pesquisadores. Segundo Corrêa, o termo teve, ao longo da história, conotações
distintas que fizeram com que ele ora extrapolasse, ora fosse restrito demais a sua real
definição. Enquanto Mikhail Bakunin, expoente do anarquismo, por muito tempo se denominou
socialista revolucionário, periódicos cujas práticas não dialogam com os princípios
anarquistas continuam a carregar a ideologia no nome.
Por esse e outros motivos, a pesquisa propõe uma revisão do cânone anarquista, concluindo
que, se Leon Tolstói, Max Stirner e William Godwin, por exemplo, não eram anarquistas,
muitos outros deveriam fazer parte desse cânone, como Errico Malatesta, Piotr Kropotkin e
Nestor Makhno. Textos destes últimos pensadores fizeram parte do conjunto de mais de 150
escritos analisados, compondo a vasta bibliografia estudada.
Na dissertação de mestrado Rediscutindo o anarquismo: uma abordagem teórica , orientada
pelo professor Marco Antonio Bettine de Almeida, da EACH, Corrêa elaborou propostas para
que o tratamento do assunto não insista nesses problemas metodológicos, além de aplicá-las
a uma análise de escritos anarquistas. Assim, ele conceitua a ideologia e apresenta
elementos que "contrapõem diretamente as conclusões equivocadas dos estudos de
referência", segundo ele próprio. Para baixar a pesquisa, basta clicar no link .
Imagens cedidas pelo pesquisador - http://www.usp.br/agen/?p=165303
Mais informações: email felipecorreapedro gmail.com
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